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A Farra de Ilhéus

Coronéis e prostitutas se entregam à boemia na cidade do cacau

Todos os dias, dos navios que chegam a Ilhéus, município baiano com litoral mais
extenso, desembarcam mulheres de todas as raças e cores vindas da Bahia, de Aracaju,
Recife e até do Rio de Janeiro. A notícia de que o cacau estava em alta correu por todo o
país e atraiu mulheres perdidas que pretendem se dar bem na vida através da
prostituição, visto que os grandes coronéis produtores deste fruto esbanjam seus mil-réis
entre bebedeiras, jogos de azar e, principalmente, raparigas. Os quatro cabarés da
pequena cidade vivem cheios de mulheres que deixaram suas pacatas cidades querendo
enriquecer fácil.

No cabaré Bataclan, são as mulheres pernambucanas e sergipanas que garantem a


devassa diversão não só dos coronéis, como também dos estudantes em férias, que o
apelidam de Escola. Estes não têm tanto dinheiro quanto aqueles, mas conseguem
oferecer mais amor às prostitutas. Já no cabaré Trianon, ex-Vesúvio e mais luxuoso dos
cabarés, são as cariocas que comandam a farra.

No cabaré Far-West, os beijos e o estalo das garrafas de champanha se misturam com os


tiros e o barulho das brigas, pois é o cabaré dos capatazes e pequenos fazendeiros de
repente enriquecidos. Lá, as prostitutas ora ganhavam joias, ora podiam ganhar um tiro.
O cabaré da Brama de Aracaju ficou desprovido de mulheres depois que as raparigas de
lá vieram para o cabaré El-Dorado, fazendo a festa dos viajantes.

E é nesse clima de euforia que mulheres e fazendeiros vão perdendo suas vidas
entregando-as aos prazeres fáceis e passageiros. Até quando tudo isso vai durar, não se
sabe. Mas é certo que quando o dinheiro acabar, Ilhéus será sempre lembrado na história
da Bahia como o lugar da curtição desenfreada que, mais cedo ou mais tarde,
transformará rebolantes mulheres e coronéis fanfarrões em pobres miseráveis.
Antigo chefe dos “Capitães da Areia” deixa a criminalidade para incitar nos
jovens a busca pela liberdade

Pedro Bala espalha ideais comunistas e grevistas no sertão nordestino

O já extinto grupo de jovens delinquentes popularmente conhecido como “Capitães da


Areia” tem revelado grandes personalidades desde a sua dissolução. Meninos de rua
maltrapilhos encontraram uma segunda alternativa depois que optaram por outras
formas de vida, que vão desde o clero até o cangaço, passando pelas artes. No meio
desses jovens mudados, um em especial tem ganhado destaque por seus ideais políticos
de liberdade e igualdade: Pedro Bala. Depois de ter chefiado o bando que aterrorizou as
ruas de Salvador por muito tempo, ele tem mostrado um lado que antes era oprimido
pelos delitos que a necessidade o obrigava a cometer. Talvez devido ao longo tempo em
que Bala conviveu com crianças e adolescentes sem família nem oportunidades e viu de
perto a situação em que elas se encontravam, sua mentalidade tenha percebido que o
que motivava os atos criminosos dos jovens era a desigualdade social, que impedia a
sobrevivência deles senão através da bandidagem.

Pedro Bala sempre quis ser como seu pai (Raimundo, conhecido como Loiro), um pobre
estivador que viveu e morreu lutando pela defesa dos direitos dos trabalhadores das
docas de Salvador. O espírito de liderança em combate à exploração e em busca de uma
vida mais digna e justa foi a única herança que Loiro deixou para Pedro Bala, que a
aceitou muito bem. Bala queria também fazer história e era fascinado pela chance de ser
lembrado e aclamado por gerações futuras pelos seus atos.

Depois que os “Capitães da Areia” foram descobrindo novos rumos para suas vidas,
Bala viu que era a hora de largar o crime para fazer aquilo com que realmente sonhava:
lutar pela igualdade social. Com a ajuda de amigos de seu pai, Pedro Bala hoje participa
de movimentos grevistas e da organização de reuniões e comícios de propagação do
comunismo. Agora, Bala viaja pelo Nordeste e sai a procurar grupos de jovens que,
assim como eram os “Capitães da Areia”, vivem da bandidagem para incentivá-los a
mudar de vida por meio das organizações grevistas.

O trabalho que Pedro Bala realiza atualmente só confirma o que muitos sempre
acreditaram: jovens delinquentes só estão nessa vida porque não receberam
oportunidades para fazerem o que de fato sonhavam. Nenhum deles queria precisar
viver do roubo, mas infelizmente foi a única opção que haviam encontrado. Pedro Bala,
além de ser um exemplo de como a vida de gente marginalizada pode mudar para
melhor, ainda trabalha na mobilização e conscientização social que tem revolucionado a
vida de jovens por todo o sertão nordestino.

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