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Por Adriano Araújo*

Minha experiência com a pimenta mais ardida do mundo começou anteontem, no café da Redação. Ao ouvir a
conversa entre a Olívia e a Néia sobre a reportagem do Paladar, caí na besteira de dizer que apreciava a tal
iguaria. Pronto! Foi lançado o desafio: – Quero ver você frente à jolokia! – disse Olívia, que apresentava em
sua expressão uma mistura de sentimentos que ia da pena à ansiedade em me ver com a boca “em chamas”.
Naquele momento já não dava para voltar atrás. Tá certo que sou um apreciador de pimenta, wasabi e afins,
mas tratava-se da temida jolokia!
Ontem, ao chegar à Redação, já nem me lembrava do assunto. Liguei meu computador e comecei a trabalhar
tranquilamente, quando percebi um movimento estranho vindo em minha direção.
Um grupinho, liderado pela Olívia com duas jolokias nas mãos, parou em frente à minha mesa, ávido por
presenciar o desafio do século. E eu não tinha a menor chance de escapar, estava cercado!
Olhei as duas pimentas: uma tinha um tom intenso de vermelho que só de ver já fiquei corado! A outra era cor
de chocolate, parecia ser ainda mais forte. Então tomei coragem! Peguei a colher, mãos trêmulas, e comecei
a cortar um pequeno pedaço, do tamanho de um grão de arroz. Ouvi alguém dizer: – É muito, vai desmaiar!
Logo formou-se uma plateia ao meu redor.
Fui levando a colher à boca, os momentos felizes de minha vida vieram à mente, como num filme (sensação
descrita por aqueles que se viram à beira de passar dessa para uma melhor) e…nada!
Mastiguei um pedaço da pimenta mais temida do mundo e a sensação era de que havia ingerido uma pimenta
biquinho. Ganhei confiança!
As pessoas ao redor, incrédulas, se lançaram ao desafio! Alguns pegaram um pedacinho do tamanho de uma
semente de alpiste e segundos depois estavam chorando, desesperados! Outros fitavam minha expressão facial
na procura por uma lágrima ou qualquer alteração na cor de minhas bochechas. E nada!
Peguei um pedaço maior da jolokia chocolate, que aparentava ser mais potente. Mastiguei com vontade e…
nada!
Uma pequena sensação de anestesia de dentista começou a ocorrer em minha língua, mas nada perto do
pânico que havia tomado conta dos que ousaram compartilhar dessa experiência. Comi outro pedaço, dessa
vez um pouco maior, e nenhuma lágrima ou a coriza típica de quando se come uma pimenta “daquelas”!
As pessoas ao redor ficaram desapontadas e foram embora. A Patrícia, editora do Paladar, dizia que eu não
era humano! Por um instante me tornei um herói! Me senti como Rock Balboa frente ao Apollo Creed no filme
“Rock, o Lutador”. Virei celebridade!
Eu mal podia acreditar que era imune aos efeitos devastadores da “pimenta-fantasma”. Esperei um pouco.
Quando me dei conta de que em minha mesa estavam só eu e as duas pimentas, derrotadas, voltei ao ataque.
Cortei um bom pedaço, cerca de um centímetro, e levei à boca.
Enfim o “diabo da Índia” deu o ar de sua graça! Comecei a sentir ferroadas pela boca. Passei a língua entre os
lábios, mas o ardor não se propagou. Senti o ardor subindo para as narinas, semelhante ao que se sente ao
comer wasabi. Percebi um leve sorriso em minha face.
A jolokia existe mesmo!

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