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ENTREVISTA

Entrevista com
Mark Surman, diretor executivo
da Fundação Mozilla

ENTREVISTA
Entrevista com
Adriana Rodrigues,
mestre e pesquisadora

http://revista.espiritolivre.org | #012 | Março 2010

EKAATY COLUNA CAPA


GNU/Linux brasileiro e a Krix Apolinário fala sobre Sérgio Amadeu fala sobre
todo vapor! o lado rosa da tecnologia privacidade e redes P2P
COM LICENÇA

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |02


EDITORIAL / EXPEDIENTE

Bits, bytes e pedras... EXPEDIENTE


Diretor Geral
Pedras pelo caminho... batalhas. A gente sempre as encontra. Mais cedo João Fernando Costa Júnior
ou mais tarde. Não é e nem seria diferente com a Revista Espírito Livre. Ainda
mais quando estamos a completar nosso primeiro ano, não mais um recém-nasci- Editor
do... De qualquer forma, aqui estamos, firmes e fortes, já comprando as velinhas João Fernando Costa Júnior
do bolo, com a certeza que ainda há muito a se fazer, muito a mostrar, muito a en-
sinar, a proporcionar. Revisão
Eliane Domingos
Nossa capa ilustra um tema bem polêmico, bem/mal falado, muito discutido
e pouco conclusivo. A liberdade na Internet, seja através da liberdade de expres- Tradução
são, seja no uso de softwares e alternativas ainda é alvo de muita discussão. Mui- Paulo de Souza Lima
tas delas produtivas como esperamos apresentar ao leitor. Para tanto trouxemos Francilvio Roberto Alff
como principal entrevistado alguém que conhece bem a internet, Mark Surman, di-
retor executivo da Mozilla Foundation, que está no negócio de ligar as coisas: pes- Arte e Diagramação
soas, ideias, tudo. Um ativista comunitário de tecnologia há quase 20 anos, com João Fernando Costa Júnior
foco em inventar novas maneiras de promover a abertura e as oportunidades na
Internet. Mark convoca discussões sobre "tudo aberto" em sua cidade natal de To- Capa
ronto e em todo o mundo. Em sua passagem pelo Brasil neste mês de março para Carlos Eduardo Mattos da Cruz
a divulgação do Mozilla Drumbeat, Mark concedeu esta entrevista exclusiva à Re-
vista Espírito Livre, que você confere aqui. Na mesma linha vários de nossos colu- Contribuiram nesta edição
nistas também atingiram a internet como seu principal foco. Jomar Silva levanta Adriana Rodrigues
um questionamento interessante: até que ponto a internet é culpada pelas falhas Alessandro Silva
do usuário? Será que a rede tem culpa? Francilvio Alff faz uma análise sobre as Alexandre Oliva
restrições feitas pelo dragão chinês em relação a grande rede. Fernando Leme André Farias Oliveira
apresenta em detalhes questões sobre DRM - Digital Rights Management. Walter Cárlisson Galdino
Capanema apresenta ainda um manual de sobrevivência sobre a liberdade de ex- Carlos Eduardo Mattos da Cruz
pressão na Internet. Cezar Taurion
Cristiano Furtado
Como convidado especial, o sociólogo Sérgio Amadeu, já conhecido pela Farid Abdelnour
comunidade de software livre do Brasil, fala de como a indústria do copyright ata- Fernando Leme
ca a privacidade e as redes P2P. Também temos colunista nova na área. Krix Fernando Medeiros
Apolinário estará conosco nas próximas edições trazendo ainda mais feminilidade Filipe Saraiva
nas discussões já apresentadas aqui na publicação. O time feminino está aumen- Francilvio Roberto Alff
tando... João Fernando Costa Júnior
Jomar Silva
Cristiano Furtado apresenta as novidades da última versão do Ekaaty Li-
Jorge Augusto M. Carriça
nux, um GNU/Linux feito por mãos brasileiras e um time bem coeso. Farid e Nara,
Krix Apolinário
figuras conhecidas nas comunidades onde se encontram designer e ilustradores,
Leandro Leal Parente
trazem um panorama sobre as ferramentas de código aberto para computação Mark Surman
gráfica em suas várias óticas. Jorge Augusto e o estreante Fernando Medeiros fa- Nara Oliveira
lam sobre empregabilidade, tema importante que precisa ser recorrentemente Patrick Amorim
mencionado. Leandro Leal Parente termina seu artigo sobre o Jack e Patrick Amo- Paulo de Souza Lima
rim também finaliza seu artigo sobre o Linux FTDK. Rafael Juqueira
André Farias estreia a seção de quadrinhos com a tira SUPORTE_, que Rodrigo Carvalho
retrata o dia-a-dia de muitos que leem a revista. A agenda de eventos ainda não Sérgio Amadeu
apresenta tantos eventos e em nossa busca pela web não conseguimos sondar Walter Capanema
outros além daqueles publicados na seção. Yuri Almeida

E na próxima edição, de número 13, que para muitos é um numeral amaldi- Contato
çoado, um símbolo de supertição, sorte e tantos outros predicados, para nós, da revista@espiritolivre.org
equipe da Revista Espírito Livre, e principalmente para mim, será só alegria, uma
vitória alcançada.
O conteúdo assinado e as imagens que o
integram, são de inteira responsabilidade
de seus respectivos autores, não
representando necessariamente a
João Fernando Costa Júnior opinião da Revista Espírito Livre e de
seus responsáveis. Todos os direitos
Editor sobre as imagens são reservados a seus
respectivos proprietários.

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |03


EDIÇÃO 012

SUMÁRIO
CAPA
31 Indústrias do Copyright
atacam privacidade e redes
P2P
A Internet sob vigília...

37 Educação na rede:
A Internet tem culpa? Entrevista exclusiva
com Mark Surman,
42 O dragão não tem medo da
rede Diretor Executivo da
Eis o poder do dragão...
Fundação Mozilla
45 O DRM é só o começo
O fim é o começo do fim
PÁG. 27
48 Liberdade de expressão na
Internet:
Um manual de sobrevivência

COLUNAS
14 Mitologia Grega II:
Guerra de Tróia

18 Warning Zone
Episódio 6 - Todos no QG

21 Desenvolvimento do
OpenSource
Porque alguns softwares despertam
interesse e outros não?

25 Tem mulher na área:


O que os homens acham disso?

91 AGENDA 06 NOTÍCIAS
MULTIMÍDIA
52 Jack Audio Connection Kit
Parte 2
ENTREVISTA ANÁLISE
55 Adriana Rodrigues
Informação em gráficos... 74 DIngux
Eis um pequeno notável!

EMPREGABILIDADE DISTRIBUIÇÃO
59 Trabalhar por conta própria:
Manual de sobrevivência Ekaaty 4
78 Um GNU/Linux tupiniquim

62 A preguiça tecnológica e a
vida resumida
Olha o resumo!

GRÁFICOS
81 Panorama da Computação
Gráfica:
FORUM Um breve olhar

65 Software Livre:
Migração de Mentalidade
84 Modelagem 2D
Um workshop com Gimp

67 Justiça tenta censurar perfil


do Twitter
Redes sociais em alerta...
EVENTOS
SEGURANÇA 88 I VOLDAY - Rio de Janeiro/RJ
Relato de evento

70 Perícia Forense com Linux


FTDK
Parte 2

QUADRINHOS
Suporte_
90

ENTRE ASPAS
10 LEITOR 13 PROMOÇÕES
91 Citação de Guido Van Rossum
NOTÍCIAS

NOTÍCIAS
Por João Fernando Costa Júnior

Dos três sites mais visitados no Brasil são Prefeitura oferece internet gratuita em Arara-
da Google quara/SP
Ferramentas da Goo- A prefeitura de Araraquara
gle respondem por quer oferecer serviço de inter-
29,83% das visitas se- net gratuita a toda a popula-
manais a sites no Bra- ção, até o final deste ano.
sil, de acordo com a pesquisa Serasa Experian Dia 20 de março, lançou o
Hitwise. Em 13 de março, os sites mais visita- Programa Internet para To-
dos do país eram o Google.com.br (10,69%), o dos, que já cobre 80% da
Orkut (10,11%) e o Google.com (9,03%). A ferra- área urbana. O sinal é distribuído em rede WiMax,
menta da pesquisa Hitwise fornece informações sem fio. A prefeitura contratou da Telefônica um
sobre a interação de cerca de 100 mil pessoas link de 15 Mbps, o que permite uma velocidade
em 60 mil websites no Brasil e foi lançada no Bra- média de até 64kbps por IP. Foram instaladas 16
sil em setembro de 2009. Por meio dela, a Sera- antenas rádio-base de tecnologia israelense, que
sa Experian apurou que o Orkut superou pela estão conectadas a uma central que fica na prefei-
primeira vez o Google.com.br, no número de visi- tura. O acesso é para uso residencial, comercial
tas semanais, entre dezembro e janeiro. Mais in- ou industrial. Para utilizar o serviço entretanto, os
formações aqui: http://ur1.ca/rqzg. usuários precisam se cadastrar e assinar o Termo
de Adesão de Acesso Gratuito à Internet Munici-
MyFax – Enviando Fax gratuitamente pela In- pal. Nesse termo, estão descritas as restrições do
ternet programa a determinados conteúdos: não é permi-
Conheçam o serviço tido, por exemplo, acesso a conteúdos ilegais, co-
gratuito MyFax, que mo sites de pedofilia, racismo ou que incitem a
permite a qualquer violência, nem download de arquivos de filmes ou
pessoa que tenha músicas que não sejam de livre acesso e/ou distri-
uma ligação à Internet e um Browser, enviar um buiçao. Uma lei municipal (6.980), aprovada em 4
Fax para qualquer local do mundo, gratuitamen- de maio de 2009, determina que "a título de con-
te. Se hoje em dia o e-mail já é um substituto do trole, a prefeitura fará periodicamente a verifica-
Fax, porém existem ainda muitas pessoas e em- ção dos acessos".
presas que não dispõem de endereço eletrônico
e utilizam ainda utilizam o fax para troca de infor- Google vai mesmo sair da China
mação e documentos. Através do serviço My- Já era de esperar: o Google.cn fechou mesmo as
Fax, o internauta poderá enviar fax através de portas. A solução encontrada foi redirecionar to-
vários formatos de arquivo PDF ou JPEG, des- dos os acessos ao google.cn para o site de Hong-
de que não exceda as 10 páginas ou o máximo Kong, google.com.hk. Escrito em chinês simplifica-
de 10MB, que o serviço free disponibiliza. É ain- do e armazenado em servidores situados em HK,
da possível escrever uma mensagem em vez de o serviço de pesquisas parece estar tendo dificul-
anexar um arquivo. Quer saber mais? Visite o si- dades para aguentar a carga de visitantes vindos
te oficial do MyFax. (http://www.myfax.com/free/) da China. No entanto, o Google já assegurou que
tudo irá voltar à normalidade em breve.

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |06


NOTÍCIAS

Universal vai vender CDs de música por me- eyeOS 2.0 Beta Release
nos de US$10 Já está disponível o eye-
Depois de passar anos dizen- OS 2.0 beta release, um
do que as quebras nas ven- sistema operacional ba-
das de CDs era culpa (única seado na web, que pode
e exclusivamente) da pirata- ser baixado e instalado
ria, eis que a Universal pare- gratuitamente num servi-
ce ter sido tomado uma dor. O eyeOS 2.0 Beta
posição diferente diante de to- vem com um desktop base, sistema de arquivos
da a tempestade. A iniciati- por usuários e 5 aplicações básicas. Algumas
va, batizada de Velocity, visa vender os das aplicações ainda não estão estáveis, como
lançamentos musicais em CD, a um preço inferi- é o exemplo das Folhas de Cálculo e do Calen-
or a US$10 (fala-se inclusive em preços flutua- dário. O usuário tem ainda a oportunidade de
rem entre os US$6 e US$10). Isto já devia de usá-lo nos servidores da própria eyeOS. O eye-
ter acontecido há uns bons 5 anos. Sim, porque OS já foi tema de entrevista na Revista Espírito
não me venham com tretas: não era preciso ter Livre, ed. nº 1, onde conversamos com Pau Gar-
capacidades auditivas sobre-humanas para ou- cia-Milà. Quer saber mais sobre a versão 2.0, vi-
vir a comunidade queixar-se do preço dos CDs. site http://www.eyeos.org.

Ubuntu 10.4 já tem primeira versão beta Carro sendo criado abertamente, nos moldes
Com lançamento previsto pa- da Creative Commons
ra o próximo dia 29 de Abril, Um projeto que utiliza li-
já está disponível a primeira cenças Creative Com-
versão beta para o Ubuntu mons é um projeto mais
10.4. Como novidades nes- flexível quanto aos direi-
ta nova versão (que será tos autorais. Ao invés de
LTS – Long Term Support) "todos os direitos reserva-
podemos contar com a inclu- dos", como acontece em
são do kernel Linux na sua versão 2.6.32-16.25, filmes e músicas, por ex-
o Gnome 2.30 RC, dois novos temas, um me- emplo, o Creative Com-
lhor suporte para os drivers proprietários da Nvi- mons trabalha com o conceito de "alguns
dia, entre outros. O navegador padrão, o direitos reservados". O autor não é mais o único
Firefox, como já deve ser de conhecimento de dono da ideia. O projeto Fiat Mio utilizará essas
muitos, traz como motor de busca pré-configura- licenças para agregar e propagar as ideias envi-
do para efetuar buscas no serviço Yahoo, não adas por você para o site. Através delas, junta-
mais no serviço do Google. mente com nossa equipe de engenheiros
automotivos, produziremos um carro conceito, o
Let’s Get Video on Wikipedia primeiro carro do mundo criado pelos e para os
A Wikipedia quer os seus vídeos e para impulsio- usuários. Todo conteúdo será livre. A Fiat acredi-
nar este pedido foi criado este endereço, video- ta que o conhecimento gerado neste projeto de-
onwikipedia.org. Para compartilhar os vídeos na ve ser propagado sem restrições, podendo ser
Wikipedia, é necessário convertê-los num forma- utilizado por simples usuários ou até mesmo en-
to aberto. Como dica você pode utilizar o Miro Vi- genheiros e outros fabricantes de veículos. Quer
deo Converter para converter os seus vídeos. saber mais?! Visite: http://www.fiatmio.cc/pt/.
Saiba mais em http://www.videoonwikipedia.org.

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |07


NOTÍCIAS

Em breve, Open NFe no Linux, através do Mono Petrobras instala BrOffice.org em 90 mil PCs
A RDI (Rocha Digital Intelligen- A Petrobras inici-
ce Ltda) divulgou recentemente ou o processo de
um novo vídeo sobre o Open instalação do
NFe, Servidor de Notas Fiscais software de códi-
Eletrônicas Open Source, desta- go aberto BrOffice.org em 90 mil computadores. A
cando suas principais funcionali- estimativa da BrOffice.org é que o processo permi-
dades. O vídeo encontra-se ta uma redução de pelo menos 40% nos gastos
disponível na página principal com aquisição de licenças de software proprietá-
do site www.rochadigital.com, na seção Desta- rio. Segundo a Petrobras, o principal motivo da
ques, ou em http://www.youtube.com/wat- mudança foi o econômico. A empresa também
ch?v=bsvfjAu6HVw. A empresa também se adotará o ODF como padrão interno de documen-
prepara para lançar nos próximos dias versão ho- tos. Como navegador, a Petrobras passou a usar
mologada para funcionar no Linux através do proje- o Firefox recentemente. Cada setor terá a chance
to Mono. Detalhes em opennfe.codeplex.com. de avaliar se o software atende as suas necessida-
des e decidir se fica ou não com o BrOffice.org. O
Maior empresa de registro de domínios do mun- BrOffice.org já é utilizado por outras grandes em-
do deixará de atuar na China presas como Banco do Brasil, Metrô de São Pau-
A GoDaddy, maior em- lo, Itaipu e Serpro.
presa de registros de
endereços de internet Fundador da Wikipédia elogia decisão do Goo-
do mundo, deixará de gle na China
atuar na China, como Jimmy Wales, co-fundador da
informa o Washington Wikipédia, manifestou seu elo-
Post. Executivos da gio à Google pela decisão na
empresa disseram a congressistas dos Estados China, por meio de seus perfis
Unidos que a decisão é motivada pela crescente vi- em redes sociais. "Meus para-
gilância do governo chinês sobre a internet. Segun- béns, Google. Yahoo, Micro-
do a GoDaddy, que gerencia 35 milhões de soft e Facebook deveriam
endereços em todo o mundo, a China implantou re- apoiar também – a liberdade
centemente novas regras de registro de domínio de expressão é importante", disse ele em seus
no país. Para registrar um endereço com termina- perfis do Twitter e Facebook. Wales já esteve por
ção .cn, o prefixo chinês, um indivíduo tem que for- aqui como entrevistado da edição nº 3.
necer informações pessoais detalhadas e até uma
foto. Com a decisão, a GoDaddy deixará de regis- Hackers fazem overclock no Palm Pre
trar domínios com terminação .cn. Hackers do forum PreCentral.net desenvolveram
patches para o kernel do sistema operacional We-
Lançado o gerenciador de lan house e Cyber ca- bOS que permitem o overclock do Palm Pre. Dos
fé - OpenASB-0.3.0 500 MHz "de fábrica" o aparelho pode chegar a
Disponível para download o Gerenciador de Lan até 800 MHz, um ganho de 60%, com algumas
House e Cyber café "OpenASB-0.3.0". Esta ver- ressalvas. O procedimento, claro, não é aprovado
são está bem completa, estável e com novos recur- pela Palm, invalida imediatamente a garantia do
sos. O download pode ser feito aqui: aparelho, tem mais de uma dúzia de passos e en-
http://openasb.cwahi.net/. volve vários comandos em um terminal. Vale lem-
brar que o macete aí não é para qualquer um.

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NOTÍCIAS

Disponível beta do Jolicloud figurados a partir da revolução tecnológica digi-


Já está disponível pa- tal e da sociedade de rede. A Semana de
ra download o "beta fi- Educação e Artes Digitais acontece de maneira
nal" do Jolicloud, um integrada com o Circuito Vivo arte.mov, que vai
sistema operacional ba- oferecer painéis e mostras dedicadas a arte em
seado em Linux desen- mídias locativas. Para programação e outras in-
volvido sob medida formações visite: http://www.semanaeducacaoe-
para netbooks, que arte.com.br.
combina aplicativos locais e o melhor da "web
2.0" em um único ambiente. Esta versão é com- Software livre é tema de debate na TV
patível com 100% dos netbooks já lançados, ga- No dia 22/03 foi ao ar um debate bem interes-
rantem os desenvolvedores: desde o primeiro sante exibido no programa Brasilianas.org da
ASUS EeePC 701 com processador Celeron até TV Brasil, apresentado pelo Luis Nassif, às 22h.
os novíssimos modelos com processadores A TV Brasil é um canal público vinculado à Se-
Atom Pine Trail de baixíssimo consumo e acele- cretaria de Comunicação So-
radoras 3D NVIDIA Ion. O download pode ser fei- cial da Presidência da
to no site oficial: www.jolicloud.com. República. O debate foi bem
esclarecedor para os que
Hacker é condenado a 20 anos de cadeia nos não conheciam o tema discu-
Estados Unidos tido. Para os que quiserem
Na maior sentença já aplicada a um hacker nos ter acesso ao programa, bas-
Estados Unidos, o programador Albert Gonza- ta visitar o blog do jornalista
lez, de 28 anos, foi condenado a 20 anos de pri- responsável pelo programa aqui: http://colunis-
são. Ele comandava uma quadrilha de hackers tas.ig.com.br/luisnassif/2010/03/23/brasilianas-
que usou mais de 40 milhões de números de car- org-software-livre. Jomar Silva, um dos nossos
tões de crédito e débito para cometer fraudes. colunistas esteve lá. Confira!
De acordo com fontes da Justiça dos Estados
Unidos, os crimes de Gonzalez causaram mais Treinalinux disponibiliza gratuitamente mais
de US$ 200 milhões em prejuízos para empre- de 100 video-aulas
sas de varejo como Barnes & Noble e TJX Co. A equipe Treinalinux, está li-
Esse valor não conta o prejuízo para pessoas físi- berando mais de 100 vídeo
cas. Esse, segundo um dos promotores do ca- aulas de comandos no
so, é "impossível de calcular". shell. Com um método sim-
ples e inovador (extrema-
Blender na 1ª Semana de Educação e Artes mente passo a passo), o
Digitais curso ajudará desde os ini-
Palmas sedia entre os dias 5 a 9 de abril a 1ª. ciantes, até os veteranos
Semana de Educação e Artes Digitais, que reuni- que desejam relembrar alguns comandos. Todo
rá pesquisadores, artistas e educadores respon- o treinamento foi feito 100% com ferramentas Li-
sáveis por projetos inovadores desenvolvidos nux, programação web, player de vídeo, hospe-
em todas as partes do país. Realizado pela Ca- dagem, edição dos vídeos e imagens, gerando
sa da Árvore Projetos Sociais, em parceria com ao final um trabalho de alta qualidade em som e
o Instituto Vivo, o evento é fruto de esforço coleti- vídeo. Para ter acesso basta visitar: www.treina-
vo dedicado a alargar experiências, trazendo ao linux.com.br.
cerco os novos limites da arte e a educação, con-

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COLUNA DO LEITOR

EMAILS,
SUGESTÕES E
COMENTÁRIOS Ayhan YILDIZ - sxc.hu

Passa-se o carvanal e já avistando a semana Uma revista muito boa e com artigos de muita
santa aqui estão os nossos leitores, fiéis, relevância.
escrevendo para a revista. São leitores expondo Claudio Braz - Campinas/SP
suas experiências, solicitando matérias,
elogiando o trabalho de nossa equipe de Uma revista de alto nível do mundo livre, com
redatores e colunistas, com sugestões, opiniões matérias interessantes sobre o cotidiano
ou simplesmente dizendo o que acham da revis- opensource.
ta. E nós queremos é isso: essa troca de Fernando Gonçalves Bona - Vitória/ES
informações que nos levará ainda mais longe!
Então não fique com vergonha: diga-nos o que Ótima fonte de informação sobre software livre.
achou da última edição ou das últimas matérias! Alexandre Rossi - Poços de Caldas/MG
Algo não ficou legal? Alguma matéria lhe ajudou
muito? Ficou satisfeito por ter encontrado o que Uma ótima revista que informa todos os nerd,
procurava? Então manifeste-se e mostre a nós geeks e profissionais da área sobre o mundo
e aos demais leitores o quão importante é ter o Linux e Software Livre. Sempre leio suas
"espírito livre". Abaixo listamos alguns comentári- edições, principalmente sobre programação,
os que recebemos nos últimos dias: linux e design com aplicações livres. Parabens!
Gilson da Silva Borges Filho - Samambaia/DF
Super Interessante. Matérias muito
informativas. Conheci a revista no curso técnico Na minha opinião a melhor revista digital. Uma
de Informática, e estou gostando muito de lê-la. revista completa de conteúdo voltado na área
Caio Campos - São Paulo/SP de software livre e áreas afins, e totalmente
gratuita. Muito bom!!!
Plenamente Satisfatória. Encontro inúmeros Lailson Henrique Oliveira dos Santos -
novidades e conteúdos de muita qualidade. Teresina/PI
"Mente aberta Espírito Livre"!
Douglas da Cunha Borges - Guaíba/RS Excelente revista online sobre linux e software
livre, belas matérias.
Conheci a revista há pouco tempo, por isso Luiz Fernando Petiz - Gravataí/RS
ainda não tenho uma opinião definitiva, mais
pelo que já vi, trata-se de uma revista com um Revista importante para divulgação de
conteúdo muito bom e seleto. Dá para aprender conhecimento. Eu iniciei em SL
muito sobre o universo do software livre. aproximadamente em 1990 e 50% do que
Leônidas Pinheiro - Belo Horizonte/MG aprendi foi lendo revistas especializadas,
portanto estão de parabéns pelo formato e

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COLUNA DO LEITOR

conteúdo que é apresentado. Eu sei que é um Thiago Emannuel Ferreira de Sousa Julião -
trabalho árduo, mas sigam em frente. Juazeiro do Norte/CE
Francisco Aparecido da Silva - São José dos
Pinhais/PR Comecei a ler a revista a pouco tem mas estou
adorando ainda mais para quem já gosta de
Descobri a publicação por acaso e veio coincidir software livre e afins, possui ótimas matérias e
com meu ingresso no mundo Linux através do conteúdos, além de tudo isso ainda é gratuita.
Ubuntu e também de conhecer e trabalhar com Parabéns para toda a equipe que faz a revista.
o BRoffice.org. A revista veio esclarecer minhas Anderson da Rosa - São Leopoldo/RS
dúvidas e me dar o apoio necessário para essa
mutação de conceitos. Confesso que estou Gosto muito da revista, conteúdo muito
viciado na revista. Tenho lido, comentado com proveitoso e estável, na minha opinião veio pra
amigos e imprimido os textos para os ficar... gostaria de ver mais aplicativos para
momentos de emergência tanto educacional rede de computadores...
como profissional. Everton dos Reis - Santarém/PA
Jorge Graciano - Anápolis/GO
A Revista é maravilhosa. Tenho todas as
Acompanho a Revista Espirito Livre desde seu edições e as matérias são feitas por ótimos
lançamento e sempre gostei e incentivei a profissionais na área de TI. Além de contribuir
baixarem na faculdade para que todos os para o conhecimento da comunidade a respeito
alunos possam ter acesso ao material... Como do poder do Software Livre, ela está mostrando
sempre a Revista Espirito Livre segue a linha de que ser livre é uma virtude.
simplicidade para os iniciantes e também de José Raimundo Oliveira - Taguatinga/DF
muita informação para o pessoal já mais
calejado também... Abraços a todos os leitores Uma excelente fonte de informação sobre a
e também aos colaboradores da revista. comunidade livre, sempre busco informações
Andre Antonio da Silva Neto - Linhares/ES nela, e aguardo sempre uma nova edição.
João Eduardo Borges Benevenuto - Campo
É o maior ícone do software livre que eu Grande/MS
conheço. Uma revista atualizada, informada e
aguardada com ansiedade pelos leitores É um portal de conhecimento sobre SL e
sedentos de conhecimento. atualidades culturais livre.
Carlos Alberto Vasconcelos Lages - Rafael de Almeida Matias - Fortaleza/CE
Santarém/PA
Eu sugiro uma matéria falando sobre LPI afinal
A revista Espírito Livre é uma maneira de muitas pessoas inciantes no segmento de Linux
expressar algo que é livre para entrar, tem suas duvidas a respeito do assunto.
modificar, participar e compartilhar. Cleber Antonio Euzebio - Mirassol/SP
Thiago Mishaim de Castro Silva - Teresina/PI
Uma fonte inesgotável de informação e
No mundo LINUX, na minha modesta opinião, entretenimento para os afcionados ou não por
uma ótima ferramenta para nos atualizarmos do tecnologia e soluções open/free.
que anda rodando o mundo, além de um layout Alex do Nascimento - Senador Canedo/GO
bastante interessante que nos leva a ler cada
letra que nela consta.. PARABÉNS!

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LEITOR DO MÊS

LEITOR DO MÊS
Depois da descontinuidade
do Kurumin e a Revista
Guia do Hardware, eu tinha
esfriado muito para o mundo do Software
Livre. Ano passado aqui na Bahia teve
um encontro de Software Livre e conheci
Jon Hall e a galera com uma visão ampla
de liberdade, da qual em dois dias de
encontro eu aprendi muita coisa boa. Do
nada dando uma olhada no site do guia
do hardware, procurando algo sobre o
ubuntu que é uma das paixões que estou
vivendo, vi algo como "Nova Revista
Espírito livre" e fiz o download da versão
de nº08 , da qual me apaixonei. A forma
que vocês abordam, a qualidade das
materiais e do acabamento da revista...
Nossa, têm revistas de circulação
comercial que nem chega aos pés. Nosso leitor Everaldo Santos, juntamente com Jon Maddog Hall
Adoro as capas, conteúdo, espaço pra sugestões, criticas, novidades, notíciais e
tutoriais, são coisas que encontro em uma só revista. Agradeço desde já por cada
edição que é lançada. Torço para que a revista não seja descontinuada, pois
conhecimento é algo que levamos pra toda vida e, o que vocês estão nos oferecemos
é algo pra toda vida.

Everaldo Santos, o "TécVeron" - Salvador/BA

Revista Espírito Livre: Everaldo, palavras como estas só nos motivam ainda
mais a trabalhar em pról de um material com o foco na qualidade, na seriedade,
mas principalmente, com o foco no leitor, afinal de contas são vocês que
fornecem comentários como este, que funcionam como combustível para todos
nós ennvolvidos com a publicação. Somos nós que agradecemos!

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PROMOÇÕES · RELAÇÃO DE GANHADORES E NOVAS PROMOÇÕES

PROMOÇÕES
Na edição #011 da Revista Espírito Livre tivemos diversas promoções bem como promoções através
de nosso site e canais de relacionamento com os leitores, como o Twitter e o Identi.ca, onde
sorteamos diversos brindes, entre eles associações, kits, cds, inscrições a eventos e camisetas. A
partir da edição nº 13 teremos a inclusão de novos parceiros, que disponibilizarão ainda mais
brindes. Fiquem atentos! Abaixo, segue a lista de ganhadores de cada uma das promoções.

Ganhadores da Promoção VirtualLink:

1. Jorge Graciano - Anápolis/GO


2. Thiago Mishaim de Castro Silva - Teresina/PI
3. Thiago Emannuel de Sousa Julião - Juazeiro do Norte/CE
4. VictorPaulo de Souza Lima - Belém/PA
5. Fabricio da Silva Valdares Xavier - Uberlândia/MG

Ganhadores da promoção Clube do Hacker:

1. Douglas da Cunha Borges - Guaíba/RS


2. Leônidas Pinheiro - Belo Horizonte/MG
3. Sílvio Romero Costa Lima - Recife/PE

A promoção continua! A VirtualLink em parceria


com a Revista Espírito Livre estará sorteando kits
de cds e dvds entre os leitores. Basta se inscrever
neste link e começar a torcer!

Não ganhou? Você ainda tem chance! O


Clube do Hacker em parceria com a Revista
Espírito Livre sorteará associações para o
clube. Inscreva-se no link e cruze os dedos!

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |13


COLUNA · ALEXANDRE OLIVA

Mitologia Grega II:


Guerra de Tróia
Por Alexandre Oliva
Darcy McCarty - Flickr.com

É impressionante como ainda tem gente


que nem pensa duas vezes antes de trazer um
cavalo de madeira para dentro das muralhas da
cidade, só porque o cavalo é dado. Como tive-
ram o infortúnio de descobrir os troianos, o pre-
sente de grego vinha com uma surpresa.
Tivesse casca de chocolate, ao invés de madei-
ra, poderia muito bem se chamar Kinder Hippo,
ainda que os “soldadinhos” já viessem, digamos,
armados e não estivessem ali para brincadeiras.

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COLUNA · ALEXANDRE OLIVA

Presentes semelhantes vêm sendo ofereci- convidam e-stratiotis a espionar as mensagens


dos a cidades-estado em todo o mundo. São ser- da administração pública, porém escambam a
viços ou software privativos, sem custos atenção, a privacidade e o futuro de seus docen-
significativos para o doador, apesar dos vulto- tes e discentes pelas algemas digitais que vão
sos valores nominais. Tal qual cavalo de madei- mantê-los, docentes e discentes, aprisionados,
ra, aparentam não onerar quem os recebe, mas dependentes e impotentes. Duplo ganho para o
escondem segundas intenções inconfessáveis ofertante, dupla perda para as vítimas. E quem
que põem em risco a soberania, a segurança e deu a canetada, nada? Às vezes, nada! Outras,
a economia dos estados que os trazem para den- mergulha, voa de primeira classe, vai a festas,
tro de suas muralhas vir- sem nem falar nas próxi-
tuais. mas eleições ou no próxi-
Hoje em dia, cava- mo emprego. Deita-se
los e-lênicos não trazem Alguns sobre os louros de um pro-
blema mal resolvido, que
mais soldados de carne e
osso em seu interior, mas neotroianos escolados custará às vítimas anos
sim e-stratiotis, soldados de análise (de sistemas?)
eletrônicos. Alguns são não mais convidam e- para superar.
espiões, que passam a
receber e monitorar as co-
stratiotis a espionar as Um exemplo são vá-
rios estados e municípios
municações internas da mensagens da que têm aceito as ofertas
administração pública. de serviços de correio ele-
Já imaginou, as comuni- administração pública, trônico e anúncios comer-
cações estratégicas das ciais para alunos e
forças armadas ou das re- porém escambam a professores da rede (já es-
lações exteriores nas gar- crevi essa palavra acima,
ras eletrônicas de uma atenção, a privacidade não?) pública, direcionan-
empresa que mantém pa- do os anúncios através
ra o governo estaduniden- e o futuro de seus da inspeção do conteúdo
se uma porta dos fundos
aberta, descoberta e utili-
docentes e discentes das mensagens eletrôni-
cas.
zada pelo governo chi- pelas algemas Outros aceitam hip-
nês? Os troianos dos posoftware gratuito (afi-
tempos de Helena tive- digitais... nal, os certificados de
ram suas próprias mura- licença oferecidos têm
lhas abertas pelos Alexandre Oliva custo de produção pratica-
stratiotis infiltrados para o mente nulo) para adestra-
exército inimigo entrar, mento de alunos, de
enquanto neotroianos ingenuamente usam os e- modo que, ao chegarem ao mercado de traba-
stratiotis infiltrados como mensageiros, que dili- lho, por causa da decisão que já tomaram por
gentemente armazenam cópias das mensagens eles, tenderão a continuar usando as mesmas
no quartel general, para deleite de quem tem li- algemas, porém pagarão caro por esse discutí-
vre acesso pelos fundos. Não importa quão quen- vel privilégio. Chama atenção a semelhança
te ou G.nial um serviço desses possa parecer: é com a estratégia adotada por narcotraficantes
fria, é do mal. Não caia nessa rede. até hoje, e por vendedores de outras drogas ain-
Alguns neotroianos escolados não mais da legalizadas, que antigamente ofereciam gra-

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COLUNA · ALEXANDRE OLIVA

tuitamente seus bastões fumacentos a futuros de- centa. E tome injeção de dependência! “De
pendentes nas saídas das escolas. Hoje, lamen- graça, até injeção na testa!”, propõem. Que dro-
tavelmente, a escola traz arapucas semelhantes ga, né?
para dentro de suas muralhas, fazendo até con- Assusta que se julgue razoável aceitar
vênio com fornecedores para que, valendo-se sem licitação esses presentes de grego, causa-
dos portões abertos, invadam, conquistem e des- dores de dependência, apenas porque sua pri-
truam a educação, subjugando gerações intei- meira dose parece grátis. A lei de licitações não
ras. invalida o princípio constitucional da impessoali-
Não seria difícil entender a aceitação des- dade: dispensar de licitação um fornecedor
ses abusos, mesmo na au- quando outros poderiam
sência de corrupção: os oferecer produtos ou ser-
invasores usam de ardis viços similares pelo mes-
enganosos para derrotar mo preço (aparentemen-
seus adversários e distor-
Vale ainda te grátis) ou até preços
cer a história que escre-
vem, embelezando as
questionar, já que os menores (grátis e Livre,
sem custos ocultos, ou
feias estratégias bélicas. inocentes que recebem até pagando para ofere-
“Estratégia, do grego stra- cer o serviço) falha no
tegia”, intercede o Capitão e aceitam as ofertas cumprimento desse princí-
Nascimento, sem mencio- pio.
nar (amo demais a vida pa- parecem não se Vale ainda questio-
ra escrever “sem saber”) o
quanto essa raiz pervade perguntar, por que nar, já que os inocentes
que recebem e aceitam
o vocabulário marcial helê-
nico: stratiotis (soldado),
raios companhias as ofertas parecem não
se perguntar, por que rai-
stratiotika (militar), strate-
gos (general)...
com fins de lucro os companhias com fins
de lucro ofertariam produ-
Na história assim es- ofertariam produtos tos gratuitos. Afinal,
crita, posam, como heróis, quando a esmola é mui-
crudelíssimos strategos de gratuitos. ta, até o santo desconfia!
altas patentes e baixos gol- Mas inocente nem sem-
pes, como o Strategos Fai- pre é santo, né? Valei-
lure Reading e o Strategos Alexandre Oliva nos, São IGNÚcio!
Protection Fault, aquele da Que interesses po-
mortal Blue Screen of De- deria ter qualquer dessas
ath. Outros, valorosos e íntegros, como o Strate- companhias em espionar as comunicações inter-
gos Public License de GNU, grande craque do nas da administração pública? Em armazenar
copyleft, podem ser pintados como vilões, por os dados da administração pública, de professo-
tão somente cumprirem seu papel heroico de de- res e estudantes em formatos e códigos que só
fender os cidadãos das ameaças dos invasores. essa má companhia saiba decodificar? Em tor-
Ao estudar tão distorcida história, não surpreen- nar funcionários públicos, mestres e alunos de-
de que os leitores mais inocentes confundam he- pendentes de suas ferramentas? Em evitar,
róis com heroína, craques com crack. “Lance a mediante dumping, o avanço de alternativas?
primeira pedra aquele que estiver livre!”, desafi- Em usar esses “cases” para vender o mesmo
am os invasores detrás da droga da cortina fuma-

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COLUNA · ALEXANDRE OLIVA

problema a outros? Em usar a dependência as- presente de grego ofertado, que devem ser con-
sim estabelecida para cobrar daqueles que caí- siderados parte de seu custo para fins licitatóri-
ram no conto e descobriram, tarde demais, que os.
só a primeira era grátis? Em usar uma pequena O princípio da impessoalidade é o calca-
fração dos lucros assim auferidos para pagar as nhar dos Aquiles invasores, pois vai bastante
multas das condenações em processos anti-trus- além das insuficientes práticas licitatórias atuais.
te? Deve ser cumprido, ainda que, segundo o dita-
“É uma cilada, Bino!” do, de cavalo dado não se olhem os dentes. Co-
Parece até refilmagem de um “hit” das ma- mo alerta, ficaria melhor: de cavalo dado não se
drugadas de TV aberta da minha adolescência: vêem os dentes. Não significaria que os dentes
“Pague para Entrar, Reze para Sair”. A diferen- (ou quaisquer outras armas) não estivessem ali,
ça da adaptualização é que, na versão para .tv nem que não se os deveriam procurar. Seria, ao
.net, a entrada do parque de diversões é grátis, contrário, um lembrete de que podem estar es-
atraindo ainda mais vítimas para o monstruoso vi- condidos, e de que, conforme descobriram os
lão realizar suas fantasias pervertidas e desejos troianos após uma noitada de comemoração e
perversos. bebemoração pela pretensa oferta de rendição
dos aqueus, mordida de cavalo traidor dói que é
Lembrem-se, .gov, .mil e .edu: alguém uma barbaridade!
.com interesses e .com alguma estratégia para
recuperar o investimento inicial da primeira grá-
tis sempre estará envolvido nessas propostas in- Copyright 2010 Alexandre Oliva
decentes. Tanto nos filmes como na vida real, o
que ocorre com as vítimas poderia ser descrito Cópia literal, distribuição e publicação da íntegra deste artigo
muito bem usando termos de cunho sexual. Afi- são permitidas em qualquer meio, em todo o mundo, desde que
nal de contas (que acabam sendo muitas), a pa- sejam preservadas a nota de copyright, a URL oficial do docu-
lavra orgia também tem origem grega: festins mento e esta nota de permissão.
sexuais a Dionísio, importado para Roma como http://www.fsfla.org/svnwiki/blogs/lxo/pub/guerra-de-troia
Baco, deus do vinho e dos bacanais. (Não fique
na mão! www.bacanais.orgy: festas quentíssi-
mas, com muitos agrados para romanos, gregos
e troianos! Acesse djá!)
Deu (ou deram?) para entender por que
cautela e licitações são essenciais, mesmo quan-
do o produto ou serviço parece dado? Ao contrá-
rio da oferta de Software Livre ou de serviços
que respeitem a soberania e a autonomia dos cli-
entes, inviabilizando estratégias de captura e
aprisionamento que garantissem lucros obsce-
nos posteriores, software e serviços privativos ge- ALEXANDRE OLIVA é conselheiro da
ram monopólios e impõem custos, ocultos como Fundação Software Livre América Latina,
os stratiotis aqueus armados até os dentes no in- mantenedor do Linux-libre, evangelizador
do Movimento Software Livre e engenheiro
terior do cavalo de madeira dado a Tróia. São de compiladores na Red Hat Brasil.
custos de saída e distorções de mercados futu- Graduado na Unicamp em Engenharia de
Computação e Mestrado em Ciências da
ros em razão de exclusividades (monopólios, arti- Computação.
ficiais ou não) na prestação de serviços sobre o

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COLUNA · CÁRLISSON GALDINO

Por Carlisson Galdino

No episódio anterior, Pandora e Darrel foram à


Sysatom Technology na intenção de resgatar
Louise, quando são descobertos por Oliver e
companhia.

Pandora e Darrel abraçados encaram Oliver,


Episódio 06 totalmente feito de metal, Valdid com jeito de
minotauro e Arsen com corpo rochoso. Todos
Todos no QG eles enormes e tapando a saída. Do lado,
Louise se espreguiça, terminando ainda de
acordar.

Tungstênio: Então finalmente os pombinhos


apareceram...

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COLUNA · CÁRLISSON GALDINO

Gnú: hehehe... Bull: É! Bull!

Darrel: É, Oliver. Estamos aqui para saber o Tungstênio: Ok então. Voltando... Tungstênio,
que está acontecendo. E que história é essa de Bull, Montanha e Seamonkey, ali sentada.
você querer “dar um jeito em nós”? Precisamos saber como vocês se chamam.

Tungstênio: Ei, para tudo! Quem é Oliver Pandora: Bem... Ó... Meu nome vai ser em
aqui? Vocês estão vendo algum Oliver? inglês também! É chique, né Bem? Quero ser a
dançarina da tempestade! Stormdancer! É!

Arsen e Valdid gesticulam concordando com o Tungstênio: E você?


chefe, enquanto Louise abaixa a cabeça,
colocando a mão na testa, como quem diz “Que Darrel: E que diferença isso faz? Nossos
idiota...” nomes são só bytes em uma variável, temos
outros assuntos mais importantes pra tratar.
Tungstênio: Meu nome é Tungstênio. Esse é
Montanha, esse Gnú... Tungstênio: Vocês nunca aplicavam regras de
codificação? Padrões de nome são uma das
Gnú: Chefe? características mais importantes, sabia?

Tungstênio: Que é? Bull: Verdade...

Gnú: É que não quero ser mais Gnú. Stormdancer: Bem... Vai... Escolhe um vai!

Tungstênio: E é o quê agora?


Darrel olha para o bajulador Bull e até Pandora
sorrindo, esperando um nome.
Tungstênio encara Gnú com ar de tédio e de
incômodo. Darrel: Louise, você vem conosco?

Gnú: Gnú é aquela licença chata do Linux. Tungstênio: Como assim?! O nome dela é
Seamonkey!
Pandora: Você não sabe é de nada. Gnú é um
projeto... Darrel: Louise?

Gnú: Falei contigo, fía? Não? Então pronto! Seamonkey: Vou nada! Fazer o quê? Vou ficar
por aqui mesmo.
Darrel: Vamos parar...
Darrel: Então vamos indo. Você fez sua
Tungstênio: Para todo mundo! Diz logo qual o escolha. Não ter liberdade é também uma
nome que você escolheu agora e não enrola! escolha, de certa forma...

Gnú: Bull! Seamonkey: No fim das contas ninguém é livre


nessa merda de mundo. Nem aqui nem na
Tungstênio: Bull?! Internet, nem em canto nenhum.

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COLUNA · CÁRLISSON GALDINO

Darrel: Uns são menos livres que outros, Darrel: Amor, já viu o nome dessa série? É
dependendo do caminho que escolhem. Warning Zone! Numa zona de warnings, nada
precisa fazer sentido!
Tungstênio: Vamos parar de filosofia que isso
aqui não é LUG! Pandora: Faz sentido...

Darrel: Tem razão. Então vamos embora. Darrel: Eu tenho poderes como todos nós.
Entendam isso como um unsubscribe.
Pandora: Eu não tenho. Só tenho essa voz
Tungstênio e os outros dois se afastam um medonha...
pouco uns dos outros para poderem tapar
melhor a saída. Darrel: Você vai ver que tem. Mas vamos
procurar uma pousada pra dormirmos.
Tungstênio: Quem disse que vocês vão sair
daqui? Ainda não disseram claramente de que Pandora: Pousada?
lado estão.
Darrel: Acha seguro voltar pra casa?
Montanha: Como não estão colaborando, acho
que nem precisam dizer. Pandora: Ih, verdade...

Tungstênio: É, não precisam. Darrel: Então vamos. Estou com a carteira e os


documentos ainda...
Stormdancer: E agora, Bem? Que a gente faz?

Darrel: Primeiro, não vamos pactuar com suas


idéias loucas de dominação mundial. Segundo,
que se quer me chamar de outro nome, pode
me chamar de Cigano.

CARLISSON GALDINO é Bacharel em


Já está entardecendo na Praça Pimentel e em Ciência da Computação e pós-graduado
um dos bancos, um casal ofegante olha para o em Produção de Software com Ênfase
em Software Livre. Já manteve projetos
vazio. como IaraJS, Enciclopédia Omega e
Losango. Hoje mantém pequenos
projetos em seu blog Cyaneus. Membro
Pandora: Bem, como foi isso? Como a gente da Academia Arapiraquense de Letras e
veio parar aqui? Não faz sentido. Artes, é autor do Cordel do Software
Livre e do Cordel do BrOffice.

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COLUNA · CEZAR TAURION

Desenvolvimento do
open source:
porque alguns
softwares despertam
interesse e outros não?
Por Cezar Taurion

Svilen Milev - sxc.hu

Embora Open Source ve- Algumas pesquisas tem


nha se expandindo exponencial- sido efetuadas para identificar
mente, ainda existem alguns porque alguns projetos Open
mitos que precisam ser derruba- Source despertam interesse e
dos... Bem, primeiro vamos lem- outros não, e já começamos a
brar que nem todo projeto de dispor de informações razoa-
open source terá sucesso. Mui- velmente confiáveis para me-
tos não atraem interesse da co- lhor compreendermos este
munidade e tendem a fenômeno. À medida que estu-
desaparecer. Para cada projeto damos o tema open source,
de sucesso existem milhares de compreendemos que existem
projetos que fracassam. Poucos muitas diferenças entre a teo-
projetos despertam interesse e ria e a prática. O mundo real é
atraem um número expressivo diferente do mundo romântico
de voluntários. Muitos projetos e idealista visualizado por al-
são iniciativas isoladas e perma- guns ideólogos do software li-
necem desta maneira até desa- vre.
parecerem. Não sobrevivem à No modelo tradicional, o
versão alfa. Portanto, não se po- desenvolvimento de um softwa-
de replicar automaticamente o su- re segue um padrão bastante
cesso do Linux, do Apache, do conhecido. Uma empresa es-
Eclipse e outros a todos os de- creve o software segundo me-
mais projetos de open source. todologias e objetivos claros e

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COLUNA · CEZAR TAURION

bem definidos, e o comerciali-


za. O código fonte é proprieda-
de particular e considerado
“segredo de estado”. O open ...estudos sustentam
source tem outro paradigma. O
código fonte é desenvolvido e que os ganhos indiretos e a busca
mantido por uma comunidade
de voluntários e está disponí- por status são os principais
vel a todos.
Outros estudos susten-
motivadores dos voluntários. É o
tam que os ganhos indiretos e que os motiva a investir seu tempo
a busca por status são os princi-
pais motivadores dos voluntári- e até dinheiro para contribuir
os. É o que os motiva a
investir seu tempo e até dinhei- voluntariamente em um projeto de
ro para contribuir voluntariamen-
te em um projeto de open open source.
source. Existe também um as-
pecto pouco conhecido: o pa- Cezar Taurion
pel e a motivação do
mantenedor do projeto de
to ao processo de produção de
open source. Este indivíduo é
softwares abertos. Já se identifi- estudos também chegam a ob-
o responsável por assumir pa-
cou que a contribuição da co- servações interessantes: proje-
pel de liderança e responsabili-
munidade é distribuída de tos com muitos download não
dade, com muito maior
forma desigual entre os colabo- significam necessariamente
investimento de tempo e dedica-
radores. Na maioria dos proje- projetos com intensa atividade
ção que os demais voluntários.
tos de Open Source, uma de programação. Softwares co-
Por que assume este papel?
pequena parcela de desenvol- mo sistemas operacionais atra-
Estudar este fenômeno vedores contribui com a maior em o interesse de
não é fácil. Nem todos os proje- parte do código. Em números desenvolvedores, que por sua
tos de Open Source apontam estimados, cerca de 10% dos vez geram muita atividade de
de maneira clara e estruturada voluntários contribuem com programação. Por outro lado,
seus autores. Mas analisando- quase 75% de todo o código es- softwares mais focados no
se o código fonte a partir de si- crito. O fato é que apenas um usuário final demandam mais
tes repositórios de movimentos pequeno e seleto grupo de de- downloads de interessados em
de projetos Open Source como senvolvedores arca com maior seu uso, mas não atraem mui-
SourceForge (http://sourcefor- parte do código, na imensa mai- tos voluntários para seu desen-
ge.net/) pode-se tirar algumas oria dos projetos de Open Sour- volvimento e manutenção.
conclusões relevantes. Uma ins- ce. Outra observação interes-
peção nos seus projetos cadas-
Estudos que pesquisam o sante é que na maioria dos pro-
trados nos mostra que uma
Sourceforge mostram que a jetos que envolvem
minoria deles se encontra no
maioria dos projetos é desenvol- comunidades mais amplas de
estágio de maturidade.
vido por um grupo muito peque- colaboradores, como o Linux,
A prática vem mostrando no de voluntários. Estes a contribuição ao projeto é
resultados interessantes quan-

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COLUNA · CEZAR TAURION

/publications/whowriteslinux.
pdf). O estudo diz “The top 10
contributors, including the
Uma clara, sólida e groups “unknown” and “none”
make up nearly 70% of the to-
reconhecida liderança é essencial ao tal contributions to the kernel.
It is worth noting that, even if
sucesso do projeto. E, ao contrário one assumes that all of the
“unknown” contributors were
do que se imagina popularmente, um working on their own time, over
70% of all kernel development
projeto de sucesso depende de uma is demonstrably done by deve-
lopers who are being paid for
estrutura hierárquica... their work”.
Outra observação prática
Cezar Taurion
demonstra que um fator crítico
massiva, mas a colaboração en- da. Por outro lado, projetos de sucesso é o papel executa-
tre a comunidade acontece ape- com pouca atração não conse- do pelo mantenedor. Uma cla-
nas entre grupos pequenos de guem aglutinar uma comunida- ra, sólida e reconhecida
desenvolvedores, que estejam de significativa. liderança é essencial ao suces-
trabalhando na programação so do projeto. E, ao contrário
As pesquisas e a prática do que se imagina popularmen-
dos mesmos pedaços de códi- nos sinalizam algumas primei-
go. Na prática, embora a comu- te, um projeto de sucesso de-
ras pistas que nos ajudam a pende de uma estrutura
nidade possa ser muito identificar porque um projeto ob-
grande, a colaboração aconte- hierárquica para ser concluído
tém sucesso e outros fracas- a contento. Deve haver uma
ce apenas entre grupos reduzi- sam. Uma primeira observação
dos, envolvidos nas mesmas clara e reconhecida regra de
contraria a teoria inicial, quan- subordinação entre o mantene-
tarefas. do do surgimento dos primei- dor, os líderes e os demais
De maneira geral a maio- ros projetos, que propunha contribuidores para que o proje-
ria dos projetos de software li- que o open source seria desen- to obtenha sucesso. O exem-
vre são de pequeno tamanho e volvido por uma comunidade plo do Linux é emblemático.
a maior contribuição inicial de adolescentes e estudantes Existe uma hierarquia, com Li-
vem do seu próprio autor e com pouca experiência em pro- nus Torvalds decidindo em últi-
que esta sua contribuição e en- gramação. Não é verdade: os ma instância que patches
tusiasmo é crucial para manter projetos de sucesso são fruto serão aceitos na nova versão
o projeto vivo e atraente para principalmente da contribuição do kernel e quais não o serão.
atrair novos colaboradores. O de desenvolvedores profissio- Ou seja, o projeto de open
modelo de desenvolvimento nais. Conclui-se que open sour- source não é caótico e desor-
adotado pelo Open Source, ce é coisa de profissional e ganizado. Por outro lado a hie-
em comunidade e colaborati- não de amadores. Um estudo rarquia não é formal, mas é
vo, depende de alguns fatores interessante sobre o Linux, pu- aceita por fatores como compe-
para deslanchar. Um deles é a blicado pela própria Linux Foun- tência e méritos profissionais.
atratividade do projeto. Quanto dation, mostra este fato de É meritocrática por excelência.
mais popular e atrativo o proje- forma inquestionável
to, maior a comunidade envolvi- (http://www.linuxfoundation.org Mas, um dos aspectos

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COLUNA · CEZAR TAURION

ainda pouco conhecidos dos evolução profissional (chance munidade, acabam por influen-
projetos de open source é a re- de participar de um projeto co- ciar, direta ou indiretamente,
al motivação dos voluntários. nhecido internacionalmente), os rumos do projeto.
O que os motivam a dedicar evolução técnica (chance de de- Como não poderia deixar
tempo e esforço a colaborar senvolver técnicas de progra- de ser, as pesquisas demons-
com um projeto em que aparen- mação que não podem ser tram que os colaboradores que
temente não obtém ganhos fi- obtidos em trabalhos regula- recebem remuneração (direta
nanceiros? res) e obviamente oportunida- ou indireta) pela sua colabora-
Conhecer esta motivação des de melhor ção tendem a dedicar muito
é importante para conhecer a empregabilidade, pela exposi- mais horas e energia ao proje-
sustentabilidade do modelo. ção a uma rede de contatos to de open source que os que
muito maior e influente. Existe contribuem apenas por prazer
Muitos esforços tem sido também, é claro a compensa-
feitos nesta direção. Pesquisas e diversão.
ção financeira pela oportunida-
com comunidades de desenvol- de de explorar serviços em Entender o processo
vedores já tem apontado algu- torno do open source. Open Source abre novas opor-
mas pistas. Uma forte tunidades de desenvolvimento
motivação é a intrínseca, onde As pesquisas demons- de projetos por parte de empre-
o desenvolvedor desenvolve ati- tram claramente que uma comu- sas de software, que mesmo
vidades que considera agradá- nidade envolvida em um open sem capital suficiente, poderi-
veis. Como não existem source de sucesso abriga cola- am, sob o abrigo do modelo co-
pressões por prazo ou cobran- boradores com diversas e varia- laborativo desenvolver projetos
ças por tarefas além da capaci- das motivações. É uma que seriam impossíveis no mo-
dade individual (o limite da comunidade heterogênea pela delo tradicional.
competência e do desafio técni- sua própria natureza e as moti-
vações não podem ser foca- É indiscutível que as inte-
co é determinado pelo próprio rações entre projetos de open
desenvolvedor), participar de das apenas em um ou outro
aspecto. source e empresas de softwa-
um projeto de open source tor- re privadas estão se tornando
na-se um trabalho agradável. À medida que o projeto cada vez mais comuns. O mo-
É diferente de um trabalho en- do open source evolui e obtém vimento do open source já não
quanto empregado em uma em- uma maior utilização e reconhe- é mais visto como um românti-
presa, pois neste as pressões cimento pelo mercado, torna- co movimento ideológico e sim
por prazo e exigências acima se parte importante do conjun- já é encarado como alavanca-
da capacidade técnica tornam- to de softwares essenciais às dor de modelos de negócios
se altamente estressantes. Exis- empresas, como o Eclipse, Apa- sustentáveis e complementa-
te também a motivação causa- che e o Linux. Nesta situação res aos tradicionais modelos
da pelo senso de participação identifica-se que uma parcela da indústria de software.
em uma comunidade, com su- significativa dos seus desenvol-
as obrigações e recompensas. vedores são remunerados, mui-
Participar de uma comunidade tas vezes pelas empresas da
CEZAR TAURION é
de open source e ser reconheci- própria indústria, que já cria- Gerente de Novas
do pelos pares torna-se um fa- ram dependência do software Tecnologias da IBM
Brasil.
tor altamente motivador. e não podem se dar o luxo de Seu blog está
Mas existe também a moti- ver o projeto desaquecer. disponível em
www.ibm.com/develo
vação extrínseca, que se refle- Além disso, pela experiência e perworks/blogs/page/
te em compensações como tecnologia que agregam à co- ctaurion

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COLUNA · TEM MULHER NA ÁREA: O QUE OS HOMENS ACHAM DISSO?

Tem mulher na área:


O que o homens acham disso?
Por Krix Apolinário

Jorge Vicente - sxc.hu

Oi pessoal, tudo bom? medicina, advocacia, jornalis-


Sou a Krix e moro em Recife- mo, arte e diversas outras mas
PE, atualmente atuo como em TI, será que são tantas co-
Administradora de Sistemas mo nas outras? Infelizmente
Unix/Linux no C.E.S.A.R. A ainda não e podemos ver isso
partir desta edição da revista nos cursos universitários onde
estarei todos os meses com de uma turma 50 alunos 3 são
vocês, procurando sempre do sexo feminino.
trazer alguma matéria com Nesses ambientes mascu-
temas interessantes e aguardo linos normalmente acontecem
as críticas cronstrutivas e diversos tipos de brincadeiras
sugestões de todos vocês... e piadinhas das mais inconve-
Pois então... Não é de ho- nientes possíveis e isso com
je que as mulheres vem con- certeza afasta boa parte das
quistando seu espaço em mulheres, principalmente quan-
diversas áreas e podemos dar do não tem nenhuma outra no
claros exemplos aqui como, na setor. Não podemos esquecer

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COLUNA · TEM MULHER NA ÁREA: O QUE OS HOMENS ACHAM DISSO?

sombria” com enfeites e bichi-


nhos em suas mesas e dando
mais vida e alegria as empre-
Conversando sas. Falaram também da garra
e dedicação a vida profissional
com alguns rapazes e perguntando e acadêmica que para elas an-
dam lado a lado, pelo menos
sobre suas opiniões sobre as para a maioria, fazendo com
que elas ganhem ainda mais
mulheres que eles conhecem e/ou destaque.
trabalham com eles, algumas de Já outro comentou algo
bastante interessante dizendo
suas opiniões foram que não olham que as mulheres tem um pro-
cessamento multi-tarefa, ao
a mulher nessa área como uma contrário do homem que procu-
ram normalmente focar somen-
pessoa do sexo feminino, mas te uma coisa.
sim um profissional do sexo Um dos comentários que
achei bem interessante foi o
feminino... de que para as mulheres é
mais difícil aguentar a rotina
Krix Apolinário de trabalho alta, precisando al-
gumas vezes passar noites na
empresas ou em clientes, sem
também da sociedade que recri- lor principalmente em cargos
contar algumas viagens de últi-
mina logo quando a mulher de gestão e liderança.
ma hora que muitas vezes
tem que ficar até mais tarde no Conversando com alguns acontecem.
trabalho o que acontece com rapazes e perguntando sobre
bastante frequência em alguns Como mulher posso dizer
suas opiniões sobre as mulhe-
setores. que o mercado está de portas
res que eles conhecem e/ou tra-
abertas e a espera de profissio-
Para entrar e se manter balham com eles, algumas de
nais independentementes do
nessa área além de seu conhe- suas opiniões foram que não
sexo, o que é preciso é compe-
cimento, ela tem que ter um pul- olham a mulher nessa área co-
tência, garra e principalmente
so firme e muitas vezes ser “a mo uma pessoa do sexo femini-
gostar de desafios, pois isso é
chata”, para que ela possa ter no mas sim como um
algo comum nessa área.
respeito e reconhecimento pro- profissional do sexo feminino
fissional e por conta da mu- onde toda e qualquer atividade
lher, normalmente ter uma técnica pode ser realizada com
dupla jornada de trabalho onde competência, pois na verdade
KRIX APOLINÁRIO
uma é em casa e a outra na em- é uma questão de aptidão e é graduada em
presa faz com que ela tenha não de sexo. Internet e Redes de
um destaque maior que o ho- Computadores e
Outros ressaltaram o fato atua como
mem, por ser mais organizada, de serem caprichosas e preo- Administradora de
paciente, dedicada e saber ou- Sistemas Unix/Linux
culpadas com detalhes além do C.E.S.A.R.
vir mais o que é de grande va- de quebrarem a “atmosfera

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |26


CAPA · ENTREVISTA COM MARK SURMAN

Entrevista com Mark Surman,


diretor executivo da Fundação Mozilla
Por Filipe Saraiva e João Fernando Costa Júnior
Photo by Joi Ito

Mark Surman está no ne- Revista Espírito Livre:


gócio de ligar as coisas: pesso- Quem é Mark Surman? Apre-
as, ideias, tudo. Um ativista sente-se aos nossos leitores.
comunitário de tecnologia há Mark Surman: Huuum...
quase 20 anos, Mark é atual- Acredito ser uma pessoa que
mente o diretor executivo da se preocupa que todos no mun-
Fundação Mozilla, com foco do sejam ouvidos, oportuna-
em inventar novas maneiras mente podendo modificar,
de promover a abertura e as modelar o seu mundo e um lu-
oportunidades na Internet. Por gar melhor.
outro lado, Mark convoca Foi por isso, que quando
discussões sobre "tudo aberto" adolescente participei à uma
em sua cidade natal de Toron- especie de “Cinema-Punk”. Is-
to e em todo o mundo. Em sua so também é um motivo pelo
passagem pelo Brasil neste qual amo a internet e o open
mês de março para a divulga- source, porque nos permite de
ção do Mozilla Drumbeat, Mark modificar o mundo, de inventar
concedeu esta entrevista exclu- histórias novas.
siva à Revista Espírito Livre.

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |27


CAPA · ENTREVISTA COM MARK SURMAN

Se quiser mais informa- que existe com o propósito de MS: Mozilla Drumbeat
ções veja o link: http://com- proteger a natureza livre da in- tem como objetivo ajudar as
monspace.wordpress.com/abo ternet. Precisamos trabalhar co- pessoas que querem utilizar as
ut/. mo uma iniciativa filantrópica tecnologias da web em novas
mesmo de um jeito muito inova- maneiras para melhorar e pro-
dor, por isso as minhas experi- teger a internet aberta, não se
REL: Como começou ências passadas me ajudam trata somente de softwares, is-
seu trabalho de "conectar muito por aqui. so vai além, como na educa-
pessoas, ideias e tudo ção, na produção
mais"? Ele surge necessaria- cinematográfica, na própria ar-
mente de sua relação com a REL: Nos fale um pou- te. Drumbeat é/será feita por
tecnologia ou você já era ati- co sobre os projetos que a pessoas que criam coisas mui-
vista antes de mexer com Fundação Mozilla desenvol- to concretas e que de forma
computadores e software li- ve com foco para uma Inter- concreta contribuem para man-
vre/open source? net mais livre, participativa e ter a rede sempre livre.
MS: Sinceramente não includente.
No centro de tudo isso,
sei se fui um "bom rapaz", mas MS: Praticamente todo existe uma série de projetos e
sempre fui interessado a conec- mundo conhece o Firefox. Es- eventos que todos podem parti-
tar coisas, particularmente pes- se é um projeto que a Mozilla cipar e até mesmo ajudar a or-
soas e ideias, e o OpenSource iniciou com o objetivo focado ganizar. A ideia é fazer com
me deu essa possibilidade. Tal- ao manter a Web livre e aber- que ele funcione nos moldes
vez isso seja resultado do meu ta. O Internet Explorer foi o lea- dos projetos open source, com
ativismo precoce, e do meu inte- der por muito tempo, e com a participação e trabalho cola-
resse na literatura de pessoas isso Microsoft sempre manteve borativo como o "motor" princi-
como Gandhi, que me fizeram os padrões livres/abertos lon- pal de nosso carro. Os
entender que somos melhores ge da web, impedindo o traba- primeiros eventos sobre Drum-
juntos do que sozinhos, que so- lho desse gigantesco beat aconteceram na última se-
mos maiores quando somos mecanismo de criatividade e mana, em São Paulo e Rio de
um grupo. inovação (internet). Com o de- Janeiro.
senvolvimento de um browser
que era melhor, que as pesso- Citando um exemplo: um
REL: Como sua partici- as queriam, mais seguro e orga- dos projetos no qual estamos
pação em organizações filan- nizado nós contribuímos envolvidos se chama "Web Ma-
trópicas, voluntariado e diretamente para uma web de Movies", trata-se de uma sé-
projetos sociais o ajudaram mais livre. rie de documentarios online,
a trabalhar e desenvolver pro- onde a "legiao" (as pessoas)
jetos na Mozilla? Você acha da web pode ajudar a contar a
que sua experiência adquiri- REL: Durante este mês história da web até hoje, como
da nessas instituições o faz de março, você esteve no Bra- gostaríamos que fosse daqui a
realizar um trabalho melhor sil para o lançamento do Mozil- um século, basicamente é um
como diretor executivo da la Drumbeat. Nos fale um modo open source de fazer ci-
Fundação Mozilla? pouco sobre este projeto e nema, onde todos que conse-
seus objetivos, e como se da- guem apertar o botão rec
MS: Obviamente! Somos
rá a relação entre a Fundação podem contribuir. Também é
uma organização sem fins lucra-
Mozilla e a comunidade que um espaço aonde os "hackers"
tivos, somos uma comunidade
se formará em torno dele. podem demonstrar todas as

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CAPA · ENTREVISTA COM MARK SURMAN

possibilidades criativas que po-


demos ter quando nos libera-
mos de tecnologias como
Flash. E como tudo isso pode
ajudar a web? Ajuda principal-
Acredito que o uso
mente à compreendê-la, mas educacional das tecnologias podem
com certeza fará luz sobre os
novos usos de tecnologias li- contribuir para a formação das
vres na web, iluminarão pala-
vras como "Isso é possivel". capacidades criativas dos jovens. Os
governos deveriam apoiar e ajudar
REL: Durante sua visita
ao Brasil no ano passado, du- todos os projetos e iniciativas que
rante o FISL, você deu uma
palestra sobre educação pa- tem isso como objetivo.
ra uma Web aberta, inclusive
falando sobre a iniciativa Mo- Mark Surman
zilla Education. Nos fale um
pouco sobre este projeto.
a educação que pudesse fa- livres? O que você percebe
MS: Mozilla Education foi zer um inteligente uso desta na relação entre estas insti-
(em parte ainda é) um mix de tecnologia? tuições e a comunidade de
tentativas e experimentos volta-
MS: Talvez eu não tenha desenvolvimento?
dos à educação através do
open source. Alguns deles con- entendido bem, mas acredito MS: Para mim depende
tinuam até hoje a usar essa cegamente que o uso correto muito da universidade. A Mozil-
bandeira, um caso especial dis- da tecnologia para a instrução la colabora com grandes uni-
so é o "Seneca College", onde (formação participativa através versidades em todo o mundo
os estudantes podem contri- da tecnologia possa abrir no- através de inúmeras iniciativas
buir com o desenvolvimento de vas oportunidades para as pes- open source, seja como desen-
Firefox e outros softwares Mozil- soas que não estão nos volvimento ou como uso final.
la, outros também migraram ao grandes centros. Acredito tam- Mas concordo que o número
projeto Drumbeat. Outro exem- bém, que o uso educacional poderia ser muito maior.
plo é o Peer2Peer, um progra- das tecnologias podem contri- Para mim, a grande dife-
ma universitário que ensina a buir para a formação das capa- rença não é que o open source
elaborar o desenvolvimento cidades criativas dos jovens. esteja presente nas universida-
das capacidades. Os governos deveriam apoiar des, mas sim que esteja pre-
e ajudar todos os projetos e ini- sente o open source
ciativas que tem isso como ob- direcionado para à educação e
REL: Você acredita que jetivo. ensino. A ideia verdadeira de
a web pode ser usada como
software livre e "hacking" den-
uma importante ferramenta
REL: Você acha que as tro das universidades é uma
de ensino e educação de pes-
universidades deveriam in- maneira de permitir que exista
soas distantes dos grandes
vestir mais no desenvolvi- um processo natural de apren-
centros? Como você imagi-
mento e uso de softwares dizado, e não somente através
na uma política pública para

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CAPA · ENTREVISTA COM MARK SURMAN

turo, segundo Mark Surman?


MS: Bem, eu vejo um ce-
nário cheio de esperança, que
Acredito que a posição a web será ainda mais livre a
aberta que hoje. Vejo que a
neutra da rede e a liberdade cultura de colaboração e parti-
cipação que começamos a
estejam na base de tudo o que construir conseguiu realmente
atingir toda a sociedade, edu-
permite à internet de ser assim tão cação, arte, ciência, governo.
útil e importante. Mas do outro lado, as coi-
sas também poderiam andar
Mark Surman
mal, muito mal. Corremos o ris-
co de viver a censura e a filtra-
gem, mesmo acreditando que
as pessoas não permitiriam is-
dos métodos velhos com apre- próprio fator liberdade. Não po- so. O risco maior é perder a li-
sentações em um formato qua- dem ser criadas leis para des- berdade, com cada vez mais
se cientificamente truir essa liberdade. dados e informações pessoais
incompreensível, com o open na "nuvem" estamos sujeitos a
source conseguimos aprender ver o prestador de serviço sen-
através de códigos verdadei- REL: Recentemente, o tado no banco do motorista, e
ros e comunidades que real- Google retirou o filtro oficial isso não pode acontecer, deve-
mente existem. de conteúdo imposto pelo go- mos sempre ter o controle total
verno chinês naquele territó- do que temos na nuvem.
rio. Como você avalia esta
REL: Há vários projetos postura? E quanto a outras
tramitando ou aprovados em empresas com serviços de REL: Para finalizar, dei-
governos espalhados pelo busca, e contas de e-mail xe algumas palavras para os
mundo que criam uma postu- que filtram conteúdo e, inclu- nossos leitores.
ra de vigilância e atenção so- sive, tem histórico de colabo- MS: A coisa principal é
bre os usos que os ração com o governo lembrar sempre que a liberdade
internautas fazem da rede. daquele país? na web é tao importante como a
Como você avalia essa situa- MS: Mais uma vez, acredi- liberdade que temos no nosso
ção? to que a posição neutra da re- próprio computador e que os en-
MS: A internet nasceu e de e a liberdade estejam na tusiastas do OpenSource, tem
cresceu como algo a que to- base de tudo o que permite à in- um papel fundamental em man-
dos teriam acesso, como uma ternet de ser assim tão útil e im- ter a web livre e aberta por um
rede neutra. Aonde não seja ne- portante. Devemos mantê-la longo período.
cessário uma autorização para livre se queremos que ela conti-
criar uma página, ou para de- nue a existir.
senvolver um novo aplicativo.
A origem de toda a criatividade
e inovação da internet, está no REL: Compartilhe conos-
co: qual a visão da web do fu-

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CAPA · INDÚSTRIAS DO COPYRIGHT ATACAM PRIVACIDADE E REDES P2P

INDÚSTRIAS DO COPYRIGHT
ATACAM PRIVACIDADE E
REDES P2P
Por Sérgio Amadeu de Almeida

Asif Akbar - sxc.hu

A internet é uma estrutu- Afirmar que a internet é


ra de comunicação distribuída. uma estrutura de controle não
Ela não é uma única rede, mas significa dizer que o conteúdo
uma rede de redes. Exatamen- de sua comunicação seja con-
te por isso, é uma estrutura trolado. Significa que o contro-
bem flexível e que se expande le técnico é vital para
independentemente da autoriza- assegurar a comunicação ve-
ção de um centro. Para poder loz e relativamente precisa en-
funcionar e articular todos os tre pontos distantes
seus nós, a internet é também conectados à rede das redes.
uma estrutura de controle. Não Implica dizer que um computa-
se navega na internet sem um dor só pode interagir em rede
número IP (Internet Protocol). se puder ser de algum modo
Para se ligar à Internet é preci- identificado para receber o re-
so aceitar suas regras de con- torno da informação solicitada.
trole que estão consolidadas Sem dúvida, o controle técnico
no conjunto de protocolos pode ser usado para se obter
TCP/IP e em diversos outros. outros tipos de controle.

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CAPA · INDÚSTRIAS DO COPYRIGHT ATACAM PRIVACIDADE E REDES P2P

O governo chinês utiliza a violação da privacidade. dados.


estrutura de controle da inter- (http://bugbrother.blog.lemon- Deixamos de dados onde
net para perseguir o rastro digi- de.fr/2010/03/02/la-cybersurveil- quer que formos. Não são so-
tal daqueles que enviam lance-est-anticonstitutionnelle-e mente as nossas contas bancá-
mensagens ou fazem posts n-allemagne/#xtor=RSS-32280 rias e carteiras de ações, ou
que são considerados agressi- 322) as nossas faturas detalhadas,
vos ao Estado. Na China, o con- Sem dúvida, é necessário listando todas as compras do
trole da camada física da impedir que as possibilidades cartão de crédito e telefone-
internet realizada pelos prove- de controle técnico da internet mas que fazemos. São tam-
dores de conteúdos é utilizado se transformem em controle po- bém sistemas automáticos de
para identificar pessoas que lítico ou em controle criativo. cobrança de pedágios, cartões
são consideradas inimigas do Existem poderosos interesses de afinidade dos supermerca-
regime. O rastro digital, como que foram afetados pela comu- dos, caixas eletrônicos e assim
escreveu Alexander Galloway, nicação distribuída, principal- por diante.
é como uma série de pegadas mente das corporações que
na neve e permite que os admi- Os dados são também
controlavam os canais de pro- nossa vida. Nossas cartas de
nistradores dos provedores de dução e distribuição de bens
backbone (das redes de alta ve- amor e conversas amigáveis.
culturais. Existem ainda gru- Nossos e-mails e mensagens
locidade) e dos provedores de pos conservadores que que-
acesso saibam qual é o ponto de SMS. Nossos planos de ne-
rem levar o mundo a um gócios, estratégias e conver-
de conexão que está com um estado de total vigilantismo
determinado IP, bem como, per- sas pessoais. Nossas
com o pretexto de combater o inclinações políticas e posi-
mite saber todos os sites aces- terrorismo. Neste sentido, a in-
sados por aquele IP. ções. E estes são apenas os
ternet é uma construção incô- dados que são registrados de
Por isso, recentemente, moda. As grandes nossas interações. Temos nos-
no dia 2 de março de 2010, o corporações da velha indústria sas sombras de informações
mais alto Tribunal do Poder Ju- cultural e os grupos ultraconser- nos bancos de dados de cente-
diciário alemão declarou incons- vadores querem mudar a dinâ- nas de corretores de corpora-
titucional a lei que obrigava os mica da rede, principalmente ções ... e nem podemos saber
provedores de internet daquele superdimensionando os aspec- se os dados que possuem so-
país a armazenarem os logs tos de controle e reduzindo as bre nós são corretos.
de seus usuários. O log é o da- possibilidades de comunicação
do que o provedor possui que livre. Por isso, é importante ob- O que acontece com os
identifica de quem é a conta servar o que Bruce Schneier, nossos dados acontece conos-
que usou um determinado IP. um dos maiores especialistas co.
Esses dados eram guardados em segurança de computado- ... Quando são aplicados
por seis meses, incluindo, a ge- res escreveu em seu blog para se obter um empréstimo
olocalização de quem os usou. (http://www.schneier.com/blog/ bancário, os nossos dados de-
O Tribunal alemão considerou archives/2008/05/our_data_our- terminam se somos ou não ca-
que fazer isso generalizada- sel.html). O trecho é longo, pazes de obtê-lo. Quando
mente equivaleria a tornar to- mas extremamente esclarece- tentamos embarcar em um
dos os internautas alemães dor: avião, são nossos dados que
suspeitos de crimes, inverten- determinam se somos procura-
do a lógica da Justiça e abrin- dos... Se o governo quer nos
do espaços inaceitáveis para a "Na era da informação, to- investigar eles estão mais pro-
dos nós temos uma sombra de

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CAPA · INDÚSTRIAS DO COPYRIGHT ATACAM PRIVACIDADE E REDES P2P

não se limitando apenas às in-


formações financeiras ou de
saúde. Deve limitar a capacida-
As grandes corporações de dos outros para comprar e
vender nossas informações
da velha indústria cultural e os sem o nosso conhecimento e
consentimento. Deve nos asse-
grupos ultraconservadores querem gurar o direito de saber quais
informações os outros detém
mudar a dinâmica da rede, sobre nossas vidas, bem co-
mo, de corrigi-las quando en-
principalmente superdimensionando contramos falhas em suas
descrições. Deve evitar que o
os aspectos de controle e governo acesse nossas infor-
reduzindo as possibilidades de mações sem supervisão judici-
al."
comunicação livre. (Tradução livre retirada
do texto "Our Data, Oursel-
Sérgio Amadeu ves", disponível:
http://www.schneier.com/blog/
archives/2008/05/our_data_our-
pensos a pegar nos computado- decidir se há ou não o risco de sel.html).
res do que ir procurá-los em sermos terroristas. Se um crimi-
nossas casas. Ele possui uma noso se apossar de muitos dos
grande quantidade de dados so- nossos dados, poderá abrir os O alerta de Bruce Schnei-
bre nós e nem sequer preci- cartões de crédito em nosso no- er nos permite compreender
sam de um mandado. me, retirar quantias de dinheiro os motivos pelos quais captu-
Quem controla nossos da- das nossas contas de investi- rar os fluxos de informação di-
dos controla as nossas vidas. mento e, mesmo, vender nos- gital é tão importante do ponto
sa propriedade. O roubo de de vista econômico e político.
É verdade. Quem contro- identidade é a prova definitiva Para evitar que nosso perfil e
la nossos dados pode decidir de que o controle de nossos da- nosso comportamento sejam
se podemos obter um emprésti- dos é um meio de controle das mapeados pelas grandes cor-
mo bancário, se podemos em- nossas vidas. porações e governos, dadas
barcar em um avião ou entrar as facilidades existentes a par-
em um país. Ou, ainda, definir Precisamos ter de volta
nossos dados. tir de nossa vida digital, é preci-
que tipo de desconto recebere- so aprovar leis que garantam
mos de um comerciante ou co- Nossos dados são parte condições básicas de privacida-
mo nós seremos tratados de nós. Eles são íntimos e pes- de. Todavia, a defesa da priva-
como clientes. Um potencial em- soais. Temos os direitos bási- cidade, hoje, é considerada
pregador pode, ilegalmente cos sobre eles. Eles devem ser secundária diante da defesa
nos Estados Unidos, analisar protegidos do contato indeseja- do sistema de copyright. Em
nossos dados médicos e deci- do. Precisamos de uma lei vários países do mundo, a jun-
dir se quer ou não nos ofere- abrangente de privacidade de ção de interesses das indústri-
cer um emprego. A polícia, de dados. Esta lei deve proteger to- as da intermediação de bens
posse dos nossos dados, pode das as nossas informações, culturais e das operadoras de

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CAPA · INDÚSTRIAS DO COPYRIGHT ATACAM PRIVACIDADE E REDES P2P

telecom tem gerado ataques


sistemáticos a dinâmica origi-
nal da Internet. As operadoras
querem cobrar de modo diferen-
ciado o tráfego de pacotes de As indústrias do copyright
informações em suas redes,
por isso, querem cobrar mais
acreditam que se não bloquearem
pelo uso de redes P2P. As in- o compartilhamento de arquivos
dústrias do copyright acredi-
tam que se não bloquearem o digitais perderão lucratividade e
compartilhamento de arquivos
digitais perderão lucratividade inviabilizarão seus negócios, por
e inviabilizarão seus negócios,
por isso, querem mecanismos isso, querem mecanismos que
que permitam identificar os in-
ternautas que trocam músicas permitam identificar os internautas
e vídeos na rede. Em síntese,
tal coligação de interesses visa
que trocam músicas e vídeos
atacar o princípio da neutralida- na rede.
de na rede e garantir leis que
mantenham os internautas iden- Sérgio Amadeu
tificados, para poderem ser aci-
onados judicialmente.

que a comissão receba das gra- No embalo da aprovação


HADOPI DE SARKOZY vadoras e empresas de copy- da Lei HADOPI na França, o
NÃO PASSA PELA CÂMARA right listas de IPs suspeitos de deputado paulista do DEM, Bis-
DOS LORDES violar os direitos de autores. po Gê Tenuta, praticamente co-
Em 2009, o presidente da Além disso, os provedores te- piou a lei francesa e a
França, Nicholas Sarkozy, con- rão que investigar o fluxo de da- apresentou na Câmara dos De-
seguiu aprovar uma lei contra dos de quem estiver putados, em Brasília.
as redes P2P, em particular, e participando de uma rede P2P. (http://www.estadao.com.br/no-
contra o compartilhamento de É importante notar que o único ticias/tecnologia+link,brasil-po-
arquivos digitais, em geral. A modo dos provedores fazerem de-ter-sua-propria-lei-sarkozy,2
lei chama-se HADOPI que é o isto é violando a privacidade e 785,0.shtm) Recebeu apoio
acrônomo de “Haute Autorité olhando o conteúdo dos arqui- dos grupos que vinham susten-
pour la diffusion des oeuvres vos que estiverem sendo com- tando a proposta do Senador
et la protection des droits sur In- partilhados. Pela lei HADOPI, Azeredo para os crimes na re-
ternet”, a alta autoridade pela di- os "criminosos" receberão três de, mas foi prontamente rebati-
fusão das obras e a proteção avisos da violação da lei. No úl- da pelo deputado Paulo
dos direitos na internet, nome timo, serão desconectados pe- Teixeira (PT-SP) e até mesmo,
do organismo criado por ela pa- lo prazo que varia de 2 a 12 pelo deputado Julio Semeghini
ra aplicar as sanções previstas meses, período pelo qual terão (PSDB-SP).
pela mesma. que continuar pagando o prove-
O governo trabalhista in-
dor.
A lei HADOPI permite glês foi um dos poucos gover-

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CAPA · INDÚSTRIAS DO COPYRIGHT ATACAM PRIVACIDADE E REDES P2P

reitos humanos foi imediata e


gerou um grande desgaste pa-
A maioria da ra o governo socialista de Sa-
patero. Um Manifesto
sociedade espanhola se colocou chamado 'En defensa de los
derechos fundamentales en In-
contra a proposta de violação do ternet' foi reproduzido em me-
nos de seis horas por mais de
direito das pessoas 58.000 blogs gerando mais de
um milhão de páginas sobre o
compartilharem arquivos digitais e tema. (http://www.enrique-
usarem as redes P2P. dans.com/2009/12/manifiesto-
en-defensa-de-los-derechos-
Sérgio Amadeu fundamentales-en-inter-
net.html) A maioria da socieda-
de espanhola se colocou
contra a proposta de violação
do direito das pessoas compar-
nos europeus que viu com no final de 2009, a Ministra de tilharem arquivos digitais e usa-
bons olhos a Lei Sarkozy. Des- Cultura da Espanha, Ángeles rem as redes P2P.
se modo, enviou ao Parlamen- González-Sinde a apresentar o
to um projeto de lei ante-projeto de lei chamado
semelhante, Digital Economy Ley de Economía Sostenible in- DECISÃO HISTÓRICA
Bill. Entretanto, o projeto de blo- cluindo cláusulas que permi- ABSOLVE TRACKER P2P,
quear sites e redes P2P está tem a uma comissão de MAS O IMPÉRIO CONTRA-
encontrando resistência até especialistas cortar a conexão ATACA
mesmo na Câmara dos Lor- de internet de quem proporcio- O juiz de Barcelona, Raúl
des, pois a maioria dos parla- ne links para downloads de mú- N. García Orejudo, destacou
mentares consideraram que a sicas e vídeos sem o em sua sentença que "o siste-
lei poderia prejudicar a inova- pagamento de licenças de pro- ma de links [usados para rela-
ção digital. Diversos parlamen- priedade. No início do mesmo cionar os pares nas redes
tares argumentaram que seria ano, o Ministro da Cultura italia- P2P] constitue a base mesma
inadmissível permitir que o go- no, Sandro Bondi, declarou da Internet” e que proibi-los se-
verno "aumentasse a fiscaliza- que seu país também seguiria ria o equivalente a tornar ile-
ção do fluxo de dados do o modelo francês de ataque as gais os buscadores (como
usuário sem que nenhuma práti- redes P2P. O curioso é que a Google). Para o juiz, um trac-
ca ilícita tenha ocorrido". No últi- Justiça italiana, no mesmo pe- ker "é apenas um índice que fa-
mo dia 4 de março, o governo ríodo da declaração do Minis- cilita a busca de rede P2P de
não conseguiu maioria da Câ- tro Bondi, havia condenado a compartilhamento de arquivos
mara dos Lordes para aprovar operadora Tele2 a pagar uma através do sistema de menus".
sua proposta. multa de 60 mil Euros pro impe- Assim o processo movido pela
(http://news.bbc.co.uk/2/hi/uk_- dir seus clientes de acessar re- SGAE (Sociedad General de
news/politics/8549112.stm) des P2P. Autores y Editores) contra Je-
Por outro lado, a pressão Na Espanha, a reação da sús Guerra, acusado de promo-
da indústria do copyright levou, blogosfera e dos ativistas de di- ver a violação de copyright em

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CAPA · INDÚSTRIAS DO COPYRIGHT ATACAM PRIVACIDADE E REDES P2P

canas, o relatório deste ano


ataca o uso do software livre.
Além de acusar diversos O mais interessante é uma pas-
sagem no relatório que de-
países de violação do copyright e monstra a fragilidade do
argumento dos aliancistas. Na
dos interesses das indústrias página 178, está escrito que
um dos maiores aliados da II-
criativas norte-americanas, o PA, a APCN do Brasil "não es-
tá processando qualquer caso
relatório deste ano ataca o uso do ilícito nas redes P2P, por cau-
software livre. sa das possíveis repercussões
negativas com o público em ge-
ral e com o governo.” Ou seja,
Sérgio Amadeu
estão esperando um melhor
momento para atacar.

SÉRGIO AMADEU
DA SILVEIRA é soció-
sua página de links P2P, redun- bre as ideias irá continuar e logo e Doutor em Ci-
dou até agora em um grande assumir maiores proporções ência Política pela
fracasso. (http://www.el- USP. É professor ad-
quanto mais a economia e a so- junto da Universidade
pais.com/articulo/internet/Sen- ciedade assumirem sua face in- Federal do ABC
tencia/firme/enlazar/redes/P2P/ formacional. A IIPA (Aliança (UFABC). Consultor
de Comunicação e
delito/elpeputec/20080918elpe Internacional pela Propriedade Tecnologia. Foi profes-
punet_8/Tes) A comunidade Intelectual) divulgou seu relató- sor titular do Progra-
ma de Mestrado da
de ativistas da liberdade na re- rio anual para o ano de 2010. Faculdade de Comuni-
de comemora a sentença divul- (http://www.regulations.gov/se- cação Social Cásper
gada no dia 12 de março de Líbero. Presidiu o ITI
arch/Regs/contentStreamer?ob- e foi membro do Comi-
2010. Ela é exatamente o con- jectId=0900006480aa8547&dis tê Gestor da Internet
trário da decisão do suspeito jul- no Brasil. Autor dos li-
position=attachment&contentTy vros: "Exclusão Digi-
gamento dos jovens do Pirate pe=pdf) Além de acusar tal: a miséria na era
Bay. diversos países de violação do da informação" e
"Software Livre: a luta
Tudo indica que as dispu- copyright e dos interesses das pela Liberdade do co-
indústrias criativas norte-ameri- nhecimento".
tas em torno da propriedade so-

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CAPA · EDUCAÇÃO NA REDE: A INTERNET TEM CULPA?

EDUCAÇÃO NA REDE:
A INTERNET TEM CULPA?
Por Jomar Silva

Svilen Milev - sxc.hu

Há alguns meses, para no centro da sua cidade, quan-


não dizer anos, somos bombar- do é abordado por um homem,
deados por uma infinidade de vestindo uma camiseta com o
matérias, notícias e reporta- logotipo do banco onde você
gens especiais que transferem tem conta, dizendo ser um re-
para a Internet a responsabilida- presentante do banco que pre-
de por uma série de crimes cisa confirmar seus dados
que acontecem por lá, mas se- pessoais, ali mesmo, no meio
rá que já não passou da hora da rua. O tal “representante”
de fazermos uma análise fria e começa então a lhe pedir to-
racional sobre este problema? das as suas informações pes-
Imagine a seguinte cena: soais, como os números de
Você está andando pela rua, seus documentos, nome dos
pais, endereço e finalmente su-

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CAPA · EDUCAÇÃO NA REDE: A INTERNET TEM CULPA?

as senhas de acesso... você en- po, respeitando suas próprias li- leva aos problemas que temos
tregaria todos estas informa- mitações, esta pessoa acaba visto nos últimos tempos.
ções ao tal “representante”, se informando e aprendendo o Olhando o problema por
assim do nada, no meio da que precisa para trabalhar este ângulo, lhes pergunto:
rua? Pois este tipo de situação bem na rede... na teoria é lin- que culpa a Internet tem nisso?
absurda acontece na Internet di- do, mas na prática isso infeliz-
ariamente... mente não acontece. Aí então surgem os opor-
tunistas de plantão, que vislum-
A “falta de conhecimento” Para ilustrar melhor o que bram aí uma excelente
ou “falta de informação” que fa- quero mostrar aqui, tenho um oportunidade para resolver o
ria uma pessoa entregar todos amigo que conta que um dia problema. É evidente que a
seus dados pessoais a um es- viu um dos scams que mais “solução proposta” por eles na-
tranho na rua é a mesma que trouxe prejuízos no Brasil em da mais é do que um gancho
acaba fazendo as pessoas en- ação e que ficou pasmo ao ver para que possam colocar em
tregar estas informações aos a quantidade de informações prática sua agenda oculta. De-
mesmos estranhos através da que o scam solicitava. A vítima vem pensar em seus gabine-
Internet, o que leva a constata- passava tranquilamente mais tes: “Ninguém entende disso
ção que é triste de ouvir e de de 20 minutos preenchendo for- mesmo, não vão nem perce-
encarar, mas é a pura realida- mulários online com informa- ber”.
de: a maioria dos crimes na In- ções assombrosas, e sem se
ternet só são possíveis pela dar conta de que tudo aquilo Foi assim que a agenda e
falta te conhecimento dos usuá- era uma fraude... e olha que os interesses dos intermediado-
rios... simples (e triste) assim! se ela pensasse apenas “nos- res do conhecimento mundial
sa, por que meu banco está quase viraram lei aqui no Bra-
O mais chato disso tudo sil, através de artigos dúbios e
é que este é um problema que, me pedindo tudo isso de no-
vo?” iria tranquilamente dar um mal redigidos tentando passar
indiretamente, foi criado por to- de contrabando em um projeto
dos nós, usuários, desenvolve- telefonema (ou ir até a agên-
cia) para esclarecer o motivo de lei que supostamente trata-
dores e entusiastas de va de pedofilia na Internet. E já
tecnologia, que sempre fize- de tamanha inquisição...
que estou metendo a minha
mos questão de “desmistificar” Por isso que acredito que mão em cumbuca, vou mexer
a Internet para as pessoas. Is- a imensa maioria dos golpes um pouco mais neste vespeiro.
so acabou gerando uma legião aplicados na Internet hoje,
de usuários que não tem a me- com ênfase aos scams, são Não é possível que eu se-
nor noção do que está fazendo apenas possíveis por que os ja o único a perceber que na
na rede, de como as coisas fei- usuários de Internet no Brasil, maioria dos casos de abuso in-
tas nela afetam a sua vida no infelizmente, não possuem os fantil, a negligência dos pais
dia a dia e de quais são os ris- conhecimentos mais básicos foi a condição primaz para que
cos reais disso tudo. para poder navegar na rede os absurdos pudessem aconte-
com segurança mínima (tipo cer.
Não acredito que tenha-
mos feito isso de forma proposi- os bons e velhos “não fale com Quando eu era criança,
tal e vejo que na verdade a estranhos” e “olhe para os dois me lembro que tinha muito pai
maioria de nós deve ter segui- lados antes de atravessar a e mãe que usava a TV como
do um raciocínio semelhante: rua” que todos aprendemos babá dos seus filhos. Conheço
vou desmistificar a Internet pa- bem cedo na vida). Isso soma- aliás muita gente que é o que
ra que esta pessoa passe a do ao dom latino de “fazer ami- é hoje, para bem ou para o
acessar a rede, e com o tem- gos” com extrema facilidade, mal, por que se criou na frente

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |38


CAPA · EDUCAÇÃO NA REDE: A INTERNET TEM CULPA?

Pois é... se você ainda


não tem filhos ou se eles ainda
não tem idade suficiente para
Não se iluda: A TV começar a te fazer “pergun-
tas”, saiba que o Google está
não te educou e a Internet não vai lá esperando por eles. Portan-
to, não tente você escapar pe-
educar seu filho! Por outro lado, a la tangente com histórias dos
tempos das nossas avós, pois
TV não fez de você um marginal, e tão logo as crianças aprendam
a escrever e usar a Internet, o
a Internet também não tornará seu Google vai lhes dar todas as
respostas que elas buscam.
filho um marginal... tudo depende Ele também vai mostrar a elas
de você! o quanto “o Papai e a Mamãe”
sabem das coisas... e acredite:
a boa e velha história da cego-
Jomar Silva
nha já era!
Sendo assim, parte da
educação dos nossos filhos,
nativos digitais, é a educação
da televisão, sua principal (e ção ou acompanhamento dos
de como se comportar na re-
praticamente única) fonte de in- pais, que na maioria dos casos
de. No nosso tempo, no máxi-
formação. Talvez seja por con- não fazem ideia do que é aqui-
mo aprendíamos a nos
ta do pensamento de “fui lo. O mesmo vale para a nave-
comportar em sociedade e a di-
criado na frente da TV e não vi- gação livre e indiscriminada e
ferença é brutal!
rei nenhum maníaco” que mui- aqui vale um destaque especi-
tos pais utilizem hoje o al. Para encerrar o assunto
computador para cumprir na crianças, não se esqueçam
Muitos de nós, quando
educação dos seus filhos o que as crianças aprendem
eramos crianças ou adolescen-
mesmo papel que a TV ocu- aquilo que ensinamos a elas, e
tes passamos por momentos
pou na sua própria educação... na maioria das vezes ensina-
de dúvida sobre uma série de
e aí está o maior erro de to- mos a elas por atos e omis-
coisas da vida, e nem todos ti-
dos: A Internet é bidirecional! sões. Não se iluda: a TV não
nham abertura suficiente para
te educou e a Internet não vai
Não pensem que falo is- conversar sobre o assunto
educar seu filho! … por outro
so sem conhecimento de cau- com seus pais. A maioria de
lado, a TV não fez de você um
sa, pois tenho uma filha de 6 nós acabou mesmo aprenden-
marginal, e a Internet também
anos que usa a Internet diaria- do as “coisas da vida” na rua,
não tornará seu filho um margi-
mente e sei o que é soltar uma pela boca de colegas e por aí
nal... tudo depende de você!
criança no mundão da Internet. vai.
Acho que não preciso
Conheço muitas crianças, Hoje em dia, por mais
nem comentar aqui os casos
filhos de amigos e até de paren- que exista diálogo entre pais e
de abuso de crianças que ve-
tes, que começaram a utilizar filhos, temos na Internet o gran-
mos no nosso cotidiano pelo
mensageiros instantâneos na de oráculo que tudo sabe e tu-
simples fato de que os pais
Internet sem nenhuma orienta- do vê: Google...
são tão relapsos a ponto de

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CAPA · EDUCAÇÃO NA REDE: A INTERNET TEM CULPA?

deixar os filhos jogados pelo


mundo... claro que num mundo
ideal isso seria factível, mas
não é esse o mundo em que vi-
vemos hoje... e novamente: Então tá... agora a
Que a culpa da Internet nisso?
Internet dopa as pessoas, arranca
Passando a uma outra
contravenção digital da moda, as suas roupas, força-as a praticar
gostaria de lhes fazer uma per-
gunta: Alguém aí conhece al- atos libidinosos e como se não
gum modelo de câmera digital
que além de vontade própria te-
bastasse comanda as "câmeras
nha capacidade de se locomo-
ver sozinha?
zumbis" e os nefastos "celulares
A pergunta pode parecer zumbis com câmeras"...
absurda, mas por vezes tenho
a impressão que as pessoas Jomar Silva
querem que pensemos que es-
tes “equipamentos mutantes”
existem. Mais do que isso,
além de existirem eles são “co- na memória. Coloco lá naquele por aqui também.
mandados pela Internet”. canto da minha cabeça e co- Como podem ver, em to-
Então tá... agora a Inter- mo só eu sei onde está, só eu dos os casos que comentei, os
net dopa as pessoas, arranca posso encontrar... perfeito né? problemas são causados pela
as suas roupas, força-as a prati- Em resumo, uma vez que Internet ou pela falta de conhe-
car atos libidinosos e como se você se deixou fotografar ou fil- cimento e educação das pesso-
não bastasse comanda as “câ- mar fazendo qualquer coisa, é as que a utilizam? Será que
meras zumbis” e os nefastos praticamente impossível que vo- devemos culpar as ruas pelos
“celulares zumbis com câme- cê possa controlar o que será atropelamentos, as estradas
ras” para que filme e fotografe feito com aquela fotografia ou pelos acidentes e a água pelo
tudo (muitas vezes em primei- filme. Isso pode soar como pa- afogamento?
ra pessoa) e distribua ao mun- ranóico, mas é a pura verdade Com isso apresentado, a
do todo... maldita Internet!!! e convido a todos que duvidam reflexão que resta é: O que po-
Acho que só existe uma a buscar por meu nome no Goo- demos fazer?
coisa pior do que esta Internet gle e clicar em “Imagens” para
ver na prática o que estou falan- … para esta eu infeliz-
que faz todas essas maldades
do. mente não tenho resposta.
com as pessoas: os arquivos
de computador que não conse- Por isso que em muitos Informações sobre segu-
guem ficar onde os colocamos! países, o simples e cotidiano rança na Internet existem em
ato de “tirar uma foto em públi- abundância na rede, em portu-
Sim, muita gente por aí
co” pode virar caso de polícia guês e com recursos audiovisu-
acredita que arquivos de com-
em poucos minutos, e cedo ou ais (para as pessoas que só
putador, principalmente fotos e
tarde precisaremos pensar entendem desenhando, sa-
vídeos são como lembranças
com mais seriedade sobre isso be?)... mas quem se interessa

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CAPA · EDUCAÇÃO NA REDE: A INTERNET TEM CULPA?

nhum profissional de informáti-


ca aqui.
Honestamente penso Falando em troca de siste-
ma operacional, deixo aqui a
que já passamos tempo demais minha última provocação: Se
meu carro é roubado por que o
escrevendo dicas, artigos e talvez ladrão aproveitou um defeito
nunca pensamos no básico do de projeto e fabricação conhe-
cido do meu carro e não con-
básico: quem quer realmente sertado pela montadora, tenho
ou não o direito de processar a
ler tudo isso? Será que as montadora, obrigando-o a res-
sarcir meu prejuízo ? Se um er-
pessoas querem aprender de ro desses causa um acidente e
eu sofro qualquer dano... pro-
verdade? cesso ou não?
Jomar Silva
Então agora tiremos o
aço e coloquemos bits no lu-
gar: Até quando vamos “fazer
de conta” que fabricantes de
de verdade em aprender? guns meses descansando da sistema operacional não tem
função de eterno suporte técni- responsabilidade pelos danos
Honestamente penso que sofridos por seus usuários devi-
co de familiares e amigos, insta-
já passamos tempo demais es- dos ao infinito número de bre-
lei mais Linux nos últimos
crevendo dicas e mais dicas, tu- chas de segurança existentes
meses do que tinha feito nos
toriais, artigos e talvez nunca em seus sistemas e aplicati-
anos anteriores, e até agora nin-
pensamos no básico do bási- vos?
guém reclamou (pelo contrário,
co: quem quer realmente ler tu-
a coisa que mais escuto é “nos- Há... esqueci... brecha de
do isso? Será que as pessoas
sa... esse Linux funciona mes- segurança em software deve
querem aprender de verdade?
mo!”). ser culpa da Internet também...
O que conseguimos de fato
por dar tudo sempre tão masti- Mais interessante do que maldita Internet!
gadinho assim? isso, grande parte dos novos
usuários do Linux acabam se
Não sei realmente como
motivando de tal forma ao se JOMAR SILVA é en-
resolver isso, mas posso con- genheiro eletrônico e
ver “competentes para usar Li- Diretor Geral da
tar aqui como tenho feito para
nux” que acabam aproveitando ODF Alliance Latin
incentivar cada vez mais a utili- America. É também
o momento de mudança para coordenador do gru-
zação de Software Livre pelas
aprender de verdade nos fó- po de trabalho na
pessoas: parei de ser bonzi- ABNT responsável
runs que passamos os últimos
nho e me recuso a arrumar pela adoção do ODF
anos recheando... Tenho me como norma brasilei-
qualquer computador que não ra e membro do OA-
surpreendido com as pergun-
use Linux... Simples assim! SIS ODF TC, o
tas que chegam de alguns de- comitê internacional
Sabem qual foi o resulta- les após algumas semanas de que desenvolve o pa-
drão ODF (Open Do-
do disso? Depois de passar al- uso, e não estou falando de ne- cument Format).

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CAPA · O DRAGÃO NÃO TEM MEDO DA REDE!

O dragão não tem medo


da rede!
Por Francilvio Roberto Alff

Jorge Vicente - sxc.hu

No último dia 24 de feve- de uma Escola Técnica da ci-


reiro, a comunidade Europeia - dade de Turim, na Itália, publi-
e não somente ela, foi surpreen- caram no Youtube um vídeo
dida por um anúncio sobre a de- aonde um jovem portador da
cisão judicial em um processo Síndrome de Down era moles-
contra o gigante dos motores tado e humilhado pelos cole-
de busca, Google. Em uma gas, o vídeo foi inserido na
ação aonde Google foi acusa- categoria "Video Piu' Diverten-
do de difamação e desrespeito ti", um canal da versão italiana
à privacidade nos interesses do site para os vídeos mais en-
de um jovem portador da Sín- graçados, em alguns dias o ví-
drome de Down, três executi- deo foi visualizado por
vos do Google, David Carl milhares de internautas antes
Drummond, vice-presidente de de ser retirado. Os pais da víti-
Google Italy, George De Los ma juntamente com uma asso-
Reyes, ex-dirigente do CDA de ciação de Defesa dos Direitos
Google Italy e Peter leischer, dos Portadores da Síndrome
responsável europeu das políti- de Down, chamada ViViDown,
cas sobre privacidade de Goo- entraram com uma ação judici-
gle, foram condenados a seis al no Tribunal de Milão contra
meses de prisão (fonte). Tudo a comitê de administração do
começou no fim do ano de Youtube. Depois de pouco
2006, quando alguns alunos mais de três anos de processo

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CAPA · O DRAGÃO NÃO TEM MEDO DA REDE!

lo governo, vai além também


das tentativas frustradas de jo-
vens cheios de curiosidade e
As associações determinação que tantas ve-
zes se escondem atrás de um
de defesa dos direitos humanos, computador em uma das tan-
tas universidades, o verdadei-
fazem diariamente críticas ro problema para àquele país,
são as rígidas represálias sofri-
duríssimas ao comportamento do das pelas empresas comunica-
ção baseadas na world wide
governo da República Popular da web, e o rígido tratamento pe-
China, medidas restritivas como a nal a quem "desrespeita" as "in-
dicações" governativas sobre o
ordem judicial aos provedores de acesso à internet.
No começo do mês de
internet do país à bloquear março de 2009, a China foi in-
certos sites... ternacionalmente acusada por
fechar dezenas empresas que
Francilvio Alff
atuavam como provedores de
internet por não obedecer à or-
dem de bloquear o acesso a al-
guns sites ocidentais
a sentença foi dada: os três terminadas palavras-chaves.
considerados ultrajosos à cultu-
executivos do Google foram Google, que no caso italiano
ra chinesa, entre eles Youtube
condenados a seis meses de posou como um vilão capitalis-
e Google (fonte). O milenar dra-
prisão. ta que procura seu lucro atra-
gão demonstrou assim não ter
Em contraste a tudo isso, vés da difamação, tem sido o
medo da internet, e ainda foi
existe uma historia que todos maior alvo de ataques chine-
categórico ao mandar sua men-
nós, atores do palco informáti- ses quando fala-se em "ata-
sagem direta aos gigantes do
co já ouvimos pelo menos uma ques" não devemos somente
ocidente: "A República Popular
vez: a repressão chinesa so- interpretar ações de nível invasi-
da China é um estado sobera-
bre a Internet. Já se falou e ain- vo como os divulgados na últi-
no, e que há como faculdade
da se fala muito sobre o ma semana, aonde segundo a
principal decidir o que é bom
assunto e possivelmente o as- empresa, durante alguns me-
ou não para o seu povo".
sunto irá esquentar mais ain- ses seus servidores foram ata-
cados por hackers chineses, e Nenhuma, absolutamente
da. As associações de defesa
logo depois, como em um pro- nenhuma geração precedente
dos direitos humanos, fazem di-
vocação infantil foram ameniza- à nossa teve a mesma oportu-
ariamente criticas duríssimas
das com uma frase tantas nidade e oferta de informação
ao comportamento do governo
vezes parafraseada: "Tentati- e conhecimento que havemos
da República Popular da Chi-
vas de ataques feitas por ama- hoje. A internet proporcionou
na, medidas restritivas como a
dores utilizando técnicas ao mundo aquilo que nem mes-
ordem judicial aos provedores
obsoletas", o problema chinês mo os maiores gênios da hu-
de internet do país à bloquear
vai muito além dos supostos manidade jamais acreditaram
certos sites, ou buscas com de-
ataques organizados ou não pe- pudesse um dia existir: uma

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CAPA · O DRAGÃO NÃO TEM MEDO DA REDE!

ra social que conhecemos ho-


je, acreditando no bom senso
de cada usuário". Aos olhos de
Se algo não for feito muitos críticos em direito e so-
ciologia as duas alternativas
para acalmar os ânimos dos podem parecer "radicais", e tal-
vez elas sejam mesmo, já ten-
esquentadinhos de plantão, a internet tar dizer qual é a melhor seria
quase suicídio, existe somente
se tornará como a televisão, uma uma coisa certa em todo esse
contexto: Se algo não for feito
simples média de massa, sem poder para acalmar os ânimos dos
de informação... esquentadinhos de plantão, a
internet se tornará como a tele-
visão, uma simples média de
Francilvio Alff massa, sem poder de informa-
ção aonde o que reina é a pu-
fonte inesgotável de informa- seus executivos foram condena- blicidade apelativa. Mesmo
ção, cultura e interação, sem dos, ficou claro que o rumo acreditando que não seja isso
problemas devido à barreiras que o direito na web está pe- que todos desejam para a nos-
geográficas, diversidade de idio- gando, por mais absurdo e irôni- sa tão amada Web, devo fazer
mas e principalmente, um ambi- co que possa parecer, a atual uma revelação chocante: O fim
ente completamente livre da estrada parece levar à um lu- já começou e a culpa, bom, a
autoridade excessiva de algum gar aonde quem vem punido e culpa é de todos nós. É natural
governo e a tirania de algum sentenciado por um crime não do ser humano não dar valor
déspota esclarecido. é quem cometeu a infração, aquilo que se tem, e supervalo-
Analisando do ponto de mas sim quem possibilitou que rizar-lo quando o perder. Pare-
vista critico, as duas histórias essa fosse cometida, é engraça- ce piada, mas a mais cruel
(Google x ViViDown, Google x do dizer, mas é como conde- realidade é essa.
China) elas podem até parecer nar o fabricante de uma pistola
diferentes uma da outra, mas le- e não quem puxou o gatilho.
vando em consideração o ter- Dobras e desdobras da lei, ca- FRANCILVIO ALFF
mo "Liberdade", seja ela de da dia fica mais difícil entender é duovizinhense, es-
o que acontecerá com o futuro tudante de Arquitetu-
expressão da palavra, de alcan- ra e Administraçao
ce territorial, cultural e assim da internet, uma coisa é certa, de Sistemas Informa-
por diante percebemos que existem dois possíveis rumos tivos na Universida-
de de Verona/Itália.
elas são quase idênticas e que eminentes: "A completa legali- Profissionalmente é
alguma coisa está mudando, co- zação da internet através de Analista de Riscos e
Virtualizaçao para
meçamos a nos deparar com um código sócio-penal que fa- empresa GlaxoSmith-
uma nova maneira de "julgar" ça a regulamentação a rede Kline. Certificado co-
em todos os detalhes, do aces- mo Cisco Certified
e "decidir" o que detém o direi- Network Associate,
to à liberdade e o que deve ser so até a publicação de textos, Analista de Riscos
das redes sociais aos blogs na Virtualizaçao
censurado. VMWare e IT Admin
mais populares." A segunda pela EUCIP - Euro-
Na disputa entre Vivi- possibilidade é: "Deixar a rede pean Certification of
Down e Google, onde três de Informatics Professio-
como está, não tocar a estrutu- nals.

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CAPA · O DRM É SÓ O COMEÇO (OU, O FIM É O COMEÇO DO FIM)

O DRM é só o começo
(ou, O fim é o começo do fim)
Por Fernando Leme

jasonEscapist - flickr.com

A liberdade sempre foi uma preocupação


humana fundamental e, assim, sempre foi
buscada pelas instituições criadas pelo
homem. Neste artigo trataremos das diferentes
concepções de liberdade e, principalmente, das principais
ameaças a ela, usando da ficção e de alguma ciência que
nos guie através da história ao cenário em que estamos
hoje; O “Digital Rights Management” é a ponta visível de
um problema muito mais amplo.

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CAPA · O DRM É SÓ O COMEÇO (OU, O FIM É O COMEÇO DO FIM)

A história como referência A ficção como guia Orwell era aquele respeitador
Chama-se genericamente George Orwell, no livro acéfalo dos princípios do Esta-
de Estado Totalitário aquele sur- 1984, tinha como referência os do que era capaz inclusive de
gido logo após o período medie- regimes ditatoriais extremos (ti- entregar os seus aos rigores
val, após o surgimento dos dos claramente naquela época da polícia política. Assim, pais
primeiros estados nacionais, ou como “de direita” e “de esquer- e filhos, irmãos e irmãs se de-
países, que tinham como líder da”) como o modelo comunista nunciavam mutuamente cada
máximo um monarca absolutis- russo, ou o nazi-fascista germa- vez que entre si se identificas-
ta, sem superiores e sem ordem no-italiano, ambos e cada um se um foco de “subversão”.
jurídica que servissem de baliza- a seu modo, entendendo o indi- Mais recentemente uma
mento. O Estado Totalitário, em- víduo como parte integrante da outra obra de ficção lançou luz
bora imperfeito, já era uma sociedade e inferior a ela. sobre a questão. “The Matrix”
evolução considerando-se o con- A referência tecnológica produziu uma sociedade totali-
texto de absoluta fratura social de Orwell era a televisão. Colo- tária absoluta. Sem dissiden-
pré-renascimento, de ordem difu- cou-a em seu romance como tes. Sem subversão possível.
sa, sem critério econômico, soci- um olho que tudo vê, a máqui- Tudo que se vê já é pré-produ-
al ou religioso comum. na definitiva de um Big Brother zido, aquilo com que as pesso-
O movimento humano con- que, com seu conhecimento e as tomam contato já é
trário ao poder exclusivo, primei- visão sobre-humanos, tinha o pré-ordenado de modo a evitar
ro do senhor feudal e depois do poder de observar a todos atra- o raciocínio, a indagação e a in-
monarca absoluto, foi outorgar di- vés dela. dignação.
reitos às pessoas, de modo que Mas Orwell foi além, con- Na Matrix fez-se necessá-
elas pudessem opô-los ao Esta- cebeu que o doutrinamento ide- rio o surgimento de um “esco-
do. Os chamados direitos funda- ológico de toda uma lhido”, um salvador (figura
mentais (como a liberdade e a população conduziria a uma so- recorrente no imaginário huma-
privacidade, por ex.) são o alicer- ciedade em que, não bastasse no), que graças à sua compre-
ce sobre o qual os seres huma- a vigilância constante, o denun- ensão especial da grande
nos buscam construir suas cismo seria uma arma funda- mentira que os envolve, é ca-
vidas hoje em dia. mental. O “bem-pensante” de paz de enxergar o mundo e
Mas não basta outorgar di-
reitos. Para construir o Estado
(ainda imperfeito mas em cons-
tante construção) que temos ho-
je, houve que se desenvolver
The Matrix produziu
uma Teoria do Estado, que crias-
se instituições diferentes, com
uma sociedade totalitária absoluta.
poderes iguais e diferentes atri- Sem dissidentes. Sem subversão
buições, que servissem de “frei-
os e contrapesos” umas às possível. Tudo que se vê já é pré-
outras, evitando o poder sobera-
no de apenas um governante, produzido...
usando como guia uma série, es-
crita ou não, de princípios funda-
Fernando Leme
mentais para a condução do
Estado.

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CAPA · O DRM É SÓ O COMEÇO (OU, O FIM É O COMEÇO DO FIM)

moldá-lo de acordo com a sua anárquico como originalmente desenvolvedores, ainda há es-
vontade. concebida, só subsiste em par- paços estruturalmente demo-
A curiosidade aqui é per- te. Principalmente porque os há- cráticos, como as redes p2p,
ceber que o próprio escolhido bitos de consumo de que por isso são os alvos prefe-
era uma ferramenta de contro- informação acabaram por direci- renciais das disputas jurídicas
le e que sua capacidade de en- onar aos grandes prestadores atualmente.
xergar o mundo (no fim das a maior parte do fluxo de aces- Qualquer semelhança –
contas a mesma capacidade sos, desvirtuando a comunica- do mundo de Orwell e da Ma-
de qualquer ser humano aqui, ção de “muitos para muitos” trix - com o denuncismo pre-
no mundo real) e moldar a reali- (própria da internet) para a de sente na “Lei Anti-fumo” de
dade são na verdade ilusões “poucos para muitos”, própria José Serra, e o doutrinamento
de liberdade que os mantém das outras mídias, como por ex- midiático contra a assim cha-
presos em seu mundo de so- emplo o jornal e a TV. mada “pirataria”, ou os movi-
nhos. A internet, tal como se mentos sociais (como o MST)
apresenta hoje, está entregue não são mera coincidência. As-
ao mercado que, como se sa- sim como não são ingênuos
A internet à imagem do ho- be, não tem balizas nem princí- projetos de Lei de restrição à
mem pios outros além do lucro; e a internet, como o chamado “Pro-
Se Orwell escrevesse ho- promessa de liberdade está jeto de Lei Azeredo”. O que vo-
je sem dúvida mudaria o foco ameaçada pela vigilância cons- cê vai fazer a respeito?
da TV para a internet, ou o cibe- tante que sua arquitetura permi-
respaço como prefere Larry te e pela constante confusão
Lessig. E tanto quanto temia entre o que são “crimes de inter-
os estados totalitários no contro- Para saber mais:
net” e “crimes do mundo real
le da vida humana, temeria as praticados na internet” que os LESSIG, Lawrence; Code V2 (“Code
diferentes invasões à liberdade legisladores cometem. Não and other laws of cyberspace”
que nos permitimos hoje, em tem reguladores eficientes, updated version).
que a localização, interesses e nem um sistema de freios e con-
renda de uma pessoa podem trapesos que ponham frente a ORWELL, George; 1984.
ser descobertos pelas torres frente o interesse público e o
de retransmissão que seu celu- comercial, tendo o primeiro co-
lar utiliza e pelas vezes que mo preponderante.
usa o cartão de crédito, por ex-
emplo. O futuro da liberdade
A sobrevivência do mode-
Desta forma, a sociedade lo original da internet ainda de-
totalitária prevista por Orwell e pende da boa-fé de empresas FERNANDO LEME é
pelos irmãos Wachowski é real como o Google e a Wikimedia escritor, músico e
professor.
na medida em que, se conside- Foundation, ou ainda, do Particularmente
ramos a maioria, o doutrinamen- Software Livre, embora não se influenciado por
to ideológico e o denuncismo questões relativas ao
saiba até quando os dois primei- software e cultura
já estão presentes e nos quais ros terão pernas para resistir à livres, sociologia e
as chances de escolha entre filosofia do direito.
crescente restrição de seus mo- Escreve
seis e meia-dúzia nos dão a ilu- delos, e se o terceiro prospera- regularmente para o
são de liberdade. rá. Por sorte, e em grande blog “Universo Fer”,
http://fernandohleme.
A internet, enquanto meio parte devido à criatividade dos wordpress.com.

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CAPA · LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA INTERNET

Liberdade de Expressão na
Internet: um manual de
sobrevivência
Jakub Krechowicz - sxc.hu

Por Walter Aranha Capanema

Introdução
A principal característica democrática da
nossa Constituição Federal de 1988 está na ga-
rantia à liberdade de expressão, assim prevista
no seu art. 5º, IV : “ é livre a manifestação do
pensamento, sendo vedado o anonimato”.
No inciso seguinte, a Carta Magna dispõe
que essa garantia, como qualquer outro prevista
constitucionalmente, não é absoluta, e sofre limi-
tações de modo a não violar a honra, a liberda-
de e outros direitos personalíssimos dos
indivíduos:
“V- é assegurado o direito de resposta, proporci-
onal ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem”.

Embora obviamente a liberdade de expres-


são já existisse antes da Internet, foi com a
Grande Rede que ela se potencializou, permitin-
do a qualquer um, com o emprego de ferramen-

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CAPA · LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA INTERNET

tas gratuitas como blogs, redes sociais, emails e dos indivíduos, significa, então, que não existe o
até mesmo o Twitter, a ter voz e manifestar publi- direito de divulgar fatos da intimidade de tercei-
camente as suas idéias e pensamentos. ros (endereço, telefone, informações bancárias
Com isso, proliferaram em nossos Tribu- e fiscais etc), configurando conduta ilegal.
nais ações de compensação por danos morais Quando se fala de dados pessoais, não es-
em que indivíduos se disseram vítimas de co- tão inseridos apenas os ligados à intimidade, co-
mentários desonrosos publicados pela Internet, mo também à imagem (fotografias ou vídeos).
provocando um verdadeiro embate entre a liber- Esse tipo de violação é muito comum. Um
dade de expressão e os direitos à intimidade e à exemplo desse fato está na quantidade quase in-
imagem. finita de fotos de ex-namoradas nuas, divulga-
Esse crescimento foi particularmente inte- das por ex-amantes raivosos e vingativos1, ou
ressante não só porque trouxe para o Judiciário ainda no caso da vereadora do interior de São
discussões envolvendo a Internet, mas, principal- Paulo que sofreu pela divulgação de vídeos de
mente, porque procurou traçar limites para a li- sua intimidade2.
berdade de expressão. O grande problema na divulgação desses
Logo, saber como proceder na Internet é im- dados é que é uma conduta praticamente irre-
portante para evitar desagradáveis ações judici- versível. A partir do momento que a informação
ais, passando-se a enumerar alguns conselhos é inserida na Internet, é impossível retirá-la, pois
jurídicos: pode ser facilmente transferida ou reproduzida
para outros endereços. A única solução para
tentar diminuir os efeitos desse dano está em
1.O que NÃO FAZER: pedir judicialmente para que o Google retire de
seu banco de dados qualquer menção a essa in-
a) Não divulgue dados pessoas de al- formação ilegalmente inserida na Internet.
guém sem a autorização expressa A única forma de conseguir a divulgação le-
Se a Constituição protege a privacidade gal de um dado pessoal de alguém dependa da
autorização expressa do seu titu-
lar, em um documento escrito, em
que se permite que terceiros publi-
quem essas informações.
A partir do momento que
a informação é inserida na b) Não fale mal dos outros
Acredita-se que o prezado
Internet, é impossível retirá-la, leitor esteja agora falando mal do
autor, afinal, esse é justamente
pois pode ser facilmente um dos maiores prazeres da Inter-
transferida ou reproduzida para net! Não se pretende reprimir
qualquer tipo de diversão, pois,
outros endereços. para esse tipo de passatempo, há
conseqüências: condenação em
Walter Capanema danos morais.
E, se não bastasse, ainda
se pode responder criminalmente,

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CAPA · LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA INTERNET

pelos crimes de calúnia, injúria


ou difamação, de acordo com
os seguintes critérios legais:
- Calúnia (art. 138, CP): atri-
buir a alguém uma conduta ...quanto maior a
criminosa que sabe ser fal-
sa. Ex: Jorge diz que Fula- quantidade de pessoas que teve
no, seu vizinho, costuma
furtar os carros da região
em que mora. O réu da
acesso ao texto desonroso, maior
ação penal (o agente crimi-
noso) tem o direito de com-
a condenação, tanto na esfera
provar que a sua alegação
é verdade, através da “exce- cível, quanto na criminal.
ção de verdade” (art. 138,
§3º, CP). Portanto, se há a Walter Capanema
pretensão em divulgar a prá-
tica de crimes de alguém, to-
me o cuidado de conseguir
provas efetivas desse delito, não só para legiti- ção da honra e até mesmo da privacidade em
mar a sua conduta, mas também para a sua defe- iguais parâmetros que os indivíduos comuns.
sa em uma possível ação penal.
E esses crimes podem ser cometidos por
- Injúria (art. 140, CP): atribuir a alguém uma qua- qualquer forma: por escritos, gestos, voz, pági-
lidade negativa. Ex: afirmar que Fulano é burro. nas da Internet, vídeos etc. Não há uma restri-
Por mais que a vítima tenha realmente essa “qua- ção quanto ao instrumento da afirmação
lidade”, ainda assim está configurado o crime,
sem admitir qualquer contraprova.
desonrosa. Mas, quanto maior a quantidade de
pessoas que teve acesso ao texto desonroso,
- Difamação (art. 139, CP): atribuir a alguém um maior a condenação, tanto na esfera cível, quan-
fato desonroso. Ex.: alegar que o Fulano gosta to na criminal.
de manter relações sexuais com animais. O Códi-
go Penal só admite a exceção de verdade “se o
ofendido é funcionário público e a ofensa é relati-
c) Não incentive a prática de crimes
va ao exercício de suas funções” (art. 139, pará-
grafo único). Basta a ocorrência de um homicídio violen-
to para que surja aquela infeliz e costumeira fra-
Certa vez, um cliente, importante jornalis- se, dirigida ao assassino: “tem mais é que matar
ta, escreveu um texto em seu blog, qualificando mesmo”.3
um músico, razoavelmente conhecido, como im-
becil. Um Cerca de 2 meses depois do post, so- Por maior que seja a revolta, tal conduta
freu o blogueiro uma ação civil que só terminou configura o crime previsto no art. 286, do Códi-
graças a um acordo que foi bom para ambas as go Penal:
partes. O trauma de receber a citação para com- Incitação ao crime
parecer em audiência foi tão grande que o réu Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de cri-
me:
nunca mais escreveu nada na Internet.
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.
Uma relativização da regra supracitada, e
que até poderia ser considerada uma exceção,
Estaria inserida na definição desse crime
diz respeito às celebridades e aos políticos que,
qualquer conduta que estimule ou ensine a práti-
por viverem justamente da fama e da fiscaliza-
ca de crimes. Assim, por exemplo, um post em
ção popular, não teriam os seus limites de prote-

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CAPA · LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA INTERNET

um blog em que há o tutorial de como piratear de- uma atuação. A pressão popular é um dos mais
terminado software, há aqui a configuração do valorosos instrumentos para a democracia, e de-
delito do art. 286, CP. ve ser exercida sempre.

2. O que se PODE FAZER: Conclusão


O que se pretende aqui não é limitar ou re-
a) Estabelecer opiniões sobre obras, tra- gular o comportamento do usuário na Internet,
balhos e coisas mas, ao contrário, de orientar o exercício da li-
berdade de expressão de tal forma que não cau-
É lícito todo juízo de valor com caráter críti- se prejuízo a quem emite opinião. E a existência
co, nas esferas literária, artística ou científica, e de opiniões é o que nos torna verdadeiramente
não pode ser considerado crime contra a honra, uma democracia.
desde que o seu autor não tenha a intenção de
ofender (art. 142, II, CP).
Portanto, é ato legal o de afirmar, em seu
Twitter, que o novo disco da banda XYZ é muito Referências:
ruim; ou que o novo filme do diretor WTT é péssi- 1. A expressão “ex-namoradas nuas” (sem aspas),
mo. lançada no Google, tem, como retorno, 230.000 páginas
Crê-se que esse direito de crítica não pode em português.
ficar adstrito apenas aos limites acima indica- 2. Disponível em <http://ur1.ca/qtnv>. Acesso em
dos, e que haveria a possibilidade de ser inseri- 14.07.2009.
do em novos parâmetros, a admitir, por
exemplo, a crítica de caráter informativo pelo con- 3. Essa expressão, com aspas, tem 10.600 páginas de
sumidor. resposta no Google.

Atualmente, os sites com críticas e análi-


ses de compradores e usuários são verdadeiros
serviços de utilidade pública, de modo que mui-
tas pessoas, antes de adquirir determinado
bem, se informam nessas comunidades, trocan-
do experiências.

b) Críticas políticas
O exercício da democracia é muito mais
amplo do que realizado apenas através do voto,
do plebiscito e do referendo. Está inserida a pos-
sibilidade de criticar, protestar e fiscalizar o com-
portamento e a conduta dos políticos.
WALTER CAPANEMA é professor da
Portanto, vê-se como plenamente legíti- Escola da Magistratura do Estado do Rio de
mas as campanhas “fora, Fulano”, direcionadas Janeiro – EMERJ (Brasil). Formado pela
Universidade Santa Úrsula - USU. Advogado
a parlamentares que, infelizmente, ainda persis- no Estado do Rio de Janeiro. Email:
tem no Poder Legislativo. Também são lícitas to- waltercapanema@globo.com
das as condutas de exigir dos Poder Público

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MULTIMÍDIA · JACK AUDIO CONNECTION KIT - PARTE 2

Jack Audio Connection Kit


Parte 2
Por Leandro Leal Parente

Como iniciar Jack? sários se encontram no manual do jackd, que


A configuração do Jack é um processo um pode ser consultado com o seguinte comando:
tanto complicado quando não se está habituado
com alguns conceitos do mundo do áudio no Li- # man jackd
nux.
Configurando o Jack com QJackctl:
Antes de começarmos a utiliza-lo devemos:
- Ter um Kernel real-time rodando;
- Ajustar os limites no arquivo /etc/security/li-
mits.conf;
- Definir os níveis de prioridades para as interrup-
ções;

Quem vêm me acompanhado com certeza


já deve ter conhecimento de todas estas etapas.
Quem estiver utilizando uma distribuição multimí-
dia já ganhou tudo isso configurado.
Figura 1: Qjackctl - janelas
O Jack pode ser iniciado de duas formas:
- Em modo texto; O Qjackctl é composto por várias janelas:
- Com o auxílio de um Front-end (interface gráfi- - Principal: Dá play e stop no servidor, controla
ca); a visualização das outras janelas, abre a janela
de configurações, envia sinais para os host e fe-
Nós iremos utilizar o front-end Qjackctl, sin- cha o front-end;
ta-se a vontade para utilizar outro. - Messages: Imprime saídas de textos do servi-
Para aqueles que preferem utilizar o modo dor;
texto, todas as informações e parâmetros neces- - Status: Mostra informações sobre a execução

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MULTIMÍDIA · JACK AUDIO CONNECTION KIT - PARTE 2

do servidor; irá utilizar. Se a opção none estiver selecionada


- Connect: Controla as conexões áudio e MIDI todo o processamento MIDI será realizado pelo
entre os hosts. Controla também as conexões MI- ALSA, se a opção seq estiver marcada o proces-
DIS do ALSA. samento MIDI poderá ser feito pelo Jack. Na ver-
- Patchbay: Salva as conexões da janela con- são 1.9.3 os canais MIDI do Jack ainda não
nect. possuem nome e isto dificulta um pouco a confi-
guração, por este motivo eu ainda utilizo o MIDI
Antes dar play no Jack, clique em setup e controlado pelo ALSA.
abra a janela de configurações. Na aba settings - Priority: Prioridade de tempo real que o servi-
se encontram os parâmetros de configuração do dor terá. Esta opção só fará sentido se a opção
servidor. de Realtime estiver ativada e as interrupções do
sistema estiverem configuradas corretamente.
Eu, por exemplo, utilizo a prioridade 80 para o
Jack, deixando apenas o Posixcputmr, Migrati-
on, IRQ-8 e o IRQ-21 com prioridades maiores
que 80. Isto garante um bom desempenho para
meu servidor de áudio.
- Port Maximum: Quantidade máxima de host
suportados pelo servidor. Caso não precise de
um número muito grande mantenha este núme-
ro o mais baixo possível, 128.
- Audio: Determina se o Jack irá operar em play-
back only, capture only ou em duplex;
Figura 2: Qjackctl - setup - Interface: Caso o servidor opere em playback
only ou capture only esta opção irá determinar
Os principais parâmetros são: qual interface de áudio será utilizada para entra-
- Driver: Driver que será utilizado pelo servidor da ou saída de áudio. Quando o Jack passa a
para comunicação com a interface de áudio. utilizar uma interface de áudio, ele a monopoli-
- Realtime: Determina se o servidor irá funcio- za. Nenhum outro software tem acesso aquela
nar ou não em modo real-time. Isto funcionará interface, a não ser via o servidor de áudio.
apenas se o Kernel estiver equipado com o pat- - Input Device/ Output Device: Indica a interfa-
ch PREEMPT_RT. ces de entrada e saída quando o servidor está
- No Memory Lock / Unlock Memory: Maneira operando em modo duplex.
como o servidor utiliza a memória nos seus
host. Caso for trabalhar com wine ou GTK+ ati- Latência e XRUN no Jack:
ve o unlock. A latência é o intervalo de tempo da recep-
- Force 16 bits: Faz o Jack utilizar 16 bits ao in- ção de um estímulo, normalmente vindo de uma
vés de 32 bits para trafegar os dados. Utilize es- interrupção de hardware, até quando a aplica-
ta opção para economizar processamento e ção produz um resultado baseado no estímulo.
reduzir a quantidade de XRUNS. Quando o Jack está utilizando o driver ALSA o
- Verbose Messages: Utilizado para exibir mais tempo latência é determinado por três parâme-
informações na janela message. Utilize apenas tros:
para debug, caso contrário mantenha desmarca-
- Frames/Period: Determina o tamanho de cada
do para economizar processamento.
período em Kilobytes;
- Midi Driver: Determina qual driver MIDI o Jack
- Sample Rate: Quantidade de amostras por se-

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MULTIMÍDIA · JACK AUDIO CONNECTION KIT - PARTE 1

gundos em uma representação digital do som;


Latency = ((Frames/Period) * (Periods/Buffer)) / Sample
- Periods/Buffer: Quantidade de períodos do buf- Rate
fer;

A placa de som utiliza um buffer circular Veja o meu exemplo:


que armazena os dados de entrada e saída. O fa-
to dele ser circular indica que se o buffer encher (512 * 2) / 44100 = 0,0232 segundos
ele vai sobrescrever o dado que está no seu ini-
cio. Quando isso ocorre o Jack diz que ocorreu Vamos utilizar Jack!
um XRUN, ou seja, um dado simplesmente foi Uma vez configurando os parâmetros de
perdido provavelmente porque esperou tempo inicialização do Jack Audio podemos dar play no
demais no buffer. servidor. Antes disso certifique-se que não exis-
O buffer é divido em unidades de transfe- ta nenhum software utilizando as interfaces que
rências denominadas períodos. Quando um pe- serão utilizadas pelo Jack, caso contrário você
ríodo está completo e carregado de dados é não conseguirá faze-lo funcionar.
enviada uma interrupção para CPU. Com isso Para maiores informações sobre o Jack ou
aquele período passa a ser processado enquan- Qjackctl consulte as referências, a parte difícil já
to as aplicações continuam escrevendo ou len- foi discutida aqui. Qualquer dúvida entrem em
do em um outro período. contato comigo pelo email: leal.paren-
Pode-se concluir que se o buffer for divido te@gmail.com.
em mais períodos, a CPU terá uma carga maior
de processamento. O tamanho do buffer é a
Para mais informações:
quantidade de períodos multiplicado pelo tama-
Artigo na Wikipédia sobre Paul Davis
nho de cada período.
http://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Davis_%28programmer%
É importante lembrar que a latência de saí- 29
da está relacionada com o tamanho do buffer e
a latência de entrada está relacionada com o ta- Jack Diagram
manho do período. Portanto quando o Jack for http://jackaudio.org/files/JACK-Diagram.png
utilizado para gravações o período deve ser o
menor possível, dentro dos limites do hardware. Artigo no Linux Audio
Quando ele for utilizado para mixagens ou ou- http://lad.linuxaudio.org/events/2003_zkm/slides/paul_davis
tras tarefas de reprodução o buffer não pode ser -jack/title.html
muito grande, pois senão os dados dos perío-
dos demoram muito tempo para serem processa-
dos.
O sample rate ou taxa de amostragem é to-
talmente dependente da interface de som. O
mais comumente utilizado é 44100 Hz, ou seja,
LEANDRO LEAL PARENTE é graduando
44100 amostras por segundo. A grande dica de Ciências da Computação pela
aqui é que todos os hosts do servidor devem utili- Universidade Federal de Goiás (UFG),
adepto da filosofia Open Source e usuário
zar o mesmo sample rate. Linux. Atualmente é estagiário no
Laboratório de Processamento de Imagens
O cálculo da latência mostrada na aba set- e Geoprocessamento (LAPIG) na UFG.
tings é realizado da seguinte forma:

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ENTREVISTA · ENTREVISTA COM ADRIANA RODRIGUES

Entrevista com
a pesquisadora
Adriana
Rodrigues
Por Yuri Almeida

Cultura da
infografia no
Infografia ou infográficos são
Brasil é ainda
representações visuais de
mais forte no jornal
informação. Esses gráficos são
impresso do que no on-
usados onde a informação
line, afirma pesquisadora.
precisa ser explicada de forma Se a palavra-chave do ciberjornalismo é a
multimidialidade, a infografia deveria ser melhor
mais dinâmica, como em mapas, aproveitada e utilizada pelos jornais, ou não?
Para responder a esta e outras perguntas con-
jornalismo e manuais técnicos, versamos com a pesquisadora Adriana Rodri-
educativos ou científicos. É um gues, mestre em Comunicação e Cultura
Contemporânea pela Universidade Federal da
recurso muitas vezes complexo, Bahia – UFBA e especialista em Jornalismo
Contemporâneo pelo Centro Universitário Jorge
podendo se utilizar da Amado UNIJORGE (2009).
Em sua tese de mestrado, Rodrigues in-
combinação de fotografia, vestiga a relação entre os infográficos multimí-
desenho e texto. dia e as bases de dados. Para ela, “a infografia
é antes de tudo, visual, estético. Ela é a apre-
(Fonte: Wikipedia) sentação gráfica na informação”.

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ENTREVISTA · ENTREVISTA COM ADRIANA RODRIGUES

efervescência do jornalismo cada


vez mais visual. Quando a infografia
migra para Web, ela potencialmente
agrega as características do ambien-
te: é multimídia, interativa, tem atuali-
zação contínua,etc. A infografia na
Web comporta toda a multimidialida-
de que a impressa não comporta, de-
vido a característica do suporte. Esta
é a principal mudança. Mas também
é preciso que o infografista saiba
operar toda essa multimidialidade.
Concordo com o Andrew DeVi-
gal, editor de Multimídia do NYTi-
mes, quando ele afirma que um bom
infográfico depende de uma boa his-
Figura 1 - Adriana Rodrigues
tória, mas que senão souber utilizar
o ferramental tecnológico, não adian-
Revista Espírito Livre: Você argumenta ta produzi-lo. Penso que uma coisa está intima-
que os infográficos datam das primeiras pin- mente ligada a outra. São intercambiáveis. É
turas rupestres, mas as novas tecnologias e evidente o conteúdo do infográfico - e aqui me
a Internet potencializaram a sua utilização, refiro ao infográfico jornalístico - tem de estar co-
principalmente nos jornais. Quais as princi- erente com os aspectos inerentes do jornalismo
pais mudanças que você destacaria deste pro- para constituir-se como tal, porém, não há dúvi-
cesso? das que o aparato tecnológico alavancou para a
Adriana Rodrigues: As pinturas rupes- sua consolidação.
tres, dentro da literatura infográfica, simbolizam
os primeiros indícios da comunicação visual co- REL: Qual a definição de jornalismo de
mo um todo. A necessidade de comunicar-se, in- base de dados (ou banco de dados) e a sua
dependentemente do suporte, é algo inerente relação com os infográficos?
ao ser humano, seja através de gestos, gritos,
gravuras, etc. AR: Suzana Barbosa, membro do GJOL e
atual professora da UFF, define assim o concei-
Trata-se de um ponto de partida para pen- to de Jornalismo Digital em Base de dados co-
sar na evolução dos infográficos ao longo do tem- mo aquele que tem como padrão as bases de
po, onde as imagens sempre fizeram-se dados para a estruturação, edição,apresentação
presente, de uma forma ou de outra. O desenvol- do material jornalístico como todo, além do o
vimento tecnológico, com softwares voltados pa- enquadrá-lo como na transição da terceira para
ra conferir qualidade e tratamento da imagem a quarta geração dentro do jornalismo digital.
gráfica foi muito importante para que a infografia Ou seja, as bases de dados instauram um novo
chegasse a este formato hoje. A década de paradigma, por suas especificidades e potencia-
1980, por exemplo, vai assinalar como a consoli- lidades, o que provoca a criação de produtos jor-
dação da infografia mundial, difundida pelo jor- nalísticos digitais dinâmicos.
nal americano USA Today, onde houve o
destaque da imagem gráfica enquanto discurso
jornalístico. Daí, tem-se, na imprensa, a grande

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ENTREVISTA · ENTREVISTA COM ADRIANA RODRIGUES

A infografia mantém estreito vínculo com o de. Este é um dos aspectos que tento
jornalismo digital, quando no momento em que compreender na minha pesquisa.
o jornalismo praticado na Web avança nas poten-
cialidades, a infografia vai neste bojo, amadure-
cendo e se sofisticando. No momento atual, REL: Na edição de agosto (2009), o reda-
nota-se claramente que a inserção das bases tor-chefe da Superinteressante anunciou mu-
de dados se fazem presentes nas infografias inte- danças que valorizaram mais a forma do que
rativas, percorrendo caminho natural dentro da conteúdo para a revista manter-se no jogo.
evolução da história do jornalismo digital. É o Isso prova que o infográfico é um gênero de
que tento mapear na minha pesquisa de mestra- mesma valia das matérias?
do (em fase conclusiva): A emergência das ba- AR: Na verdade, a infografia é antes de tu-
ses de dados nos infográficos, delimitar suas do, visual, estético. Ela é a apresentação gráfica
características, especificidades, funções e poten- na informação. Dito isto, para se fazer gênero
cialidades, etc.Constitui-se numa nova modalida- há que considerar a estrutura narrativa, respon-
de de produção de infográfico que tem como der as questões clássicas do jornalismo (o que,
principal referência o The New York Times, jor- quem,quando, onde, por que), ter uma certa sis-
nal que mais investe em infografias em base de temática no cotidiano do jornal, se for publicado
dados atualmente, fato este que outros jornais independentemente da matéria, ou seja de for-
como o El mundo, USA Today, entre outros, ma autônoma, dando conta da informação por si
vem aderindo esta prática. só. A infografia carrega os mesmos princípios
de uma reportagem, se formos notar bem.
REL: O tempo dedicado à leitura dos jor- A Super sempre valorizou o discurso visual
nais na Web e no impresso é cada vez me- em suas reportagens, é uma revista que mais in-
nor. Alguns pesquisadores acreditam que o veste nesta área, tendo inclusive, ganho várias
uso de infográficos, por exemplo, é uma alter- medalhas na premiação mais importante de info-
nativa para atrair a atenção dos leitores. Vo- grafia, no Malofiej, que acontece anualmente na
cê acredita nesta afirmativa? Espanha. Hoje este debate acadêmico ainda
perdura, se a info é um gênero ou não. Para
AR: Se formos olhar bem a história da hu- mim, é gênero se tiver em acordo com os precei-
manidade,vemos que, de uma forma ou de ou- tos acima descritos, em pé de igualdade a uma
tra, a imagem esteve associada com as reportagem.
palavras. Não é atoa que o pesquisador espa-
nhol Manuel De Pablos afirma, categoricamen- No mercado, apesar deste debate esteja
te, que sempre houve infografia na história crescendo, ela ainda é vista como complemen-
humanística, como debatido na primeira pergun- tar a uma matéria, um auxílio ao texto escrito.
ta, pelo fato do aspecto visual ser um dos chama- Observe os infográficos interativos do G1. Rara-
riz para os leitores. As pessoas têm curiosidade mente é publicado de forma autônoma, e sim,
de “ver” como os fatos acontecem, e isso os jor- como complemento da matéria, que para eles, o
nais tem de resolver de alguma forma. Os info- texto continua prevalecendo. Mas em outros jor-
gráficos cumprem esta função, de reconstituir nais on-line, como o Estadão, por exemplo, ela
algum fato de grande impacto, como a gripe suí- é publicada isoladamente, e isso é um ótimo si-
na, por exemplo, explicar como tal coisa funcio- nal de que a infografia esteja em fase de amadu-
na,etc, etc, etc. recimento,mas depende de como a empresa o
enxerga como tal e o trata.
Acredito que não só atrair o leitor, mas ser-
vir como instrumento de análise em profundida-

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ENTREVISTA · ENTREVISTA COM ADRIANA RODRIGUES

REL: Qual a sua avaliação da infografia se desenvolvido no que tange os infográfi-


no Brasil e, principalmente, nos jornais baia- cos? Já existem experiências pensando em
nos? smartphones e celulares?
AR: De uma maneira geral, a cultura da in- AR: Bem, ainda não conheço experiências
fografia no Brasil é ainda mais forte no impresso infográficas em dispositivos móveis. Como afir-
do que no on-line. Temos excelentes jornais e ma Xaquín González, editor gráfico do jornal on
revistas nesta área que valorizam bastante o jor- line The New York Times, são projeções futuras,
nalismo visual nas reportagens, como a Folha dada a evolução das redes telemáticas.
de S. Paulo (uma das primeiras a usar infográfi- A infografia ainda tem uma característica
cos nas suas páginas), Jornal do Commércio, Es- que temos levar em consideração: a amplitude
tadão, Revista Época, Super, Mundo Estranho, espacial da informação. Há infográficos que per-
agora a Nova Escola, vários. mitem uma espécie de “imersão” naquela estru-
Já no on-line, acredito que ainda falta matu- tura informativa, em que a interatividade é o
ração por parte de algumas empresas que o en- elemento central em jogo. É um dos poucos pro-
xergam como algo sem credibilidade e sem dutos jornalísticos em que a dimensão espacial
futuro algum. O que observo em grande parte é importante. Ela se torna atraente por causa
das infografias on-line são estáticas, duras, sem disso, pela diversidade nos modos de visualiza-
nenhuma interatividade ou dinamismo para o in- ção que proporciona.
cremento da narrativa visual. Isto é, se configu- Não sei se infográficos feitos para os dispo-
ram como mera transposição do impresso para sitivos móveis teria a mesma expressividade,
a web, quando poderia explorar todos os elemen- embora o celular hoje é um mini-computador,
tos e características da Web… com caráter híbrido, multifacetado, mutável, on-
A instituição do (bom) infográfico enquanto de todas as possibilidades estão sendo testadas
discurso gráfico passa por investimento, e aci- constantemente. Se vai ser uma evolução ou re-
ma de tudo, valorização de que aquela info dá volução, prefiro não fazer futurologias a este res-
conta da informação. E isso é um processo que peito, e esperar o processo acontecer.
precisa está sintonizado com a linha editorial do
jornal, com o investimento em recursos huma-
nos. Para os jornais mais conservadores, é preci-
so apostar. E apostar, precisa acreditar. Para mais informações:
Site Adriana Rodrigues:
http://infografiaembasededados.wordpress.com
REL: Adaptar a arquitetura da informa-
ção das páginas da Web para os dispositivos Artigo na Wikipédia sobre Infográfico:
móveis é um dos principais desafios para os http://pt.wikipedia.org/wiki/Infográfico
jornais, atualmente. Como este processo tem

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EMPREGABILIDADE · TRABALHAR POR CONTA PRÓPRIA

TRABALHAR
POR CONTA
PRÓPRIA:
MANUAL DE
SOBREVIVÊNCIA
Por Fernando Medeiros
c.hu
- sx
Henk L

Abusar da liberdade para gar aluguel de um escritório, CRIE UMA LOGOMARCA


planejar seu horário e local de trabalhe em casa. Se não pu- Faça seu novo cliente no-
trabalho pode parecer tenta- der comprar um computador no- tar você. Crie uma logomarca
dor, mas quem quiser trabalhar vo, use o antigo, formate ou ou peça alguém para desenvol-
por conta própria deve ter disci- desinstale os programas que ver uma para o seu negócio.
plina para criar e obedecer algu- não serão usados para o seu Você vai parecer mais profissi-
mas regras. E isso não é algo negócio, etc.... Se não puder pa- onal e mais fácil de ser lembra-
tão fácil de fazer. Para ser seu gar gráfica, faça você mesmo do. Coloque-a em seus cartões
próprio patrão, deverá planejar sua propaganda imprimindo al- de visita, site, blog, papel tim-
bem o horário de trabalho, prin- gumas folhas. Peça ajuda de fa- brado... crie e fortaleça a sua
cipalmente se for trabalhar em miliares para divulgar seu identidade visual.
casa. negócio.
Para auxiliar quem dese- UTILIZE SOFTWARES LIVRES FAÇA UM SITE
ja trabalhar por conta própria, Existem bons softwares li- Hoje em dia, ter um site
criei uma lista com algumas di- vres hoje em dia, para todas próprio pode significar novos
cas que podem ser úteis no dia as necessidades e gostos. Ser clientes pois a internet faz seu
a dia: livre não significa que não é negócio ter uma visibilidade
SEJA CRIATIVO um bom software. Procure pe- imensa. Muitos novos e poten-
Muitos obstáculos apare- los mais populares, pergunte a ciais clientes usam a internet
cem quando se inicia um novo quem utiliza softwares para o para encontrar parceiros de ne-
negócio, principalmente a ques- seu negócio. É uma boa opção gócios em seus próximos proje-
tão financeira. Se não puder pa- para quem está começando já tos comerciais. Se não te
que o custo é praticamente zero.

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EMPREGABILIDADE · TRABALHAR POR CONTA PRÓPRIA

encontrarem na internet, não por semana disponível para de- ganda que você pode ter.
saberão que você existe. Não finir suas metas. Entregar proje- Seus clientes são suas referên-
se esqueça de atualizar o seu tos no prazo é importante, por cias, seu futuro depende muito
site regularmente, isso é muito isso, defina prioridades. Esse mais deles do que qualquer ou-
importante. tempo deve ser usado apenas tro tipo de divulgação. Muitos
para coisas relevantes ao seu clientes perguntam sobre suas
trabalho. referências, preste um bom ser-
USE AS REDES SOCIAIS viço para não ter surpresas,
Muitos relacionamentos pois ninguém quer um serviço
são feitos através de redes soci- APARÊNCIA PROFISSIONAL pela metade.
ais, onde você poderá captar Ande limpo e arrumado.
novos clientes e parceiros. Par- Atenda seus clientes com res-
ticipe de fóruns relacionados peito. Seja cordial e educado. PEÇA UM FEEDBACK
ao seu negócio, tenha vídeos Não ter patrão não significa O que seu cliente pensa
no Youtube, cadastre-se no twit- que você pode agir ou falar de sobre o seu serviço? Solicite a
ter, orkut, facebook, etc... Divul- qualquer maneira. ele um feedback quando você
gue seu negócio em todos os terminar um projeto. Faça o
canais que puder encontrar, seu cliente participar mais ati-
mas muito cuidado para não APRENDA A DIZER NÃO vamente, peça orientação so-
ser identificado como SPAM. Se no momento não pu- bre como o projeto deve
der atender a um novo cliente, caminhar para não ter que refa-
seja capaz de dizer não. Não zer algumas coisas lá na frente.
ORGANIZE SEU HORÁRIO tente atender novos clientes se
DE TRABALHO não for capaz de continuar pres-
É importante seguir re- tando um bom serviço aos ANOTE SEMPRE
gras. Se você decidiu trabalhar seus clientes atuais. É muito Sempre que um cliente
entre 8hs as 18hs com interva- mais justo com você e com pedir algo novo, anote. Sem-
lo para almoço de uma hora, fa- eles. Tentar ter muitos clientes pre que surgir uma ótima ideia
ça desse horário a sua rotina. sem poder atendê-los com qua- para melhorar seu atendimen-
Prometa a si mesmo de cum- lidade acaba prejudicando sua to ou seus projetos, anote.
prir com seus horários. Reser- imagem e, consequentemente, Carregue sempre um blo-
ve um tempo para ler o jornal e seus ganhos. co de anotações, notebook, ou
emails. Use a internet somente qualquer outra coisa que pos-
o necessário. Uma vez ou ou- sa anotar as suas ideias e as
tra, permita-se trabalhar algu- GASTE O TEMPO NECESSÁ-
RIO PARA FAZER O MELHOR do seu cliente. Isso é muito im-
mas horas extras para não portante, pois pode ser seu di-
perder o prazo de entrega. Se disse sim a um novo
trabalho, faça seu melhor, por ferencial entre você e sua
Mas não fuja muito do horário concorrência.
normal estipulado. Seja bom o mais que demore terminar o ser-
suficiente em administrar seu viço. Se fizer seu o seu traba- SEJA HUMILDE, OUÇA SEU
tempo. lho pela metade, seu cliente CLIENTE
não vai voltar novamente ou vo- Não seja auto-confiante
cê pode correr o risco de per- demais. Ouça o seu cliente ao
PLANEJE SEUS PRÓXIMOS der o contrato com este invés de teimar em colocar seu
DIAS cliente. Sua reputação com ponto de vista acima das ne-
Tenha sempre uma hora seu cliente é a melhor propa- cessidades dele. Ouça o que

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EMPREGABILIDADE · TRABALHAR POR CONTA PRÓPRIA

seu cliente quer ao invés de ver que agendar alguma reu- ça pacote de serviços
manter sua opinião sobre a de- nião, faça em outro lugar. A incluindo os do seu parceiro.
le. Isso é importante, pois é ele mudança de ambiente pode
quem paga o seu salário. Ou- lhe dar uma dose extra de criati-
ça os mais experientes, pois vidade e energia. ORGANIZE SUAS CONTAS
eles estão no mercado há Defina um dia no mês pa-
mais tempo. Ninguém nasce es- ra pagamentos de contas e re-
pecialista. Aprenda. Dê a sua TENHA INSPIRAÇÃO cebimentos de seus ganhos.
opinião profissional quando ne- Alguns dias serão bem difí- Ou você não vai render o sufici-
cessário e sempre dê ideias ceis. E nessas ocasiões é fun- ente no seu trabalho. Prepare-
que acrescentem às do seu cli- damental que tenha algo para se, alguns meses serão difí-
ente. lembrá-lo do motivo pelo qual ceis, os ganhos podem ser bai-
está trabalhando duro. Isso vai xos. Por isso, reserve uma
lhe dar energia extra para que parte da renda mensal para fa-
RECOMPENSE SEUS CLIEN- um dia difícil não seja tão difícil zer pequenos ajustes.
TES assim. Coloque um porta retra-
Você precisa recompen- to de pessoas queridas em
sar os seus clientes mais ati- sua mesa de trabalho ou algu- Espero que essas dicas
vos. Dê descontos ou ofereça ma foto das férias passadas na- sejam úteis para você encarar
serviços para que ele volte quele lugar bacana. Imagine as situações do dia a dia. Cer-
mais vezes. Se o cliente se sen- aquela viagem ou aquele carro tamente você já se deparou ou
tir importante, ele será fiel. Se- que pretende comprar. Lembre- ainda vai se deparar com mui-
ja positivo quando escrever se de pensar em coisas boas tas dessas situações.
para ele. Lembre-se sempre sempre que pensar em desistir
de seu cliente. Envie email de ou deixar a programação do FERNANDO MEDEI-
feliz aniversario, feliz natal, serviço para outro dia. ROS desenvolve si-
tes e softwares
etc... Esses gestos vão cativar FAÇA PARCERIAS gerenciais enfrentan-
e garantir a satisfação do seu Faça contato com outros do as dificuldades e
cliente. Ele será sempre a sua prestadores de serviço que desafios de trabalhar
melhor propaganda. por conta própria há
atendem seu cliente. Se você 10 anos. Diponibiliza
e o prestador de serviço aten- dicas, cursos e tutori-
ais passo a passo so-
MUDANÇA DE AMBIENTE dem clientes em um determina- bre programação e
Se você trabalha em um do ramo de atividade, façam banco de dados em
home-office (casa), sempre parceria e mutuamente divul- seu blog http://fernan-
guem os seus serviços. Ofere- domedeiros.com.br
que possível almoce fora. Se ti- /blog.

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EMPREGABILIDADE · A PREGUIÇA TECNOLÓGICA E A VIDA RESUMIDA

A PREGUIÇA TECNOLÓGICA
E A VIDA RESUMIDA
Por Jorge Augusto Monteiro Carriça
sureash kumar - sxc.hu

A facilidade de acesso a se hábito está sendo transpor-


informação de hoje em dia é tado para a vida profissional, o
tão grande, que velhos e bons que nos causa um alerta sobre
hábitos estão começando a o tipo de pessoas que teremos
ser esquecidos. É raro ver num futuro bem próximo.
uma criança indo a uma bibliote- Querem tudo resumido,
ca, pegando um livro, lendo, tudo concentrado, justamente
pra depois escrever um traba- para não ter trabalho, só que é
lho que um professor exigiu, a esse trabalho que, faz com
primeira reação é entrar no Go- que a pessoa aprenda sobre o
ogle e “baixar” na internet, pelo que está fazendo, é todo o pro-
lado da facilidade é ótimo, po- cesso de leitura, interpretação,
rém pelo lado do aprendizado imaginação, conclusão, que
é péssimo já que cria um vício faz com que a leitura integral
de “aprendizagem rápida” e re- de um livro traga uma experiên-
sumida, é a mesma coisa que cia única e a sensação de pró-
assistir um filme ao invés de atividade. Mas a necessidade
ler o livro sobre ele, só que es-

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EMPREGABILIDADE · A PREGUIÇA TECNOLÓGICA E A VIDA RESUMIDA

de terminar logo, de entregar lo-


go o trabalho é tão grande e
ver-se “livre do problema” que
preocupa os profissionais que
estudam o futuro da educação, ... o excesso de informação
pois esse hábito da “vida resu-
mida” é transportado não só pa- faz com que a pessoa ao invés
ra a vida educativa, mas para
todas as áreas da vida desses de aprender mais, compacte seu
futuros profissionais resumidos.
conhecimento e aprenda menos
O que teremos no futuro
então? Isso é simples de res- pois é acostumada com o
ponder, uma família resumida;
um carro resumido; uma casa resumo em tudo...
resumida; e consecutivamente
uma vida profissional resumi- Jorge Augusto Monteiro Carriça
da. Notem que isso já aconte-
ce, os casais estão tendo cada
vez menos filhos, os carros ca-
da vez mais compactos, as ca- horas/aula, já está sendo substi- te de querer tudo da maneira
sas cada vez menores, e os tuído por um curso a distância mais fácil monopoliza a vida
profissionais cada vez mais des- que tem um preço resumido, da pessoa, dando a falsa im-
preparados. Ou seja o excesso mas dura no máximo 2 anos, pressão de economia de tem-
de informação faz com que a com aulas uma vez por sema- po, mas na realidade está
pessoa ao invés de aprender na (ou menos do que isso), e economizando seu conheci-
mais, compacte seu conheci- no máximo 400 horas/aula no mento. Note que não é raro
mento e aprenda menos pois é total. Veja só como resumiu, ver um vestibulando saber o
acostumada com o resumo em caiu pra 10% do que deveria nome de todos os persona-
tudo, e não com a obra na ínte- ser. gens de um livro, saber a sínte-
gra. Agora pense bem, o profis- se da história, e muitas vezes
sional que se forma em um cur- sequer sabe escrever o nome
A preguiça de ler, apren- do autor, isso ocorre porque
der, estudar é tão grande que so a distância tem a mesma
formação do que se formou do ele não leu o livro, mas leu o
muitos profissionais entram pa- RESUMO para poder passar
ra a faculdade com um ensino modo tradicional? A resposta
é claramente, NÃO. no vestibular. Assim como a
médio resumido, e um ensino maior dificuldade dos que pre-
fundamental resumido, o que di- Cuidado para não ser um tendem passar em um vestibu-
ficultará muito nessa busca pe- “profissional resumido”, pois es- lar ou em um concurso é
lo diploma superior, que é sa tendência japonesa de minia- justamente as matérias da
claro também já acharam um turizar tudo está sendo trazida área de exatas, matemática, fí-
jeito de resumir, inclusive pelas para o oriente, mas a tendên- sica, química, isso porque a
faculdades a distância. Um cur- cia é que resumam também o pessoa precisa APRENDER a
so que “antigamente” era feito salário, o que certamente irá in- fazer, e não apenas decorar
em 4 ou 5 anos, com aulas de comodar muitos “resumidos”. nomes e fatos.
segunda à sexta, e uma carga
Esse gesto inconsequen- Até os próprios professo-
horária de 3.000 ou até 4.000

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EMPREGABILIDADE · A PREGUIÇA TECNOLÓGICA E A VIDA RESUMIDA

aprendem a relacionar-se
quando pequenos, então quan-
do adultos também não sabe-
rão fazer esta tarefa árdua. O
Não é raro relacionamento humano infan-
til é importantíssimo justamen-
encontrar jovens e até adultos te para isso, para aprender a
lidar em grupo, até as brigas
confinados em seus quartos em são importantes, pois mostram
frente ao computador vendo uma forma de interpretar uma
atitude e mostrar que não im-
coisas inúteis o dia todo, ou a porta o quão delicada seja
uma situação, sempre existem
noite toda... dois lados.
Jorge Augusto Monteiro Carriça Para resumir, opa brinca-
deira, RSSSSS, “desrrezuma-
se” se é que essa palavra exis-
te, e comece a fazer do jeito
res dos cursinhos fazem ques- sional também perderá essa tradicional, e tenha a paciência
tão de entregar tudo resumido, capacidade de interpretar o coti- de aprender passo a passo, o
pois é claro, querem que os alu- diano e terá cada vez mais difi- que dá um pouquinho mais de
nos passem para poder aumen- culdade em problemas cada trabalho mas traz uma satisfa-
tar sua gorda conta bancária vez menores. ção imensa.
mostrando que o aluno A ou o Não é raro encontrar jo-
aluno B passou no vestibular vens e até adultos confinados
devido ao cursinho que fez, em seus quartos em frente ao JORGE AUGUSTO
mas não entendem o mal que computador vendo coisas inú- MONTEIRO CARRI-
estão causando em fazer esse teis o dia todo, ou a noite toda ÇA é Administrador
gesto “nobre”. Toda vez que al- de Empresas e Pe-
o que é mais comum, perdem rito Judicial - CRA:
guém resume alguma coisa, en- preciosas horas lendo piadas, 23.237, Pós Gradu-
tende-se que cortou os ou textos sem “peso” nenhum, ado em Pericia Ju-
excessos, que tirou o que esta- dicial e
mas é claro que até na internet Administração Judi-
va sobrando, mas não é bem querem resumir tudo, então é cial, Pós Graduado
assim, na realidade está tiran- mais fácil assistir um videozi- em Recursos Hu-
do os fatos entranhados, as en- manos. 30 anos,
nho do youtube, isso acontece Santo Antônio da
trelinhas, a capacidade de porque quando crianças já não Platina - PR. conta-
interpretar algum fato ou situa- saem na rua para brincar, não to: jamc.adm@hot-
ção, assim é claro que o profis- mail.com.

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FORUM · SOFTWARE LIVRE: MIGRAÇÃO DE MENTALIDADE

SOFTWARE LIVRE:
MIGRAÇÃO DE MENTALIDADE
Por Alessandro Silva
Artem Chernyshevych - sxc.hu

Durante o I Fórum de Web (browsers e ferramentas


Software Livre de Duque de Ca- de mensagens instantâneas) e
xias, realizado em Outubro de que nunca teve contato com
2009, conversava com Alexan- software livre. Alexandre, de-
dre Oliva, conselheiro da Funda- fensor das 4 liberdades, não
ção Software Livre América hesitou em me dizer: “Cara, es-
Latina e palestrante no evento, creve isso e disponibiliza essa
sobre como os usuários são experiência para comunidade!”
capturados pelas armadilhas im- Com o conhecimento que
postas pela indústria do softwa- obtive em formação de pesso-
re proprietário. Falávamos a as em tecnologias livres, perce-
respeito de uma experiência bi que estava diante de uma
de migração realizada com um oportunidade de realizar uma
usuário iniciante que possuía experiência fantástica: introdu-
conhecimentos mínimos de in- zir ferramentas livres em substi-
formática, basicamente em

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FORUM · SOFTWARE LIVRE: MIGRAÇÃO DE MENTALIDADE

adaptação rápida rio de GNU/Linux encontrou di-


aos softwares pro- ficuldades ao usar o Windows,
postos (GNU/Linux, mas , onde está o problema?
BrOffice.org e Mozil- Fica comprovado, portanto,
la Firefox). Nesse que o problema está nas pes-
instante, percebi soas, na capacidade de se
que era o momento adaptarem as NTIC’s – Novas
de realizar a experi- Tecnologias de Informação e
ência final, ou me- Comunicação, de não optarem
lhor, a engenharia pela liberdade de informação e
reversa, migrando conhecimento, de não resisti-
o desktop para rem ao monopólio imposto por
software proprietá- empresas de software proprie-
rio. Querem saber tário, de se submeterem ao di-
quais foram os resul- lema do aprisionamento do
tados? Perda de código fechado e a programas
produtividade, insa- que são conhecidos mundial-
tisfação do usuário mente por instabilidades e fa-
Figura 1: Software Livre: mudança de mentalidade e desejo de retor- lhas de segurança.
nar ao ambiente an-
tuição às ferramentas proprietá- terior e de maior afinidade, ou
rias no ambiente de trabalho seja, o livre.
de um funcionário recém-chega-
Durante a experiência, ob-
do e verificar posteriormente
servei que usuários de siste-
se os resultados seriam satisfa-
mas operacionais proprietários
tórios. É importante reafirmar
que contém uma fatia de merca-
que esse usuário carregava o
do em torno de 90% como o
que chamamos de cultura pré-
Windows, têm resistência na uti-
proprietária, onde já existe algu-
lização de sistemas livres co-
ma base de conhecimento ad-
mo o GNU/Linux mesmo sem
quirida, porém não
um conhecimento prévio do am-
consolidada, de software propri-
biente. Mas, por que é comum
etário e nós propusemos a in-
ouvir gente dizendo que “Linux
serção de um novo paradigma,
não tem mercado” ou “Softwa- ALESSANDRO
a cultura livre. SILVA é pós-
re Livre é de graça, então não graduando em TI
Após um período de 8 se- tem valor” mesmo sem saber Aplicada à Educação
manas, incluído o tempo dispo- que o “Livre” não se refere à pelo NCE/UFRJ e
graduado em
nível para treinamento, que gratuidade, potencial ou mode- Informática com
costumo denominar de migra- lo de negócio, mas ao conceito ênfase em análise de
sistemas. Possui as
ção de mentalidade, onde co- de liberdade de acesso ao códi- certificações LPIC-1,
nhecimentos em software livre go fonte e ao modelo de distri- Novell Linux
Administrator e Data
são apresentados para teorica- buição implementado pela Center Specialist. É
mente substituírem os proprietá- Free Software Foundation? Co- mantenedor do
rios, foi possível verificar uma mo avaliar a qualidade de algo projeto K-Eduque e
SysAdmin Linux da
satisfação do usuário e uma que não se conhece? O usuá- Hostgator Brasil.

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CAPA · Justiça tenta censurar perfil do Governador da Bahia no Twitter...

Justiça tenta
censurar perfil
do Governador
da Bahia no
Twitter e deixa
redes sociais em
alerta
Por Yuri Almeida

A Revista Espírito Livre (PRE) sobre as campanhas an-


completa um ano no próximo tecipadas na Internet. O Parti-
mês e nesta edição o tema é do do Movimento Democrático
nada menos do que a “Liberda- Brasileiro (PMDB), do então mi-
de na Internet”. A escolha do te- nistro Geddel Vieira Lima e
ma implica, subjetivamente, candidato ao governo do esta-
que a rede mundial de computa- do, ingressou com uma repre-
dores não é tão livre quanto pa- sentação na PRE contra o
rece ou existem alguns Governador e candidato a ree-
meandros que dificultem a liber- leição Jaques Wagner, alegan-
dade plena dos usuários no/do do que, através do perfil do
ciberespaço. O que me traz a Twitter o atual governador
estas páginas neste mês são “enaltece programas e obras
justamente esses “obstáculos” de sua gestão, além de divul-
que precisamos superar para gar notícias de sua candidatu-
usufruir de uma Internet com o ra à reeleição”
Espírito Livre, assim como o no-
me da revista.
Da ação
Aqui na Bahia presencia- A ação movida pela PRE
mos um fato inédito no que se recomenda ao Tribunal Regio-
refere a “fiscalização” da Procu- nal Eleitoral a suspensão por
radoria Regional Eleitoral 24 horas do perfil do Governa-

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CAPA · Justiça tenta censurar perfil do Governador da Bahia no Twitter...

deve ser utilizada para comuni-


car o que o governador está fa-
zendo. “Não sou marqueteiro,
Em um post no blog sou assessor de imprensa”, dis-
se Marques.
colaborativo Trezentos, o professor Para além do debate so-
bre o uso ou não do Twitter pa-
e pesquisador, André Lemos, ra fazer propaganda por
comentou que a tentativa de coibir Jaques Wagner, alguns usuári-
os aproveitaram a tentativa de
o uso do Twitter pelo governador censura ao perfil para pautar o
debate sobre a liberdade na In-
Jaques Wagner é "totalmente ternet e, principalmente, sobre
a conversação entre poder pú-
estapafúrdia". blico e sociedade, mediado pe-
las redes sociais e/ou mídias
Yuri Almeida
colaborativas.

dor do Estado da Bahia no Twit- Mídias massivas x pós-


ter e o pagamento de multa criticaram a postura da Justiça massivas
por propaganda antecipada. O no caso no Twitter. O produtor Em um post no blog cola-
curioso é que, de acordo com cultural gaúcho, Everton Rodri- borativo Trezentos, o professor
a ação da PRE, o valor da mul- gues, que também é integrante (FACOM-UFBA) e pesquisa-
ta deve ser calculado “levando do Projeto Software Livre Bra- dor, André Lemos, comentou
em conta o significativo alcan- sil, questionou a ação da PRE: que a tentativa de coibir o uso
ce do meio utilizado”. Cabe “Será que a justiça eleitoral do Twitter pelo governador Ja-
aqui o ingênuo questionamen- quer novamente os coronéis ques Wagner é “totalmente es-
to dos parâmetros e métodos na Bahia? Por que o governa- tapafúrdia”. Lemos, longe de
que serão adotadas para defi- dor não pode se comunicar”. A fazer uma defesa partidária da
nir o alcance de uma mensa- partir daí, um diálogo rizomáti- questão, sinaliza que existem
gem publicada no Twitter. Fica co se estabeleceu no Twitter e diferenças entre as mídias
clara aqui a grande confusão a hashtag #defendojaqueswag- massivas e as pós-massivas.
que a Justiça faz entre as re- ner passou a organizar o deba- Resumidamente, as mídias
des sociais e os meios de co- te em torno do fato, que devido massivas são os meios de co-
municação de massa (que a sua intensidade ganhou as municação tradicionais (rádio,
será abordado mais a frente). páginas dos principais jornais TV, jornais) que possuem con-
do país. cessão do Estado. Enquanto a
Aqui na Bahia, o debate mídia pós-massiva é, sobretu-
Dos protestos
sobre a ação da PRE foi bastan- do aberta, conversacional,
Apesar de não entender
te intenso e se prolongou por atenta aos contextos e aos in-
a métrica imaginada pela PRE
dois dias. O jornalista Ernesto terlocutores.
para medir o “significativo alcan-
ce do meio utilizado” (nesse ca- Marques, responsável pela atu- “Devemos entender es-
so o Twitter), após a decisão alização do Twitter do Governa- sas ferramentas como instru-
da PRE centenas de usuários dor, disse que a ferramenta mentos (Twitter, grifo nosso)

Revista Espírito Livre | Março 2010 | http://revista.espiritolivre.org |68


CAPA · Justiça tenta censurar perfil do Governador da Bahia no Twitter...

conversacionais, não massivos


e como tais devem permane-
cer livres. O problema é que
ainda se pensa nas ferramen-
tas pós-massivas, como blogs
A rede mundial de
ou Twitter, como mídias de mas- computadores e as Novas
sa, instrumentos de comunica-
ção por concessão pública e Tecnologias de Informação e
controlada por grandes empre-
sas donas desse mesmo con- Comunicação alteraram as práticas
teúdo”.
Sociólogo e militante do
sociais, que impactou também no
Software Livre, Sérgio Ama- modus operandi da administração
deu, ressalta que a lógica de
proibir campanha eleitoral an- pública...
tes da propaganda eleitoral vi-
sava impedir o poder Yuri Almeida
econômico e o uso da máqui-
na pública para promover deter-
minado candidato. “As redes Novas formas de relacio-
sociais reduzem muito a distân- namento demandam também O caminho é estimular práticas
cia entre aqueles que tem a atuação em novos ambien- de governo eletrônico, a con-
mais ou menos dinheiro”. Ama- tes respeitando as característi- versação entre os cidadãos e
deu acredita ainda que no lu- cas e mecanismos de não censurar diálogo entre Go-
gar da censura ao uso das interação próprio de cada ecos- verno e sociedade.
redes sociais pelos poderes pú- sistema. Legalmente, um ato
blicos devemos é estimular os administrativo só produz efeito
gestores públicos a dialogarem quando é devidamente publici-
direto com os cidadãos, sem zado (não confundir com propa-
as proteções dos mass media. ganda), portanto se faz
necessário utilizar todos os mei-
os e ferramentas comunicacio-
Novas tecnologias, publi- nais para tornar público os
cidade e administração atos dos governos aos cida-
pública dãos. YURI ALMEIDA é jor-
nalista, especialista
A rede mundial de compu- Nesse novo ambiente é em Jornalismo Con-
tadores e as Novas Tecnologi- necessário desenvolver novas temporâneo, pesqui-
as de Informação e sador do jornalismo
formas de relacionamento com colaborativo e edita
Comunicação (TIC's) alteraram os cidadãos, pautadas pela o blog herdeirodoca-
as práticas sociais, que impac- os.com sobre ciber-
transparência das ações do go- cultura, novas
tou também no modus operan- verno e gastos públicos, aumen- tecnologias e jornalis-
di da administração pública, tar o número de informações e mo. Contato: hdoca-
os@gmail.com /
uma vez que o governo preci- serviços na Web e utilizar as twitter.com/herdeiro-
sa ampliar a sua atuação para TIC's para aperfeiçoar o funcio- docaos.
o ciberespaço. namento dos órgãos públicos.

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SEGURANÇA · PERÍCIA FORENSE COM LINUX FTDK - PARTE 2

Entendendo um pouco de Forense


Digital com a utilização
do Linux FTDK
Parte 2
Por Patrick Amorim

Paul Barker - sxc.hu

Coleta De Dados
Todos os dispositivos de armazenagem e
outros computadores integrados ao sistema sus-
peito são possíveis fontes de coleta de dados,
dispositivos mais comuns são ótimos pontos de
inicio, celulares, câmeras digitais, mp3 players,
“pen drives”, etc.
A aquisição dos dados pode ser dividida
em três etapas: planejamento, coleta e garantia
de integridade. Planejamento estabelece a or-
dem em que os dados devem ser coletados, res-
peitando a ordem de volatilidade já explicada
anteriormente. A coleta envolve a utilização das
ferramentas que serão explicadas, o uso especí-
fico dessas ferramentas é de garantir a integrida-
de dos dados coletados, por integridade temos
o cuidado do perito em evitar ao máximo possí-
veis alterações no sistema analisado, obter copi-
as e avaliar os dados a partir das cópias é
crucial para manter o cenário da infração do jei-
to que fora deixado, para evitar perda desneces-
sária de provas.

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SEGURANÇA · PERÍCIA FORENSE COM LINUX FTDK - PARTE 2

Figura 1: Tela das Ferramentas do Linux FTDK

AIR: air é a sigla para Automated Image Figura 2: Interface Gráfica AIR
and Restore é um ambiente visual para DD e DC-
FLDD criado para facilitar a geração de imagens
das cópias e especificar uma única saída, o
forenses.
DDRESCUE irá analisar todas as cópias e gerar
Tem como características a auto-detecção apenas uma preenchendo lacunas de possíveis
de mídias, opção de qual ferramenta vai usar erros de leitura que podem ter ocorrido em dife-
(DD ou DCFLDD), verificação da imagem e da rentes pontos das várias cópias verificadas.
sua cópia através de MD5 ou
Exemplo: ddrescue –no-split /dev/hda1 ima-
SHA1/256/384/512, compressão/descompres-
gefile logfile
são através do gzip/bzip2, imagem sobre uma re-
de TCP/IP via netcat/cryptcat, suporta unidade
de fita SCSI, limpeza de unidade ou partições, di- MONDORESCUE: é uma ferramenta que
vide imagens em múltiplos segmentos e possui auxilia na cópia e restauração de arquivos. Ela
um log detalhado com data/hora e os comandos permite a cópia de um sistema inteiro ou de ape-
utilizados. nas parte de um conjunto de arquivos, gerando
uma imagem iso ou em um pondo de montagem
da rede (NFS mount). A diferença entre outros
DDRESCUE: é uma ferramenta de gera-
sistemas de cópia é que pode ser gerada uma
ção de imagens de discos, ele copia arquivos de
imagem com boot (permitindo a inicialização do
um disco para outro, mas possui como caracterís-
sistema ou a recuperação da mesma a partir da
tica a tentativa de salvar arquivos mesmo em ca-
mídia onde ela está armazenada).
so de erros de leitura possam ter ocorrido.
Devemos lembrar que existe um programa simi- O MONDORESCUE suporta partições nos
lar o DD_RESCUE apesar de ser similar é um formatos LVM, RAID, ext2, ext3, JFS, XFS, Rei-
programa completamente diferente. serFS e VFAT. O MONDORESCUE engloba o
MONDOARCHIVE e o MONDORESTORE.
O DDRESCUE é totalmente automático,
ele não vai te pedir informações que o usuário Exemplo: mondoarchive -E "/mnt/dos
não deseja, ele realiza fusão de arquivos de có- /mnt/cdrom" -9 -Oc 8
pia, ou seja, se o usuário possuir mais de uma
cópia de um mesmo disco, pode pedir a analise

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SEGURANÇA · PERÍCIA FORENSE COM LINUX FTDK - PARTE 2

RDD: é uma versão mais robusta do DD, Exemplo: sha1sum [opção] [arquivo]
utilizado para cópia de discos, foi desenvolvido
no intuito de facilitar investigações. A diferença
do RDD para os programas já apresentados até DISCOVER: é um identificador de sistema
então é sua alta tolerância a erros de leitura. Ele baseado na biblioteca libdiscover2. Ele fornece
apresenta uma leve demora com relação a ou- uma interface básica e flexível que os progra-
tros, mas isso ocorre justamente pela sua princi- mas podem usar para adquirir informações so-
pal característica. Também possui uma interface bre o hardware que está instalado no sistema.
chamada RDDI, porem o programa é tão sim- Além de informar, o DISCOVER inclui suporte
ples que poucos a utilizam, e ela já vem no paco- para fazer a detecção do hardware durante o bo-
te do RDD dependendo da distribuição, Debian ot.
e suas variantes possuem. Exemplo: discover -t -no-model
Exemplo: rdd-copy -v /dev/cdrom1 discover -t no-vendor
~/iso/imagemcopiada.iso

HARDINFO: sua função é gerar um diag-


MEMDUMP: é um utilitário que realiza um nóstico de hardware do sistema. Com ele é pos-
dump na memória principal de sistema UNIX. sível recolher as informações detalhadas do
Com isso o usuário pode encontrar informações hardware da maquina em questão, ele também
a partir dos processos que estão em execução gera relatórios impressos em html e em texto
de todos os arquivos e diretórios que tenham si- simples.
do acessados recentemente, pode se encontrar
Exemplo:
até arquivos que possam ter sido apagados e saí-
das de processos.
Exemplo: memdump | nc host port

MD5SUM: ferramenta que é padrão na co-


munidade forense destina-se a sistema UNIX e
similares, mas foi portado para Windows. O pro-
grama tem opções para ler arquivos em binário
ou em texto, o que pode produzir diferentes
hashes. O modo texto é padrão.
Figura 3: Hardware análisado através do Hardinfo
Exemplo: md5sum [opção] [arquivo]

LSHW-GRÁFICO (LSHW-GTK): é uma fer-


SHA1SUM: serve para verificar e calcular ramenta que tem como utilidade fornecer infor-
o SHA-1 hash, é utilizada normalmente para veri- mações detalhadas sobre a configuração do
ficar a integridade dos arquivos. Possui variante, hardware da máquina, a aplicação é similar ao
incluindo uma versão portada para Windows. Al- HARDINFO inclusive a possibilidade de gerar re-
gumas deficiências criptográficas foram encontra- latórios impressos. Originalmente o LSHW é utili-
das em SHA1, mas ainda é utilizada como fator zado em modo texto, mas possui uma interface
comparativo e é considerada mais segura que o que é justamente a LSHW-GTK.
MD5. Exemplo:

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SEGURANÇA · PERÍCIA FORENSE COM LINUX FTDK - PARTE 2

Exame Dos Dados


Essa etapa é a de avaliar e extrair as infor-
mações relevantes ao objetivo da perícia é justa-
mente a parte em que devemos verificar
arquivos compactados, cifrados, excluídos e da-
dos relevantes e se possível até mesmo os irre-
levantes (mediante a uma futura correlação
pode se tornar uma sustentação para uma pro-
va).
Alguns Exemplos:
ORANGE: ferramenta para exrtair e mani-
Figura 4: Hardware análisado através do lshw-gtk
pular arquivos Microsoft Cabinet (.cab).
Exemplo: orange [-d diretório] [-D nível] [-h]
[-l] arquivo
SYSINFO: é mais uma opção no diagnósti-
co do sistema através de uma interface simples, P7ZIP: aplicação em modo texto serve pa-
basta selecionar o hardware e o software mos- ra compactar e descompactar arquivos em mo-
tra informações sobre o dispositivo. do 7z ele possui uma interface gráfica o File
Roller ou o Ark.
Exemplo:
Exemplo: 7z a -t7z /~/pasta/anarchive.7z
/etc/minhapasta -v80m -m0=bzip2
UNACE: é utilizado para extrair, testar e vi-
sualizar o conteúdo de arquivos criados com o
arquivador ACE.
Exemplo: unace -x -y arquivo.ace
UNRAR-FREE: compactador e descom-
pactador parar arquivos .rar.
Exemplo: unrar-free -x arquivo.rar ~/pasta/
UNSHIELD: extrai arquivos .cab de instala-
dores InstallShield usados nas instalações em
Figura 5: Hardware análisado através do Sysinfo dispositivos com Windows.
Exemplo: unshield -L x /media/cdrom/da-
WIPE: serve para realizar uma limpeza se- ta1.cab
gura. Seria algo como uma esterilização das mí-
dias que serão utilizadas para armazenagem
PATRICK AMORIM é técnico em eletro-
das provas, pois é capaz de destruir até 99% técnica pelo CEFET – AL, graduando em
dos dados que estão em um dispositivo de arma- Sistemas de Informações pela Faculdade
zenagem, minimizando a chance de recupera- de Alagoas, Bolsista do Instituto de Tecno-
logia em informática e Informação do Es- t
ção. É literalmente obrigatório. ado de Alagoas na parte de redes de
computadores, entusiasta do Linux e parti-
Exemplo: wipe nome_do_arquivo_ou_dis- cipante do grupo de usuários Linux de Ala-
positivo goas desde 2007.

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ANÁLISE · DINGUX

Dingux
Por Rodrigo Carvalho

Divulgação
Entra em cena o Dingux!
Se você procura um dispositivo para se di-
vertir em qualquer lugar, que seja barato o sufici- Agora que você está babando pelo Dingoo,
ente para o ladrão não querer roubar e que seja vamos falar do Dingux. Ele é uma versão otimi-
totalmente “hackeável”, você agora vai conhecer zada do Linux feita especialmente para o apare-
seu sonho de consumo: Dingoo! Pelo preço de lho pela comunidade. Vale salientar que o Din-
US$ 83,00 (com frete grátis) na DealExtreme gux ainda é um trabalho em desenvolvimento
(nas cores preta ou branca), você pode comprar sendo que ainda não está 100% estável e com-
este aparelho chinês com as seguintes caraterís- pleto a ponto de substituir o firmware nativo,
ticas: sendo necessário o dual-boot.

• Suporte a diversos emuladores (entre eles Mas qual a vantagem do Dingux? A grande
GBA, Super Nintendo, Mega Drive e Neo- vantagem é que, por ser Linux, diversos softwa-
Geo); res feitos para o sistema operacional que roda
• Tocador de vídeos com suporte a diversos for- em seu desktop já tem versão para rodar no Din-
matos (infelizmente sem suporte a legendas); goo. Dentre eles, grande variedade de emulado-
• Tocador de música com suporte a diversos res (como um de Playstation, inexistente no
formatos (só faltou o suporte a OGG); firmware nativo), emuladores mais rápidos do
• Sintonizador de rádio FM; que os “de fábrica”, jogos que rodam no Linux e
• Saída para TV; até mesmo aplicativos (como o Mplayer).

Bem, isso é o que já vem de fábrica, além O único ponto negativo do firmware alter-
disso você pode instalar outros emuladores de- nativo atualmente é que a saída para TV ainda
senvolvidos pela comunidade do aparelho (sim, não funciona.
existe comunidade! E é grande!) e, o que é o me-
lhor e é o foco deste artigo: você pode instalar Li-
nux nele!

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ANÁLISE · DINGUX

Instalando o Dingux
Instalar o Dingux pode ser bastante fácil ou
bastante trabalhoso. Isso acontece porque os tu-
toriais existentes na Internet muitas vezes não
são muito claros em alguns passos ou são diver-
gentes entre si. Além disso, você pode instalar tu-
do manualmente ou através de pacotes já com di-
versos aplicativos instalados (algo como uma
distro). Para facilitar sua vida, segue um passo-
a-passo de como instalá-lo da forma mais sim-
ples possível. Ele foi feito para ser executado
num computador com Linux, mas também é pos-
sível instalar o Dingux através do Windows ou
MacOS. Dingux em ação

Identificando a versão do controlador LCD 3. Agora plugue o aparelho numa porta USB
Dependendo da versão do seu Dingoo, ele do seu computador – ele entrará no modo
pode ter 2 versões do controlador LCD e você USB;
precisará saber a versão do seu aparelho para fa- 4. Agora mantenha pressionada a tecla “B” e
zer a instalação: pressione o botão reset presente na lateral
esquerda do aparelho (você precisará de algo
1. Com o aparelho ligado, selecione a opção com ponta fina, como uma lapiseira para isso)
“System setup” e em seguida “About”; – a tela ficará preta, pois você estará no modo
2. Na tela que aparecer, pressione seguidamen- “RockBox”;
te as teclas direcionais “cima, direita, baixo, ci- 5. Abra uma janela do terminal (ou console) no
ma, direita, baixo” nesta ordem, o que fará seu computador e entre no diretório onde des-
aparecer uma nova tela com informações compactou o “Dual boot installer”;
mais técnicas; 6. Execute os seguintes comandos como usuá-
3. Para você o que importa é a informação rio “root “ou com o comando “sudo” à frente:
“LCD module” anote o código “ILI9325” ou Aguarde alguns instantes até o término do
“ILI9331”, de acordo com o seu modelo. processo e pronto! Seu Dingoo está preparado
para fazer dual-boot. Você poderá testar se foi
Instalando o gerenciador de boot instalado corretamente se no momento do boot
Primeira parte da instalação é preparar o aparecer a tela do gerenciador de boot escrita
aparelho para o dual-boot. Para isso siga os pas- “Dingux”.
sos:
Listagem 1: Instalando Gerenciador de Boot
./usbtool 1 hwinit.bin 0x80000000
1. Acesse o endereço http://code.goo- ./usbtool 1 zImage_dual_boot_installer_<código do
gle.com/p/dingoo-linux/downloads/list e baixe controlador LCD> 0x80600000
o “Dual boot installer”;
2. Descompacte o arquivo e dê privilégios de Copiando o Dingux para o cartão de memória
execução para o arquivo “usbtool-linux” (pode- Para este passo você precisará de um cartão de
rá fazer isso diretamente através da janela de memória miniSD (ou um microSD com adapta-
propriedades do 3. arquivo); dor miniSD), pois é nele que o Dingux ficará ins-

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ANÁLISE · DINGUX

talado. Lembre-se de formatá-lo antes, pois a nal do boot aparecerá o menu do Dingux (muito
formatação que vem de fábrica costuma gerar parecido com o menu nativo, mas com um tema
erros de leitura. diferente).

Como falei anteriormente, a maneira mais Podemos destacar alguns softwares no pa-
fácil de instalar o novo firmware é utilizando um cote Dingux instalado:
pacote já criado pela comunidade, com diversos
emuladores e jogos pré-instalados. Encontrei 3 Emuladores
pacotes: • Atari;
• Playstation;
• Dingux Local Pack [1]: parece ser o pacote • ScummVM.
mais completo, com mais de 200 MB de apli-
cativos; Jogos para Linux
• DinguXMB Starter Pack [2]: mantido por um • Arkanoid;
brasileiro; • Supertux;
• Dingux Quick start pack [3]: não tenho mui- • Prince Of Persia.
tos detalhes deste, mas é mais completo que
o anterior; Jogos portados de outras plataformas
Iremos utilizar o Local Pack, por parecer • Quake;
ser o mais completo, mas o procedimento para • Wolfenstein 3D;
os demais será o mesmo. Como a tarefa é bas- • Shadow Warrior;
tante simples (basicamente uma cópia para o car- • Duke Nuken 3D (você precisa da versão ori-
tão), você poderá testar os demais pacotes pos- ginal para jogar);
teriormente. • Half-Life (você precisa da versão original para
jogar).
1. Baixe a última versão do site do pacote e
descompacte-o em uma pasta; Aplicativos
2. Insira o cartão miniSD no Dingoo; • Tocador de música;
3. Com o aparelho ligado, conecte-o a uma por- • Bloco de notas;
ta USB de seu computador – o seu computa- • Calculadora.
dor irá montar 2 dispositivos: 1 para a memó- Obs: O Mplayer ainda está em estágio inici-
ria interna e 1 para o cartão de memória; al de desenvolvimento.
4. Identifique qual é o dispositivo relativo ao car-
tão (provavelmente o que está vazio); Com o Dingoo ligado e rodando Dingux, se
5. Copie o conteúdo descompactado do pacote você colocar o aparelho numa porta USB do seu
para a “raiz” do seu cartão de memória; computador rodando Linux, o aparelho será re-
6. Desmonte os 2 dispositivos. conhecido como um dispositivo de rede e possi-
bilitará que você faça uma conexão por Telnet
Iniciando o Dingux
no aparelho. Daí você poderá fazer diversas
Com o Dingux instalado, ao ligar o aparelho operações no seu Dingoo como se ele fosse um
mantenha a tecla “Select” pressionada durante a computador comum. Para falar a verdade, ainda
tela do gerenciador de boot (aquela tela que fica não tem ainda muita utilidade, mas, no futuro,
escrita “Dingux”) e então o Tux irá aparecer e o você poderá gerenciar os pacotes desta forma.
sistema iniciará o boot. Se tiver tudo certo, ao fi-

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ANÁLISE · DINGUX

Conclusão
A instalação do Dingux no seu Dingoo não é na- RODRIGO CARVALHO é analista de
da muito complicado, apesar dos comandos es- sistemas com experiência pessoal e
tranhos. Além disso, ele abre uma gama de pos- profissional com software livre e membro
sibilidades para o aparelho que o tornam um ativo na divulgação do software livre no
gadget ainda mais interessante. Apesar de ainda Rio de Janeiro através do grupo SL-RJ.
necessitar de alguns ajustes para que fique ple-
namente funcional, eu acho que vale muito a pe-
na sua instalação. Além disso, entre nos links
úteis que estão listados ao final do artigo e se
mantenha atualizado das últimas novidades para
o Dingoo.

Para saber mais


[1] Dingux Local Pack - http://dinguxlocalpack.blogspot.com/
[2] DinguXMB Starter Pack - http://rigues.badcoffee.info/dinguxmb-start-pack/
[3] Dingux Quick start pack - http://dingoo-a320.dcemu.co.uk/dingux-quick-start-pack-v2-the-cure-for-those-who-
dont-like-trying-to-install-linux-230465.html
• DingooWiki (http://dingoowiki.com/)– Bastante informação útil.
• Dingonity (http://www.dingoonity.org/) - Bom blog para acompanhar as novidades;
• Dingoo Brasil (http://www.dingoobr.com/) - Outro bom blog, mas em português;
• Dingoo Brasil Fórum (http://dingoo.ning.com/) - Fórum em português;

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DISTRIBUIÇÃO · EKAATY 4

EKAATY 4
Por Cristiano Furtado

Após um período de trabalho onais de GNU/Linux, procurando


árduo, a equipe do Ekaaty Linux sempre atender as necessidades
Desktop tem o prazer de anunciar à específicas dos usuários brasilei-
comunidade a quarta versão da dis- ros, com um sistema enxuto - me-
tribuição, denominada Yanomami. nos espaço em disco e menos
Foram oito meses de pesquisas, mi- recursos da máquina - mas nem
grações e correções de bugs no por isso deixando a desejar ao gos-
Ekaaty para chegar à atual estabili- to dos mais exigentes usuários.
dade e eficiência. Nessa versão, A distribuição, voltada sobretu-
grandes melhorias foram implemen- do ao uso em desktops, disponibili-
tadas, como a adoção do ambiente za aos seus usuários programas
gráfico KDE SC 4.4.1, atualização básicos necessários para o uso diá-
do Firefox para versão 3.6, suporte rio, pessoal ou profissional: editores
ao Thunderbird 3, BrOffice.org 3.2, de textos, planilhas, navegador
entre outras. Web, editor de imagem, mensagei-
Além disso, estamos inaugu- ro eletrônico e muito mais. E agora
rando nosso sistema de suporte gra- num ambiente de trabalho mais bo-
tuito, com a finalidade de aproximar nito e completo.
ainda mais os usuários finais da
equipe de desenvolvedores. Com is-
so buscamos a satisfação dos nos- O que há de novo?
sos usuários, oferecendo mais um Muitas melhorias foram imple-
diferencial. mentadas nesta versão, a começar
pelo agente de configuração pós-
Com apenas 3 anos e meio instalação do Ekaaty: agora o First-
de existência, a distribuição Ekaaty boot permite, além da costumeira
Linux tem conquistado seu espaço configuração das contas de usuári-
entre as principais distribuições naci- os do sistema, a possibilidade de
configuração de autenticação de re-
de via Samba, Kerberos, LDAP e
outros. Também é possível configu-
rar os repositórios de softwares de
acordo com suas necessidades já
na primeira inicialização. A instala-
ção de codecs de vídeo e áudio po-
de ser feita durante a escolha de
Figura 1: Jogos pacotes da instalação. Com a distri-

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DISTRIBUIÇÃO · EKAATY 4

melhor controle sobre as atualiza-


ções e segurança ao sistema.

Ekaaty Educacional

Figura 2: Tela de login

buição instalada e configurada, ou-


Figura 4: Softwares educacionais
tra boa notícia: a inicialização do sis-
tema nunca esteve tão rápida. Em
Com a nova versão, a inser-
pouco mais de 20 segundos é possí-
ção da distribuição em telecentros
vel ter o ambiente de trabalho carre-
e ambientes educacionais, seja via
gado e totalmente funcional.
palestras ou por meio de instala-
A distribuição adota nesta ver- ções, ganha mais força. O Ekaaty
são, em definitivo, o KDE 4 como Educacional, um projeto específico
ambiente gráfico principal. O tema voltado a esses ambientes e ao
padrão do Ekaaty, baseado no engi- seus públicos-alvo, com o intuito de
ne QT/GTK QtCurve, está mais poli- divulgar o software livre e a sua apli-
do e permite uma excelente cação no âmbito acadêmico, possi-
integração dos aplicativos com o am- bilita aos usuários - neste caso
biente de trabalho, fornecendo uma professores e alunos - melhorias e
aparência uniforme aos widgets de inovações nas metodologias utiliza-
diferentes toolkits. Os modems 3G das no dia-a-dia da sala de aula. A
mais comuns agora são suportados versão disponível para esta finalida-
e automaticamente reconhecidos de, Ekaaty Acadêmico, é voltada a
ao serem conectados, e já é possí- alunos de 5ª a 8ª série e para jo-
vel fazer o controle dos gastos com vens que estejam cursando faculda-
a conexão através do KPPP. Tam- des e cursos técnicos,
bém foi aprimorada a camada de capacitando-os a conhecer e traba-
compatibilidade com os repositórios lhar com ferramentas livres e prepa-
do Fedora e RPMFusion, provendo rando-os assim para o mercado de
trabalho. Em breve será lançada a
versão Infantil, a qual se dirige para
crianças de 3 a 13 anos com acom-
panhamento pedagógico. A idéia é
melhorar o conhecimento e aprendi-
zado das crianças utilizando softwa-
re livre.

Figura 3: Área de Trabalho

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DISTRIBUIÇÃO · EKAATY 4

Para mais informações:


Site Oficial Ekaaty Linux
http://www.ekaaty.org

Notas da versão:
http://www.ekaaty.org/v4/index.php/recurso
s/ekaaty-desktop/notas-da-versao
Figura 5: Ferramenta de escritório BrOffice.org 3.2
Detalhes da versão:
http://www.ekaaty.org/v4/index.php/recurso
Yanomami s/ekaaty-desktop
Yanomami é uma das tribos in-
dígenas mais primitivas da América CRISTIANO FURTADO é
do Sul e uma das que menos tive- um dos fundadores do
ram contato com o homem branco projeto ekaaty Linux e
atualmente é o articulador
no Brasil. Até hoje eles mantêm vi- da distribuição. Membro
vos os seus costumes, língua e tradi- ativo de comunidades de
software livre em todo
ções e vivem como uma grande território nacional e lider
família sob um mesmo teto, forman- da Célula de Software
Livre da Faculdade
do uma união para o bem comum. AREA1 em Salvador -
Esse é o espírito que direciona o tra- Bahia.
balho da equipe do Ekaaty Linux,
uma distribuição feita por brasilei-
ros. "Nossa motivação é trabalhar
em prol dos usuários do Ekaaty, for-
mando assim uma grande comunida-
de que se apoia mutuamente. Por
isso, convidamos a todos a, junto co-
nosco, participar do desenvolvimen-
to e suporte das próximas versões,
fortalecendo a ideologia inicial do
projeto nessa 'Busca por União'
(Ekaaty)", finaliza Cristiano Furta-
do, coordenador de Marketing do
Ekaaty Linux.

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GRÁFICOS · PANORAMA DA COMPUTAÇÃO GRÁFICA, UM BREVE OLHAR

Panorama da
Computação Gráfica,
um breve olhar
Por Farid Abdelnour e Nara Oliveira

Nicolas Raymond - sxc.hu

No universo do software li- não vai sair no papel sem ter


vre na área de softwares para passado por programas de edi-
computação gráfica existe uma ção de imagens bitmap e vetori-
série de programas que descobri- ais, de diagramação, de seleção
mos na ânsia de facilitar e aper- de fontes e muitas vezes por
feiçoar nossos trabalhos, em mais de um programa que te-
certas ocasiões nos deparamos nham a mesma função mas pos-
com tarefas que não podiam ser suem ferramentas
feitas em um programa e baixa- diferenciadas, que podem, de
mos outros para testar como ele acordo com o projeto, otimizar o
se comportava com as tarefas trabalho.
que queríamos, com o tempo e Para quem quer mergulhar
prática montamos nosso proces- mais fundo ou simplesmente co-
so de produção, que para che- nhecer o mundo da computação
gar no produto final acaba gráfica listamos aqui um panora-
passando por vários programas. ma vasto de programas como
Como em uma linha de produ- um incentivo a experimentação
ção um trabalho transita por vári- e descoberta. Alguns deles são
as áreas até estar montado, e utilizados tanto para uso profissi-
cada área é especializada em onal como amador, outros estão
uma parte do processo, assim em fase de desenvolvimento e
funciona nosso método para rea- outros parados no tempo.
lizar um folder por exemplo, ele
Aproveitem.

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GRÁFICOS · PANORAMA DA COMPUTAÇÃO GRÁFICA, UM BREVE OLHAR

Editores Vetoriais - Ufraw Geradores de Palhetas


- Karbon14 http://ufraw.sourceforge.net - Agave
http://www.koffice.org/karbon http://home.gna.org/colorscheme
- Darktable
- Inkscape http://darktable.sourceforge.net - Swatchbooker
http://inkscape.org http://www.selapa.net/swatchbooker
- Luminance HDR
- SK1 http://qtpfsgui.sourceforge.net Editor de Fontes
http://sk1project.org - Fontforge
- Gwenview http://fontforge.sourceforge.net
- Xara http://gwenview.sourceforge.net
http://xaraxtreme.org Gerenciamento de
- EOG Fontes
- Openoffice Draw http://projects.gnome.org/eog - GTK2FontSel
http://www.openoffice.org/product/dra http://gtk2fontsel.sourceforge.net
w.html Visualizadores de PDF
- Okular - Fontmatrix
Editores de Imagens http://okular.kde.org http://fontmatrix.net
- Gimp
http://gimp.org - Evince - Font Manager
http://projects.gnome.org/evince http://code.google.com/p/font-
- Cinepaint manager
http://cinepaint.org Editores de PDF
- PDF Editor 3D
- Krita http://pdfedit.petricek.net - Blender
http://krita.org http://www.blender.org
- PDF Shuffler
Visualizadores/Editores http://sourceforge.net/projects/pdfshuf - K-3D
e Gerenciadores de Foto fler http://www.k-3d.org
- Rawstudio
http://rawstudio.org - Bookbinder CAD
http://www.quantumelephant.co.uk/bo - QCad
- Rawtherapee okbinder/bookbinder.html http://www.qcad.org
http://www.rawtherapee.com
- Archimedes
- Fotoxx Edição e Paginação http://archimedes.incubadora.fapesp.
http://kornelix.squarespace.com/fotox - Scribus br
x http://www.scribus.net
- Sweethome 3D
- F-spot - Laidout http://www.sweethome3d.eu
http://f-spot.org http://laidout.org
- FreeCad
- Digikam - Passepartout http://free-cad.sourceforge.net
http://www.digikam.org http://www.stacken.kth.se/project/ppto
ut - BRL-Cad
http://brlcad.org

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GRÁFICOS · PANORAMA DA COMPUTAÇÃO GRÁFICA, UM BREVE OLHAR

Pintura e Desenho
- Mypaint - KToon (descontinuado) - Gnome Color Manager
http://mypaint.intilinux.com http://ktoon.toonka.com http://projects.gnome.org/gnome-
color-manager
- Alchemy Processamento em
http://al.chemy.org massa Panorama
- Gthumb - Panini
- Qaquarelle http://live.gnome.org/gthumb http://sourceforge.net/projects/pvqt
http://sourceforge.net/projects/qaquar
elle - Phatch - Hugin
http://photobatch.stani.be http://hugin.sourceforge.net
- Flow Paint
http://www.flowpaint.org - DNG Image Converter
http://www.kipi-plugins.org FARID ABDELNOUR
e NARA OLIVEIRA
- Arah Paint são sócios da
http://www.arahne.si/openApaint4.htm Gerenciamento de Cor empresa solidaria de
comunicação e design
l - LCMS Gunga, o nome vem
http://www.littlecms.com do berimbau que
Animação conduz a roda de
capoeira, e revela
- Synfig - ArgyllCMS uma das paixões do
http://synfig.org http://argyllcms.com casal. Desde 2008
trabalham juntos na
cidade de Taguatinga
- Pencil - Oyranos – DF. Também viajam
pelo Brasil
http://www.pencil-animation.org http://oyranos.org ministrando oficinas
de comunicação que
promovem
- Muan - Cmyktool emancipação,
http://www.muan.org.br http://www.blackfiveimaging.co.uk liberdade e autonomia.

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GRÁFICOS · WORKSHOP COM GIMP

III Workshop

DIVULGAÇÃO

Modelagem 2D
Por Rafael Junqueira

Este Workshop feito com o Gimp 2.6.0


trata do tema - “Modelagem 2D” que usa os
recursos de clonagem (pressione a tecla C) e
restauração (pressione a tecla H) e uma
aplicação com defocagem gaussiana (menu de
filtros/Defocagem).

Passo 1 – Remoção do fio de cabelo 1 e 2

Para a remoção do primeiro fio de cabelo,


nós vamos começar a trabalhar com as duas
ferramentas de clonagem e restauração. A
primeira serve para clonar uma parte do
modelo, para assim criar uma simetria de A figura descreve o funcionamento da
texturas (tornar o novo local igual ao resto do ferramenta clonagem. Para aciona-la, vocês
modelo), no entanto, esta ferramenta causa deverão clicar em alguma área da ilustração e
contraste. Por isso, usamos a restauração para com o botão CTRL pressionado e com um
evitar a diferença de iluminação. A figura seguir clique do botão esquerdo do mouse. Observe
ilustra o primeiro passo. cada item destacado em vermelho.

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GRÁFICOS · WORKSHOP COM GIMP

Cada parte da pele da atriz possui uma Utilize o Zoom (pressione Z) por padrão está
propriedade, de forma que a ferramenta como Zoom + (aproxima o foco) se quiser se
clonagem deverá para cada nível obter uma afastar pressione Z + (o sinal de menos -).
cópia. Isso significa que será necessários
copiar a pele diversas vezes para obter uma
igualdade no rosto, sem criar contraste mesmo
com o recurso de clonagem.

Como pode ser observado, é feito Dica: Para usar mais eficientemente os
diversas clonagens ao longo da pele. Repita recursos de clonagem e restauração considere
este procedimento até que o fio de cabelo copiar lado-a-lado do que se pretende ocultar.
esteja completamente oculto. A pele estará Por exemplo, o fio de cabelo passa no centro
“tosca”. A solução é usar a restauração. A da face, então copie todos os lados
ferramenta de restauração deve ser entendida aproximados do fio de cabelo.
como um polimento constante da pele, não
basta passar uma vez. É preciso moldar o local
para que haja suavidade. O procedimento que
se usa na clonagem de (CTRL+ Botão
esquerdo do mouse) é a mesma ação para usar
a restauração. Lembrando de sempre
considerar os níveis de textura (pele) para obter
o máximo de realismo.
A figura anterior nós temos o resultado da
aplicação da clonagem + restauração. Em
média leva-se 10 minutos por um usuário bem
treinado. Certifique-se que o tamanho do pincel
localizado na opção Escala na caixa de
ferramentas mudou de tamanho? Esta escala
lhe permite trabalhar com trechos estreitos
(pequenos).

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GRÁFICOS · WORKSHOP COM GIMP

Senão simplesmente selecione a outra alça que


está pintada de vermelho e aplicado a desfoca-
gem, e posicione do outro lado do ombro. Em
seguida esta é uma ação opcional é cortar o
ombro na altura em que se encontra a seleção
com contorno vermelho. E deslocar o ombro pa-
ra mais próximo do pescoço. Senão simples-
mente selecione a outra alça que está pintada
de vermelho e aplicado a desfocagem, e posici-
one do outro lado do ombro.

Passo 2 – Modificar o tecido e a posição da


alça

O passo é modificar o tipo de tecido


utilizando a seleção livre (pressione F) e
utilizando defocagem gaussiana (Menu Filtros).
A colorização do tecido pode ser visualizado
em um workshop anterior (confira no link
http://blender3dcarioca.wordpress.com/2009/12/
29/ii-workshop-%e2%80%93-gimp-colorizacao/)

Mas se vocês selecionarem (copiar


CTRL+C) e colar (CTRL+V) a alça ficará de um
lado contrário a imagem final no começo deste
artigo. Então precisamos rotaciona-lo na
horizontal (ou uso do mirror, pressione a tecla
SHIFT+F) e clique sobre a alça copiada e plote-
a (coloque-a em cima do outro ombro nu) –
confira na figura a seguir.

A seguir para mudar o vestuário, é preciso


realizar o mesmo procedimento dos fios de
cabelo na alça da blusa conforme mostra a
figura. Esta parte é um pouco mais chata para
fazer, devido as nódoas do ombro. Em seguida
esta é uma ação opcional é cortar o ombro na
altura em que se encontra a seleção com
contorno vermelho. E deslocar o ombro para
mais próximo do pescoço.

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GRÁFICOS · WORKSHOP COM GIMP

Aqui termina o Workshop de gimp


(Modelagem 2D). Ressalto que a melhor
maneira de obter realismo com este tipo de
recurso é treinar com o maior número de
ilustrações, sempre procurando desafios. O
tempo médio do trabalho para usuários
treinados é de 30 minutos.

Conclusão do Workshop

Este workshop visa passar para o público


de como manipular (modelar uma imagem
vetorial/2D) utilizando o Gimp aliado á tecnicas
de nível de textura (pele) e manipulação de
objetos 2D usando transformações geométricas
(Mirror) e o filtro de blur (defocagem gaussiana).

Para mais informações:

Site Oficial GIMP


http://www.gimp.org

RAFAEL JUNQUEIRA é Bacharel


em Ciência da Computação pela
Universidade Veiga de Almeida,
assistente administrativo pelo
Senac, Professor na CAAPRJ –
Curso de Blender e administrador do
site Blender Brasil.

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EVENTO · RELATO SOBRE O VIVA O LINUX DAY - RIO DE JANEIRO/RJ

RELATO DO EVENTO

Por Alessandro Silva

Rio de Janeiro, 06 de março de 2010, Insti-


tuto Infnet. Este foi o ponto de encontro de hac-
kers, geeks, entusiastas e caçadores de
emoções que reuniram-se em torno de uma exal-
tação única: “Viva o Linux!” A equipe da Hostga-
tor, como patrocinadora do primeiro evento da
comunidade Viva o Linux – O Viva o Linux Day,
não poderia deixar de participar ativamente e
prestigiar o evento.

Figura 1: Participantes atentos durante palestra

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EVENTO · RELATO SOBRE O VIVA O LINUX DAY - RIO DE JANEIRO/RJ

Figura 2: Fábio Berbert e participantes do evento Figura 4: A equipe da HostGator marcou presença no evento

O I VOL Day, que contou com mais de 150 dré Claudino resgatou um debate sobre utiliza-
participantes, oriundos de 8 estados e 30 cida- ção de Software Livre em desktops e como
des, iniciou às 8h com o credenciamento. Fábio levá-lo as empresas e usuários. Luiz Vieira
Berbert de Paula, idealizador do evento e mante- atraiu participantes com o tema segurança, téc-
nedor do portal Viva o Linux abriu os trabalhos nicas de invasão e ferramentas utilitárias.
com a palestra: A História do Viva o Linux. Entre No final da tarde, foi promovido um debate
os temas que foram apresentados, estavam com vários assuntos relacionados ao Software
Gimp para Mentes Criativas, de Guilherme Raz- Livre, dentre eles desktops, segurança e distri-
griz, da empresa Cria Livre, que mostrou como buições mais usadas, entretanto, o debate res-
é possível criar ilustrações profissionais com o tringiu-se à filosofia e ao ecossistema do
Gimp. Davidson Paulo, Moderador do Portal Software Livre com os discursos já bem conheci-
VOL, falou sobre “Como o VOL pode impulsio- dos a cerca da polêmica: GNU/Linux ou simples-
nar a carreira de um profissional” citando casos mente Linux.
de pessoas que obtiveram sucesso como contri-
buidores do portal. Jefferson Luiz Oliveira, apre- Finalizando, Fábio fez um balanço do even-
sentou o sistema SIGERAR uma solução livre to e agradeceu a presença de todos os repre-
automatizada para gerenciamento de requisitos sentantes da comunidade e grupos de usuários.
e processos de desenvolvimento de software. An- A Hostgator encerrou o I Vol Day com sorteio de
brindes, saudando os participantes e declarando
que adota, apoia e incentiva o uso de Software
Livre. Já com saudades, por volta de 18h30,
chegou ao fim o primeiro evento da comunidade
Viva o Linux, um sucesso total coroado com um
temporal que parou o Rio de Janeiro.

ALESSANDRO SILVA é pós-graduando em


TI Aplicada à Educação pelo NCE/UFRJ e
graduado em Informática com ênfase em
análise de sistemas. Possui as certificações
LPIC-1, Novell Linux Administrator e Data
Center Specialist. É mantenedor do projeto
K-Eduque e SysAdmin Linux da Hostgator
Brasil.
Figura 3: Comunidade de Software Livre RJ/SP

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QUADRINHOS

QUADRINHOS
Por André Farias Oliveira

SUPORTE_

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AGENDA · O QUE TÁ ROLANDO NO MUNDO DE TI

AGENDA
ABRIL Data: 09 e 10/04/2010 Data: 23 e 24/04/2010
Local: Umuarama/PR Local: Londrina/PR
Evento: 1ª Semana de Educa-
ção e Artes Digitais do Tocan- Evento: IV Encontro Nacional Evento: FLISOL - Festival Lati-
tins BrOffice.org noamericado ne Instalação de
Data: 05 a 09/04/2010 Data: 15 e 16/04/2010 Software Livre
Local: Palmas/TO Local: Transmissão por videocon- Data: 24/04/2010
ferência para diversos pontos do Local: Simultaneamente em diver-
Evento: Feira Cultura Digital Brasil sas cidades das Américas
dos Bairros e Comunidades
Amazônicas Evento: Alagoas Digital 2010
Quer seu evento de
Data: 07 a 09/04/2010 Data: 21 a 23/04/2010
tecnologia divulgado
Local: Santarém/PA Local: Maceió/AL
aqui?!
Então entre em contato
Evento: 5º Circuito CELEPAR Evento: 5º Circuito CELEPAR
conosco através do
de Software Livre - Umuarama, de Software Livre - Londrina, Pa-
contato@espiritolivre.org.
Paraná raná

ENTRE ASPAS · CITAÇÕES E OUTRAS FRASES CÉLEBRES SOBRE TECNOLOGIA

O difícil é criar uma linguagem que faça tanto


sentido para outro ser humano quanto faz para uma
máquina ler.

Guido Van Rossum é um programador de computadores que é mais conhecido


por ser o autor da linguagem de programação Python.

Fonte: Wikiquote - Guido van Rossum

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