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Uma Entrevista Explosiva
Uma Entrevista Explosiva
E verdadeira
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26 de junho de 2010
Enquanto o English Team sofria para passar às oitavas contra a Eslovênia, o escocês Andrew Jennings
desfiava o sarcasmo adquirido ao longo da vida de repórter investigativo na Inglaterra, na BBC e em
grandes jornais. Com a pontaria muito mais calibrada que a dos artilheiros desta Copa do Mundo, o
jornalista vai relatando casos de corrupção que apurou para produzir seus três livros sobre o Comitê
Olímpico Internacional (COI) e outro sobre a Federação Internacional de Futebol (Fifa) – mesmo sendo o
único jornalista do mundo banido das coletivas da entidade desde 2003.
O jornalista inglês Andrew Jennings relata em livro casos de corrupção dentro da Fifa
Um dos escândalos relatados por ele em 2006, no livro Foul! The Secret World of Fifa (não traduzido no
Brasil), teve um desfecho na sexta-feira. Altos dirigentes da organização máxima do futebol receberam
propina, admitiu a Justiça suíça. Mas eles não serão punidos porque a lei do país, que é sede da Fifa,
permitia o “bicho” na época.
Os figurões pagarão apenas os custos legais e suas identidades não serão reveladas. “É por isso que meu
segundo livro sobre o tema será uma comparação da Fifa com o crime organizado”, conta. Ele optou por
publicar a obra depois das eleições na entidade, em maio de 2011, embora duvide que alguém vá enfrentar
o dono da bola, Joseph Blatter. “Ninguém ousa desafiar a Fifa porque eles controlam o dinheiro. E a
imprensa cala”, dispara Jennings.
Por quê?
É difícil saber. Se um país relevante enfrentasse a Fifa ela recuaria. Ou você acha ela excluiria o Brasil de
uma Copa? Eles conseguem enganar países pequenos, esquecidos pelo mundo. Mas, se o Brasil dissesse
não à corrupção, provavelmente a América Latina se uniria a vocês. E você acha que esses líderes latino-
americanos nunca discutiram a possibilidade de um levante, de fazer o que os europeus já deveriam ter
feito há tempos? Acho que lhes falta coragem.
Sabendo de tudo isso o senhor ainda consegue curtir o futebol, se divertir com ele?
Sim, porque a corrupção não está tão infiltrada nos jogos, embora chegue a essa ponta também. Ela fica
mais nos bastidores. Há exceções, como na Copa de 2002, em que a Espanha e a Itália foram roubadas
grotescamente. Era importante para a Fifa que a Coreia do Sul passasse adiante. Não foi culpa dos
jogadores, mas as razões políticas e econômicas se impuseram. Na Coreia, o beisebol é mais popular do
que o futebol. Se eles fossem desclassificados, os estádios se esvaziariam. Neste ano, todos ficaram de olho
nos jogos de times africanos. Blatter também precisa de um time do continente nas oitavas. A questão é
que, quando assistimos às partidas, assistimos aos atletas, ao esporte, então, é possível confiar. É fácil punir
um árbitro corrupto e a maioria não é corrompida.
A corrupção no futebol começa nos clubes e se espalha ou vem de cima para baixo?
Sempre haverá um nível de roubalheira em todas os escalões. Para isso temos leis e, às vezes, conseguimos
aplicá-las. Mas a pior corrupção está na liderança mundial. Quase todos os países assinam tratados
internacionais anticorrupção, mas não fazem nada quanto aos desmandos da Fifa e do COI. E, quando
algum governante tenta ir atrás de dirigentes de futebol corruptos, a Fifa ameaça suspender o país. Só que
ela faz isso com os pequenos. Fizeram isso com Antígua! Suspenderam o país minúsculo que ousou
processar o dirigente nacional. Ninguém falou nada. Eu escrevi sobre isso porque tenho fãs lá que me
avisaram do caso.
Três de seus livros são sobre as Olimpíadas. As falcatruas acontecem em qualquer esporte ou são
predominantes no futebol?
Sou cuidadoso ao falar disso. Sei que a liderança da Fifa é muito corrupta – e venho publicando isso há
mais de dez anos sem que eles tenham me processado nem uma vez sequer, o que diz muito. O COI era
muito pior sob o comando de Juan Antonio Samaranch (morto em abril deste ano), que presidiu a entidade
de 1980 a 2001. Ele era um fascista e o fascismo é, além de tudo, uma pirâmide de corrupção. Samaranch
trabalhou ao lado do generalíssimo Franco. Essa cultura franquista e fascista se transformou em uma
cultura gângster.