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Novos Enfoques na Produção e Reprodução de Bovinos

Leite

Manejo da Vaca de Leite Durante o Stress Calórico


para Aumento da Eficiência Reprodutiva

Peter J. Hansen
Departamento de Ciências Animais
Universidade da Flórida, Gainesville Flórida 32611-0910
Fone: 352-392-5590 Fax: 352-392-5595

O Crescente Problema do Stress Calórico

A vaca de alta produção passa a apresentar aumento de temperatura corporal em temperatura ambiente
de apenas 80���
°��
F (26,6°C).
���������� Como
�����������������������������������������������������
resultado, o stress calórico causa problemas em ���������������
quase todos os ��������
Estados
Unidos, até mesmo em locais no extremo norte como Wisconsin. As vacas expostas ao stress calórico
apresentam queda no consumo de ração, redução na produção de leite, baixo nível de expressão dos sinais
de estro e infertilidade.
Vacas apresentam elevação de temperatura corporal durante o calor, pois não são capazes de eliminar
de forma eficiente o calor produzido em seu organismo para o ambiente. Como as vacas de alta produção
de leite geram mais calor que as de baixa produção, os efeitos do stress calórico são mais intensos à medida
que aumenta o rendimento leiteiro. Este conceito está demonstrado na Figura 1, que apresenta a variação
sazonal da taxa de não retorno aos 90 dias (uma estimativa da taxa de concepção) de vacas na Flórida e no
Sul da Geórgia. Observe que a depressão de fertilidade é mais intensa e mais prolongada durante o verão
em vacas que produzem >20.000 libras (9.072 kg) de leite por lactação que em vacas que produzem entre
10.000 (4.536 kg) e 20.000 libras (9.072 kg) de leite. As vacas que produzem menos de 4.500 kg de leite
apresentam redução menos expressiva da fertilidade.

Figura 1. �������������������������������������������������������������������������������������������������������������
Efeito do rendimento leiteiro sobre a variação sazonal na taxa de não retorno aos 90 dias em vacas leiteiras
na Flórida e sul da Geórgia. O termo taxa de não retorno aos 90 dias se refere à porcentagem de vacas que não foi
detectada em estro até 90 dias depois da inseminação. As linhas representam dados de vacas produzindo menos de
10.000 libras de leite por lactação (círculos fechados), 10.000-20.000 libras (círculos abertos) e mais de 20.000 libras
(triângulos). Dados de Al-Katanani et al., J. Dairy Sci. 82, 2611-2615 (1999).


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Isto significa que à medida que continuarmos a aumentar a produção de leite (através de seleção genética,
melhores práticas nutricionais, etc.), as vacas ficarão mais suscetíveis ao stress calórico. Muito se discute
quanto à menor fertilidade atual da vaca leiteira se comparada a níveis de 20 ou 30 anos atrás. Parte deste
declínio se deve à maior suscetibilidade do gado de leite ao stress calórico. A redução do impacto do stress
calórico sobre a reprodução é uma das maneiras de reverter parcialmente esta redução histórica da fertilidade
de vacas leiteiras.

Medidas Além do resfriamento das Vacas


Em regiões tais como os estados da Flórida e Arizona, em que o stress calórico é um problema contínuo
e bastante grave, a abordagem mais comum adotada por produtores de leite para minimizar seus efeitos é a
modificação das instalações para permitir o resfriamento das vacas. Tais modificações incluem a instalação
de coberturas para fornecimento de sombra, sprinklers, ventiladores e nebulizadores e estão além do escopo
deste trabalho. ������������������������������������������������������
Três pontos, entretanto, são extremamente relevantes. �����������������������������������
Primeiro, o resfriamento das vacas
pode ser uma maneira importante de reduzir os efeitos do stress calórico sobre a produção de leite e deve
ser incorporado nos sistemas de produção leiteira quando as condições assim o permitirem. Segundo, novos
sistemas são continuamente avaliados por pesquisadores, como novos métodos de resfriamento tais como
ventilação tipo túnel, que talvez se consolide como sendo mais eficaz que os sistemas existentes baseados em
ventiladores em associação a sprinklers e pulverizadores. Finalmente, é importante salientar que os sistemas
de resfriamento não costumam eliminar a depressão sazonal de fertilidade, pelo menos em locais como a
Flórida, em que o stress calórico pode ser bastante intenso. Este último ponto está ilustrado pelos dados da
Figura 2, que demonstram a variação mês a mês das taxas de concepção de uma unidade de 2.000 cabeças no
sul da Flórida, em que as vacas são alojadas em freestalls equipados com sprinklers e ventiladores. Pode-se
observar que a utilização destas ferramentas de resfriamento não evitou que houvesse declínio significativo
das taxas de concepção durante o verão.

Figura 2. Variação sazonal na taxa de prenhez (número de prenhes/número de inseminadas) em uma granja leiteira
comercial na Flórida na qual as vacas foram alojadas em freestalls equipados com ventiladores e aspersores. Dados
de Hansen e Aréchiga, J. Anim. Sci. 77 (Suppl 2): 36-50 (1999).


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A incapacidade dos atuais sistemas de resfriamento de eliminar o efeito de depressão da fertilidade


durante o verão levanta a necessidade de outros métodos para melhorar os índices reprodutivos em épocas
de stress calórico. Este trabalho discute abordagens para melhorar a eficiência reprodutiva durante o verão,
baseadas em atenuação dos efeitos do calor sobre a fisiologia das vacas.

Aspectos da Reprodução Afetados pelo Stress Calórico


Explicando de uma maneira simples, é difícil emprenhar as vacas durante o stress calórico, pois: 1) a
detecção do cio é bastante difícil e 2) mesmo que o cio seja detectado, poucas vacas concebem depois de
inseminadas.
A detecção do estro não é fácil mesmo na ausência de stress calórico. Com o uso do sistema HeatWatch® para
registro de todas as montas, pesquisadores da Virginia Tech University estimaram que o estro em vacas leiteiras em
lactação tem a duração de apenas 7-10 horas. Durante este período, são registradas em média 8-10 montas das vacas.
O tempo gasto por monta (calculado como o número de montas dividido pelo tempo em que a vaca é montada)
é de somente 24 segundos. Outro fator complicador é o fato de que o estro torna-se mais curto à medida que o
rendimento leiteiro aumenta. Um ponto importante a ser considerado é que as vacas que têm fraca manifestação do
estro (ou seja, não são montadas muitas vezes ou não exibem estro por longo período) são tão férteis quanto as vacas
muito ativas sexualmente durante o estro (ver Tabela 1). Assim, a falha de identificação das vacas com sintomas
fracos de estro tem o mesmo efeito sobre as taxas de concepção do rebanho quanto a falha de identificar uma vaca
com comportamento sexual muito intenso.

Tabela 1. ��������������������������������������������������������������������������������
Efeito da intensidade do estro sobre as taxas de concepção em vacas em lactação.1

Porcentagem de vacas incluídas


Categoria do estro 2 Taxa de concepção (%)
na categoria
Baixa intensidade-curta duração 24,1 45,6
Baixa intensidade-longa duração 33,2 45,5
Alta intensidade-curta duração 34,3 47,0
Alta intensidade-longa duração 8,4 49,8
1 De Dransfield et al., J. Dairy Sci. 81, 1874-1882 (1998).

Considerando o comportamento das vacas, não causa surpresa de que tantos estros não sejam detectados.
Em um estudo na Flórida, por exemplo, mais de 40% dos períodos de estro não foram detectados nos melhores
meses (Figura 3). Nos meses piores, associados ao stress calórico, o índice de falha de detecção de estro
chegou a 75-80%. A dificuldade de detecção de estro durante o verão acontece pois o calor reduz tanto a
duração do estro quanto o número de montas.
Outro importante efeito do stress calórico sobre a reprodução é a redução da proporção de vacas que
emprenham depois da inseminação. Este
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efeito já foi demonstrado nas Figuras 1 e 2.
��� A
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magnitude da depressão
da fertilidade durante o verão pode ser bastante significativa – taxas de concepção de 10% ou menos são
comumente observadas na Flórida nos meses de verão.
Existem várias causas para a baixa fertilidade durante o stress calórico. Uma ação do stress calórico ocorre
sobre o folículo - a estrutura em que ocorre o desenvolvimento do ovo (ou oócito). As vacas submetidas a
stress calórico tendem a produzir oócitos de menor capacidade de fertilização e, caso ocorra a fertilização,
os embriões passam a ter desenvolvimento anormal. Vacas expostas a stress calórico tipicamente apresentam
elevação da temperatura corporal, que passa a ser alta o bastante para danificar diretamente o oócito ou de


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matar o embrião. Além disso, os níveis séricos de progesterona, hormônio responsável pela manutenção da
prenhez, podem estar reduzidos em vacas submetidas a stress calórico.

Figura 3. Variação sazonal na proporção estimada de estros não detectados em um rebanho de vacas Jersey no norte
da Flórida. Dados
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de Thatcher e Collier
�������� (Em
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D.A. Morrow,
�������������
ed., Current
����������������������������������
Therapy in Theriogenology 2,�����������������
Philadelphia,
WB Saunders, 1986).

O Quanto é Quente Demais?


Em regiões como a Flórida, não é difícil prever quando existe a possibilidade de que o calor cause stress.
Quase todos os dias de verão são quentes o bastante para comprometer a reprodução e reduzir a produção
de leite. Em outras regiões, não é tão fácil prever se o clima pode ou não afetar negativamente as vacas.
Assim, uma série de índices foram desenvolvidos para ajudar a prever se as vacas estão sendo expostas a
stress calórico. O índice mais comum relaciona temperatura e umidade, sendo calculado a partir dos valores
de temperatura ambiente e umidade relativa. Estes índices representam apenas uma indicação do possível
stress calórico, pois a temperatura corporal da vaca depende também de outras variáveis ambientais além
de temperatura ambiente e umidade relativa, especialmente da velocidade do vento e do índice de radiação
solar. Além disso, fatores individuais das vacas determinam a magnitude de elevação da temperatura
corporal durante o stress calórico. Vacas de alta produção tendem a ser mais afetadas pelo stress que as de
baixa produção, vacas de pelagem preta são mais sensíveis que as brancas e o uso de BST pode aumentar a
suscetibilidade ao stress calórico.
A melhor maneira de determinar a magnitude do efeito do stress calórico sobre as vacas é através da
determinação da temperatura retal. A temperatura corporal normal da vaca é cerca de 101,3��� °��
F ����������
(38,5�����
°����
C).
Já foi demonstrado que um aumento de cerca de 0,9��� °��
F resulta
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em declínio de 12,8% da taxa de concepção
[Gwazdauskas et al., J. Dairy Sci. 56, 873-877 (1973)]. Pode-se dizer que uma vaca que apresente uma
temperatura retal de 102.2���
°��
F ��������������������������������������������������������������������������������
(39�����������������������������������������������������������������������������
°����������������������������������������������������������������������������
C) ou mais durante a tarde está provavelmente sofrendo os efeitos do stress
calórico (caso não tenha mastite ou qualquer outra doença). A determinação da temperatura retal do grupo
de vacas durante a tarde pode ser uma maneira simples de obter uma avaliação bastante precisa do grau de
stress calórico e da eficácia dos sistemas de resfriamento incorporados às instalações.


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Minimizando o Impacto do Stress Calórico sobre a Detecção


do Estro
Felizmente, existem várias técnicas disponíveis para superar os efeitos do stress calórico sobre a detecção
do estro. Uma abordagem é a adoção de uma das inúmeras ferramentas disponíveis para auxiliar na detecção
do estro. A mais simples é a marca de giz aplicada à base da cauda. Quando a vaca está em estro, é montada
e o giz é removido. A eficácia deste método foi demonstrada em um experimento conduzido durante o verão
no sul da Flórida com vacas em lactação. A porcentagem de vacas detectadas em estro após sincronização
com Lutalyse® foi de apenas 26% com detecção visual versus 43% quando a detecção visual foi combinada
com a marca de giz [Ealy et al., J. Dairy Sci. 77, 3601-3607 (1994)].
Existe uma série de dispositivos de detecção de monta no mercado, tais como KaMar®, Bovine Beacon®
e Estrus AlertTM. O sistema HeatWatch® é o dispositivo mais sofisticado para detecção do comportamento
de monta. Consiste de transdutor de pressão aplicado à base da cauda, contido em uma grande embalagem
adesiva. Sempre que a vaca for montada, a informação é enviada para um computador, que registra o horário
e a duração da monta. Este sistema é considerado o padrão para detecção de estro, mas seu custo é bastante
elevado. A pele sob o transdutor pode apresentar irritação caso o dispositivo seja mantido por períodos
prolongados de tempo.
Outros sistemas de detecção de estro usam pedômetros para medir o número de passos dados pela vaca.
Estes dispositivos são baseados no fato de que as vacas em estro passam mais tempo andando que as demais.
Ainda não existem dados suficientes que comprovem a eficácia destes métodos para a detecção de estro.
O desenvolvimento dos protocolos de inseminação artificial em tempo fixo tais como OvSynch permitem
evitar a necessidade de detecção de estro e inseminar as vacas em momentos pré-determinados. O uso de
OvSynch em vacas submetidas a stress térmico resultou em taxas mais elevadas de prenhez. Em um rebanho
da Flórida cujo período voluntário de espera era de 70 dias, a porcentagem de vacas prenhes aos 90 dias pós-
parto era de 16,6% em vacas cuja primeira inseminação em tempo fixo era feita de acordo com o protocolo
OvSynch vs 9,8% em vacas inseminadas unicamente após detecção visual de estro [Aréchiga et al., J. Dairy
Sci. 81, 390-402 (1998)].
Em estudo conduzido no Kansas na época do verão [Cartmill et al., J. Dairy Sci. 84, 799-806 (2001)],
as vacas foram inseminadas entre 50 e 70 dias de lactação usando um de dois protocolos. Um grupo foi
inseminado em tempo fixo de acordo com o protocolo OvSynch. O outro grupo foi inseminado após detecção
de estro induzido por um protocolo de sincronização (GnRH seguido 7 dias depois por Lutalyse). Todas as
vacas do grupo OvSynch foram inseminadas vs 58,7% das vacas no grupo da sincronização de estro. Não houve
diferença na taxa de concepção entre os dois grupos (33,3% para OvSynch vs 32,0% para sincronização de
estro), mas como mais vacas foram inseminadas, a proporção de prenhezes confirmadas por ultra-sonografia
no dia 27-30 foi maior para o grupo OvSynch (33,3% vs 16,7%). Neste estudo, a perda de prenhez depois
do dia 27-30 foi mais elevada no grupo OvSynch. A taxa final de prenhez no dia 40-50 foi semelhante para
os dois grupos (16,4% para o OvSynch vs 13,3% para a sincronização de estro).
Será que é economicamente viável utilizar inseminação artificial em tempo fixo em épocas de stress
calórico? Esta é uma pergunta importante, pois estes protocolos tem aumentado o número de vacas inseminadas
mas não reduzem os efeitos do stress calórico sobre a fertilidade. Os custos de sêmen e drogas se aplicam
a todas as vacas incluídas no protocolo de inseminação artificial em tempo fixo e o fato de estarem sendo
submetidas a stress calórico significa que apenas uma pequena parcela irá emprenhar. Não existe nenhuma
análise econômica detalhada dos benefícios econômicos da inseminação artificial em tempo fixo durante o
stress calórico. Entretanto, faz sentido concluir que protocolos de inseminação artificial em tempo fixo são
mais viável nas propriedades em que a detecção de estro é ineficiente.


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Melhorando a Fertilidade em Vacas Inseminadas


Artificialmente
Caso houvesse uma maneira de elevar as taxas de concepção em vacas sujeitas a stress calórico, a inseminação
artificial em tempo fixo seria um método muito prático a ser utilizado durante o verão. Na verdade, o único
método comprovado para aumentar a fertilidade em vacas submetidas a stress calórico é o resfriamento. Uma
série de tratamentos hormonais foi testada para o aumento da fertilidade de vacas submetidas a stress calórico,
mas nenhum demonstrou eficácia de forma consistente. Até que tal tratamento seja desenvolvido, será difícil
obter taxas satisfatórias de concepção após inseminação artificial de vacas submetidas a stress calórico.

Usar um Touro pode ser Útil?


A proporção de vacas inseminadas artificialmente nos Estados Unidos é reduzida durante o verão. Em
parte, esta redução pode refletir uma economia no uso de sêmen (que é relativamente caro) em épocas de baixa
fertilidade. Existe também interesse de usar a monta natural para ajudar a resolver problemas reprodutivos.
Uma vantagem óbvia do uso de touros durante o stress calórico é a melhor detecção do estro. Mas não se pode
esquecer que o touro também é sensível ao stress calórico, tanto quanto a vaca. Sua temperatura, entretanto, não
se eleva tanto quanto a da vaca leiteira, pois o touro tem taxa metabólica mais baixa. Entretanto, em condições
de intenso stress calórico, pode haver redução da libido do touro e piora da qualidade do sêmen, que persiste
por cerca de dois meses depois do termino do período de stress. Esta demora na restauração da fertilidade
após stress calórico é resultante dos danos às células precursoras dos espermatozóides. Não existem dados
experimentais referentes ao uso de touros e se esta prática realmente resulta em maior número de vacas prenhes
durante o stress calórico. Faz sentido, entretanto, supor que os benefícios do uso do touro serão limitados em
épocas de stress intenso a ponto de afetar sua temperatura corporal e, por conseguinte, sua fertilidade.

Transferência de Embriões Como Ferramenta para Aumentar


a Taxa de Prenhez
Já mencionamos anteriormente que uma das causas da infertilidade de verão são os efeitos letais da
elevação da temperatura corporal sobre o oócito e o embrião. Uma das características do desenvolvimento
embrionário é a maior resistência à medida que o embrião se desenvolve. Assim, o stress calórico no dia
seguinte à inseminação pode impedir o desenvolvimento embrionário, enquanto este mesmo stress aos sete
dias tem pouco efeito sobre sua sobrevida. O uso de transferência de embriões para melhorar a fertilidade
durante o verão baseia-se no fato de que os embriões são tipicamente transferidos para o útero da receptora
no dia 7-8 após o estro, um momento em que este embrião já superou o período de maior suscetibilidade a
temperaturas elevadas (ver Figura 4). Além disso, os efeitos do stress calórico sobre o oócito são evitados,
pois os embriões a serem transferidos são aqueles derivados de oócitos de qualidade suficiente para gerar
embriões transferíveis. Os embriões também podem ser produzidos nos meses mais frescos do ano, quando
os oócitos não estão suscetíveis ao dano pelo calor e congelados até a transferência durante o verão.
As taxas de prenhez em vacas em lactação expostas a stress calórico podem ser aumentadas através da
inseminação artificial. A fonte do embrião, entretanto, tem um importante efeito sobre a taxa de sucesso desta
prática. Os melhores embriões a serem transferidos e com maior possibilidade de gerar uma prenhez bem
sucedida são os obtidos por superovulação. Neste procedimento, as vacas doadoras são tratadas com múltiplas
injeções de hormônio folículo-estimulante para induzir o crescimento e a ovulação de múltiplos folículos.
Como mostra a Figura 5, a transferência de embriões frescos (não congelados) de vacas superovuladas para


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receptoras submetidas a stress calórico resulta em aumento da taxa de prenhez de 13,5% com inseminação
artificial para 29,2% com a transferência de embriões. Mesmo quando embriões superovulados são transferidos
após congelamento, a taxa de prenhez também sofre aumento. Na verdade, a taxa de prenhez observada após
inseminação artificial foi de 24,1%, contra 35,4% para vacas que receberam embrião congelado/descongelado
obtido após superovulação.

Figura 4. Diagrama do mecanismo através do qual a transferência de embriões pode ser usada para aumentar a
fertilidade em vacas submetidas a stress calórico. Antes do estro, o ovócito que se desenvolve no folículo é muito
sensível a danos pela exposição da vaca a stress calórico. Depois do estro e da ovulação, o ovócito e o embrião
recém-fertilizado também são muito sensíveis à elevação de temperatura. À medida que o embrião se desenvolve,
torna-se mais resistente ao stress. A transferência do embrião para o útero no dia 7 depois do estro permitiria evitar
os efeitos do stress calórico sobre o ovócito e sobre o embrião em fase inicial de desenvolvimento.

Figura 5. �������������������������������������������������������������������������������������������������������
Eficácia da transferência de embriões para aumentar as taxas de prenhez em vacas leiteiras em lactação
durante épocas de stress calórico. Os experimentos foram conduzidos na Flórida, durante os meses de verão.
Os embriões foram transferidos depois da coleta (frescos) ou depois de criopreservação (congelados). A taxa de
prenhez foi determinada por palpação retal aos 40-60 dias de gestação. Abreviaturas são AI=artificial insemination/
inseminação artificial, SO=superovulação e IVF=embryo produced by in vitro fertilization/embrião produzido
por FIV = fertilização in vitro. Os números acima de cada barra representam a porcentagem de vacas prenhes e os
números em parênteses representam o número de receptoras. Dados de Putney et al. [Theriogenology
����������������������������
31, 765-778
(1989)] e Drost et al. [Theriogenology 52,1161-1167 (1999)].


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Transferência Usando Embriões Produzidos In Vitro


A superovulação é um procedimento demorado e de alto custo. Geralmente, são produzidos 4-8 embriões
transferíveis por superovulação, a um custo de US$ 75-125 por embrião. As vacas doadoras não podem ser
usadas mais que uma vez ao mês e, mais comumente, com menor freqüência. Outro método de produção
de embriões é através da fertilização in vitro (FIV). Neste procedimento, oócitos recuperados de vacas
doadoras são fertilizados em laboratório. Os oócitos podem ser obtidos de doadoras vivas através do método
de coleta denominado recuperação transvaginal guiada por ultra-som (também conhecido pelo nome em
inglês de “oocyte pickup” ou pela abreviatura OPU). Uma vantagem do OPU sobre a superovulação é que o
procedimento pode ser realizado até 2 vezes por semana, tanto em vacas prenhes como vazias. Entretanto, o
“oocyte pickup” é um procedimento de alto custo. A taxa de uma única coleta é de cerca de 400 dólares (e
gera apenas 1-2 embriões transferíveis). Além disso, como o procedimento de OPU também exige alto nível
de capacitação técnica e equipamento especializado, é mais recomendado quando se deseja obter progênie
de doadoras de alto valor.
Um procedimento alternativo de FIV é o que utiliza oócitos coletados de ovários obtidos em abatedouro.
Embora não se conheça a identidade das doadoras, o custo deste método de produção de embriões é bastante
baixo. Estima-se que a produção comercial de embriões usando oócitos coletados em abatedouro seja de
US$15 a US$30 por embrião. Exemplos de empresas que produzem embriões utilizando esta técnica são
BOMED (Madison, WI) e Transova (Sioux Center, Iowa)
O valor genético dos embriões obtidos a partir de oócitos de abatedouro pode ser alto. Já foi demonstrado
que a capacidade prevista de transmissão de rendimento leiteiro de vacas enviadas para o abate é somente
ligeiramente menor que a da população geral de vacas. Além disso, uma vez que uma palheta de sêmen pode
ser usada em FIV para produzir dezenas de embriões, o custo de produção de embriões de alto potencial
genético pode ser baixo. Quando o sêmen sexado estiver amplamente disponível no mercado, poderá ser
usado em sistemas de FIV de baixo custo para a produção de grande número de fêmeas.
Como no caso dos embriões superovulados, pode-se tentar elevar a taxa de prenhez durante o verão pela
transferência de embriões produzidos in vitro (ver Figura 4). Entretanto, os embriões produzidos in vitro
não suportam tão bem o congelamento quanto os embriões produzidos por superovulação e este aumento de
fertilidade somente ocorre com a transferência de embriões frescos quando produzidos in vitro (Figuras 3-4).
A taxa de prenhez obtida com embriões produzidos in vitro e congelados é semelhante à obtida com IA.

Problemas com Embriões Produzidos In Vitro


O baixo custo dos embriões produzidos a partir de oócitos coletados em abatedouro faz com sejam uma opção
atraente para programas de TE cujo objetivo primário é o aumento da fertilidade durante o verão. No entanto,
é importante ressaltar que certos problemas foram associados ao uso destes embriões. Além de não suportarem
bem o congelamento, ocorre alta taxa de perda fetal após transferência de embriões produzidos in vitro. Nosso
grupo [Block et al., J. Anim. Sci. 81, 1590-1603 (2002)] obteve 24% de perda embrionária antes do parto em
vacas confirmadas como prenhes no dia 53 de gestação, comparado a um valor de 10% para vacas em lactação
submetidas a inseminação artificial. Houve também aumento de mortalidade pré-natal associada a bezerros
produzidos por fertilização in vitro e estes bezerros, quando a termo, eram maiores ao nascer – pelo menos em
nosso sistema, Os bezerros holandeses produzidos a partir de embriões obtidos in vitro pesaram em média 94
libras (42,6 kg) ao nascer. Ocasionalmente, podem nascer bezerros extremamente grandes (de até 200 libras – 90,7
kg). A ocorrência destes bezerros aberrantes é menos freqüente atualmente, dadas as mudanças introduzidas nas
condições de cultura de embriões (remoção do soro do meio de cultura usado para produzir embriões).


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Em muitos sistema de cultura usados para produzir embriões, ocorre maior proporção de machos entre
os embriões transferíveis. Em nosso estudo mais recente [Block et al., J. Anim. Sci. 81, 1590-1603 (2002)],
64% dos bezerros nascidos a partir de transferência de embriões produzidos in vitro eram machos. No futuro,
mudanças nas condições de cultura devem eliminar este problema. Na verdade, quando o sêmen sexado
estiver comercialmente disponível, está será a situação ideal para FIV, uma vez que uma palheta de sêmen
poderá ser usada para produzir vários embriões do mesmo sexo.

Transferência de Embriões e Detecção de Estro


O uso de transferência de embriões durante o verão é dificultado pelas falhas de detecção de estro.
Não é eficiente transferir embriões para receptoras 7 ou 8 dias depois do estro previsto caso este não seja
observado em 50% ou mais das vacas. Felizmente, os mesmos tratamentos hormonais usados para sincronizar
a ovulação para IA também podem ser usados para sincronizar a ovulação para transferência de embriões.
Em nossos trabalhos, transferimos embriões para receptoras cuja ovulação foi sincronizada com o esquema
GnRH-PGF-GnRH usado no protocolo OvSynch (com ou sem a pré-sincronização com prostaglandina).
As taxas de prenhes obtidas com transferência de embriões em tempo fixo estão demonstradas na Figura 4
e a Tabela 1 detalha o esquema típico de transferência de embriões em tempo fixo.

Figura 6. �������������������������������������������������������������������������������������������������������
Eficácia da transferência de embriões em tempo fixo usando embriões produzidos in vitro em aumentar as
taxa de prenhez de vacas leiteiras em lactação durante épocas de stress calórico. Os experimentos foram conduzidos
na Flórida durante o verão. A ovulação foi sincronizada usando o protocolo OvSynch e as vacas foram inseminadas
em tempo fixo (timed AI; TAI) ou receberam um embrião em tempo fixo (timed embryo transfer; TET). Os embriões
foram transferidos não congelados (frescos) ou congelados por procedimento convencional ou por vitrificação
(vitrified). A prenhez foi determinada por palpação retal aos 40-60 dias de gestação. Os números acima de cada barra
representam o número de vacas prenhes e os números em parênteses representam o número de receptoras. Dados���������
de
Ambrose et al. [J. Dairy Sci. 82, 2369-2376 (1999)] e Al-Katanani et al. [Theriogenology
����������������������������
58, 171-182 (2002)].
��������

Mensagens a Serem Lembradas


O stress calórico pode ser um problema difícil de combater. Há vários pontos a serem considerados
quando se procura mitigar os efeitos do calor sobre a reprodução, tais como:

• Mantenha as vacas em ambiente o mais fresco possível, garantindo acesso a sombra, ventilação forçada
e a algum tipo de resfriamento evaporativo, como sprinklers ou nebulizadores.

• Meça a temperatura corporal das vacas à tarde para determinar se as medidas tomadas estão sendo realmente

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eficazes para manter as vacas confortáveis e para tomar medidas necessárias caso a temperatura esteja
acima de 102,2���
°��
F (39°C).
��������

• Use marcas de giz na base da causa, KaMars ou outros dispositivos para facilitar a detecção do estro
durante o verão.

• Considere o uso de OvSynch durante o verão para aumentar o número de vacas submetidas a inseminação.
OvSynch é economicamente viável exatamente em épocas em que a taxa de detecção de estro é muito
baixa.

• Caso esteja considerando usar touros para monta natural durante o verão, assegure-se de que eles não
estão sendo prejudicados pelo stress calórico.

• Considere o uso de transferência de embriões como ferramenta de manejo reprodutivo para aumentar o
número de vacas prenhes em épocas de stress calórico.

Agradecimentos
Algumas das pesquisas no campo de transferência de embriões tiveram suporte de recursos fornecidos
pelo Florida Dairy Check-Off Program e Financiamento No. 2001-52101-11318 concedido pelo USDA
Initiative for Future Agricultural and Food Systems.

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