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O que é o mal e de onde ele vem?

Essa é uma questão filosófica clássica. Na


filosofia medieval, Agostinho de Hipona
Maldade defendia que o mal é a ausência de Deus,
já que deste só pode vir o bem; enquanto
humana: Tomás de Aquino sustentava que o mal
relacionado às ações humanas tinha
uma questão origem no livre-arbítrio. Na modernidade,
Hobbes afirmou que a natureza humana é
filosófica passional e que, sem nenhum controle, o
ser humano tende à violência, ao passo
que Rousseau viu na sociedade a origem
do mal, já que "o homem nasce bom“.
O mundo contemporâneo precisou tomar essa tradição de
pensamento, sobretudo diante das grandes guerras mundiais
que ocorreram no século XX. Como explicar os conflitos que
resultaram em milhões de mortos e feridos, muitos deles civis
inocentes? Como entender, por exemplo, o genocídio de
judeus cometido pelos nazistas alemães durante a Segunda
Guerra Mundial? De que maneira o antissemitismo, ou seja, o
preconceito e o ódio aos Judeus, foi usado? Apesar de tantas
tentativas de aniquilação de povos ao longo da história
humana, esse fenômeno se deu em um país considerado
avançado, com bons índices de educação. O conhecimento,
a ciência e a tecnologia, em vez de serem empregados para a
emancipação humana, tornaram se, com o nazismo e outros
movimentos de extrema direita, instrumento de desumanização
e legitimação de assassinatos?
É nesse contexto que a filósofa alemã Hannah Arendt
(1906-1975) começa a teorizar sobre o conceito de
“banalidade do mal”. Arendt tinha origem judaica e, por
isso, foi perseguida e presa pelo governo de Hitler, o que a
levou emigrar para os Estados Unidos, onde trabalhou
como jornalista, escritora e professora. Foi durante um
trabalho jornalístico para a revista The New Yorker, sobre o
julgamento de um militar nazista, que Hannah desenvolveu
suas concepções sobre o mal.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial,
muitos nazistas foram julgados em tribunais
internacionais; outros fugiram. Entre estes,
estava Adolf Eichmann, oficial do partido
Hannah nazista responsável pelo transporte de milhões
Arendt e o de pessoas, sobretudo judeus, para campos
julgamento de concentração e extermínio. Ou seja,
alguém diretamente responsável pelo
de inaceitável crime humanitário cometido pelo
Eichmann regime. Contudo, em 1960, Eichmann foi
capturado na Argentina pelo serviço secreto
de Israel e levado a julgamento em
Jerusalém. Considerado culpado por crimes
de guerra, o militar da Alemanha nazista foi
condenado à morte e enforcado em 1962.
De acordo com o relato da filósofa, uma característica
marcante na personalidade de Eichmann era a sua
"normalidade", o que foi, inclusive, atestado por psicólogos.
Ele não parecia especialmente perverso ou sádico, e sim
um homem comum. Ao se expressar, utilizava frases feitas e
clichês e não demonstrava preconceito ou ódio
descomunal em relação aos judeus. Então, como
Eichmann foi capaz de enviar milhões de pessoas para a
morte?
Em sua justificativa, o ex-oficial nazista dizia estar apenas
seguindo ordens. Dentro de uma estrutura hierárquica
como a do partido militar nazista, Eichmann encontrava-se
em uma condição de subordinação. Desse modo, ele
atuava como um funcionário meticuloso e organizado que
fazia o possível para entregar um trabalho bem-feito e
cumprir com seus deveres, inclusive com o objetivo de
crescer na carreira militar.
Diante desse contexto, Hannah Arendt concluiu que o mal
praticado por Eichmann não tinha nenhuma motivação
profunda nem estava relacionado ao caráter maligno do
indivíduo. As razões do réu eram, na verdade, baseadas
na obediência sem questionamento, encaradas somente
como parte de seu ofício. Esse é um aspecto importante
do conceito de banalidade do mal, pois, segundo Arendt,
é a ausência de pensamento que possibilita ao ser
humano cometer crimes terríveis.
Características encontradas
por Arendt em Eichmann

✓Obediência
✓Irreflexão
✓Superficialidade
✓Normalidade
✓Destruição do que é político
✓Ausência de pensamento
✓Sujeição (Vassalagem)
✓Obediência a uma ideologia
• Trata-se de um alerta para realidades históricas em que
não há espaço para pensamento e questionamento.
Inseridos em estruturas hierárquicas baseadas na
obediência cega, indivíduos podem servir de
instrumentos para ideologias criminosas sem sequer
pensar nas consequências de seus atos. Ao falar da
banalidade do mal, Arendt chama a atenção para a
importância de construir ativamente o bem - por meio do
pensamento, do diálogo, do questionamento - da
política.

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