Economia
Sul da Ilha. Avaliação de terrenos e casas na orla das praias afetadas dá prejuízo aos proprietários
Ressaca derruba
preço dos imóveis
Danilo Duarte
redacao@noticiasdodia.com.br
Florianópolis - Dois meses
após o mar avançar sobre a terra
no Sul da Ilha, os imóveis localiza-
dos nos balneários do Campeche
e da Armação do Pântano do Sul
enfrentam a desvalorização das
construções e dos terrenos. O de-
saquecimento da oferta e também
da procura já fez os valores dimi-
nuírem em até 30% neste período,
segundo corretores da região. No
entanto, para os mais otimistas,
a recuperação está a caminho,
aponta o Secovi (Sindicato da Ha-
bitação) de Florianópolis.
Como estratégia para poder
vender seu imóvel, a fisioterapeu-
ta Ana Paula Rocha, 30 anos, que
mora a duas quadras da praia do
Campeche, não teve muita alter-
nativa a não ser diminuir o pre-
ço. “Já estou querendo vender a
casa há um ano e meio e depois
da ressaca estou pedindo 15% a
menos”, lamenta. Ana Paula reco-
nhece que depois do fenômeno a
procura reduziu drasticamente.
Diferença. Oferta por terreno de Ademar caiu de R$ 300 mil para R$ 100 mil
notícias do dia Grande Florianópolis sábado e domingo, 10 e 11 de julho de 2010 21
fotos edu cavalcanti/nd
“Ainda não recebi nenhuma pro-
posta”, conta. Sua casa tem dois
pavimentos e está localizada na
rua Espírito Santo, a 100 metros
do mar, com um terreno de apro-
ximadamente 160 metros quadra-
dos de área construída.
Uma quadra adiante, em
direção ao mar, um comprador
adquiriu três terrenos ao custo
de R$ 100 mil cada, segundo os vi-
zinhos. “Já me ofereceram até R$
300 mil. Imagina se eu venderia
agora por tão pouco?”, desabafa
o pescador Ademar Campos Cae-
tano, 56 anos, um dos moradores
mais antigos do local.
Quem teve bons resultados
com a ressaca foi o comerciante
Moisés Henrique, 39 anos. Ele
adquiriu dois terrenos próximos
a casa de Ademar, no final da
praia do Campeche, que estavam
em negociação antes da ressaca. Reputação destruída. Enquanto a valorização dos lotes é alta nas praias do Norte, no Sul, a situação é inversa
Em um dos lotes conseguiu pa-
gar menos do que o proprietário
queria. “Um pedaço do terreno Repercussão
foi negativa
foi destruído e com isso, não tinha
como eu pagar o mesmo valor por
menos área”, justifica.
Na praia da Armação, apesar do
esforço da prefeitura em obras para
contenção do avanço da água, o preço
dos imóveis desabou. É nesta locali-
dade que Luiz Bittencourt, 40, traba-
lha como corretor de imóveis há 23
anos. Segundo ele, no entanto, ainda
há imóveis que estão sendo ofereci-
dos à venda pelo mesmo preço há À venda. Número de negócios diminuiu drasticamente em lotes à beira-mar
dois anos.
De acordo com o vice-presidente
de compra e venda de imóveis do Se- Valor perdido deve ser recuperado
covi (Sindicato da Habitação) de Flo-
rianópolis, Gilberto Vidal Guerreiro, A comparação com os imóveis de mil a menos que o antigo dono queria
não há dados concretos que apontem outras regiões da Capital mostra que por ele”, calcula.
a estagnação dos negócios naquelas o Sul da Ilha ficou ainda mais distante Um dos fatores que agravam a
regiões da Capital, mas concorda que da média da cidade. Enquanto houve baixa procura pelos imóveis na Arma-
diminuiu a procura e a oferta de imó- perdas na Armação, segundo os cor- ção é a falta de documentos. “A maior
veis nos dois balneários. retores, ocorreu valorização média de parte deles não possui a escritura pú-
Segundo o corretor Bruno Espín- 10% nos imóveis de Florianópolis nos blica, o que é necessário para poder
dola, 26 anos, que também atua na últimos doze meses. financiar a compra”, explica.
região, a repercussão da ressaca pela Luiz Bittencourt afirma que a pro- Otimista, o dirigente do Secovi,
imprensa fez as casas e os terrenos cura por imóveis diminuiu 50% na Gilberto Guerreiro, acredita que o pre-
perderem um terço do seu valor. Ape- Armação. A fisioterapeuta Ana Paula ço deve ser revertido em dois anos, no
sar da desvalorização apontada pelos também percebeu a falta de interes- máximo. “Acreditamos que a recupe-
corretores locais, o que ocorreu no sados. Foi por isto que Moisés obteve ração que está sendo realizada, aliada
mercado imobiliário do Campeche e um saldo positivo na transação dos a uma boa conservação dos imóveis e
da Armação do Pântano do Sul foi um dois imóveis. Em um deles, pagou R$ até com melhorias nas estruturas, vai
desinteresse momentâneo, segundo 100 mil pelo terreno, que foi atingido devolver o interesse imobiliário para a
os especialistas. parcialmente pela ressaca. “É R$ 50 região”, projeta Guerreiro.