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maioria das pessoas tolera um sistema que gera tanto sofrimento e injustia?
Por que, sendo vtimas, no apenas toleram, como ainda contribuem
ativamente para o sistema opressivo que dizem repudiar? Por que no se
solidarizam e at mesmo infligem sofrimentos aos outros? Por que est
ocorrendo esse processo de banalizao do mal, no qual as pessoas no mais
se importam, no se mobilizam?".
Isso sempre me intrigou muito, principalmente no que se refere ao meu
prprio comportamento. E tem tambm a conivncia da crise ambiental e a
emblemtica do nazismo (longe de ser caso nico ou coisa antiga), na qual
atrocidades contaram com uma colaborao ativa da populao.
A hiptese do Dejours de que o trabalho tem um papel essencial nesse
processo. Segundo ele, a forma como o trabalho organizado e a imensa carga
de sofrimento psquico que gera, demanda mecanismos de defesa individuais e
coletivos, que agravam a alienao e vo minando a capacidade de
mobilizao das pessoas. Aqui, ele utiliza e desenvolve os argumentos do seu
livro incrvel "A Loucura do Trabalho", relacionando-os com o processo de
banalizao do mal.
Demonstra tambm como esse processo vai sendo mantido pela difuso do
medo e da vergonha, pela negao do sofrimento, pela valorizao da
virilidade, pela racionalizao do mal e por mentiras institucionalizadas.
Durante todo o livro, faz paralelos com o Nazismo, que teve a colaborao
ativa de toda uma populao de pessoas comuns, "boas", resultando em
atrocidades que causam perplexidade at hoje.
Discute as polmicas reflexes da Hannah Arendt sobre a banalidade do mal
(foi ela que cunhou a expresso), no famoso caso Eichmann, julgamento de
um chefe nas operaes de execuo de judeus. Pelos depoimentos, ele
mostrava ser uma pessoa banal e diligente, com o pensamento suspenso sem
ser movido por uma inteno antissemita, como a maioria ali, seguindo ordens
dentro de uma mquina maior, ao invs de ter uma responsabilidade
individual.
Ao final, enfatiza que para desbanalizarmos o mal fundamental atacarmos as
causas de sofrimento psquico e fsico no trabalho, a alienao, a bobeira da
virilidade e as mentiras institucionalizadas, para que voltemos a nos