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Ao vu de neve prendia.

Depois, ligeira, impaciente,


Chegava-se gelosia
A ver se o sol j dourava
Os cimos da serrania,
E a alva flor da laranjeira
Ao vu de neve prendia.
De vez em quando chorava...
E o que chorar a fazia?
Saudades do que passara?
Terrores do que viria?
E a alva flor da laranjeira
Ao vu de neve prendia.
Mas so lgrimas de noiva,
Um s beijo as secaria,
So como gotas de orvalho
Quando o Sol as alumia;
E a alva flor da laranjeira
Ao vu de neve prendia.
Que longo porvir d'amores,
Que futuro de poesia,
Que palcios encantados
Lhe pintava a fantasia,
Quando a flor da laranjeira
Ao vu de neve prendia!
E ao casto leito de virgem
Dentro da alcova sombria,
A noiva, de vez em quando,
Inquieta os olhos volvia;
E a alva flor da laranjeira
Ao vu de neve prendia.
Por entre o rosai florido,

Que o balco lhe entretecia


As avezinhas cantavam
Com festiva melodia.
E ela a flor da laranjeira
Ao vu de neve prendia.
Alto ia o Sol, resplendente
Na manh daquele dia,
Cuja noite... Esta lembrana
Da noiva as faces tingia;
E a alva flor da laranjeira
Ao vu de neve prendia.
A me, vendo-a to formosa,
Julgava um sonho o que via,
Que o vestido de noivado
As graas lhe encarecia,
E a alva flor da laranjeira
Do vu de neve pendia.
Vm as irms, que a contemplam
Com inveja, eu juraria:
Ela baixa os olhos, cora,
O que mais bela a fazia,
E a alva flor da laranjeira
Do vu de neve pendia.
Junto delas, perturbada,
Quase nem falar podia;
S as mes bem compreendem
O que a noiva ento sentia,
Quando a flor da laranjeira
Do vu de neve pendia.
As horas passam to lentas!
E o corao lhe batia,
A me chorava, coitada,

Com saudades o fazia;


E a alva flor da laranjeira
Do vu de neve pendia.
A sala j estava cheia;
A noiva achava-a vazia,
Que entre tantos convidados
Ainda o noivo se no via;
E a alva flor da laranjeira
H muito do vu pendia!
Passa a manh, e no chega!
No chega, e j meio-dia!
Nas varandas, nos eirados,
Se dispersa a companhia;
E a alva flor da laranjeira
H tanto do vu pendia!
O rosto da bela noiva
Cada vez mais se anuvia,
No sei que voz misteriosa
Desgraas lhe pressagia;
E a alva flor da laranjeira
Inda do vu pendia.
Fenece a tarde. Eis a noite,
Hora de melancolia.
No rosto dos convidados
Desassossego se lia,
E a alva flor da laranjeira
No vu da noiva tremia.

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