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Escola Estadual “Major Lermino Pimenta” ATIVIDADE DIAGNÓSTICA

Nelson de Sena – SJE- MG Data: 1º BIMESTRE


____/___/2023

FILOSOFIA Professor(a): Ailton Ribeiro Ferreira


3º ANO DO ENSINO
MÉDIO
Aluno: Nº Turno:manhã
Leitura e reflexão – A Banalidade do Mal

Título da tarefa: Hannah Arendt e a banalidade do mal 1. Orientações para a realização da tarefa: Leia o texto abaixo e
responda as perguntas que seguem. Se preciso, consulte o material complementar. Obs.: sempre que enviamos um
email, é educado ao menos dizer um “Olá, Prof. Envio a atividade...”; não esqueçam de informar o nome e turma. 2.
Tarefa: Sobre a banalidade do mal O encontro, no tribunal de Jerusalém, de Arendt com o “perpetrador do mal”, Adolf
Eichmann, o responsável pelo assassinato de milhões de pessoas, fugiu inteiramente das expectativas da pensadora.
Suas concepções anteriores a respeito de assassinos e, sobretudo, de criminosos de guerra foram totalmente
desestabilizadas, à medida que ela se defrontou com algo inteiramente inusitado em relação a tudo que fora descrito
pela tradição sobre o fenômeno do mal. Aprendemos pela religião que o mal é demoníaco e sua encarnação é Satã.
Aprendemos também, através dos heróis das tragédias, que os homens maus agem por inveja, cobiça ou, mesmo,
movidos pela fraqueza. Mas aquilo com o qual ela se defrontou, ao observar o homem Eichmann, era inteiramente
diferente do que a tradição nos ensina sobre o mal e, no entanto, era inegavelmente factual. Após ter elaborado sua
perplexidade inicial, a concepção de Arendt a respeito do mal sofre uma reviravolta, ao efetivar um verdadeiro corte
epistemológico, uma ruptura tanto com o pensamento da tradição como com o seu próprio pensamento. Entretanto, a
coragem de enfrentar tal espanto sem preconceitos e sem hesitação, a paixão por compreender o mal em suas formas
multivariadas, acabou por trazer novas luzes para a indagação, e possibilitou a criação de um novo paradigma. É a partir
deste corte que se configura o segundo momento da formulação arendtiana em torno do problema do mal. Observando
atentamente o homem Eichmann, e estudando com profundidade sua biografia, seu depoimento e os depoimentos das
testemunhas em um processo de 3.600 páginas, Arendt conclui que aquele homem, responsável pela morte de algo em
torno de seis milhões de pessoas, não era um monstro e não tinha nenhuma grandeza demoníaca. Ele tampouco era um
perverso ou um insano que odiava os judeus ou era adepto fanático do antissemitismo ou de qualquer outro tipo de
doutrinação. Para ele, o conteúdo da ideologia nazista e de sua lógica destrutiva eram menos importantes do que a
“família” por ele encontrada no movimento nazista. Na verdade, conforme revelam suas notas bibliográficas, sua
principal motivação era a ascensão na carreira; ele era um jovem ambicioso, que estava farto de seu trabalho de
vendedor ambulante. Filiou-se à SS por oferecimento de um amigo do pai. Não conhecia o programa do partido e nunca
leu o Mein Kampf. Na corte, ele passou a impressão de ser um membro típico da baixa classe média, e essa impressão
foi comprovada em cada sentença que falou ou escreveu, enquanto esteve na prisão. Ele era, na verdade, o filho [...] de
uma sólida família de classe média, e essa situação era indicativa da sua descida no status social. Ele nunca deixou de
ser tratado pela elite da SS como uma pessoa socialmente inferior, e nunca conseguiu falar de sua mágoa em relação aos
“cavalheiros” da alta classe média, apesar de conseguir mandar milhões de pessoas para a morte. Era impressionante o
apego de Eichmann à educação e às regras de bom comportamento, demonstrando vergonha e constrangimento frente à
lembrança de pequenos deslizes sociais cometidos no seu passado – o que é um dado inteiramente contraditório no
contexto de seus atos [...] De acordo com a análise de Arendt, a linguagem é, dentre outras, a característica mais
chocante da personalidade de Eichmann. A linguagem administrativa era a única que ele conhecia, pois ele era incapaz
de pronunciar uma só frase que não fosse um clichê. Quando Eichmann conseguia formar uma frase que exercia algum
efeito, ele a repetia até que se transformasse em frase feita. Parece que a fraqueza dele por frases bombásticas, sem
sentido real, era anterior ao julgamento de Jerusalém. Ele jamais se preocupava com qualquer “inconsistência” no que
dizia. Isto fica evidente quando se considera que, em sua mente, não havia contradição entre as seguintes frases: “Eu
pularei, rindo, para dentro da minha cova, se souber que consegui mandar para a morte quatro milhões de judeus” dita
no fim da guerra, e “Eu me enforcarei alegremente, em público, como advertência para todos os antissemitas desta
terra”, pronunciada, posteriormente, na prisão. Aluno(a): Professor: Rafael Cortes Componente curricular: Filosofia
Turma: 100 Data: 05/06/2020 E-mail do professor: raf.cortesfilo@gmail.com Tarefa de estudos dirigidos a distância
Frases que, em circunstâncias tão diferentes, o auxiliaram de igual maneira. Para ele, isso era apenas uma questão de
mudança de humor e, enquanto conseguisse encontrar em sua memória um chavão para dar as suas respostas, ou mesmo
criá-los de improviso, ele se sentia satisfeito, mesmo que seu fraseado característico se tornasse incompatível com o
momento [...]. Foi em relação a tais eventos concernentes a Eichmann que Arendt empregou pela primeira vez a
expressão banalidade do mal [...]. A grande sensibilidade de Eichmann para captar palavras e chavões, combinada com
sua incapacidade para a fala comum, tornou-se, naturalmente, um meio ideal para guardar “regras de linguagem” que se
constituíam em mentiras sobre a realidade. A linguagem de Eichmann é o tipo perfeito do que se pode chamar de
“linguagem burocrática”, aquela cuja função fundamental é a de criar uma apaziguadora ilusão para os executantes e
para os executados, pois estes últimos, nem de longe, entendem o significado das palavras [...] Fica claro que é, de fato,
um traço essencial do Totalitarismo, este uso mistificante da linguagem, cuja função é criar e manter o afastamento da
realidade. E ela é criada não só para o uso da polícia, pois passa também a ser a linguagem comum, imposta, a todos.
No decorrer do processo de Eichmann, Arendt parece ter alcançado, por meio de uma atenção curiosa e da análise
aguda do que via e ouvia, o ponto nodal de suas observações quando concluiu: “Quanto mais se o ouvia, mais claro se
tornava que sua inabilidade de falar estava intimamente relacionada com sua inabilidade de pensar, especialmente de
pensar em relação ao ponto de vista de outras pessoas”. E o que era mais chocante e parecia ser uma decorrência dessa
incapacidade de pensar, da qual ele dava prova, era a impossibilidade de se comunicar com ele devido às barreiras que
ele mesmo levantava, “não porque mentisse, mas porque estava ‘fechado às palavras e à presença de terceiros e,
portanto, à realidade como tal”. Chegamos aqui a um ponto concludente, no qual podemos dizer que o personagem
Eichmann, encarnando a “banalidade do mal”, associa claramente “inconsciência”, “afastamento da realidade” e
“obediência”. [...] Essa incapacidade de pensar, potencializada pelo afastamento da realidade, gerava tal inconsciência.
Quanto à obediência, o próprio Eichmann [chamou] de “obediência dos cadáveres” [...]. Eichmann não somente
escolheu tal flagrante negação de qualquer coisa humana, mas também impôs isto aos outros. Ele afirma que teria
mandado até seu próprio pai à morte, se isso lhe tivesse sido ordenado [...].

Referência bibliográfica: SOUKI, Nádia. “Três momentos do conceito de mal em Hannah Arendt”. In: SCHIV,
Sônia Maria; KUSKOSKI, Matheus Soares (orgs.). Hannah Arendt: pluralidade, mundo e política. Porto Alegre:
Observatório gráfico, 2013.

3. Responda: a) Em poucas palavras, o que significa epistemológico (ou epistemologia)? b) Explique por que, segundo
o texto, o encontro de Arendt com Eichmann no tribunal lhe causou “perplexidade” a ponto de ter gerado uma
reviravolta (ou “corte epistemológico”) na concepção sobre o mal da filósofa? c) Com base no texto, o que significa a
banalidade do mal? d) Estamos vivendo uma situação inédita no país e no mundo, ao menos nos últimos cem anos, que
nos exige a realização de atividades escolares remotas, entre outras. Essa situação também é inédita para o grupo de
professores. Por isso, gostaria que você comentasse como tem considerado as atividades de Filosofia propostas no
período de “isolamento”. Sua contribuição é muito importante!

Nelson de Sena – São João Evangelista-MG


16 de Março de 2023

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