artigo técnico
Pombos Urbanos –
Um caso de Saúde Pública
Monica Schuller
Biologia e comportamento
A notoriedade dos pombos vem desde a
Antigüidade, cujos registros se traduzem em
obras de arte datadas de 3.000 a 4.500 anos
a.C. Os traçados, muitas vezes remetendo à simbologia
da paz, fertilidade, esperança, libertação e salvação
da alma, demonstram a proximidade e a empatia da
espécie humana com esta ave. Além do simbolismo, o
seu sabor gastronômico também era apreciado pelos
romanos, que tinham como hábito amarrar as asas
destas aves e quebrar suas pernas, depois nutri-las e
engordá-las, para posterior consumo. Os chineses apre-
ciam a carne dos pombos desde 2.000 anos atrás até os
dias de hoje. Somente em Hong Kong, o consumo anual
está na ordem de 800.000 indivíduos.
Os pombos urbanos são descendentes dos pombos-
das-rochas (Columba livia livia) , originários das regiões
rochosas do leste Europeu e África do Norte, trazidos
ao Brasil como animais de estimação ou aves domés-
ticas, em meados do século XVI. Algumas destas aves
se libertaram do cativeiro e conseguiram sobreviver
e conviver, de uma maneira selvagem, nas regiões em
processo de urbanização. Ficaram, então, conhecidos
como pombos selvagens ou “feral pigeons” e atual-
mente chamados de pombos domésticos (Columba
livia domestica). O grande sucesso no processo de
sinurbanização desta espécie se deve principalmente à
semelhança das estruturas de construção das casas rús-
ticas, muitas vezes de barro e de pedras, aos penhascos
rochosos de seu habitat natural.
A forma de alimentação da espécie Columba livia
domestica é caracterizada por comportamento gregário,
alimentando-se em grupos, e procurando, preferencial-
mente grãos e farelos. Devido à grande capacidade de
variação alimentar inerente a esta espécie, em especial
Monica Schuller
Bióloga, Mestre em Saúde Pública pela Faculdade
de Saúde Pública da Universidade de São Paulo,
especialista em Pombos Urbanos.
E-mail: monica@abcexpurgo.com.br
em situações de maior competição pelo alimento (mais
de 40 indivíduos por local, provocando duas bicadas
por segundo), a preferência alimentar tem apresentado
maior diversidade, alternando entre grãos diversos e
cascas de frutas, queijo, legumes e lixo em geral. Esta
preferência alimentar justifica a assiduidade destas
aves em locais de carregamento e descarregamento de
grãos, lixões, praças com barracas de alimentos e com
transeuntes provedores de alimentos, praias e centros
urbanos. Por possuírem o hábito de se alimentar no
chão e pousar em locais elevados, os pombos requerem
um deslocamento constante do ponto de pouso até a
região inferior. Este fenômeno, provocado pelo bater
de suas asas, gera uma corrente de ar em forma de
redemoinho ou anéis vorticiais. Este formato se man-
tém durante todo o percurso da ave, provocando um
deslocamento do ar por onde a ave passa. Aumenta e
favorece o processo de suspensão de partículas secas,
contendo além de pó e sujeira, fezes ressecadas, prove-
nientes da deposição constante, e porventura, agentes
patogênicos presentes nelas.
O alimento é um fator limitante para a espécie. O
bando tende a nidificar próximo ao local onde há far-
tura, a fim de gastar o mínimo de energia. Entretanto,
se o alimento é escasso, o bando se desloca diariamente
até o alimento, qualquer que seja a distância, podendo
passar 85% do seu tempo diário percorrendo um raio
de ação de até 600 metros do seu local de nidifica-
ção. Quanto mais alimento disponível, maior será a
capacidade reprodutiva, que varia de 10 a 14 ovos por
ano/fêmea, num período médio de 4 a 6 anos (tempo
estimado de vida desta espécie na regiões urbanas). A
utilização dos ninhos é otimizada, podendo ser reuti-
lizados mais duas vezes após o abandono do primeiro
casal, facilitando assim o aumento do número de indi-
víduos do bando. A taxa de aumento de indivíduos é
determinada pela relação entre o número de nascimen-
tos e de mortes naturais. Após um ano, o bando pode
duplicar de número de indivíduos, mesmo com a baixa
taxa de sobrevivência, que é de 43% para os filhotes
que deixam os ninhos e de 66% para os adultos.
Pombos urbanos e a Saúde Pública
Não há estatísticas ou levantamentos fidedignos que
indiquem a quantidade aproximada desta espécie nos
centros urbanos. Entretanto, observa-se um aumento
gradual e constante dos pedidos, pelos munícipes, de
controle de pombos registrados nos Centros de Controle
de Zoonoses do Estado de São Paulo. Quando compara-
mos o número de reclamações sobre pombos ao número
de reclamações de roedores (que são considerados pelos
CCZ´s as de maior ocorrência dentre as pragas urbanas),
durante o ano de 2002, observou-se que as reclamações
sobre pombos alcançaram quase 50% do total das recla-
mações de roedores, como no caso do município de
Limeira. A variação tem sido de 0,05% a 47%, dependen-
do do município.
Sob o aspecto sanitário, quanto maior o número de
indivíduos, maior será o perigo de exposição da comuni-
dade e de outros animais aos agentes patogênicos libera-
dos nos excretas destas aves.
Em 1979 já tinham sido descritas, por Weber, 57 doen-
ças associadas aos pombos, desde aquelas que afetam
somente as aves até as que infectam ao homem e a outros
animais. Deste total, 6 eram causadas por protozoários e
7 por helmintos.
Os pombos também podem causar adulterações ou
contaminações de produtos alimentícios para consumo
humano, através da deposição de suas penas e outros
dejetos sobre alimentos crus ou já embalados. A forma
como os alimentos são produzidos, transportados, indus-
trializados, estocados e embalados deve sofrer fiscalização
severa a fim de que não cause sérios prejuízos à indústria
alimentícia como um todo. Agentes patogênicos podem
contaminar os alimentos em quaisquer das fases a que
está sujeito, desde a produção até seu efetivo consumo.
A fase de estocagem de produtos, in natura ou industria-
lizados, como grãos armazenados ou armazéns, merece
um destaque maior, já que estão mais expostos à ação de
pragas como pombos urbanos.
A contaminação de alimentos e de água por parasitas
de origem zoonótica é considerada complexa e impor-
tante do ponto de vista da Saúde Pública. Baseado no
histórico dos últimos 40 anos, acredita-se que as zoonoses
continuarão sendo responsáveis por grande parte das
doenças adquiridas pelo homem, segundo a Organização
Mundial de Saúde – OMS. E as fezes são consideradas a
maior via de eliminação dos vários estágios de transmis-
são no ambiente. Os pombos podem ser a causa direta de
transmissão de doenças infecciosas ao homem, garantin-
do a sobrevivência e multiplicação de numerosas espécies
de parasitas, e podem transmitir agentes patogênicos em
ambientes rurais, residenciais e industriais.
Toxoplasmose – Transmitida ou não pelos
pombos urbanos?
A toxoplasmose deve ser considerada um capítulo à
parte, e não deve deixar de ser abordada, já que tem
sido muito citada, especialmente por Controladores de
Vetores e Pragas Urbanas, e de uma forma sempre asso-
ciada aos pombos urbanos. A identificação deste pro-
tozoário não foi foco do presente trabalho, já que exige
uma metodologia de pesquisa diferente da que foi utili-
zada para identificação dos parasitas encontrados. Mas
é importante conhecer este agente e entender o motivo
pelo qual ele não está diretamente associado ao pombo
doméstico. A toxoplasmose é uma zoonose, causada
pelo agente etiológico Toxoplasma gondii, que possui
abrangência mundial. Estima-se que cerca de um terço da
população mundial já tenha sido exposta ao protozoário.
Entretanto, nem todos desenvolvem a doença.
Os gatos e outros felídeos (jaguatirica, jaguar, gatos do
mato, onça pintada, entre outros) são os hospedeiros
definitivos, ou seja, é onde ocorre a fase sexuada do pro-
tozoário. Isto quer dizer que um gato jovem que nunca
foi contaminado pelo T. gondii (ou seja, não é imune à
doença), pode se infectar pelos oocistos (oralmente ou
pelas mucosas), bradizoítos (presentes em carnes cruas)
ou taquizoítos (via transplacentária ou secreções). Os
oocistos são a forma infectante mais resistente, elimina-
dos nas fezes após 20 dias ou mais quando da ocorrência
da infecção. Resistem no ambiente por 12 a 18 meses,
mantendo sua forma infectante. Os pombos são hos-
pedeiros intermediários do protozoário. Até então não
existem registros que comprovem a transmissão direta
dos oocistos através dos pombos ou de qualquer outro
animal que não seja o felino. Somente através da inges-
tão da sua carne crua ou mal cozida e contaminada é
que o pombo urbano poderá transmitir o protozoário.
Curiosamente, anelídeos e artrópodes podem, eventual-
mente, veicular oocistos nas patas e em outras regiões do
corpo, contribuindo para a distribuição deste agente.
Pesquisa de agentes patogênicos nos
excretas do pombo doméstico
Foi realizado um trabalho inédito com o intuito de pes-
quisar protozoários e helmintos de interesse médico nos
excretas da Columba livia domestica. As análises foram
realizadas nas dependências do Laboratório de Prática de
Saúde Pública da Universidade de São Paulo e a pesquisa
se desenvolveu durante o período de 2002 a 2004. Os
locais de coleta foram determinados na região do Estado
de São Paulo, e se caracterizaram por presença intensa de
alimentos e/ou por movimentação intensa de pessoas.
artigo técnico
A caracterização dos locais deve ser brevemente men-
cionada, pois influencia diretamente na discussão dos
resultados do trabalho, bem como em sua conclusão.
Foram escolhidos seis locais diferentes, dos quais três
deles possuíam como principal característica a presen-
ça constante de pessoas, e que foram nomeados como
Praça na região do ABCD, Praça da Sé e Cemitério na
região do ABCD. Os locais eram constantemente visita-
dos por transeuntes e existia no local, em alguns pontos
específicos, acúmulo de excretas de pombos urbanos. A
fotografia 1 ilustra o local de coleta de amostra na Praça
da Sé.
Figura 1: Local de deposição de excretas de pombos na Praça
da Sé/São Paulo
Os outros três locais escolhidos para coleta se caracte-
rizaram pela presença intensa de alimentos. Um deles é
um fast food, e os outros dois centros de armazenamento
de alimentos, um de F.L.V. (frutas, legumes e verduras) e
outro de grãos de soja.
Técnica para análise das amostras
As amostras foram recolhidas em campo, e foi padroni-
zada, para análise, a quantidade de 1 grama por amostra.
Para a detecção dos parasitas foi utilizada a técnica de
concentração, que proporciona, num único concentra-
do, a visualização de agentes de infecções clinicamente
importantes. O método de flutuação é uma das formas
de concentração de amostras e tem como princípio uti-
lizar líquidos com peso específico superior ao dos ovos e
cistos, fazendo com que estes últimos flutuem na superfí-
cie. O método de Faust, que foi o adotado e adaptado ao
presente trabalho, tem como utilidade evidenciar cistos
de protozoários e ovos ou larvas de helmintos que este-
jam nas amostras. Baseia-se na centrifugação e flutuação
em solução de sulfato de zinco, cujo peso específico é
superior ao dos agentes pesquisados.
Agentes encontrados
Dos agentes encontrados, um deles esteve presente em
100% das amostras. É o Entamoeba coli, que, apesar de
ser considerado inofensivo ao homem, é caracterizado
por estar sempre presente no intestino grosso humano.
Como, então, tal organismo poderia ter sido veiculado
nos excretas de pombos urbanos? A presença da E.coli
é prova concreta de que estas aves mantiveram con-
tato direto com fezes humanas ou se alimentaram de
materiais contaminados por tais fezes, em sacos de lixo,
aterros sanitários, entre outros. O mesmo se aplica ao
protozoário Endolimax nana, que também é considerado
inofensivo ao homem, mas que, apesar de somente ser
encontrado no trato intestinal humano, sua presença em
excretas de pombos urbanos é um fator indicativo de
qualidade sanitária. Este protozoário foi encontrado em
quase 50% das amostras retiradas nas áreas de circulação
de pessoas. Um terceiro protozoário, também conside-
rado indicador de qualidade sanitária, foi encontrado
nos excretas de pombos domésticos, o Chilomastix spp .
Esteve presente em 15% das amostras coletadas nas áreas
de circulação intensa de pessoas e é um agente que pode
ser contraído nos alimentos e bebidas, após exposição a
fezes humanas ou esgoto.
Os protozoários são considerados os principais causa-
dores de enfermidades ao homem, principalmente aos
imunocomprometidos. São organismos unicelulares que
podem se manter infecciosos por longos períodos, princi-
palmente em substratos alimentares e aquáticos.
Tempo médio de sobrevivência dos cistos de proto-
zoários no meio ambiente:
• SOLO - 75 dias
• ÁGUA - até 6 meses
• ÁGUA SALGADA - até 1 ano
Cistos
Entamoeba coli
Endolimax nana
Entamoeba coli e Endolimax nana
 A liberação destes organismos no ambiente pode se dar
através de fezes contaminadas do homem e de outros
animais, representando fonte em potencial de contami-
nação de água e alimentos. Para a maioria dos parasitas
não existe um padrão numérico e nem um método bem
definido para a detecção destes parasitas no ambiente ou
em amostras d’água. O efeito patológico depende muito
do número de cistos ingeridos.
A presença da Giardia spp foi
observada em 42% do total das
amostras, e dentre elas, 80% das
amostras retiradas nas áreas de
alimentos indicaram a presença
deste protozoário patogênico.
Entamoeba histolytica - cisto A giardíase não é considerada
uma zoonose, entretanto mui-
tos animais podem ser reserva-
tórios desta parasita. Além disto,
já existem registros de possíveis
infecções interespecíficas. Estas
ocorrências reforçam as possi-
bilidades de que outros animais,
inclusive os pombos domésticos,
podem hospedar agentes pato-
Entamoeba histolytica
gênicos ao homem, contribuin-
do assim para sua disseminação.
A Entamoeba histolytica esteve presente em 30%
das amostras extraídas das áreas de circulação intensa
de pessoas. Este protozoário possui uma abrangência
mundial e pode parasitar, além do homem, outros
animais, como cães, gatos e ratos. Com exceção da
malária, a E.histolytica é a maior causadora de mortes
dentre os parasitas, estimadas em 100.000 por ano. Sua
prevalência é maior nas regiões de climas quentes e em
ambientes que possuam higiene precária, como asilos,
manicômios, prisões, entre outros.
Os helmintos também foram alvo de pesquisa neste
trabalho. São macroparasitas
cuja via de transmissão mais
comum ao homem é atra-
vés da ingestão de alimentos
contaminados por ovos ou
Ascaris spp - ovo larvas, ou pelo contato com o
solo, também contaminado. É
importante mencionar que a
dose infectante destes parasi-
tas é de apenas 1 organismo e,
portanto, aumenta as chances
de contrair uma infecção.
A lombriga ou o Ascaris
lumbricoides foi um dos orga-
nismos identificados em 60%
Ascaris spp - ovo
do total das amostras, prevalecendo num dos locais de
circulação intensa de pessoas, o cemitério.Estima-se que
bilhões de indivíduos estejam infectados por este para-
sita. O intestino humano pode albergar até 600 vermes
adultos, que podem atingir um tamanho de 40cm de
comprimento por 5mm de largura. Sua rota principal de
transmissão é através de alimentos crus ou no contato
com o solo. Este parasita esteve presente em quase 50%
das amostras coletadas nas áreas de alimento, incluindo
os centros de abastecimento F.L.V. e de grãos armazena-
dos. Freqüentemente os excretas eram liberados e , even-
tualmente, dispostos sobre os alimentos em exposição.
O Hymenolepis spp também é um parasita e foi iden-
tificado em 30% das amostras de excretas coletadas nas
áreas de circulação intensa de pessoas. Sua forma de
transmissão mais comum é através da contaminação de
cereais ou farinha armazenados. Também chamado de
tênia anã, este parasita é capaz de se desenvolver fora
de seu hospedeiro definitivo, se utilizando de larvas no
interior de grãos armazenados para se desenvolverem.
O homem, então, poderá se infectar ingerindo os grãos
contaminados.Já existem registros de infecção cruzada
envolvendo o H.diminuta, que parasita somente roedo-
res, parasitando o homem. Estes casos denotam a possibi-
lidade de o homem ser parasitado por organismos cujos
hospedeiros definitivos eram outros animais que não
o próprio homem. Os pombos, ao excretarem material
contaminado sobre grãos armazenados, podem auxiliar
na disseminação deste agente. Curiosamente, não foram
encontrados Hymenolepis spp nas amostras retiradas no
local de armazenamento de grãos de soja o que não signi-
fica que o organismo não esteja presente no local.
O nematóide de maior importância para a Saúde Pública
é o Ancylostoma duodenale, cuja abrangência é mundial.
Estima-se que quase um quarto da população mun-
dial esteja infectada por
esse parasita. Seu desen-
volvimento requer uma
fase obrigatória no solo
e por isto que são cha-
mados de geo-helmintos.
A fase infectante é larval
e a contaminação ocorre
por penetração pela pele
do hospedeiro quando
neste mantém contato
através dos pés descalços
no solo ou por ingestão
de alimentos contamina-
dos. Indivíduos que man-
têm contato direto com
a terra, como pedreiros,
artigo técnico
jardineiros e eletricistas estão mais sujeitos a se contami-
nar. Crianças que brincam em caixas de areia, jardins ou
parques públicos também devem ser monitoradas, para
que não mantenham contato com fezes
de cães e gatos. O Ancylostoma spp foi
encontrado em 60% dos excretas de
pombos coletados nas áreas de alimen-
tos, prevalecendo nas áreas de armaze-
nagem de F.L.V. e de grãos de soja.
A diarréia da Conchinchina (região
meridional da República do Vietnã)
foi causada pelo parasita Strongyloides
stercoralis, e ficou famosa por ter atin-
gido os soldados franceses em 1876.
A forma de transmissão é através da
penetração de larvas infectantes pela
pele, normalmente encontradas em áre-
as de clima tropical e em regiões de bai-
xa qualidade sanitária, cuja freqüência
chega a atingir 24% ou mais do total das
infecções humanas. A estrongiloidíase,
vista como uma zoonose, não necessa-
riamente é transmitida de um vertebra- Ancylostoma spp - larva
do para o homem, mas sim, pode seu
agente infeccioso ficar estabelecido no ambiente e tanto
o vertebrado quanto o homem pode se contaminar.As
larvas possuem ótimo desenvolvimento em temperatu-
ras ambiente. Este fato
foi evidenciado no pró-
prio laboratório, duran-
te as análises das amos-
tras. Alguns dias após a
coleta, os ovos haviam
eclodido e as larvas, que
triplicaram em quanti-
dade, estavam comple-
tamente ativas.
As tabelas 1 e 2
demonstram as ocor-
rências, em percentual,
dos agentes encontra-
dos nas amostras cole-
tadas.
Controle da
Praga Urbana
Por ser um ambiente
essencialmente criado
pelo homem, a região
urbana é caracterizada
por altas densidades
populacionais, dos mais diversos níveis sociais, alguns,
inclusive, vivendo em condições de saneamento básico
insalubres. É importante que se leve em consideração que
a população urbana tem aumentado gra-
dativamente e que cerca de 50% da popu-
lação mundial habita áreas urbanizadas, e
uma porção significativa, especialmente
em áreas em desenvolvimento, vive de
forma tumultuada, relativamente pobre
e em condições de higiene precárias. A
manutenção inadequada e a ausência
de infraestrutura de sistemas de escoa-
mento, condições deficientes de limpeza
e conservação das ruas e destinação ina-
dequada do lixo, dos resíduos sólidos e
de fezes humanas resultam no aumento
da poluição ambiental, na formação de
reservatórios de água estagnada e acu-
mulação de resíduos. A proliferação de
pragas e vetores urbanos possui relação
direta com a situação sanitária da região
e com o nível socioeconômico de seus
habitantes. Quanto maior o número de
pessoas, maior será a demanda por con-
dições sanitárias melhores. O mesmo se aplica a ambientes
industriais. Se as condições são insalubres, a armazenagem
do lixo inadequada, se o alimento fica exposto, se não há
boas práticas de fabricação, este ambiente estará muito
mais sujeito a proliferação de pragas. E a magnitude do
problema com os vetores e pragas urbanas deve ser levada
em conta com ênfase, em especial naqueles causadores
de morbidade e mortalidade, principalmente em países
em desenvolvimento e de regiões mais quentes, como as
tropicais.
O fator sanitário
deve ser considera-
do como agravante
para o aumento da
população desta pra- Strongyloides spp - ovo
ga, já que é patente
o comportamento
adaptativo alimentar
dos pombos urba-
nos e sua freqüente
aproximação do lixo
e alimentos dispos-
tos nas ruas . Além
disto, a ausência dos
predadores naturais
e a fácil adaptabilida-
de à região metropo-
litana, contribuem Strongyloides spp - ovo
para uma maior multiplicação da espécie.
O fato de serem encontrados 7 protozoários e 6 hel-
mintos, que ainda não tinham sido identificados em
excretas de pombos urbanos, evidencia que estas aves
são um importante disseminador destes agentes e que
podem até estar disseminando outros agentes patogêni-
cos ao homem ainda não pesquisados. Além disto, estas
aves possuem uma abrangência mundial, estendendo
a preocupação para a Saúde Pública de outros países
inclusive. Qualquer local vulnerável à presença desta
ave, como escolas, hospitais, jardins públicos, indústrias
dos mais diversos ramos de atividade, praças, residên-
cias, entre outros, está sujeito à contaminação por estes
agentes, auxiliados pela característica disseminadora
dos pombos.
Diante dos resultados anteriormente expostos, está
comprovada a possibilidade de veiculação de agentes
patogênicos, através dos excretas dos pombos urbanos,
para o homem e outros animais. Cabe ao profissional
controlador de pragas realizar o controle mais adequado
possível, a fim de repelir esta praga de maneira menos
danosa à espécie. É necessário um trabalho de divulgação
e orientação junto ao poder público e à sociedade como
um todo, utilizando-se de programas educacionais, moni-
toramento ambiental, técnicas de repelência e barreiras
físicas e melhorias de condições sanitárias. u

Tabela 1: Número e percentual de locais onde foram identificados cistos de protozoários em excretas de pombos urbanos,
no ambiente de área de circulação intensa de pessoas e áreas de alimentos, nos municípios da Grande São Paulo, em 2002.
Área Circulação de
Área de alimentos Total dos pontos
pessoas
Protozoários
Ausência

Ausência

Ausência
Presença

Presença

Presença
%

%
Entamoeba coli 6 86 1 4 5 100 - - 11 92 1 8
Endolimax nana 3 43 4 57 1 20 4 80 4 33 8 67
Giardia spp 1 14 6 86 4 80 1 20 5 42 7 58
Entamoeba histolytica 2 29 5 71 1 20 4 80 3 25 9 75
Isospora spp 1 14 6 86 - - 5 100 1 8 11 92
Chilomastix spp 1 14 6 86 - - 5 100 1 8 11 92
Iodameba spp - - 7 100 1 20 4 80 1 8 11 92
Símbolo-: indica que o microrganismo não foi identificado na amostra.

Tabela 2: Número e percentual de locais onde foram identificados ovos e larvas de helmintos em excretas de pombos urbanos,
no ambiente de área de circulação intensa de pessoas e áreas de alimentos, nos municípios da Grande São Paulo, em 2002.

Área Circulação de
Área de alimentos Total dos pontos
pessoas
Helmintos
Ausência

Ausência

Ausência
Presença

Presença

Presença
%

Ovo Ascaris spp 5 71 2 29 2 40 3 60 7 58 5 42

Ovo Strongyloides spp - - 7 100 2 40 3 60 2 17 10 83
Ovo Trichuris spp 1 14 6 86 - - 5 100 1 8 11 92
Ovo Enterobius spp - - 7 100 1 20 4 80 1 8 11 92
Ovo Hymenolepis spp 2 29 5 71 - - 5 100 2 17 10 83
Larva Strongyloides spp - - 7 100 2 40 3 60 2 17 10 83
Larva Ancylostoma spp - - 7 100 3 60 2 40 3 25 9 75
Símbolo-: indica que o microrganismo não foi identificado na amostra.

Referência bibliográfica disponível com a autora, aos interessados solicitar via e-mail: monica@abcexpurgo.com.br