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RESENHA
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A Criança Portadora de Síndrome de Down e a Inclusão Escolar

VOIVODIC, Maria Antonieta Inclusão Escolar de Crianças com Síndrome de


Down. Petrópolis, RJ : Vozes, 2004.

Ana Luisa da Silva Forti1


Erivaldo Cabral
Dra. Roberta Gaio
Fundo de Apoio a Extensão – FAE/UNIMEP
Universidade Metodista de Piracicaba

A temática da inclusão escolar tem sido amplamente discutida por muitos


autores que vêem os benefícios que este tipo de prática proporciona para o
desenvolvimento e aprendizagem das crianças ao serem inseridas em um
ambiente que há pouco tempo atrás nem se imaginaria possível, uma vez que
a segregação de crianças com necessidades educativas especiais, do convívio
social, era uma prática corrente. A inclusão traz a idéia de igualdade de
direitos e, principalmente o respeito às diferenças, ao afirmar que
independente das necessidades especiais todas as crianças têm o direito de
freqüentar uma escola regular e aprender os conceitos trabalhados.
É tendo este cenário como pano de fundo que Maria Antonieta Voivodic,
psicóloga, pedagoga e psicopedagoga, especialista em picomotricidade e
psicodrama pedagógico, mestre pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e
diretora do Encontro – Centro Integrado de Desenvolvimento Infantil, escreve
seu livro “Inclusão Escolar de Crianças com Síndrome de Down”.
A autora dividiu sua obra em quatro capítulos principais: Inclusão,
Síndrome de Down, Projeto “Educar Mais Um” e Método.
No primeiro capítulo traz as contribuições de vários autores como
MRECH(1999), FREUD, LACAN, STAINBACK & STAINBACK (1984), MENDES
(1999), entre outros, na tentativa de situar o leitor como o termo e o
1
Aluna do Curso de Psicologia da Universidade Metodista de Piracicaba e bolsista do projeto de extensão – Educação
Física Inclusiva: uma experiência com crianças portadoras de Síndrome de Down na cidade de Piraciciaba.
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movimento relacionado a inclusão foi se constituindo ao longo do tempo. Ainda


neste capítulo, retoma outros autores para tentar estabelecer as diferenças
existentes entre os termos inclusão e integração, indagando se existe diferença
entre os termos ou inclusão é apenas um termo mais moderno para se falar de
integração. Com isso, vai articulando brilhantemente e de forma bem tranqüila
as idéias defendidas por vários autores; desde aqueles que defendem que os
dois termos designam situações bem distintas, como aqueles que utilizam os
termos como sinônimos.
No segundo capítulo, a autora conta ao leitor sobre as primeiras
descobertas a respeito da Síndrome de Down, aponta as características físicas
que poderiam ser associadas a esta Síndrome, bem como o comprometimento
motor e cognitivo que as crianças apresentam. Contudo, Voivodic chama a
atenção para o fato das pessoas não se aterem simplesmente as condições e
comprometimentos genéticos que a Síndrome de Down pode causar, mas
ressalta que as competências cognitivas, acima de tudo, são algo que se
adquire e, desta forma, podem ser modificadas.
Neste capítulo ainda faz uma discussão sobre a educação informal em
que a família se constitui como principal grupo social em que a criança esta
inserida, e a educação formal feita através da instituição escolar. Sobre a
educação informal, Voivodic ressalta que as primeiras experiências de vida de
uma criança com Síndrome de Down são extremamente importantes para seu
desenvolvimento posterior. Contudo, esta relação inicial pode ficar
comprometida pela dificuldade da família em lidar com a criança real uma vez
que a notícia de se ter um filho portador de uma necessidade especial traz
profundo impacto para a família. Ao mesmo tempo, a autora destaca que a
forma como a família lida com a deficiência do filho influencia a inserção ou
não desta criança na sociedade. Ao falar da educação formal coloca, muito
apropriadamente, que a principal função da escola não é só transmitir
informações, mas a integração social começa com ela, uma vez que é através
da escola que os padrões de convivência são estabelecidos.
No terceiro capítulo a autora apresenta o desenvolvimento do Projeto
“Educar Mais 1” que tem por objetivo a inclusão de crianças com Síndrome de
Down em uma escola regular. Este projeto partiu das teorias e metodologias

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defendidas e trabalhadas no Projeto Roma, projeto este que aconteceu em


Málaga, na Espanha e teve como coordenador o Professor Miguel Lopez Melero.
Pais de crianças com Síndrome de Down, que freqüentavam o “Espaço XXI” em
Campinas, ao entrarem em contato com as idéias defendidas no Projeto Roma
resolveram criar o Projeto “Educar mais 1”, projeto este que ocorreu com cinco
crianças em idade pré-escolar.
No quarto capítulo fala sobre a metodologia desenvolvida no Projeto
“Educar Mais 1” relatando que os próprios pais das crianças com Síndrome de
Down contrataram uma coordenadora com formação em psicologia que iria
desenvolver o projeto e, mais três mediadoras foram contratadas todas com
formação em pedagogia e psicopedagogia. As crianças foram matriculadas em
escolas regulares, todas escolas particulares, e o projeto foi discutido com as
responsáveis por cada escola. As mediadoras acompanhavam as crianças em
sala de aula (apenas em uma escola isto não foi possível) e mediavam a
relação entre professor-aluno e pais-filhos-escola.
Assim sendo, a autora, por meio de entrevistas semi-dirigidas feitas com
a coordenadora e as mediadoras, estabelece uma discussão sobre esta prática,
salientando os pontos positivos, negativos, as principais dificuldades
encontradas e os resultados obtidos pelos profissionais na realização deste
projeto. É importante salientar que a autora traz uma visão prática de como
um processo de inclusão pode ser feito e, principalmente surtir resultados
significativos.
A autora ressalta ainda, nas Considerações Finais, que este projeto é
novo (na época de realização, contava com apenas um ano) e que, apesar de
ter começado nos moldes do Projeto Roma, esta sendo dirigido tendo por base
as experiências vivenciadas pelos profissionais, levando em conta o contexto
social e educacional que está sendo trabalhado. Por conta também de ser um
projeto recente, o foco dado a discussão centrou-se mais no processo do que
nos resultados obtidos.
Voivodic finaliza seu livro salientando que as mudanças envolvendo esta
temática são lentas e exige muita luta. Ressalta ainda que este é apenas o
começo da luta para ver os direitos de pessoas portadoras de necessidades

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especiais respeitados e, acima de tudo, fazendo parte ativamente da


sociedade.
Assim, o livro de Voivodic consiste num referencial importante para
professores e professoras, que trabalham com crianças, não só crianças
portadoras de Síndrome de Down, mas todas, pois só acreditando e lutando
pela aceitação das diferenças é que teremos um mundo mais humano, onde a
vida pode ser mais justa e digna para todos.

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