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CURSO DE DIREITO
BOA VISTA – RR
MAIO DE 2008
SHIRLENE RODRIGUES DA SILVA FRAXE
BOA VISTA – RR
3
MAIO DE 2008
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Profª Denise Menezes Gomes
_______________________________________
Prof. Tertuliano Rosenthal Figueiredo
_______________________________________
(membro)
AGRADECIMENTO
Agradeço, primeiramente ao nosso Senhor Jesus Cristo, por sempre estar presente em
minha vida, guiando-me, orientando-me, motivando-me e proporcionando-me saúde, luz e
sabedoria para compreendê-lo quando fala comigo;
aos meus pais, pela minha existência, pelo apoio e carinho que me dispensaram para
continuidade desta relevante trajetória;
ao meu esposo e filho pelo companheirismo e incentivo dispensado por todo esse
período;
aos meus familiares pelo apoio e confiança que dispensaram a mim;
aos amigos incansáveis que me incentivaram na continuidade dessa caminhada;
ao amigo Flávio Augusto Fontes que com o seu carinho, respeito e sensibilidade me
incentivou cursar Direito;
a minha orientadora, Profª Denise Menezes Gomes, pelo carinho dispensado ao longo da
construção deste trabalho;
a todos os membros da Comissão Nacional de Penas Alternativas, na pessoa da Drª
Márcia Alencar pela confiança e apoio que sempre depositaram na minha pessoa;
ao meu chefe e colegas de trabalho pela compreensão e apoio dispensado.
5
Nazaré Gouveia
Desembargadora TJE-PA
RESUMO
A questão não é mais se as penas e medidas alternativas são eficazes. A aplicação nacional e
internacional demonstra que sim, isto é, que as políticas públicas podem contribuir para o
efetivo monitoramento desse instituto penal. É no sentido de demonstrar a necessidade da
interação entre os poderes e a sociedade civil organizada em prol da efetiva execução das
PMAs no Brasil que se defende o tema Penas alternativas como instrumento de política
pública na prevenção criminal no Estado de Roraima, o que já vem sendo trabalhado em
alguns estados, como demonstrado no III CONEPA, ocorrido no final de 2007. Indica-se o
Poder Executivo como imprescindível na estruturação e monitoramento das PMAs, o que
contribuirá para a inclusão social dos beneficiários desse instituto penal e, conseqüentemente,
na prevenção criminal.
ABSTRACT
The question is no longer whether the penalties and alternative measures are effective - to
apply national and international shows that yes - but how public policies can contribute to the
effective monitoring of criminal institute. It is to demonstrate the necessity of interaction
between the powers and civil society towards the effective implementation of the PMAs in
Brazil which supports the theme Feathers alternatives as an instrument of public policy in
crime prevention, which is already being worked in some states, as demonstrated in CONEPA
III, which occurred at the end of 2007. It indicates to the Executive as essential in structuring
and monitoring of the PMAs, which will contribute to social inclusion of the beneficiaries of
this institute criminal and, consequently, in crime prevention.
Keywords: penalties and alternative measures, public policy institute criminal, delinquent,
beneficiary, crime prevention, monitoring, social inclusion.
ABREVIATURAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................................................................11
1 Histórico das Penas...........................................................................................................................................13
1.1 Penas no Brasil................................................................................................................15
1.1.1 Código Criminal do Império do Brasil....................................................................16
1.1.2 Código Penal da República......................................................................................17
1.1.3 Código Penal de 1940..............................................................................................18
1.1.4 Reforma da parte geral do Código Penal, em 1984.................................................19
1.2 Situação atual da pena de prisão.....................................................................................21
2 Penas alternativas à prisão ...............................................................................................................................24
2.1 No Direito Comparado....................................................................................................25
2.1.1 Mundo árabe............................................................................................................26
2.1.2 Japão.........................................................................................................................26
2.1.3 Alemanha.................................................................................................................26
2.1.4 Canadá......................................................................................................................27
2.1.5 Espanha....................................................................................................................27
2.1.6 França.......................................................................................................................27
2.1.7 Inglaterra..................................................................................................................28
2.1.8 Portugal....................................................................................................................28
2.1.9 Uruguai.....................................................................................................................28
2.1.10 Venezuela...............................................................................................................29
2.2 No sistema jurídico brasileiro.........................................................................................29
2.2.1 Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei 9.099/95)..............................................30
2.2.2 Lei das Penas Alternativas (Lei nº 9.714/98)...........................................................31
2.2.3 Penas restritivas de direito.......................................................................................32
2.2.3.1 Prestação pecuniária..........................................................................................32
2.2.3.2 Perda de bens e valores.....................................................................................32
2.2.3.3 Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas...........................33
2.2.3.4 Interdição temporária de direito........................................................................33
2.2.3.5 Limitação de fim de semana.............................................................................34
2.2.3.6 Multa.................................................................................................................35
2.2.3.7 Prestação de outra natureza...............................................................................35
2.3 Penas e medidas alternativas: distinção..........................................................................36
2.4 Experiência das Penas e Medidas Alternativas no Brasil...............................................36
2.5 Pena Alternativa e Pena Privativa de Liberdade – custo – reincidência - retorno..........38
3 POLÍTICA NACIONAL DE FOMENTO àS PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS...............................41
3.1 Aplicação das penas alternativas no Brasil.....................................................................44
3.2 Penas e Medidas Alternativas a partir da utilização de políticas públicas na prevenção
criminal.................................................................................................................................46
3.2.1 Conceito de política pública.........................................................................................46
3.2.3 Ações voltadas para o desenvolvimento de política pública de inclusão social......52
3.2.4 O papel do Poder Executivo na efetividade das PMAs no Brasil............................54
CONCLUSÃO.....................................................................................................................................................71
REFERÊNCIAS..................................................................................................................................................74
13
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE QUADROS
INTRODUÇÃO
No entanto, a prática demonstra que há muito a se fazer para que a aplicação das penas e
medidas alternativas atinja seu real objetivo: reintegrar os infratores à sociedade, reduzindo-se
a reincidência e evitando o crime.
CEAPA até meados de 2008. Para isso, utilizou-se, além da pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental e de campo, utilizando-se especialmente a técnica da entrevista para a coleta de
dados com técnicos, operadores do direito e beneficiários das PMAs em Roraima, relevante
para indicar os principais fatores que tem contribuído para a aplicação desse instituto, seus
aspectos positivos e negativos.
Não se tem uma data precisa da origem da punição dos crimes. Diversos autores
indicam apenas que é “remota” ou que ocorreram “desde há muito tempo”2.
1
DELMANTO et. al. Código penal comentado. 6a ed. atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 67.
2
MONTEIRO, Marcelo Valdir. Penas Restritivas de Direitos. Campinas: Impactus, 2006, p.17.
3
Ibid. p.25.
14
Embora tenham sido criadas prisões destinadas aos delitos menos graves, casas de
correções para homens e para mulheres, e a doutrina da Igreja tenha registrado movimentos
propondo reformas quanto ao trabalho dos presos, à higiene e regulamentação de visitas nos
presídios, as penas principais nesta época, conforme evidencia Monteiro, “ainda eram as
pecuniárias, corporais e capitais [...]Uma das penas largamente impostas nessa época foi a
pena de galés, em que o condenado era acorrentado em um banco de um barco e obrigado a
remar, sob ameaça de chicote”6.
Ressalta, ainda, que a pena privativa de liberdade surge como uma alternativa às penas
ferozes e como o principal veículo do processo de mitigação e racionalização das penas
aplicadas à época.
4
Ibid. p. 26.
5
Ibid. p. 27.
6
Ibid. p. 28 e 29.
15
Com o positivismo criminológico, surgido no final do século XIX, com base nos estudos
de Darwin e Lamarke, a pena é apontada como medida de defesa social, conforme Fragoso8,
indicando-se os princípios básicos da Escola Positiva: 1) o crime é fenômeno natural e social,
estando sujeito às influências do meio e aos múltiplos fatores que atuam sobre o
comportamento, exigindo, portanto, o método experimental ou positivo para explicação de
suas causas; 2) a responsabilidade penal é responsabilidade social, pois o homem vive em
sociedade, tendo por base a periculosidade do agente; 3) a pena é exclusivamente medida de
defesa social, visando à recuperação do criminoso ou à sua neutralização, nos casos
irrecuperáveis; 4) o criminoso é sempre psicologicamente um anormal, de forma temporária
ou permanente, apresentando também muitas vezes defeitos físicos; 5) os criminosos podem
ser classificados em tipos (ocasionais, habituais, natos, passionais e enfermos da mente).
[...] a abolição dos açoites, da tortura, da marca de ferro quente e todas as demais
penas cruéis, foi também proibido o confisco de bens e a declaração de infâmia aos
parentes do réu em qualquer grau; proclamou-se que “nenhuma pena passaria da
pessoa do delinqüente e que as cadeias serão seguras, limpas e bem arejadas,
havendo diversas casas para separação dos réus, conforme suas circunstâncias e a
natureza de seus crimes”11.
O Código Criminal do Império tinha como pena a morte (art. 38/43), previa em seu
art. 44 a pena de galés, em que o condenado ficava com os pés acorrentados e à
disposição do governo para trabalhos públicos na província onde tivesse cometido o
delito; também era previsto o trabalho do detento (art. 46), prisão simples (art. 47),
a pena de banimento (art. 50), degredo (art. 51) e desterro (art. 52), multa (art. 55);
suspensão do emprego (art. 5); perda do emprego (art. 59) e açoites em escravos
(art. 60).12
10
ROBALDO, José Carlos de Oliveira. Penas e medidas alternativas: reflexões político-criminais. São Paulo:
Editora Juarez de Oliveira, 2007, p. 101 e 102.
11
MONTEIRO, Marcelo Valdir. Op. Cit. p. 47.
12
CARDOSO, Franciele Silva. Penas e medidas alternativas : análise da efetividade de sua aplicação. São
Paulo : Editora Método, 2004, p. 64 e 65.
17
O referido código foi considerado avançado por ter sido inspirado nas idéias do
Jusnaturalismo e do Iluminismo, “fundado nas sólidas bases de justiça e eqüidade”,
conforme Dotti13.
Devido à pressa com que fora elaborado e aprovado, o Código Republicano sofreu
diversas críticas, como a de Galdino Siqueira na obra “Tratado de direito penal”, conforme
13
Apud ROBALDO, 2007, p. 102.
14
MONTEIRO, Marcelo Valdir. Op. Cit. p. 48.
15
CARDOSO, Franciele Silva. Op. Cit. p. 66.
18
destaca Cardoso: “afirmava ser o Código excessivo “nas medidas consagradas de repressão
e correção”, além do descompasso entre o referido diploma legal e a doutrina mais
autorizada da época, tanto interna quanto externamente.”16
O Código Penal de 1940 é assim descrito: “[...] elaborado com o Congresso Nacional
fechado pela ditadura Vargas, é caracterizado pelo tecnicismo jurídico e desprezo à
criminologia, com a pena privativa de liberdade e multa como principais sanções.”20
16
Ibid. p. 65.
17
Apud CARDOSO, 2004, p. 67.
18
Ibid. p. 67.
19
Ibid. p. 67 e 68.
20
MONTEIRO, Marcelo Valdir. Op. Cit. p. 49.
19
Ressalta-se uma divisão entre penas principais e penas acessórias, sendo as principais,
previstas no art. 28: I – reclusão; II – detenção; e III – multa. As acessórias, previstas no art.
67: I – a perda da função pública, eletiva ou de nomeação; II – as interdições de direitos; III –
a publicação da sentença.
Observa-se, no entanto, que a prevalência do legislador ainda era pela aplicação da pena
de prisão.
Em 1984 entra em vigor a nova parte geral do Código Penal que aboliu as penas
acessórias, que eram aquelas aplicadas conjuntamente com a pena privativa de liberdade, bem
como extinguiu o sistema duplo binário, substituindo-o pelo vicariante, quando é aplicada a
pena criminal ou medida de segurança. “Também foi criado o sistema progressivo para
cumprimento da pena, com o regime fechado, semi-aberto e aberto, o livramento condicional
e a suspensão condicional da pena (sursis).”23
21
Apud CARDOSO, 2004, p. 70.
22
Ibid. p. 72.
23
MONTEIRO, Marcelo Valdir. Op. Cit. p. 50.
20
Para Cardoso27, o maior elogio que se pode tecer em relação à sistemática da nova parte
geral de 1984 é a harmoniosa disposição dos diversos institutos penais. “Com a previsão da
possibilidade de cumprimento da pena em regime aberto (casas de albergado), bem como as
outras medidas que afastam o encarceramento (sursis, penas restritivas de direitos), a nova
parte geral fixava,com proporcionalidade, uma escala no que se refere às sanções
24
ANGHER, Anne Joyce (coord.). Brasil, Código Penal, Código de Processo Penal, Constituição Federal. 4a
ed. – São Paulo : Rideel, 2004, p. 20.
25
Ibid. p. 456.
26
MONTEIRO, Marcelo Valdir. Op. Cit. p. 50.
27
CARDOSO, Franciele Silva. Op. Cit. p. 77.
21
Uma das críticas com relação à prática, refere-se ao descumprimento, por parte da
Administração Pública, do que a lei penal determinava: a construção das casas de albergado,
conforme destaca Miguel Reale Júnior28: “atualmente há a mais absoluta falta de vontade
política decorrente seja da preguiça, seja da exclusiva preocupação em recolher à prisão e
punir, tão-só, os agentes de crimes violentos.”
Ressalta-se, ainda, que as iniciativas para se reformar o sistema geral de penas surgem
devido ao fracasso da aplicação do que dispunha a parte geral do Código Penal, bem como da
sensação de impunidade, quando da inobservância de qualquer caráter sancionatório no
momento que se estabelece o regime aberto de cumprimento de pena.
Da mesma forma que o Direito Penal deve ser um instrumento de ultima ratio do
controle social, a pena de prisão também deve ser utilizada como medida extrema, conforme
afirma Robaldo.29
A pena de prisão em todo o mundo passa por uma crise sem precedentes. A tradicional
pena de prisão, além de não cumprir adequadamente sua função de recuperação e
ressocialização, faz com que os presos se tornem ainda mais familiarizados com práticas
criminosas. O cárcere se apresenta como uma verdadeira universidade às avessas, porque
fabrica criminosos ao invés de recuperá-los.
Como demonstra o estudo do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios 30,
o sistema prisional foi construído em oposição ao suplício, centrado no poder pessoal e na
crueldade.
Citando Foucault, o referido estudo demonstra que a prisão foi apresentada como um
fenômeno de menor crueldade, menos sofrimento, mais suavidade, mais respeito e
28
Ibid. p. 78.
29
ROBALDO, José Carlos de Oliveira. Op. Cit. p. 123.
30
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. Penas Alternativas: Valem
a Pena? Relatório final de pesquisa. Brasília, junho de 2001, p. 35.
22
Conforme assinala o referido estudo, a prisão, no Brasil, parece estar ainda numa era
pré-beccariana, por não atender aos requisitos descritos por Foucault, configurando-se com
mais crueldade, sofrimento, violência e menos respeito à humanidade.
31
Ibid. p. 36 e 37.
32
Apud TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. p. 37.
33
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. p. 37 2 e 38.
23
Superlotação carcerária; alto custo e o fato de não dar condições dignas nem dentro e
nem fora da prisão, são fatores que acentuam os argumentos contrários à pena de prisão.
Existem cada vez mais dúvidas sobre se a prisão permite reabilitar os delinqüentes.
Diz-se amiúde que a prisão pode converter os delinqüentes em criminosos ainda
piores e que, por essa razão, a cadeia deve ser reservada àqueles que praticam
delitos mais graves e sejam perigosos. A prisão, que por si mesma é dispendiosa,
acarreta outros custos sociais. Muitos países enfrentam o problema de superlotação
carcerária. Nos estabelecimentos penais em que esse problema é muito grave pode
ser impossível dar condições aos presos para que, ao voltar à liberdade, levem a
vida sem infringir a lei.34
Devido a fatos como estes é que surgem as penas alternativas, construídas em oposição
à crueldade e à ineficácia do sistema prisional, assunto do próximo capítulo.
34
REGRAS DE TÓQUIO : comentários às regras mínimas das Nações Unidas sobre medidas não-
privativas de liberdade / tradução de Damásio E. de Jesus. – Brasília : Ministério da Justiça, 1998, p. 19.
35
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ. 21ª Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas.
Manual de Execução de Penas e Medidas Alternativas, 2007.
24
Contribuições têm refletido nas regras internacionais sobre o Direito Penal, como as
Resoluções da Organização das Nações Unidas – ONU referentes à problemática do homem
encarcerado, sendo especialmente no 8o Congresso da ONU, em dezembro de 1990, que
recomendou a adoção das Regras Mínimas sobre Penas Alternativas, conhecidas como as
Regras de Tóquio, que tem como objetivo fundamental promover o emprego de medidas não
privativas de liberdade.
36
SZNICK, in Manual de Monitoramento das Penas e Medidas Alternativas. Brasília: Secretaria Nacional de
Justiça, Central Nacional de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, 2002.
37
ALENCAR, Márcia. Coordenadora Geral do Programa de Fomento às Penas e Medidas Alternativas do
Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça. Alternativas penais e rede social, (s.d.).
Disponível em: <www.mj.gov.br>. Acesso em: 22.04.2008.
38
CARDOSO in GOMES, Luiz Flávio. Penas e medidas alternativas à prisão. São Paulo: RT, 1999.
25
Conhecida como Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas
Não-Privativas de Liberdade, as Regras de Tóquio constituem um guia completo sobre a
operação de medidas não-privativas de liberdade em todas as fases do processo da Justiça
Penal39.
As penas alternativas à prisão vêm sendo utilizadas por diversos países ao longo da
história. É o que se demonstra por meio do direito comparado e no sistema jurídico brasileiro.
Estudos demonstram que a preocupação com o cárcere como castigo, e não com a
reintegração dos indivíduos infratores na sociedade está presente no mundo há muito tempo:
“tanto que inúmeras experiências de aplicação de penas alternativas vinham acontecendo
isoladamente em alguns países”41.
39
REGRAS DE TÓQUIO. Op. Cit. p. 21.
40
Ibid. p.23.
41
JUDICIÁRIO DO RIO GRANDE DO SUL. 20 Anos de Penas Alternativas no Rio Grande do Sul.
Departamento de Artes Gráficas do TJ/RS : Porto Alegre, setembro de 2007.
26
2.1.2 Japão
2.1.3 Alemanha
42
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ (op. cit.).
43
Ibid.
44
PRADO apud MONTEIRO, 2006, p. 69.
45
SHECAIRA, apud MONTEIRO, 2006, p. 70.
46
REALE JÚNIOR, apud MONTEIRO, 2006, p. 71.
27
2.1.4 Canadá
Submetidos ao Governo Federal ou aos governos das províncias, são aplicadas aos
presos penas mais leves, com possibilidades de conversão em penas alternativas à prisão47.
• Multa, que pode ser paga através do trabalho em favor da comunidade, se não
paga, é convertida em prisão;
2.1.5 Espanha
As penas restritivas de direitos estão previstas no Código Espanhol de 1995, art. 39,
principais ou acessórias e interdição absoluta (6 a 20 anos)48:
2.1.6 França
47
OLIVEIRA, apud MONTEIRO, 2006, p. 72.
48
MONTEIRO, Marcelo Valdir. Op. Cit. p. 72.
28
2.1.7 Inglaterra
Primeiro país a utilizar a prestação de serviço como pena autônoma, “sendo necessário
para sua aplicação o consentimento do réu, relatório favorável dos funcionários da
probation e a disponibilidade do mercado de trabalho em oferecer vagas.”50
2.1.8 Portugal
2.1.9 Uruguai
49
SHECAIRA, apud MONTEIRO, 2006, p. 73.
50
MONTEIRO, Marcelo Valdir .Op. Cit, p. 74.
51
Ibid. p. 80.
52
Ibid. p. 84.
29
2.1.10 Venezuela
aptidões do condenado, na razão de uma hora por dia de pena; ou, ainda, com
algum tipo de prestação pecuniária, que se não for revertida à vítima ou a seus
dependentes, será também destinada a estas organizações, públicas ou privadas, que
tenham finalidade social.54
Considera-se que a Lei dos Juizados Especiais Criminais representou um grande avanço,
na medida em que, nas palavras de Grinover57, “o Poder Político (Legislativo e Executivo)
(...) está disposto a testar uma nova via reativa ao delito de pequena e média gravidade,
pondo em prática um dos mais avançados programas de ‘despenalização’ do mundo (que (...)
não se confunde com descriminalização)”.
Com o advento da Lei 9.714/98, passamos a contar com dez modalidades de penas
substitutivas.
1. Prestação pecuniária58;
2. Perda de bens e valores;
3. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
4. Proibição de exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato
eletivo;
5. Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação
especial, de licença ou autorização do Poder Público;
6. Suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo;
7. Proibição de freqüentar determinados lugares;
8. Limitação de fim de semana;
9. Multa;
10. Prestação alternativa inominada.
É necessário esclarecer que a pena de interdição temporária de direitos (inciso V), foi
subdividida em quatro: 1) proibição do exercício de cargo; 2) proibição do exercício de
profissão; 3) suspensão da autorização para dirigir veículo; e 4) proibição de freqüentar
determinados lugares.
58
De acordo com Robaldo (2007, p. 146), a pena pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza, o
que, para muitos, é que deu embasamento legal para as “cestas básicas” (§ 2o do art.45).
32
A finalidade da prestação pecuniária é reparar o dano causado pela infração penal, mas
conforme entendimento de Bitencourt60, teria sido mais adequado e mais técnico defini-la
como “multa reparatória”, já que é essa sua verdadeira natureza.
59
MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 2a ed. Curitiba: Juruá, 2006, p.63.
60
BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas penas alternativas: análise político-criminal das alterações da Lei n.
9.714/98. – 3. ed. ver. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2006.
33
Observa-se que esta pena recai sobre o patrimônio do condenado em favor do Fundo
Penitenciário Nacional.
indispensável que o delito praticado esteja diretamente relacionado com o mau uso do direito
interditado, conforme Cardoso61, observando que a proibição é temporária.
[...] o juiz, ao substituir a pena privativa de liberdade por essa modalidade de pena,
deve, necessariamente, estabelecer quais os lugares cuja visitação é vedada ao
condenado, sendo certo que a definição desses locais deve guardar alguma
pertinência com o crime que se visa punir, pois para justificar a proibição é
necessário que haja, pelo menos em tese, uma relação de influência criminógena
com o local em que foram cometidas a infração penal e a personalidade e/ou
conduta do apenado e que, por essa razão, se pretende proibir a freqüência do
infrator, beneficiário da alternativa à pena de prisão.
Numa descrição mais clara do significado dessa medida, reporta-se a Mirabete64: “...
Impossibilita-se o condenado de freqüentar “boites”, “inferninhos”, casas de jogo,
prostíbulos etc., locais que o impeliram ao cometimento de atos anti-sociais, numa medida
concreta no sentido de impedir a ação deletéria desses ambientes nocivos.”
61
CARDOSO, Franciele Silva. Op. Cit. p. 96.
62
Ibid. p. 97.
63
Ibid. 98.
64
Apud MARTINS, 2006, p. 100.
35
2.2.3.6 Multa
Observa-se quanto à multa substitutiva é que esta não pode ser convertida em privação
de liberdade em face do que dispõe a Lei 9.268/96, que proibiu a conversão em prisão de
multas não pagas65.
Prevista no art. 45, § 2o do Código Penal: “[...] a prestação pecuniária pode consistir
em Prestação alternativa inominada.”
65
CARDOSO, Franciele Silva. Op. Cit. p. 100.
66
Ibid.
67
2006, p. 129.
36
Cumpre observar que a nomenclatura pena alternativa não se confunde com medida
alternativa, como observa Fernando Capez.
Quem explica bem e em poucas palavras a diferença entre medidas e penas alternativas
é o juiz substituto do 1o Juizado Especial Criminal de Brasília68: “as medidas impedem a
aplicação de penas restritivas de direitos, enquanto a pena alternativa evita a prisão”.
68
I FÓRUM DA CEMA EM BRASÍLIA DISCUTE MEDIDAS ALTERNATIVAS À PENA DE PRISÃO.
Disponível em: <http://www.mpdft.gov.br/noticias/exibirnoticia>. Acesso em 12/03/2008.
69
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. Op. Cit. p. 40.
37
livramento condicional. “No Código Penal Brasileiro, o juiz poderá conceder livramento
condicional ao condenado a pena privativa de liberdade se houver bons antecedentes, bom
comportamento, reparação e cumprimento de parte da pena, conforme o tipo de crime.”
Foi a partir da estruturação física mínima dos Estados que se possibilitou aplicar as
penas alternativas, constatando-se a eficácia de sua aplicação no Brasil, o que será
demonstrado com apresentação de dados estatísticos.
A partir das Regras de Tóquio, na década de 1990, é que a aplicação das penas e
medidas alternativas voltou a ser discutida.
• Lei nº 9.714/98 – lei das penas alternativas, que ampliou o âmbito de aplicação
das penas alternativas;
70
Histórico do Programa Nacional de Penas e Medidas Alternativas. Coordenação Geral do Programa de
Fomento às Penas e Medidas Alternativas, junho de 2007.
71
MANUAL DE EXECUÇÃO DE PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS. Tribunal de Justiça do Estado do
Pará. 21a Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas, 2007, pág. 23.
38
Custo - O governo brasileiro gasta um bilhão e meio de dólares por ano para manter a
população carcerária do país, sendo o custo mensal de manutenção do preso da ordem de R$
600,00 a R$ 1.000,00. E para cada nova vaga no sistema carcerário é gasto aproximadamente
R$ 15.000,00 pelo governo federal.72
Comparando-se esse valor com os recursos repassados pelo Ministério da Justiça aos
estados para o acompanhamento da execução das penas e medidas alternativas, conforme
ressalta a autora em comento, o valor chega a ser irrisório, considerando-se que o custo por
beneficiário fica em torno de R$ 100,00, conforme ressalta.
72
ADARIO, Heloisa. O Programa de Apoio à Aplicação e Execução das Penas e Medidas Alterntivas do
Governo Federal: Uma Política Pública do Ministério da Justiça, 2004. Disponível em: <www.mj.gov.br>.
Acesso em: 22.04.2008.
73
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, DEPEN, Coordenação Geral do Programa de Fomento às Penas e Medidas
Alternativas (2007). Evolução histórica das penas e medidas alternativas (PMAS) no Brasil. Disponível em:
<www.mj.gov.br>. Acesso em: 22/04/2008.
74
MANUAL DE MONITORAMENTO DAS PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS. Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça, Central Nacional de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, 2002.
39
O retorno mais visível da aplicação das PMAs para o Estado é o baixo custo, o baixo
índice de reincidência, bem como a redução da superlotação penitenciária75. Para o
beneficiário, o retorno reflete-se na inclusão social, na permanência no seio familiar e na
contribuição positiva para a mudança de comportamento76. Retorno que atinge positivamente
a sociedade, estabelecendo-se, dessa forma, uma relação ganha/ganha entre todos os atores
envolvidos em cada fase da aplicação e execução das Penas e Medidas Alternativas no Brasil.
Um fator que não pode deixar de ser considerado no contexto das PMAs no Brasil é o
relevante papel dos operadores do direito. A visão desses profissionais foi registrada na
pesquisa realizada pelo TJDFT (2001 : 156 a 160), envolvendo quatro promotores e três
juízes, com discursos de crítica à prisão e favoráveis às PMAs, com restrições, da qual
destacaremos pontos relevantes para o presente trabalho.
[...] não se pode achar que a pena alternativa seja resposta para todos os crimes, [...]
mas precisa se investir na pena alternativa, porque a prisão como resposta a todos
os crimes também não se mostra eficiente nem razoável. (Juiz 3)
A cadeia deve ficar somente para os crimes mais graves. [...] A sociedade é muito
egoísta e cada um espera resolver sua situação. O governo é mais conivente do que
incompetente porque ele sabe quais são as alternativas que tem para solução dos
problemas do país, principalmente a má distribuição de renda e a segregação social
e as pessoas ricas se cerca de segurança [...] (Juiz 1)
A pena alternativa para mim é a solução. Porque a Pena Alternativa está mais
pautada no ser humano, na pessoa. [...] ela dá meios para que os operadores do
direito tenham ferramentas realmente eficazes para tentar corrigir àquela conduta
da pessoa. [...] eu acredito na PSC, por enxergar claramente que ela é o caminho
certo. E cientificamente, hoje em dia mundialmente, isso está sendo provado. Quais
são os problemas? Eu acho que os problemas não atacam a idéia de pena alternativa
em si, eles atacam a forma como o sistema hoje está montado.
No Ministério Público eu acho que a gente tem um racha, 50% que gosta e 50% que
não gosta das penas alternativas. (Promotor 1)
75
Rafael Damasceno de Assis. Graduado em Direito pela Faculdade Metropolitana IESB (Instituto de Educação
Superior de Brasília). Em artigo publicado na Revista Jurídica Consulex. Implementação de uma política de
adoção de penas alternativas: a busca de soluções para a Lei nº 7.210/84 e a crise do sistema penitenciário.
Ano V, nº 236. Brasil, Uberaba/MG, domingo, 05 de agosto de 2007. Disponível em:
<www.boletimjuridico.com.br> Acesso em: 12/03/2008.
76
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITÓRIOS. Penas Alternativas: Valem a
Pena? Relatório final de pesquisa. Brasília, junho de 2001.
40
[...] é uma forma de reversão de benefícios para a sociedade. [...] Eu acho que é
uma grande vantagem para o Executivo, porque livra de mandar as pessoas para a
cadeia e ele gasta muito menos com isso. [...] Faço restrições às penas alternativas
[...] precisamos avaliar não só as condições objetivas mas especificamente as
condições subjetivas para ver se elas são vantajosas para aquela pessoa.
[...] o sistema social [...] é um problema que nós operadores do direito, pelo menos
do direito criminal não temos como resolver[...]
(Promotor 4)
77
Op. Cit.
42
O resultado da execução das penas alternativas no Brasil no período de 2002 e 2006 foi
divulgado no Relatório de Gestão da CGPMA, antiga CENAPA, em dezembro de 2006.
Verificou-se o crescimento do número de execuções de penas e medidas alternativas no
Brasil, sendo da ordem de 200% em comparação aos números do ano de 2002,
correspondendo a 63.457 penas e medidas alternativas aplicadas em 2006 contra 21.560
apresentados em 2002.
Dentre os fatores positivos destacados pelo citado relatório está o número de aplicação
de penas e medidas alternativas, que em 2007 atingiu 422.522 beneficiários, ultrapassando o
nº de presos, 419.551, no mesmo período.
Outro fator de grande relevância divulgado pelo referido documento é o que trata da
verba destinada a este instituto, considerado uma das maiores conquistas no tocante às penas e
medidas alternativas em 2007, qual seja:
78
CARDOSO, Franciele Silva. Op. Cit. p. 87.
45
Quadro 1
Aplicação e execução de penas e medidas alternativas no Brasil
Período: Janeiro a Novembro de 2007
AP RO AC AL CE BA AM
Penas aplicadas 525 149 537 241 5.322 1.674
Medidas aplicadas - 2.589 284 1734 3.926 10.345 3.835
Subtotal 525 2.589 433 2.271 4.167 15.667 5.509
Penas em execução 703 498 241 680 975 705 818
Medidas em execução 1.680 2.160 370 1.145 2.113 2.320 1.196
Subtotal 2.383 2.658 611 1.825 3.088 3.025 2.014
79
Relatório de Gestão da CGPMA 2007, divulgado em fevereiro de 2008.
80
VISÃO SINTÉTICA DO RELATÓRIO DE GESTÃO DA CGPMA 2007. Disponível em: <www.mj.gov.br>.
Acesso em 22/05/2008.
81
A partir dos dados dos Serviços Públicos de Acompanhamento, Fiscalização ou Monitoramento de Penas e Medidas Alternativas das
unidades da federação, a ser validado pela Comissão Nacional de Apoio às Penas e Medidas Alternativas – CONAPA até 22 de fevereiro de
2008. Com as seguintes observações: 1. Os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins ainda não entregaram dados
atualizados de 2007. Por isso foram repetidos os valores apresentados em dezembro de 2006.
46
Quadro 2
Aplicação e execução de penas e medidas alternativas no Brasil
Período: Janeiro a Novembro de 2007
GO MA PI DF SE ES MG
Penas aplicadas 1.420 722 525 11.328 3.326 3.725 5.398
Medidas aplicadas 2.894 1.213 894 3.026 4.894 6.884 11.718
Subtotal 4.314 1.935 1.419 14.354 8.220 10.609 17.116
Penas em execução 586 439 320 2.965 434 5.809 1888
Medidas em execução 1.235 481 393 1.743 753 2.411 1.835
Subtotal 1.821 920 713 4.708 1.187 8.220 3.723
Fonte: Ministério da Justiça. Coordenação-Geral do Programa de Fomento às Penas e Medidas
Alternativas. Fevereiro de 2008.
Quadro 3
Aplicação e execução de penas e medidas alternativas no Brasil
Período: Janeiro a Novembro de 2007
MS SP TO MT PA PB PE
Penas aplicadas 1.121 7.020 1.487 1.153 1.820 894 5.294
Medidas aplicadas 3.004 11.027 3.220 2.783 2.823 926 13.522
Subtotal 4.125 18.047 4.707 3.936 4.643 1.820 14.044
Penas em execução 741 4.371 410 653 551 377 2.613
Medidas em execução 492 4.350 817 785 985 535 6.230
Subtotal 1.233 8.721 1.227 1.438 1.536 912 8.843
Fonte: Ministério da Justiça. Coordenação-Geral do Programa de Fomento às Penas e Medidas
Alternativas. Fevereiro de 2008.
Quadro 4
Aplicação e execução de penas e medidas alternativas no Brasil
Período: Janeiro a Novembro de 2007
PR RJ RS RN RR SC TOTAL
Penas aplicadas 6.935 9.122 4.984 974 572 - 76.268
Medidas aplicadas 7.990 225.202 15.747 589 23 7.935 346.254
Subtotal 14.924 236.324 20.731 1.563 595 7.935 422.522
Penas em execução 1.462 2.760 4.657 659 323 223 32.080
Medidas em execução 4.561 6259 6.883 172 72 - 46.809
Subtotal 6.023 9.019 11.540 831 395 223 88.837
Fonte: Ministério da Justiça. Coordenação-Geral do Programa de Fomento às Penas e Medidas
Alternativas. Fevereiro de 2008.
Ressalta-se que as ações empreendidas pelo Executivo Federal voltadas para o apoio à
aplicação e execução das penas e medidas alternativas, configuram uma política pública
criminal, de caráter preventivo, cuja consolidação depende de sua integração com as demais
políticas públicas sociais.
82
GUARESCHI, Neuza [et. al.]. Problematizando as práticas psicológicas no modo de entender a violência. In:
Violência, gênero e Políticas Públicas. Orgs: Strey, Marlene N.; Azambuja, Mariana P. Ruwer; Jaeger, Fernanda
Pires. Ed: EDIPUCRS, Porto Alegre, 2004. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/>. Acesso em 12.04.2008.
83
Disponível em: <www.ce.sebrae.com.br/paginas/produtos_servicos/
www.ce.sebrae.com.br/paginas/produtos_servicos/politicas
politicas_pub.php>.
_pub.php>. Acesso em
12.04.2008.
84
Op. Cit.
85
REGRAS DE TÓQUIO. Op. Cit. p. 87.
48
A prática demonstra que a efetiva execução das medidas não privativas de liberdade põe
uma série de desafios ao formulador e ao executor da política penal contemporânea,
destacando-se a necessidade de aperfeiçoar a fiscalização do cumprimento das penas, bem
como de aprimorar a capacitação de pessoal especializado.
86
MIRANDA apud ROBALDO. Op. Cit. 2007.
87
ALENCAR, Márcia. Alternativas penais e rede social. Coordenação Geral do Programa de Fomento às
Penas e Medidas Alternativas, (s.d.). Disponível em: <www.mj.gov.br>. Acesso em: 22.04.2008.
88
MANUAL DE MONITORAMENTO DAS PENAS E MEDIDAS ALTERNATIVAS. Brasília: Secretaria
Nacional de Justiça, Central Nacional de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, 2002.
49
sim de sanção penal. “A demanda e o produto desse trabalho são jurídico, de natureza
processual ou penal, e devem seguir o tratamento legal em todos os seus procedimentos e
conseqüências”89.
Quadro 5
Para que o processo de execução das PMAs seja eficaz indica-se a necessidade do
devido monitoramento da mesma: “O monitoramento requer uma análise permanente da
relação dialógica entre a dimensão político-institucional e a dimensão técnico-operacional
do processo de execução das alternativas penais para a garantia da eficácia deste instituto
penal. Todo programa deve ser constantemente avaliado, pesquisado e, quando o caso,
revisado.”90
89
Ibidem.
90
Ibidem.
50
[...]
A interdisciplinaridade aborda o modo como os peritos em comportamento
interagem com os operadores do Direito. O processo é psicossocial e ocorre na
esfera microssocial. Neste nível técnico-operacional, os principais atores
envolvidos são o Juízo da Execução, o Ministério Público, a Equipe de Apoio
Técnico e a Comunidade92.
92
Ibidem.
52
Figura 1
Visão esquemática da relação entre os princípios da interinstitucionalidade e da interatividade
legalidade
ESTADO Órgãos da Execução
Fonte: Manual de Monitoramento das Penas e Medidas Alternativas. Brasília: Secretaria Nacional de Justiça, Central
Nacional de Apoio Parceiras
Entidades e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, 2002. SOCIEDADE
legitimidade
Fonte: Manual de Monitoramento das Penas e Medidas Alternativas. Brasília: Secretaria Nacional de Justiça,
Central Nacional de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, 2002.
93
III CONEPA/Apresentações, 2007.
54
A noção de rede social está diretamente relacionada ao tema da esfera pública, conforme
Márcia de Alencar95: “... refere-se à relação dialógica estabelecida entre o Estado e a
sociedade civil organizada no exercício do controle social e na defesa do interesse público e
na defesa do interesse público, através da implementação de políticas públicas”, acrescenta,
ainda, que no caso específico da sanção penal alternativa, envolve a implementação de uma
política de prevenção criminal que não pode ser reduzida apenas a um contexto de execução
penal.
94
ALENCAR, Márcia. Op. Cit.
95
Ibid.
96
Ibid.
55
Não se pode insistir em estabelecer a relação entre alternativas penais e rede social
sem compreender o papel inerente do Poder Executivo na interação com a
comunidade, na medida em que a arena da execução penal alternativa ocorre no
ambiente social, extrapolando o campo do direito penal.97
97
Ibid.
56
A partir da lei conhecida como Lei das Penas Alternativas, houve a necessidade de se
criar um órgão responsável pelo monitoramento e acompanhamento das PMAs.
É mister enfatizar, ainda, que através da Lei nº 546, datado de 20 de junho de 2006
(anexo), o Egrégio Tribunal de Justiça arvorou para sua responsabilidade a execução das
penas e medidas alternativas, através da criação da Central Estadual de Apoio e
Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas da Comarca de Boa Vista – CEAPA98,
atual Divisão de Execução de Penas Alternativas – DIEP, vinculada à 3 a Vara Criminal da
Comarca de Boa Vista, conforme Lei Complementar nº 107, de 14 de junho de 2006 (anexo).
Até agosto de 2007, a rede de atendimento contava com 177 entidades governamentais e
não governamentais com disponibilidade para receber, cada uma, em média, três
beneficiários, somando-se, ao mês, 454 vagas para cumprimento da PSC. Dentre essas
entidades conta-se com escolas, hospitais, secretarias de estado, secretarias de município,
postos de saúde, instituições como a Casa do Vovô e associações. Esclarece-se que quando a
medida for de tratamento para a dependência química, não é permitido encaminhar
beneficiário incluso nessa medida para instituições escolares.
98
Tribunal de Justiça do Estado de Roraima. Disponível em: <www.tj.rr.gov.br> Acesso em 22.04.2008.
58
Vale, ainda, mencionar, que a avaliação final com o beneficiário tem como objetivo
fazê-lo refletir sobre os efeitos que a pena alternativa proporcionou em sua vida e a
importância desta em seu futuro. Após, a equipe interprofissional o incentivará a reprojetar
sua história de vida, direcionando-o ao retorno à escola, bem como ser um ente de
transformação social através de práticas voluntárias, conforme testemunhos relatados neste
capítulo.
Gráfico 1
Idade do Beneficiário – 2001 a 2002
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
18 a 25 anos 1
26 a 35 anos acima de 35 anos
Gráfico 2
Nível de Instrução do Beneficiário – 2001 a 2002
50
40
30
20
10
0
analfabeto 1alfabetizado
Gráfico 3
Tipo de Delito – 2001 a 2002
30
20
10
0
1
lesão corporal crim e contra a natureza uso de subs química
crime de desobediência crim e c/ vítim a no trânsito furto
desacato a autoridade agressão fís ica porte ilegal de arma
ocultação de cadáver trans gressão disciplinar ameaça
Cabe sugerir a observância dos critérios norteados pelo embasamento do que estabelece
especificamente “pena alternativa como política publica”, razão porque faz-se necessária a
presença do Estado no monitoramento das penas e medidas alternativas.
O monitoramento das PMAs em Roraima não difere, em tese, dos demais estados
brasileiros, conforme se pode verificar nos anexos.
99
Apud ALENCAR, Márcia in MANUAL DE MONITORAMENTO DAS PENAS E MEDIDAS
ALTERNATIVAS. Brasília: Secretaria Nacional de Justiça, Central Nacional de Apoio e Acompanhamento às
Penas e Medidas Alternativas, 2002.
63
Figura 2
Penas e Medidas Alternativa e Rede Social
Para tanto, Alencar, que baseia seu estudo no Manual de Monitoramento das Penas e
Medidas Alternativas do Ministério da Justiça, descreve como o Poder Executivo
concretizaria a rede social, demonstrado na figura 2: “O poder Executivo ao captar,
cadastrar e capacitar a rede social, cria um sistema integrado de monitoramento das penas e
medidas alternativas que se materializa através das vagas e serviços oferecidos ao
cumpridor da sanção penal”.
Nesse sentido, não se pode deixar de reconhecer que a formação da rede social depende
dos equipamentos locais e de ferramentas gerenciais adequadas para produzir um sistema de
informação confiável que ofereça a segurança jurídica necessária ao Judiciário, ao Ministério
Público e à Defensoria Pública.
64
Desta forma, o Poder Executivo ao captar, cadastrar e capacitar a rede social, cria um
sistema integrado de monitoramento das penas e medidas alternativas que se materializa
através das vagas e serviços oferecidos ao cumpridor da sanção penal, o que vem corroborar a
importância da integração dos poderes no Estado de Roraima, com destaque para o Poder
Executivo no que tange ao monitoramento das PMAs.
“Cumpri pena alternativa por delito de trânsito e acredito nas alternativas penais
porque elas me ajudaram a refletir meu erro, mudar minha maneira de agir e até me
tornar uma pessoa mais solidária. Passei a ser voluntário na CEAPA, local onde
cumpri minha pena, ajudando em tudo que podia, pois lá não tinha funcionários
suficientes. Me senti útil e até hoje ainda continuo dando minha colaboração”
(M.J.C. – CEAPA/RR).
“Eu recebi uma substituição de pena e já tinha cumprido mais de um ano aos
domingos, das 7:00 às 14:00 h., porque o meu trabalho era no interior. Agora fui
informado que, por decisão judicial, tenho que cumprir todos os dias, uma hora por
dia. Estou cumprindo porque não quero ser preso, mas a minha vida ficou difícil.
Sou viúvo há um ano, tenho um filho de três anos e moramos com a minha mãe,
porque perdi o emprego para poder cumprir a pena e estou recebendo auxílio
desemprego, que já tá pra acabar. Eu acho a pena alternativa uma boa oportunidade
pra quem ainda tem chance de mudar de vida, mas a gente precisa trabalhar”
(P.L.S.Jr. - Instituição: Hospital Geral de Roraima).
“Fiquei feliz quando deixei a cadeia depois de quase cinco meses preso para
cumprir pena alternativa, prestando serviço a comunidade, fiquei perto da minha
mulher, dos meus filho e pude trabalhar para sustentar todos. Fui condenado, acho
que a três anos e seis meses, e já cumpri mais de um ano no hospital, todo domingo,
das oito as treze horas, e agora fui comunicado que o juiz determinou que eu tenho
que cumprir de segunda a sexta-feira, uma hora por dia. Eu disse que não dava,
porque tenho que trabalhar e não posso tirar do sustento dos meus filhos para pagar
transporte todo dia para ir para a instituição pagar pena. Mas não teve jeito, é
decisão, então eu que sou como pedreiro e faço de tudo um pouco na área de
construção civil, acabo fazendo tudo às vezes em dois ou três dias porque não posso
deixar o serviço pela metade, mas assino a freqüência como se eu fosse todos os
dias (O.S.S.- Instituição: Escola Princesa Isabel).
Considerando o art. 46, § 3º, 2ª parte do CP, as tarefas deverão ser cumpridas à razão de
uma hora por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de
trabalho, logo, sete horas semanais distribuídas de acordo com a disponibilidade do
beneficiário. E o § 4º do mesmo artigo ressalta que se a pena substituída for superior a um ano
é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo, porém nunca inferior
à metade da pena privativa de liberdade fixada. Em outras palavras, compreende-se que em
atenção ao § 4º, a carga horária pode chegar até 14 horas.
cumprimento não deve prejudicar a jornada normal de trabalho. No entanto, cumprir uma
hora todos os dias da semana estará expondo este prestador ao descumprimento, pois terá
dificuldades para se ausentar todos os dias do trabalho, bem como terá um gasto adicional
com transporte, situação que agrava sua condição financeira. Além de que a pena ou medida
imposta não cumprirá sua função jurídico-social, pois embora dotada de cunho retributivo,
tendo em vista a imposição do trabalho ao infrator, predomina, nesta sanção, o caráter
ressocializador, pois permite a manutenção do vínculo com o corpo social, ao tempo em que
revela a utilidade da pena, traduzida nas tarefas desempenhadas em prol da sociedade, logo,
não tendo este entendimento, estará, com esta prática, retirando a oportunidade do
beneficiário refletir o delito, como também de contribuir para que se torne um ente de
transformação social.
101
GOMES, Geder Luiz Rocha. A Substituição da Prisão- Alternativas Penais: legitimidade e adequação.
Salvador: Editora Pódium, 2008.
67
“Acredito nas penas alternativas, porém elas precisam e devem ser aplicadas com
especial dose de realismo, verificadas as condições seguras de execução, de modo a
contribuir para a recuperação do infrator e não agravar sua condição sócio-
econômica, o que compromete o resultado esperado e pode ser motivo para novo
conflito entre o infrator e a vítima” (Tânia Maria Vasconcelos Dias – Juíza de
Direito / Boa Vista – RR).
“Acredito que as penas alternativas são viáveis, positivas para os crimes de baixo e
médio potencial ofensivo. Quanto ao nosso estado, é preciso mais empenho,
investimento por parte do poder público para que as penas e medidas alternativas
possam melhor atingir a sua eficácia” (Ísaias Montanari Júnior-Promotor de
Justiça/Boa Vista-RR).
Observa-se que a aplicação das penas alternativas na visão dos operadores do direito é
positiva e adequada ao público alvo de baixo e médio potencial ofensivo, mas necessita de
melhorias no que tange ao monitoramento e fiscalização.
Por outro lado, mister esclarecer que a demanda de processo sob a responsabilidade da
3ª Vara Criminal de Execuções aumentou consideravelmente a partir da publicação da Lei
Complementar nº 107, de 14 de junho de 2006, que alterou a Lei Complementar nº 002, de 22
de setembro de 2003 (anexo), ampliando a competência daquele juízo no que tange à
execução, qual seja, incluiu-se as execuções dos juizados especiais. Essa realidade nos leva a
sugerir que para se atingir maior celeridade processual, se faz necessário a análise da
possibilidade de nomeação de outro juiz para somar com o titular da citada vara, uma vez que
não existe vara especializada para execução de penas e medidas alternativas em Roraima.
102
INFORMAÇOES INFOPEN. Ministério da Justiça. Execução Penal. Sistema Prisional, InfoPen – Estatística,
(12/2007). Disponível em: <www.mj.gov.br>. Acesso em: 22/04/2008.
68
valendo lembrar que Roraima não dispõe de estrutura adequada de políticas permanentes
nesta área.
Das penas e medidas alternativas em execução em 2007, o Estado que se destaca é o Rio
Grande do Sul, com 11.540 beneficiários103, como demonstram o quadro 4 e o gráfico 4.
Gráfico 4
Penas e medidas alternativas em execução nos estados brasileiros
Período: Janeiro a Novembro de 2007
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
1
AP RO AC AL CE BA AM GO MA PI DF
SE ES MG MS SP TO MT PA PB PE PR
RJ RS RN RR SC
Fonte: Ministério da Justiça. Coordenação-Geral do Programa de Fomento às Penas e Medidas Alternativas.
Fevereiro de 2008. Adaptação da autora.
103
Conforme dados do Ministério da Justiça, o termo ‘beneficiário’, latu sensu, refere-se ao sujeito que é
beneficiado pelas alternativas penais à prisão, acrescentando que essa nomenclatura faz parte da prática de
profissionais da área psicossocial e não há uma terminologia ideal correspondente a ‘apenado’ no discurso
técnico-científico, diante da recente prática da execução das alternativas penais. In Manual de Monitoramento
das Penas e Medidas Alternativas. Brasília: Secretaria Nacional de Justiça, Central Nacional de Apoio e
Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas, 2002.
69
1) Educação – que o Estado de Roraima busque fazer parte dos programas federais já
existentes, como por exemplo, o programa de Educação de Jovens e Adultos – EJA, que pode
ser utilizado na aplicação da pena de limitação de fim de semana como escola aberta e o
programa do Primeiro Emprego, que pode também ser adequado ao público alvo local das
PMAs;
CONCLUSÃO
A pena de prisão no contexto jurídico deve ser utilizada como instrumento de ultima
ratio no controle social, em relação aos bens jurídicos relevantes, como garantia a vida, o que
nos permite admitir que apesar de não estar cumprindo com a sua função declarada, ainda não
se pode eliminá-la, devendo ser exclusivamente utilizada para crimes violentos, que causem
riscos à sociedade.
Como aspecto negativo ressalta-se o baixo índice de aplicação das alternativas penais no
ano de 2007. Contribuem para esse fato a falta de apoio dos poderes em não entender pena
alternativa como política publica, sendo imprescindível o papel do Executivo no
monitoramento das PMAs, tanto na esfera municipal quanto estadual.
Nesse aspecto, indica-se que a não observância dos art. 46, § 3º, 2ª parte do CP – onde
afirma que as tarefas deverão ser cumpridas à razão de uma hora por dia de condenação,
fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho – na execução da PSC em
Roraima poderá colocar em risco a eficácia tão almejada das PMAs.
Vale ressaltar que a pesquisa realizada, bem como as sugestões apresentadas partem da
visão enquanto acadêmica de direito e do compromisso e defesa manifesta em prol da
aplicação e execução exitosa das PMAs no Estado de Roraima.
O tema abordado não visa esgotar-se com o presente estudo. Pesquisas posteriores
poderão aprofundá-lo mais no sentido de contribuir para a melhoria da aplicação deste
instituto não apenas no Estado de Roraima, mas sim em toda a federação.
74
REFERÊNCIAS
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Constituição Federal. 4a ed. – São Paulo : Rideel, 2004.
BITENCOURT, Cesar Roberto. Falência da Pena de Prisão – causas e alternativas. São Paulo,
RT, 1999.
BRASIL. Código penal, código de processo penal, Constituição Federal. Annie Joyce
Angher (coord.). 4ª ed. – São Paulo : Rideel, 2004.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 7a ed. São Paulo : Saraiva, 2004.
DELMANTO et. al. Código penal comentado. 6a ed. atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Renovar, 2002.
JESUS, Damásio Evangelista de. Penas alternativas. São Paulo : Saraiva, 1999.
MACHADO, Diogo Marques. Penas alternativas. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 460, 10
out. 2004. Disponível em: <http:/jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5757>. Acesso em:
05/08/2007.
MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas Alternativas. 2a ed. Curitiba: Juruá, 2006.
ANEXOS