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Todos os dias, dos navios que chegam a Ilhéus, município baiano com litoral mais
extenso, desembarcam mulheres de todas as raças e cores vindas da Bahia, de Aracaju,
Recife e até do Rio de Janeiro. A notícia de que o cacau estava em alta correu por todo o
país e atraiu mulheres perdidas que pretendem se dar bem na vida através da
prostituição, visto que os grandes coronéis produtores deste fruto esbanjam seus mil-réis
entre bebedeiras, jogos de azar e, principalmente, raparigas. Os quatro cabarés da
pequena cidade vivem cheios de mulheres que deixaram suas pacatas cidades querendo
enriquecer fácil.
E é nesse clima de euforia que mulheres e fazendeiros vão perdendo suas vidas
entregando-as aos prazeres fáceis e passageiros. Até quando tudo isso vai durar, não se
sabe. Mas é certo que quando o dinheiro acabar, Ilhéus será sempre lembrado na história
da Bahia como o lugar da curtição desenfreada que, mais cedo ou mais tarde,
transformará rebolantes mulheres e coronéis fanfarrões em pobres miseráveis.
Antigo chefe dos “Capitães da Areia” deixa a criminalidade para incitar nos
jovens a busca pela liberdade
Pedro Bala sempre quis ser como seu pai (Raimundo, conhecido como Loiro), um pobre
estivador que viveu e morreu lutando pela defesa dos direitos dos trabalhadores das
docas de Salvador. O espírito de liderança em combate à exploração e em busca de uma
vida mais digna e justa foi a única herança que Loiro deixou para Pedro Bala, que a
aceitou muito bem. Bala queria também fazer história e era fascinado pela chance de ser
lembrado e aclamado por gerações futuras pelos seus atos.
Depois que os “Capitães da Areia” foram descobrindo novos rumos para suas vidas,
Bala viu que era a hora de largar o crime para fazer aquilo com que realmente sonhava:
lutar pela igualdade social. Com a ajuda de amigos de seu pai, Pedro Bala hoje participa
de movimentos grevistas e da organização de reuniões e comícios de propagação do
comunismo. Agora, Bala viaja pelo Nordeste e sai a procurar grupos de jovens que,
assim como eram os “Capitães da Areia”, vivem da bandidagem para incentivá-los a
mudar de vida por meio das organizações grevistas.
O trabalho que Pedro Bala realiza atualmente só confirma o que muitos sempre
acreditaram: jovens delinquentes só estão nessa vida porque não receberam
oportunidades para fazerem o que de fato sonhavam. Nenhum deles queria precisar
viver do roubo, mas infelizmente foi a única opção que haviam encontrado. Pedro Bala,
além de ser um exemplo de como a vida de gente marginalizada pode mudar para
melhor, ainda trabalha na mobilização e conscientização social que tem revolucionado a
vida de jovens por todo o sertão nordestino.