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Maria Pires 11ºE

O julgamento de Eichmann e a Banalidade do Mal

Hannah Arendt em 1961 assistiu o


julgamento de Adolf Eichmann, um general
nazi do SS que se ocupava do transporte
dos prisioneiros e teve um papel pioneiro na
implementação da Solução Final,
conseguindo fugir para a Argentina até a
sua captura pelo Estado de Israel em 1960,
mais tarde foi sentenciado com a pena de
morte pelos seus astrosos crimes. O
julgamento teve atenção da imprensa
mundial e entre estes estava Hannah
Arendt, enviada pela resvista The New
Yorker, e foi através da observação deste
caso que concluiu algo fora do normal.

Durante o seu julgamento, todos os presentes no tribunal o consideraram um “monstro”, e


apenas Hannah achou que ele era um mera burocrata com a única ambição de agradar o
seu superior, acatando ordens sem pensar, nem se questionar, não recorrendo à razão. E
foi isto que a atormentou, o facto de ele ser um homem ordinário, que atuou apenas a
pensar que iria evoluir a sua carreira como general, executando ordens tenebrosas, sem
más intenções, com isto, estudou o seu julgamento e chegou á sua conclusão com a
publicação do livro Eichmann em Jerusalém.
É nesta obra, que Hannah conclui uma nova natureza do mal. Nos tempos antigos achava-
se que o mal provinha das próprias caracteristicas do ser humano, a ambição, vingança,
raiva e ambição. Mas no decorrer do seculo XIX esta tese é repensada e conclui-se que o
mal não deriva totalmente do carácter do Homem, mas sim do ambiente que o rodeia, como
os condições sociais em que vive, podendo assim ser erradicado atraves da mudança do
estado político, social e económico. Um exemplo disto é a Coreia do Sul, que tem a taxa de
criminalidade mais baixa no mundo, isto de certa forma advém da situação económica
decorrente no país. Mas é durante a ocupação nazi que esta pergunta regressa e diversos
filósofos tentaram obter uma resposta, e por mais controversa que seja, vários concordaram
com ela.
A sua tese foi julgada por vários historiadores, autores e sobreviventes da época, mas o
título da sua tese tornou-se ele próprio banal na linguagem diária, chegando a ser mesmo
utilizada em teses recentes sobre o COVID-19, a guerra entre a Palestina e Israel e até
mesmo na utilização excessiva de força policial nos EUA. Mas estas duas palavras são
contraditórias uma à outra, banal, na era antiga e contemporânea, era aquilo que pertencia
ao senhor feudal mas que podia ser utilizado pelos seus vassalos desde que pagassem o
foro, mas na era moderna, é algo comum e trivial como a banalidade da vida que é várias
vezes representada nas obras de Albert Camus, já o mal é algo considerada negativa e que
traz várias consequencias.

É através da junção destas duas palavras que ela comenta a existência da natureza da
maldade, algo que é inexplicavel e que não provém de causas anteriores, “Quando o
impossível se tornou possível, tornou-se o mal absoluto impune e imperdoável que já não
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podia ser compreendido e explicado pelos maus motivos de interesse próprio, ganância,
cobiça, ressentimento, desejo de poder e cobardia; e que, portanto, a raiva não podia vingar
(…)”.1 Não existe uma explicação assertiva para este excerto, será que considerava que as
atrocidades cometidas pelos Nazis eram triviais? Isto não tem logicidade, pois a palavra
banal não pode ser associada a algo mau ou bom. Com isto, Hannah afirma que a maldade
de Eichmann era banal, o que é contraditório pelas suas proprias palavras, pois na mesma
obra - As Origens do Totalitarismo - ela estabelece que a crueldade e maldade dos Nazis foi
totalmente incompreensível e desumana, “a realidade dos campos de concentração não se
assemelha a nada como as imagens medievais do Inferno".2
Durante o estudo do caso de Eichmann, Hannah considera o calmo, racional e ignorante,
mas não o julgou malevolente. Através da prespetiva de Hannah, Adolf Eichamnn relembra
o presonagem do Estrangeiro de Albert Camus, que se sente indeferente á morte da mãe e
a tudo que se passa na vida dele e toma a livre decisão, sem nenhum aparente motivo, de
matar um homem não tendo nenhum remorso do seu ato.
Deste modo, Hannah conclui que se Eichmann não era um fanático antisemético então não
era um fanático, quando tambémm assume que era fanático por Hitler, contraditando a
própria tese. Com este argumento, ela queria provar que Eichmann não era um maníaco
perconceituoso, complementando-o com o facto de ele apenas ser um general que acatou
as ordens que lhe foram propostas, não pensando em mais nada, é aqui que Hannah
apresenta a seguinte pergunta:
“Seria possível que a atividade do pensamento como tal – o hábito de examinar o que quer
que aconteça ou chame a atenção independente de resultados e conteúdo específico –
estivesse dentre as condições que levam os homens a se absterem de fazer o mal, ou
mesmo que ela realmente os ‘condicione’ contra ele?”
Se ela estiver certa, a falta de pensamento, questionamento e uso da razão é a própria
origem do mal. Pois o general apenas pensou no futuro da sua carreira, perante isto o
próprio não sente remorso sobre as vítimas, porque não foi ele que diretamente as matou,
apenas estava responsável pelo seu transporte, o que remete ao que escreveu na sua obra
As Origens do Totalitarismo, “Tal como as vítimas nas fábricas da morte ou nos buracos do
esquecimento já não são "humanas" aos olhos dos seus algozes, também esta nova
espécie de criminosos está para além da pálida solidariedade na pecaminosidade
humana.”3.
Com isto é possivel afirmar que Hannah conisdera que as atrocidades cometidas por
Eichmann foram cometidas pela pura ignorância, não se apercebendo do que realmente
estava a fazer, devido à impericia do egocentrismo, visto que vivia numa estado totalitário e
fascista, destacando para o que Hannah escreveu em A Condição Humana, “o governo
platonico cuja legitimidade se baseava no autodominio, vai buscar os seus principios
orienadores ao principios que justificam e ao mesmo tempo limitam o poder de um homem
sore os outros - na relação que a pessoa mantem condigo (…)”.4

Com tudo isto, Hannah Arendt errou tremendamente na descoberta da natureza da


maldade, pois se a sua tese for aplicada diariamente, não deixa espaço para a moralidade
das ações do ser humano, pois pode-se sempre contrargumentar que não tinhamos
1
Arendt, Hannah. A Condição Humana. Relógio d’Água, 2001.
2
Arendt, Hannah. As Origens do Totalitarismo. Dom Quixote., 2006.
3
Arendt, Hannah. As Origens do Totalitarismo. Dom Quixote., 2006.
4
Arendt, Hannah. As Origens do Totalitarismo. Dom Quixote., 2006.
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consciência do que realmente se passa e que apenas realizamos ordens de um superior,


este argumento pode levar à tese de René Descartes sobre a existência de um génio
maligno que controla as nossas ações.

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