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Esmeraldina Pereira

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA
“Da operam ne quid umquam invitus facias: quidquid necesse
futurum est repugnanti, id volenti necessitas non est”

Trabalho da disciplina de:

História da Pedagogia

Docente: Prof. Doutora. Teresa Macedo

Porto, 17 Janeiro 2010


História da Pedagogia

INDICE
Índice…………………………………………………………………………………… 2
Introdução……………………………………………………….……………………….3
1. Resenha do Cartesiano…………………………..…………………………….... 4

2. Discurso do Método……………………………. ………………...……………. 7


2.1 Primeira Parte: Considerações Relativas às Ciências………………………..7
2.2 Segunda Parte: Principais Regras do Método………………………….........9
2.3 Terceira Parte: Algumas Regras de moral tiradas do Método……………...11
2.4 Quarta Parte: Provas da Existência de Deus ou da alma humana..…………13
2.5 Quinta Parte: Ordem das questões de Física……………………………….15
Conclusão……………………………………………………………………..………..16
Bibliografia……………………………………………………………………………..17

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Psicopedagogia Clínica
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História da Pedagogia

INTRODUÇÃO

Na tradição filosófica que se inicia com Parménides e Platão, foram esquecidas


as vias que abrem o mundo aos homens. Estas são, em primeiro lugar, os sentidos, mas
se já Parménides considera que o mundo em que vivemos não passa de mera aparência e
Platão vê na desvinculação do corpo o único modo de a alma ascender á contemplação
das ideias, Descartes ainda levará mais longe esta desvalorização: “porque os sentidos
nos enganam”.
A concepção dualista do Homem, defendida por Platão, é radicalizada por
Descartes. O homem, em Descartes, é res cogitans e res extensa. O sujeito enquanto
cogito aparece desligado da sua relação ao mundo e o corpo não passa de pura máquina.
Há duas razões especiais para Descartes ter publicado no Discurso do Método
alguns ensaios particulares e dar a conhecer os seus projectos e acções. A primeira foi
que caso não o fizesse muitas pessoas que tinham conhecimento da sua intenção prévia
de publicar poderiam pensar que as razões da desistência da publicação seriam mais
desfavoráveis do que realmente são; apesar de não amar a glória, nunca procurou
esconder as suas acções como se fossem crimes, nem se serviu de muitas precauções
para ser um desconhecido, não só julgando que isso o prejudicaria como lhe daria uma
espécie de inquietação, sendo contrária á tranquilidade de espírito que ele buscava.
Mantendo-se sempre indiferente entre a preocupação de ser conhecido ou não, não
podia, contudo, impedir de alcançar uma certa reputação, tudo deveria fazer para que,
pelo menos, essa reputação não fosse má.
A segunda razão foi que, ao ver, dia após dia, e cada vez mais, o atraso que
sofria a intenção que Descartes tinha de se instruir, por causa de uma infinidade de
experiências que precisava fazer e que lhe era impossível sem recorrer a outras pessoas,
ainda que não tivesse grandes ilusões a ponto de esperar que as pessoas se interessassem
verdadeiramente com tudo o que a ele lhe interessava. Pensou, então, que lhe seria mais
fácil escolher alguns assuntos, que, sem estarem sujeitos a muitas controvérsias, nem o
obrigarem a dizer muito mais do que aquilo que desejava sobre os seus princípios, não
deixaria de mostrar claramente aquilo de que era ou não capaz, no domínio das ciências.
Para descartes era extremamente agradável examinar o que escrevia, fazia e pensava e
fazia questão que, quem tivesse algum tipo de crítica, as enviasse para o seu editor,
sendo avisado disso procuraria enviar uma resposta; deste modo, os leitores, ao verem-
se respondidos julgariam muito melhor e reconheceria suas faltas, se as reconhecesse,
ou caso não as notasse, dizer simplesmente o que julgaria necessário para defender o
que havia escrito, não acrescentando qualquer explicação a fim de não se enredar!

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1. RESENHA DO CARTESIANO

Dúvida Metódica – Temos de “tomar a iniciativa de duvidar, uma vez na vida,


de todas as coisas em que encontrarmos a mínima suspeita”. Dentro de si e fora de si,
Descartes encontrava os diversos argumentos já apresentados pelos filósofos cépticos.
Eram os chamados erros dos sentidos ou erros da percepção (deformações, ilusões e
alucinações) e os erros da própria razão, cometendo, esta, o erro do “dialelo”, pois, dado
que a razão se engana, sendo, consequentemente, um instrumento de falível da distinção
entre o verdadeiro e o falso, a razão não pode provar-se a si própria, sem “petição de
princípio”, a sua própria veracidade.
Diz Descartes:
“assim, porque os sentidos nos enganam algumas vezes, resolvi supor que não

existe alguma coisa, que fosse exacta, como eles a fazem imaginar. E, porque há

homens que se enganam, ao raciocinar, até nas mais simples questões de geometria, e

nelas cometem paralogismos, pensando que estava tão sujeito a enganar-me, como

qualquer outro, vim a rejeitar como falsas todas as razões de que, anteriormente, me

servira nas demonstrações” (Discurso do Método, pág. 88)

Diferente da dúvida “céptica” ou “pirrónica”, que é sistemática, definitiva, um


fim em si mesma, já que os cépticos “duvidam por duvidar”, a dúvida cartesiana é
provisória, metódica, um meio para a certeza. Não sendo espontânea, a dúvida
cartesiana é voluntária como meio de caminho ou meio seguro para a obtenção da
certeza, dúvida radical, atingindo as fontes sensorial e intelectual do conhecimento,
metafísica, atingindo as “essências” e excessiva ao atingir a existência o “objecto”
extra mental do conhecimento, chegando Descartes a admitir a hipótese de um “génio
maligno” que se divertia a fazer-nos crer que seria real o imaginário. Ou seja, o que não
passava de pura aparência.
Primeira Certeza –
“Mas imediatamente, notei que, ao querer assim pensar que tudo era falso, eu,

que o pensava, necessariamente devia ser alguma coisa. E, notando que esta verdade:

Penso, logo existo era tão firme e tão certa, que nenhuma das mais extravagantes

suposições dos cépticos eram capazes de a abalar, julguei que a podia aceitar, sem

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hesitação, para primeiro princípio da filosofia que procurava” (Discurso do Método,

pág.89)

“A primeira regra da certeza, que consistia em nunca aceitar coisa alguma por

verdadeira, sem que se conhecesse evidentemente como tal (…) e não incluir nada mais

nos meus juízos senão o que se apresentasse tão claramente e tão distintamente ao meu

espírito, que não tivesse nenhuma ocasião de o pôr em dúvida”, é seguida pelas três

restantes regras: a da análise, a da síntese e a da enumeração. (Discurso do Método,

págs. 72 e 73).

Segunda Certeza –
“Após a certeza do EU, substância pensante ou substância cuja essência é
pensar, segue-se a existência de Deus, fundamento das verdades infalíveis.
Da metafísica tradicional, assim como da religião cristã, cuja feologia
reverenciava” (Discurso do Método, pág.61), Descartes aceita a noção de Deus como
“infinito, eterno, imutável, omnisciente, omnipotente” (Discurso do Método, pág. 91).
Além da prova ontológica, fundada na Ideia de Deus, as provas tradicionais da
existência de Deus dividiam-se em duas categorias: as provas cosmológicas, fundadas
na existência do mundo físico e as provas morais, fundadas em factos de natureza
moral ou psicológica. As provas cosmológicas são as “cinco vias” expostas por S.
Tomás de Aquino (1225-1274) na Suma Teológica.
De todas as provas, Descartes apenas se interessa pelas que, partindo do finito
exigem o infinito, partindo do ser contingente exigem o ser necessário.
“Seguidamente, ao reflectir que duvidava, e, por consequência, meu ser não era

inteiramente perfeito, pois via claramente que saber é perfeição maior que duvidar,

lembrei-me de ver donde me tinha vindo o pensamento de qualquer coisa de mais

perfeito do que eu, e, com evidência, conheci que deveria ter vindo de alguma natureza,

que, realmente, fosse mais perfeita” (Discurso do Método, pág. 90).

“O mesmo, porém, não podia acontecer com a ideia dum ser mais perfeito que o

meu ser, pois recebê-la do nada era manifestamente impossível. E, porque não repugna

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menos que o mais perfeito seja uma consequência e uma dependência do menos

perfeito do que admitir que do nada alguma coisa proceda, de modo algum poderia vir

de mim mesmo. Consequentemente, só restava que ela tivesse sido posta em mim por

uma natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita do que eu, e que até tivesse em

si todas as perfeições, acerca das quais pudéssemos ter alguma ideia, isto é, que fosse

Deus, para tudo dizer numa só palavra” (Discurso do Método, pág. 90).

Assim, Descartes prova a existência partindo da ideia do ser perfeito que se


encontra nele, ideia que tanto não ode vir do nada, como não pode ser criação dele, que
se reconhece perfeitamente ser imperfeito. Logicamente, Deus será causa dele mesmo
Descartes, que tem a ideia de perfeito. Mas a prova da existência de Deus preferida de
Descartes é a prova a priori ou argumento ontológico já apresentado por S. Anselmo
(1033-1109) e aceite por muito escolásticos e apresentada, algo modificada, por João
Duns Escoto (1266-1308) e Lelbniz (1646-1716), “discípulo” de Descartes. Tal prova
ou argumento consiste em provar a existência real de Deus pela sua análise da “ideia”
de que Deus está na mente. Se quiser apresentar a prova silogisticamente e, portanto,
muito sucintamente, dir-se-á: Deus é (= é concebido) ser perfeito; a existência é
perfeição; logo Deus existe.
Terceira Certeza – Descartes, preso ao “Penso, logo existo”, liberta-se da
atitude “solipsista” (= a existência apenas do EU com as suas “cogitationes”, ou seja,
pensamentos ou representações psíquicas), afirmando a existência de um mundo real
externo, um mundo material cuja essência é a “extensão”, da qual tem “ideia clara e
distinta”, mas fundamentando-se na veracidade divina, pois Deus, ser perfeito, não
pode enganar-se nem enganar-nos sobre as ideias, embora imperfeitas, falíveis, que nos
vêm através dos sentidos, ideias que Descartes designa de “adventícias”, em oposição
às ideias “inatas”, conaturais á razão, ideias que servirão de matéria para a elaboração
de ideias “factícias”. Rejeitada, assim, a hipótese do tal “génio maligno”, cuja
actividade seria a de divertir-se a enganar-nos, Deus é para Descartes o único
fundamento ontológico ou metafísico do EU e do MUNDO, tornando possível ao
homem o conhecimento das coisas, em seus aspectos “quantitativos” e “qualitativos”.

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2. DISCURSO DO MÉTODO

2.1. Primeira Parte: Considerações Relativas às Ciências

O bom senso é a coisa que, no mundo, mais bem está distribuída, pois cada um
pensa estar tão bem dotado dele, que até mesmo aqueles que dificilmente se contentam
com qualquer coisa não costumam desejar mais do que aquele que possuem.
Efectivamente não basta ter o espírito bom, pois que o principal é aplicá-lo bem. As
almas, por maiores que sejam, são capazes de maiores vícios, assim como das maiores
virtudes, e aqueles que caminham muito lentamente podem ir mais longe, se seguirem
sempre o caminho direito, do que aqueles que correm e dele se desviam. Descartes
jamais teve a presunção de o seu espírito fosse, em coisa alguma, mais perfeito do que
espíritos de qualquer outra pessoa; desejou muitas vezes ter o pensamento tão pronto, a
imaginação tão clara e distinta, ou a memória tão ampla e rápida, como têm algumas
coisas. No que diz respeito á razão ou ao senso, Descartes acredita que se encontra em
todo o ser humano, distinguindo-nos assim dos animais, entre outras. “Encontrou-se”
consigo próprio ainda muito jovem o que o levou a seguir certos caminhos que o
levaram a considerações e máximas, mediante as quais formou um método que lhe
permitiu aumentar gradualmente o seu conhecimento e de o elevar, a pouco e pouco, ao
mais alto ponto que lhe foi alguma vez permitido alcançar; desse método colheu frutos,
que, embora, no juízo que dele próprio faz, procure sempre inclinar-se mais para o lado
da desconfiança do que para o da presunção, e vendo com olhar de filósofo as diversas
acções e empreendimentos de todos os homens, não havendo quase nenhuma acção que
não lhe pareça vã ou inútil, não deixa contudo de receber uma boa satisfação com o
progresso que pensa já ter obtido na busca da verdade e de conceber esperanças para o
futuro, crê que é precisamente essa que escolheu. Descartes, não pretende, contudo,
ensinar o método que cada um deve seguir, somente fazer ver a maneira como procurou
conduzir a sua razão. Apresenta esta obra como uma história ou fábula (4), onde procura
vir a ser útil não sendo nocivo esperando, assim, ter o apreço pela sua franqueza.
Desde a sua infância que vive das letras, tendo um grande desejo por aprendê-las
, pois através delas obteria conhecimento claro e seguro, no entanto, quando terminou o
ciclo de estudos, ficando como doutor, mudou de opinião, pois as dúvidas e erros com
que foi sendo deparado, apenas serviram para descobrir, cada vez mais, a sua
ignorância. No colégio que frequentou, o Colégio de La Flèche, estudava as línguas
(latim e grego) necessárias á compreensão dos livros antigos, sendo lidos com descrição
e ajudavam á formação do juízo crítico, para facilitar todas as artes e para diminuir os
trabalhos dos homens. Descartes julgava que ler estes livros antigos era uma forma de
conversar com pessoas de outros séculos, considerando uma forma de viajar, sendo bom
saber-se algo sobre as outras culturas sendo possível, assim, julgar mais rectamente e
para não se pensar que tudo o que é contra o que é da nossa cultura é ser simplesmente
ridículo e contra a razão. Tinha grande apreço pela eloquência e adorava poesia,
julgando que tanto uma como a outra eram dons do espírito e não fruto do seu estudo.
Sentia prazer nas matemáticas, devido á certeza e evidência das suas razões, servindo-se
apenas delas para as artes mecânicas. Sobre a filosofia não desejava ser mais bem
sucedido do que os outros, e considerando que sobre a mesma coisa pode haver várias

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opiniões, considerava quase tudo como falso, tudo o que era apenas verosímil. Quanto
às outras ciências, em que se baseavam na filosofia julgava não ser possível construir
nada sólido sobre fundamentos pouco firmes. Quando teve idade para sair da alçada dos
seus preceptores, abandonou os estudo das letras e decidiu focar-se numa que lhe
permitisse encontrar-se a ele próprio, ou então no “(…) grande livro do mundo”
(Discurso do Método, pág. 63), empregando sua juventude a viajar, vendo cortes e
exércitos, convivendo com pessoas, acumulando experiências, experimentando-se a ele
próprio, segundo a sua sorte, e a reflectir sobre as coisas, de modo a tirar proveito delas,
tendo ele grande desejo em aprender a distinguir o verdadeiro do falso, para que
pudesse ver de forma clara e caminhar com segurança.
Depois de despender de muitos anos a estudar no “(…) grande livro do mundo”
(Discurso do Método, pág.64), e procurando, também, adquirir alguma experiência,
Descartes decidiu estudar-se a ele próprio e de empregar sua força e vontade, em
escolher os caminhos que deveria seguir, dando-lhe, na sua opinião, melhor resultado do
que se nunca se tivesse afastado do seu país e dos seus livros.

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2.2. Segunda Parte: Principais Regras do Método

Encontrava-se na Alemanha e o começo do Inverno impediu Descartes de voltar


a casa, ficando num aquartelamento fechado, sozinho, com tempo suficiente para se
entregar aos seus pensamentos. O primeiro a ocorrer foi que não há tanta perfeição nas
obras compostas por várias peças e vários mestres como as que são trabalhadas apenas
por um só. Os edifícios, começados e concluídos por um único arquitecto, por norma,
são os mais bonitos e mais bem ordenados do que aqueles que têm várias pessoas
esforçadas em reparar, servindo-se de paredes que se calhar foram construídas com
outros fins. Supôs que os povos outrora semi-selvagens se foram civilizando e fizeram
leis á medida dos seus crimes. E também que todos nós, tendo sido crianças antes de
seremos homens, seria quase impossível que os nossos juízos fossem puros e sólidos
como o teriam sido, se tivéssemos tido, desde o nascimento, o uso inteiro da nossa razão
e só por ela tivéssemos sido conduzidos. Nunca foi seu intento ir mais além do que
procurar melhorar os seus próprios pensamentos e construir bases totalmente suas, daí a
alusão aos prédios e a civilizações antigas que se foram civilizando e consequentemente
melhorando! O mundo é composto por duas espécies de espíritos, aos quais, de modo
algum, esta obra convém: os que se julgam mais hábeis do que são, não se coíbem de
precipitar o seu juízo nem têm paciência nenhuma para ordenadamente conduzir os seus
pensamentos e aqueles que tendo bastante modéstia ou razão, para se julgarem menos
capazes de distinguir o verdadeiro do falso, do que outros por quem podem ser
instruídos deveriam contentar-se em seguir as opiniões desses mesmos, não procurando
eles próprios outros melhores, ficando Descartes neste último “grupo” se tivesse tido
somente um mestre ou se não soubesse nada das diferenças que, em todos os tempos,
houve entre as opiniões dos mais eruditos. Porém, sendo um homem que caminha
sozinho resolveu usar sensatez em todas as coisas, não permitindo avançar muito mas
pelo menos evitaria cair, de resto não queria rejeitar de imediato qualquer opinião sem
que fossem introduzidas pela razão, sem empregar o tempo necessário para elaborar o
plano da obra que iria empreender e a procurar o verdadeiro método para alcançar o
conhecimento de todas as coisas de que o seu espírito fosse capaz.
Quando era mais jovem, Descartes, dedicou-se a algumas partes da filosofia à
lógica, e, entre matemáticas, à análise geométrica e álgebra, sendo três partes que
pareciam contribuir para o seu plano. Quanto à lógica, os seus silogismos e a maior
parte das suas regras, em vez de ensinarem, serviam para explicar as coisas que já se
saberiam, se bem que a lógica tradicional continha, efectivamente, muitos princípios
verdadeiros e bons, encontrando-se, no entanto, misturados outros que seriam
prejudiciais e/ou supérfluos, não se conseguindo, facilmente, separar dos outros. Quanto
à análise dos antigos e à álgebra dos modernos, além de só se aplicarem a matérias
muito abstractas, a primeira está sempre muito ligada à consideração de figuras, não
podendo exercitar o entendimento sem cansar a imaginação e a segunda sujeita-nos a
certas regras e a certos números, que faz desta uma arte confusa e obscura, embaraçando
o espírito, não o cultivando. Por isto, Descartes, achou ser necessário procurar outro
método, incluindo as vantagens destas três ciências, isento de defeitos, sendo apenas
fundamentais os quatro seguintes, desde que Descartes não deixasse uma única vez de
os seguir:

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o primeiro (a certeza) consistia em nunca aceitar coisa alguma como verdadeira,


sem a conhecer como tal, evitando minuciosamente a precipitação e a prevenção, não
havendo ocasião alguma hipótese de a pôr em causa;
o segundo (a análise) consistia na divisão das dificuldades analisadas em partes
quantas fossem possíveis e necessárias, para uma melhor resolução.
o terceiro (a síntese) ordenar os pensamentos, começando pelos objectos mais
simples e fáceis de conhecer até ao conhecimento do mais complexo, não deixando de
supor uma certa ordem entre os que não se sucedem naturalmente entre eles.
o último (a enumeração) consiste em fazer sempre enumerações completas e
revisões gerais, havendo, sempre, a certeza de não omitir nada.
Desta forma, e partindo destas “leis”, Descartes, teve a oportunidade de verificar
que todas as coisas que podem inserir-se dentro do conhecimento se ligam todas da
mesma forma, contando que nos neguemos a aceitar qualquer coisa como verdadeira,
sem a questionarmos e conservemos sempre a ordem necessária para as deduzir umas
das outras, sendo impossível havê-las tão afastadas, que, por fim, não se alcancem, nem
sejam tão ocultas que não se possam descobrir. Tendo em vista esta finalidade, não
concebeu esta obra para aprender todas as ciências mas sim de forma a poder examinar
somente as relações em geral e supô-las somente naquilo que lhe servisse, podendo,
assim, tornar o conhecimento mais fácil, para depois as melhor poder aplicar a todas as
coisas a que conviessem. Seguidamente, notou que, para as melhor conhecer, teria de
considerar essas mesmas relações como particular e outras vezes somente de as reter ou
de compreender várias em conjunto. Porém, para as reter ou compreender várias em
conjunto, seria preciso explicá-las por meio de sinais, o mais simplificado possível, e
por este modo, utilizaria o que de melhor tinha a análise geométrica e a álgebra e
corrigiria os erros de uma com a outra. Através deste método, o próprio Descartes,
conseguiu, não somente, resolver muitas questões, que anteriormente, julgara muito
difíceis, como conseguiu determinar por que meios e até onde seria possível resolvê-las.
O que mais o satisfazia neste método era o facto de, por meio deste, estar seguro em
usar, em tudo, a sua razão, sentia que, ao pô-lo em prática, sentiu que o seu espírito se
acostumou a conceber mais nitidamente e distintamente os objectos e aplicá-lo às
dificuldades das outras ciências.
Notou, todavia, que os seus princípios se deviam tirar todos da filosofia na qual
não se encontrava ainda nenhum que fosse certo e deveria empregar muito mais tempo a
preparar-se a juntar todas as suas experiências para mais tarde, matéria dos seus
raciocínios e exercitar-se sempre no método que se impusera a cumprir, a fim de cada
vez mais nele se manter firme.

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2.3. TERCEIRA PARTE: Algumas Regras de moral tiradas do Método

Antes de se começar a construir a casa onde se vive, não basta demoli-la e


construi-la de novo, mas sim estar provido de várias coisas, como por exemplo, outra
casa para se viver enquanto esta estiver a ser construída; traçar-se minuciosamente o
projecto, entre outras coisas, do mesmo modo, para Descartes não ficar indeciso na sua
conduta, enquanto a sua razão obrigava a sê-lo nos seus juízos e para não deixar de
viver feliz formou para si próprio uma moral provisória, constituída apenas por três ou
quatro máximas, sendo a primeira obedecer às leis e costumes do seu país, conservando
firmemente a religião, conduzindo-o de acordo com as opiniões moderadas e mais
afastadas do exagero. Com efeito, não contando com as suas próprias opiniões, visto
que as queria submeter a exame, estava seguro de que teria de seguir as dos mais
sensatos, parecendo-lhe ser mais útil regular-se por aqueles com quem teria de viver,
prestando mais atenção ao que eles faziam do que ao que diziam. Escolheu as opiniões
mais moderadas pois o seu excesso, por norma, é mau, pois prometeu a si próprio
aperfeiçoar cada vez mais os seus juízos, pensando que cometeria uma falta contra o
bom senso se, por ter considerado uma vez qualquer coisa, a tivesse de a considerar
sempre boa quando a deixasse de ser ou se a tivesse deixado de considerar como tal. A
segunda máxima era a de ser o mais firme e resoluto possível em todas as suas acções,
não seguindo menos firmemente as opiniões mais duvidosas do que as seguiria se
fossem muito seguras. Da mesma forma, as acções da vida não poderiam sofrer, muitas
vezes, nenhum adiamento, Descartes, acreditava nisto como sendo uma verdade certa
devendo nós seguir as mais prováveis, caso não temos como decidir, devemos optar por
escolher algumas opções e considerá-las não como duvidosas no que concerne á prática,
mas sim como verdadeiras e certas, pois foi a razão que nos levou a tal escolha. A
terceira máxima era a de tentar sempre vencer-se a si próprio do que vencer a fortuna e
mudar antes os seus desejos do que a ordem do mundo e, de um modo geral, habituar-se
a crer que não há nada que esteja inteiramente em nosso poder, excepto os nossos
pensamentos, de modo que, depois de termos feito o melhor possível, tudo o que
impede de sermos bem sucedidos, em relação a nós próprios é absolutamente
impossível. Apenas isto lhe parecia ser suficiente para se impedir da nada desejar que
não conseguisse adquirir e tornar-se satisfeito. Acredita ser necessário longos exercícios
e meditação, muitas vezes repetida, para que nos possamos habituar a ver por este ponto
de vista todas as coisas. Como conclusão a esta moral, passou, em exame meticuloso, as
diversas ocupações dos homens, a fim de escolher a melhor, sendo que chegou á
conclusão que o que tinha a fazer era de seguir o que já estava a fazer, cultivando sua
razão e a avançar, tanto quanto possível, no conhecimento da verdade, com o método a
que se propusera.
Tinha experimentado imensas alegrias desde que se começou a servir do
método, além disso, as máximas precedentes não tinham outro objectivo senão o de
continuar a instrui-lo e não teria conseguido limitar o seus desejos nem a conseguir ficar
satisfeito. Depois de estar seguro destas máximas e de as ter posto de parte, assim como
com as verdades da fé, relativamente a todos, as outras opiniões, poderia libertar-se
delas. E como esperava chegar ainda mais longe e a um melhor resultado, através da
conversa com outras pessoas, de novo, viajou e durante nove anos não fez outra coisa
senão andar pelo mundo, reflectindo em todos os assuntos, rejeitando o que não fosse

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claro, seguro, lógico e coeso. Continuou sempre a exercitar-se no método a que se


propôs, dedicava algumas horas às matemáticas. Todavia, os nove anos passaram sem
que tivesse tomado nenhuma resolução sobre as dificuldades que costumam ser
discutidas entre os mais eruditos nem procurado os fundamentos de uma filosofia mais
certa que a vulgar, no entanto, corria o boato de que já obtivera sucesso neste projecto.
Não sabia em que baseavam tal opinião, no entanto, não queria ser julgado pelo que não
era nem conseguira, achou por bem, esforçar-se por todos os meios, tornar-se digno da
reputação que lhe fora impingida e retirou-se para a Holanda, para viver solitário como
no deserto.

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3. QUARTA PARTE: Provas da existência de Deu ou da alma humana

Nesta parte, Descartes fala das suas meditações, que são metafísicas e nada
comuns. Desde há muito que fez notar que, no que concerne aos costumes, seria
necessário seguir opiniões que, a priori, sabíamos serem incertas, como se fossem
indubitáveis, no entanto, agora iria dedicar-se apenas á procura da verdade, pensou ser
preciso fazer o contrário e rejeitar absolutamente falso tudo aquilo em que se pudesse
imaginar a mais pequena dúvida, com o propósito de ver se depois ficava na sua mente
qualquer coisa que fosse absolutamente indubitável. Decidiu supor que não existe nada
que seja exactamente como se imagina que seja. E como nos enganamos muito a
raciocinar, até nas mais simples questões, cometendo-se paralogismos, pensando o
próprio Descartes estar tão sujeito a enganar-se, como qualquer outro, chegando a
rejeitar como falsas todas as razões de que, anteriormente, se servira, concluiu que tudo
o quanto entrara no seu entendimento não seria mais verdadeiro que as ilusões do seus
sonhos. Ao notar que: Penso, logo existo, era tão firme e verdadeira, que nenhuma
suposição dos cépticos seria capaz de a abalar, julgando Descartes que a podia aceitar
sem hesitar, para primeiro princípio de filosofia que procurava. Ao examinar-se a si
próprio, e vendo que podia supor que não tinha corpo, não havia nenhum mundo nem
nenhum lugar, onde ele estivesse, mas que, apesar disso, não podia supor que não
existia, muito pelo contrário, precisamente pelo facto de duvidar da verdade das outras
coisas, concluiu que certamente existia, ao passo que, se deixasse por momentos de
pensar, ainda que tudo o resto fosse verdadeiro, compreendeu que era apenas uma
substância, cuja essência ou natureza não é senão pensar e para existir não necessita de
nenhum lugar nem depende de nada material. De maneira que a alma é inteiramente
distinta do corpo e mais fácil de se conhecer e mesmo que o corpo não existisse nada
impediria que alma fosse o que é.
Na afirmação Penso, logo existo, para Descartes, nota que nada lhe garante que
esteja a dizer a verdade, a não ser que para pensar é preciso existir, Descartes toma
como regra que são verdadeiras todas as coisas que concebemos muito distinta e
claramente, havendo apenas dificuldade em saber o que concebemos distintamente.
Quanto aos pensamentos que tinha de coisas fora dele, Descartes não se preocupava de
onde tinham vindo, pois nada via nelas algo que as tornasse superior a ele, pôde crer
que, se eram verdadeiras, dependiam da sua natureza, na medida em que ela tinha
alguma perfeição e se não o eram e Descartes as tinha do nada (ou seja estavam nele)
seria porque ele tinha defeito. Porém, restava-lhe pensar que tinha sido posto em si por
uma natureza verdadeiramente mais perfeita do que Descartes, e que até contivesse
todas as perfeições, sobre as quais tivéssemos alguma ideia, isto é, que fosse Deus. A
isto acrescentou que, conhecendo ele algumas perfeições que ele não tinha, não era o
único ser existente mas existiria outro mais perfeito, do qual ele dependesse e do qual
tivesse adquirido tudo o que tinha. Com efeito, se Descartes fosse o único ser e
independente de qualquer outro, de modo que tivesse recebido dele próprio, poderia ter
tido, pela mesma razão, tudo o resto que reconhecia faltar-lhe e, consequentemente, ter
todas as perfeições de Deus! Na sequência de todos estes raciocínios, para melhor
conhecer a natureza de Deus, bastava-lhe considerar se seria ou não perfeição possuir

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todas as coisas e as que continham alguma imperfeição, não estavam em Deus, mas sim
nas outras perfeitas, assim a dúvida, incerteza, a inconstância e coisas semelhantes não
poderiam, nunca, estar n’ Ele. Conclui que possui ideias de coisas sensíveis, corpóreas e
embora julgasse que tudo o que via ou imaginasse fosse falso, não poderia negar que
essas ideias não estivessem presentes no seu pensamento, considerou, também que toda
a composição implica dependência, sendo esta, manifestamente, um defeito, que em
Deus, a composição destas duas naturezas não podia ser uma perfeição e,
consequentemente, não existia. Quis procurar outras verdades, sendo pelo menos certo
que Deus, que é um ser perfeito, é ou existe, como qualquer demonstração de geometria
pode ser certa. Quanto ao facto de haver muitos que convencem ser difícil conhecê-lo,
como conhecer a sua própria alma, é resultante de nunca elevarem o espírito para além
das coisas sensíveis e de estarem apenas habituados a verem o que se encontra á sua
frente. Apesar destes argumentos apresentados, se havia ainda quem não estivesse
convencido da existência de Deus, Descartes apresenta uma razão, no mínimo, válida!
Descartes diz que “são menos certas, todas aquelas outras coisas do que se julgam
talvez mais seguros” (Discurso do Método, pág,94). Como saber se os pensamentos que
temos, a sonhar, serão mais falsos do que os outros? Descartes, crê que não há nenhuma
razão plausível capaz de eliminar esta dúvida se não se pressupor e existência de Deus.
Com efeito, aquilo que Descartes tomou como regra, ou seja, as coisas que concebemos
muito clara e distintamente são verdadeiras, só lhe era garantido porque Deus seria ou
existiria, seria perfeito e tudo o que existia em nós proviria d’ Ele. As nossas ideias ou
noções, sendo coisas reais, vindas de Deus, nunca poderiam deixar de ser verdadeiras,
uma vez que seriam claras e distintas. Se porventura temos ideias que contenham
falsidade, a razão estará em elas conterem algo de confuso ou obscuro, ou seja, pelo
facto de serem, em nós, confusas, devido a não sermos totalmente perfeitos.
Depois do conhecimento de Deus e da alma nos ter dado a certeza desta regra, é
mais fácil saber que os sonhos, a dormir, não deveriam, de forma alguma, levar-nos a
duvidar da verdade dos pensamentos que temos quando estamos acordados. Quanto ao
erro mais comum dos sonhos não importa que nos proporcione a desconfiança na
verdade das ideias, pois isto também nos poderia acontecer mesmo acordados. Quer
estejamos a dormir ou acordados, nunca nos deveríamos deixar convencer senão pela
certeza da nossa razão. Note-se que Descartes fala da razão e não da imaginação nem
dos sentidos, a razão garante-nos que todas as nossas ideias ou noções deveriam ter
algum fundamento de verdade, pois nunca seria possível que Deus as tivesse colocado
em nós sem um fundamento. Sendo que os nossos raciocínios não seriam tão evidentes
nem completos durante o sono, a razão mostra-nos que, não podendo ser todos os
nossos pensamentos verdadeiros, pois não somos completamente perfeitos, a verdade
que eles têm deveriam encontrar-se mais naqueles pensamentos que temos quando
acordados do que nos nossos sonhos!

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2.5 Quinta Parte: Ordem das questões de Física

Nesta parte, Descartes quis expor a explicação das diferenças entre os homens e
os animais. Se houvesse maquinas com os órgãos e a figura de um macaco ou de outro
animal qualquer, desprovido da razão, não haveria qualquer tipo de processo para as
distinguir desses animais, enquanto, se as houvesse semelhantes aos nossos corpos e
imitassem as nossas acções quanto fosse possível, teríamos dois meios precisos, de
reconhecer que jamais seriam humanos. Segundo Descartes, nunca poderiam servir-se
de palavras nem de outra forma de organização das palavras. E também, apesar de
fazerem várias coisas, falhariam noutras, permitindo-nos descobrir que não agiram com
conhecimento mas apenas pela disposição dos seus órgãos. Ao passo que a razão é um
instrumento universal, as máquinas necessitariam de uma disposição particular para
cada acção. Assim sendo, seria impossível existir numa máquina tantos e diversos
órgãos, capazes de agir em todas as situações diárias, do mesmo modo, que a razão nos
faz agir. Assim, por estes dois meios, pode saber-se igualmente, qual a diferença entre o
homem e o animal. É claro que não há um único homem que não seja capaz de
combinar diversas palavras e com elas construir um discurso, já o animal jamais
conseguirá realizar semelhante feito. Isto não prova, contudo, que os animais têm menos
razão do que os homens, mas prova que não têm absolutamente nenhuma. Descartes, diz
que não devemos fazer confusão com palavras e gestos naturais que exprimam afecto,
os quais podem ser imitados, quer por animais, quer por máquinas. Diz também que,
apesar de existirem animais que revelem mais habilidade do que os homens, nota-se,
todavia, que em muitas outras, nenhuma revelam. O que poderão fazer melhor do que os
homens em nada prova que tenham espírito, pois nesse caso, tê-lo-iam muito mais do
que os homens e agiriam melhor em tudo, pelo contrário, é a natureza que neles actua
conforme as suas necessidades sociais, motoras, em tudo. Quanto á alma racional, ela
não pode ser tirada da matéria, mas que deve ser criada. Não basta estar alojada no
corpo humano, é necessário que esteja estritamente unida com ele, para ter além disso,
sentimentos e apetites semelhantes aos nossos e assim formar um verdadeiro homem.
Os animais terão alma? Ou estará ela sequer unida ao corpo? A razão está em que,
depois do erro daqueles que negam a existência de Deus, maior erro é agora supor que a
alma dos animais é da mesma natureza que o dos homens. Descartes, conclui que, como
elas diferem, conseguindo-se compreender muito melhor as razões que provaram que a
alma dos homens é de natureza completamente independente do corpo não estando
sujeita morrer com ele. Não sendo possível ver causas para a sua destruição, somos
mesmo levados a considerá-la imortal.

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CONCLUSÃO

Tendo partido de uma dúvida universal, Descartes vem encontrar em si mesmo a


certeza (e verdade) indubitável do “Penso, logo existo”, pois que, no próprio acto de
duvidar, a consciência afirma-lhe clara e distintamente a sua existência como “res
cogitans”, como ser ou substância pensante, ou substância cuja essência é o pensamento
ou seja, sua actividade psíquica ou mental. O “cogito” torna-se, assim, o fundamento de
toda a sua filosofia, construída pelo método intuitivo e matemático da ideia clara e
distinta. A análise do pensamento feita por Descartes permite-lhe reconstruir a
metafísica tradicional: a “ psicologia metafísica ou racional” ao definir a “alma” (=
espírito) pelo seu atributo essencial, o pensamento, que lhe concede o dom da
“imortalidade”; a teologia racional ao admitir que a ideia de Deus, que se encontra na
sua mente, não pode provir senão do próprio Deus. O mundo como sendo corpóreo ou
material, cujo atributo essencial é a extensão (= figura e movimento), mundo esse
fundado, objectivamente, na veracidade e imutabilidade divinas. Põe de parte os
aspectos qualitativos das coisas, aspectos apenas subjectivos e não mensuráveis,
afirmando que a única e verdadeira ciência dos corpos é o mecanismo ou o
mecanicismo.
“Descartes, reunindo em si a maior parte das aspirações da sua época, soube

dar uma resposta que pareceu satisfatória a muitos espíritos desencantados das

filosofias oficiais. Teve o mérito de restaurar audaciosamente o sentido da metafísica

que se ia perdendo; como matemático, introduziu na filosofia, enfrentando um

ecletismo desagregador, a preocupação do rigor e da unidade sistemática; como físico,

não menos que filósofo, ele apreendeu e dominou as tendências cientificas mais

fundamentais da sua época. Assim, deu satisfação a três grandes e inevitáveis

exigências do pensamento humano: a exigência eterna duma metafísica, a exigência da

unidade racional na especulação, e também a exigência duma harmonia das doutrinas

filosóficas com os interesses teóricos e práticos do seu tempo”(Pº. Maréchal, 1878-

1944).

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Bibliografia

 GUIMRÃES, Tavares – Descartes - Discurso do Método, Porto, Porto Editora


 MARCELINO, I.; GOMES, I & FRANKLIN, A. – Sentido (s) do Saber,
Introdução á Filosofia 11º ano, Porto, Porto Editora
 MORA, José Ferrater – Dicionário de Filosofia, 1991, Lisboa, Dom Quixote
 SANTOS, Mª Helena Varela & MACEDO, Teresa – No reino dos porquês – “O
homem do outro lado do espelho”, Filosofia 10º ano – Porto, Porto Editora
 ROCHA, Ana & FIDALGO, Zilda – Psicologia, 12º ano – 1ª Edição, Lisboa,
Texto Editora

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