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24 de Setembro de 2022

Resenha 20: Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a


banalidade do mal

Publicado por Rafael Tocantins Maltez há 6 anos  14,8K visualizações

Essa obra de Hannah Arendt representa uma das mais impactantes e


importantes da minha vida. Fez-me rever muitas ideias e pensar outras
tantas. Eichmann foi sequestrado quando residia na Argentina e submetido
a julgamento em Jerusalém. Esperava-se o show do século, com um
monstro sanguinário no banco dos réus. Contudo, Arendt sentiu de forma
diversa o “monstro”, o que causou revolta e indignação de muitos.

Segundo sua visão, Eichmann não se revelou um psicopata ávido em


regozijar-se com o sofrimento alheio, mas sim um burocrata cumpridor de
ordens num regime totalitário, um homem comum e medíocre. Eichmann
se declarou inocente em sua autodefesa, sob o argumento de que não tinha
nada contra ninguém, mas apenas cumpriu as leis vigentes e mais ainda,
com esmero e perfeição, e por isso além de não merecer condenação,
mereceria elogios. Arguiu que não matou diretamente quem quer que fosse,
mas apenas providenciou adequadamente e com excelência o transporte
para os campos de concentração. E mais: sustentou que se não fosse ele a
cumprir as ordens, outro certamente faria esse papel, ou seja, seus atos
existiriam de qualquer forma. E agora o pulo do gato de Arendt: Eichmann
é culpado pelos seus atos, não por se tratar de um monstro, mas justamente
por ser uma pessoa comum, que parou de raciocinar, que se desconectou da
realidade, não pensou e deliberou sobre seus atos. Por ser essa pessoa
comum, poderia existir um Eichmann em potencial em cada um nós.
Importante destacar que não é porque Arendt não considerava Eichmann
um monstro mas um homem comum, um burocrata, que deveria ser
absolvido. Ao contrário, ela se colocou firmemente pela sua condenação
pelos crimes que cometeu pelo fato de se desconectar com a realidade e não
deliberar sobre seus atos e consequências e não é a situação de receber
ordens que poderia ser um fator a inocentá-lo.

Quando justificamos nossas pequenas maldades diárias com o argumento


de que outra pessoa faria a mesma coisa, por exemplo, se estivesse no
mesmo emprego ou de que se está meramente cumprindo ordens, o
Eichmann em nós despertou. Recentemente vi o filme The Eichmann Show,
tão medíocre quanto o próprio Eichmann. Fruto do ressentimento daqueles
que não aceitam o pensamento de Arendt, sua missão foi pintar Eichmann
como um monstro, com o claro intuito de esvaziar o pensamento da
filósofa. Uma pena, pois a banalidade do mal é muito mais interessante do
que a proposta desse filme.

O julgamento pode ser conferido no seguinte link:

Eichmann trial - Session No. 1

Interessante entrevista sobre o assunto:


Eichmann em Jerusalém: 50 anos depois

Leitura indispensável.

Nota: 10.
Disponível em: https://rafaelmaltez.jusbrasil.com.br/artigos/347689991/resenha-20-eichmann-em-
jerusalem-um-relato-sobre-a-banalidade-do-mal

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