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INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO

Kélita Priscila Ribeiro dos Santos


Fundação Educacional de Barretos
priscilarib@terra.com.br

Kátia Cristina Silva Pereira


Fundação Educacional de Barretos
Kátia_tais@hotmail.com

Sumário: Introdução. 1. Licitação. 1.1.1 Conceito de Licitação. 1.1.2 Obrigatoriedade


de Licitação. 1.1.3. Das exceções do dever de licitar. 1.1.4 Diferença entre Dispensa e
Inexigibilidade de Licitação. 2 Da Inexigibilidade de Licitação. 2.1 Da caracterização da
Inexigibilidade. 2.2 Das hipóteses trazidas pelo art. 25 da Lei 8.666/93. 2.2.1.
Fornecedor ou produtor exclusivo. 2.2.2 Serviços técnicos profissionais especializados.
2.2.3 Contratação de artistas consagrados pela crítica ou pelo público. 2.3 Da motivação
da Inexigibilidade. 2.4 Da responsabilidade. Conclusão. Referências bibliográficas.

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar alguns aspectos da Lei 8.666/93,
traçando conceitos acerca da Licitação, bem como os princípios que norteiam as
contratações administrativas. Embora os contratos administrativos tenham como regra a
obrigatoriedade de licitar, há algumas hipóteses previstas em lei de exceção a esse
dever. Dentre estas hipóteses temos a chamada inexigibilidade de licitação, que é
caracterizada quando há a inviabilidade de competição. O art. de forma exemplificativa
traz algumas hipóteses de caracterização de inexigibilidade de licitação, mediante a
contratação de determinado fornecedor ou produto exclusivo, a contratação de serviços
técnicos profissionais especializados de natureza singular e por fim a contratação de
artistas consagrados pela crítica ou pelo público.

Palavras-chave: Licitação; Contratos Administrativos; Interesse Público; Dispensa;


Inexigibilidade.

Introdução

A Administração Pública em suas atividades deve dirigir-se pelos princípios


da supremacia e da indisponibilidade do interesse público.
Tais princípios tão sabiamente citados por Celso Antônio Bandeira de Mello:
“Todo o sistema de Direito Administrativo a nosso ver se constrói sobre os
mencionados princípios da supremacia do interesse público sobre o particular e
indisponibilidade do interesse público pela Administração”1.
No que diz respeito à supremacia do interesse público sobre o privado:
“Proclama a superioridade do interesse da coletividade firmando a prevalência dele
sobre o do particular, como condição, até mesmo, da sobrevivência e asseguramento
deste último”. Quanto à indisponibilidade dos interesses públicos significa que “na
administração os bens e os interesses não se acham entregues à livre disposição da

1
Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 1998, p. 28.
2

vontade do administrador. Antes, para este, coloca-se a obrigação, o dever de curá-los


nos termos da finalidade a que estão adstritos. É a ordem legal que dispõe sobre ela”. 2
Quando a Administração pública for realizar obras e serviços, fazer compras
e alienar bens, precisa contratar terceiros, e portanto para que essa contratação atenda o
interesse público, deve obedecer um procedimento administrativo obrigatório
denominado Licitação.
Adiante discorreremos acerca dos conceitos de licitação, de sua
obrigatoriedade, as exceções ao dever de licitar e de forma pormenorizada sobre a
inexigibilidade da Licitação.

1.1 Licitação
1.1.1 Conceito de Licitação
Antes de adentrarmos no tema escolhido, necessário se faz trazer alguns
conceitos doutrinários acerca do processo administrativo denominado “Licitação”.
Conforme os ensinamos de Hely Lopes Meirelles a licitação “é o
procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a
proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse. Visa a propiciar iguais
oportunidades aos que desejam contratar com o Poder Público, dentro dos padrões
previamente estabelecidos pela Administração, e atua como fator de eficiência e
moralidade nos negócios administrativos. É o meio técnico-legal de verificação das
melhores condições para a execução de obras e serviços, compra de materiais e
alienação de bens públicos. Realiza-se através de uma sucessão ordenada de atos
vinculantes para a Administração e para os licitantes, sem a observância dos quais é
nulo o procedimento licitatório, e o contrato subseqüente”. 3
Para Celso Antônio Bandeira de Mello é um “procedimento administrativo
pelo qual uma pessoa governamental, pretendendo alienar, adquirir ou locar bens,
realizar obras ou serviços, outorgar concessões, permissões de obra, serviço ou de uso
exclusivo de bem público, segundo condições por ela estipuladas previamente, convoca
interessados na apresentação de propostas, a fim de selecionar a que se revele mais
conveniente em função de parâmetros antecipadamente estabelecidos e divulgados”. 4
Portanto, podemos entender que a Licitação tem como intuito principal
selecionar a proposta mais interessante e vantajosa para o interesse público.

1.1.2 Obrigatoriedade de Licitação

O art. 37, caput e inciso XXI, da Constituição Federal estabelece que:


“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,
compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que
assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos
termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e
econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”.

2
Ob. cit. p.29/33.
3
Licitação e Contrato Administrativo. São Paulo: Malheiros editores, 1999, p. 23.
4
Ob. cit. 373.
3

Com a leitura do referido artigo e ainda observando o disposto nos artigos 1º


e 2º da Lei 8.666/93, observa-se que o procedimento licitatório é obrigatório, conforme
a lição de Hely Lopes Meirelles: “A licitação, isto é, o procedimento administrativo
destinado a selecionar a proposta mais vantajosa, é obrigatória para as contratações que
tenham por objeto obras, serviços compras, alienações, concessões, permissões e
locações”. 5
Acerca da obrigatoriedade de licitar sustenta Marcal Justen Filho6 que “a
Constituição acolheu a presunção (absoluta) de que prévia licitação produz a melhor
contratação – entendida como aquela que assegura a maior vantagem possível à
Administração Pública, com observância do princípio da Isonomia”.
Portanto, consoante a lição de Celso Antônio Bandeira de Mello “o dever de
licitar se impõe e é evidente nas hipóteses em que a entidade apenas está adquirindo,
montando, reformando ou alienando suas instalações ou equipamentos sem que, em tais
operações, haja interferência de qualquer peculiaridade relacionada com as exigências
da atividade negocial que lhe é pertinente”. 7
No mesmo sentido, Odete Medauar8 diz que “O inc. XXI do art. 37 da
Constituição Federal determina que as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que assegure a igualdade de
condições a todos os participantes. Por sua vez, o art. 175 exige licitação para a
concessão e permissão de serviço público. Essa é a regra”.
Por fim, Toshio Mukai fundamenta que “não só em face do direito positivo,
mas também sob o aspecto teórico, não há como deixar de se considerar que a regra é o
dever de licitar, sendo a exceção a livre eleição do co-contratante pela Administração”9.

1.1.3 Das exceções do dever de licitar

A regra é que diante de contratações públicas para a aquisição de bens e a


execução de serviços e obras, deve prevalecer a obrigatoriedade da realização do
processo licitatório. No entanto em determinadas situações excepcionais poderá ocorrer
a dispensa ou a inexigibilidade da licitação.
Todavia, conforme assevera Hely Lopes Meirelles10 “somente a lei pode
desobrigar a Administração, quer autorizando a dispensa de licitação, quando exigível,
quer permitindo a substituição de uma modalidade por outra”.
Marçal Justen Filho11 esclarece a importância de “reconhecer-se, portanto, o
dever do legislador infraconstitucional prever hipóteses de contratação direta, atentando
para os casos em que realizar prévia licitação comprometeria os valores da República,
da moralidade e da isonomia. Diante disso, poderia concluir-se no sentido de que a
disciplina constitucional não consiste em “permitir” contratações diretas como exceção
à regra geral da prévia licitação. Essa solução impunha-se como derivação direta e
inafastável dos demais princípios constitucionais”.
Celso Antonio Bandeira de Mello12 “entretanto, será forçoso reconhecer que
em inúmeros casos a licitação será incompatível com o normal cumprimento do escopo

5
Ob. cit. p. 94
6
Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. São Paulo: Dialética, 1998, p.
204/205.
7
Ob. cit. 382.
8
Direito Administrativo Moderno. São Paulo: Revista dos Tribunais, 199, p. 201.
9
Licitações e Contratos Públicos. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 4.
10
Ob. cit. p. 94.
11
Ob. cit. p.205.
12
Ob. cit. p. 381/382
4

em vista do qual foram criadas. Ora, quem quer os fins não pode negar os
indispensáveis meios. Logo, nestas hipóteses em que o procedimento licitatório
inviabilizaria o desempenho das atividades específicas para as quais foi instituída a
entidade entender-se-á inexigível a licitação. Isto ocorre quando suas aquisições ou
alienações digam respeito ao desempenho de atos tipicamente comerciais,
correspondentes ao próprio objetivo a que a pessoa está proposta e desde que tais atos
demandem a agilidade, a rapidez, o procedimento expedido da vida negocial corrente,
sem o quê haveria comprometimento da boa realização de sua finalidade”.
Ainda Celso Antonio Bandeira de Mello13 entende que “a licitação não é um
fim em si mesmo; é um meio para chegar utilmente a um dado resultado: o travamento
de uma certa relação jurídica. Quando nem mesmo em tese pode cumprir tal função,
seria descabido realizá-la, seria ilógico fazê-lo em face ao interesse jurídico a que se
tem que atender. Diante de situação desta ordem é que se configuram os casos acolhidos
na legislação como de “dispensa” de certame licitatório ou os que terão que ser
considerados como de “inexigibilidade” dele”. Traça também interessantes exemplos:
“Seria inviável, por exemplo, abrir-se um certame licitatório para obter o parecer de um
jurista famoso, os serviços de um consagrado advogado para uma sustentação oral, ou
uma cirurgia a ser efetuada por renomado especialista. Nenhum deles prestar-se-ia a
isto”.
Para estes casos em que o processo licitatório não serviria ou se fosse
utilizado frustaria a consecução do interesse público conforme o entendimento de
Marçal Justen Filho14 “O procedimento licitatório normal conduziria ao sacrifício do
interesse público e não asseguraria a contratação mais vantajosa. Por isso, autoriza-se a
Administração a adotar um outro procedimento, onde formalidades são suprimidas ou
substituídas por outras”. Para estes casos Malçal defende que deve-se adotar a
contratação direta de forma que “o administrador está obrigado a seguir um
procedimento administrativo determinado, destinado a assegurar (ainda nesses casos) a
prevalência dos princípios jurídicos fundamentais. Permanece o dever de realizar a
melhor contratação possível, dando tratamento igualitário a todos os possíveis
contratantes”.
Sendo assim, podemos concluir que quando o objeto a ser contratado pela
Administração Publica possui características especiais e ímpares, que apenas
determinado particular possua ou possa fornecer, e ainda diante de um objeto singular
de modo que se torne impossível a realização de uma competição, a regra de licitar
deverá ser deixada de lado.

1.1.4 Diferença entre Dispensa e Inexigibilidade de Licitação

Antes de falarmos mais especificamente acerca da inexigibilidade de


licitação necessário se faz, traçarmos algumas diferenças existentes entre a
inexigibilidade e a dispensa de licitação.
Conforme o entendimento de Odete Medaur15 “a dispensa abrange os casos
em que a situação enseja competitividade sendo possível efetuar licitação, mas a lei
faculta sua não realização. Por isso o rol do art. 24 é considerado taxativo”. Enquanto
que “a inexigibilidade diz respeito às hipóteses em que é inviável a competição. Depois
de mencionar que é inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição, o

13
Ob. cit. p. 383
14
Ob. cit. p. 205
15
Ob. cit. p. 220/223.
5

caput do art. 25 traz a expressão “em especial” antes de enunciar as respectivas


hipóteses, o que tem levado a se cogitar do seu caráter não fechado (não taxativo)”.
Consoante ponderação de Marçal Justen Filho16 “Sob o ponto de vista
lógico, a Lei deveria ter tratado da inexigibilidade antes da dispensa de licitação. É que
a inexigibilidade é conceito que, do ponto de vista teórico, antecede ao de dispensa.
Voltar-se-á à questão a propósito do artigo 25. Porém, pode-se afirmar que a dispensa
pressupõe uma licitação “exigível”. É inexigível a licitação quando a disputa for
inviável. Havendo viabilidade de disputa é obrigatória a licitação, excetuados os casos
de “dispensa” imposta por lei.
“(...)
“Sob esse ângulo, a inexigibilidade deriva da natureza das coisas, enquanto a
dispensa é produto da vontade legislativa. Esse é o motivo pelo qual as hipóteses de
inexigibilidade, indicadas em lei, são meramente exemplificativas, enquanto que as de
dispensa são exaustivas. É que somente a dispensa de licitação é criada por lei – logo, a
ausência de previsão legislativa impede reconhecimento de dispensa de licitação”.

2. Da Inexigibilidade de Licitação

2.1. Da caracterização da Inexigibilidade

A Inexigibilidade da licitação está prevista no art. 25 da Lei 8.666/93, que


diz: “É inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição”.
Os incisos do art. 25 trazem um rol exemplificativo de hipóteses em que
poderá ocorrer a inexigibilidade de licitação, portanto logo podemos concluir que
poderão existir outras diversas situações em que estará caracterizada a inexigibilidade.
Nesse sentido, Marçal Justen Filho17: “o legislador reconheceu a impossibilidade de
promover um elenco exaustivo, por ser logicamente impossível antever todas as
situações em que ocorrerá a inviabilidade da competição. Por isso, ainda que a lei
indique situações de inexigibilidade, o rol normativo tem natureza exemplificativo”.
Quanto à inviabilidade de competição prevista no art. 25, Toshio Mukai18
esclarece que a mesma “deve ser suficiente e bem fundamentada, demonstrando-se a
existência de uma real e efetiva inviabilidade de competição”.
Sustenta J. Cretella Júnior19 que “inviabilidade de competição, ‘lato sensu’, é
o certame em que um dos contendores reúne qualidades tais que se torna único,
exclusivo, sui generis, a tal ponto que inibe os demais licitantes, sem condições
competitivas”.
No dizer de Hely Lopes Meirelles20 “a licitação é inexigível em razão da
impossibilidade jurídica de se instaurar competição entre eventuais interessados, pois
não se pode pretender melhor proposta quando apenas um é proprietário do bem
ensejado pelo Poder Público, ou reconhecidamente capaz de atender às exigências da
Administração no que concerne a realização do objeto do contrato”.

2.2 Das hipóteses trazidas pelo art. 25 da Lei 8.666/93

2.2.1 Fornecedor ou produtor exclusivo

16
Ob. cit. p. 211.
17
Ob. cit. p. 251.
18
Ob. cit. p. 45.
19
Das Licitações Públicas. Rio de Janeiro: Forense, 1993, p. 190.
20
Ob. cit. p.108.
6

A primeira hipótese exemplificativa prevista no art. 25 é a seguinte:


“I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser
fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a
preferência de marca, devendo a comprovação de exclusividade ser feita através de
atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se realizaria a
licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal,
ou, ainda, pelas entidades equivalentes;”
Quando a Administração for adquirir materiais, equipamentos ou gêneros
que só possam ser exclusivamente fornecidos por determinado produtor ou vendedor,
seria inútil a licitação diante da impossibilidade de competição da qualidade do produto
e do preço.
Marçal Justen Filho21 sustenta que “a contratação com fornecedor exclusivo
envolve, normalmente, os casos em que a Administração somente poderá adquirir o
produto de um fornecedor específico. A regulação legal abrange os casos em que existir
pluralidade de produtos aptos a satisfazerem o interesse público, mas todos eles sujeitos
à venda pelo mesmo e único fornecedor”.
A exclusividade de produtor-vendedor não deve ser confundido com a
exclusividade comercial, por isso estamos de acordo com Flávia Cristina Moura de
Andrade22 quando afirma que “a primeira sempre gera a inexigibilidade, Já a segunda
depende de se aferir acerca da exclusividade do vendedor na praça de comércio em que
se esteja realizando a licitação. Em caso positivo, estaremos diante de um caso de
inexigibilidade; se negativo, não”.
A lei de Licitações não permite que ocorra a chamada preferência de marca,
sendo que só há exceção quando a aquisição dos produtos visem atender a padronização
exigida pelas Forças Armadas, como afirma Hely Lopes Meirelles23: “a atual lei não
mais permite a dispensa de licitação para a aquisição de produtos padronizados, salvo
quando destinados ao apoio logístico das Forças Armadas, excluídos os materiais de uso
pessoal e administrativo. Nestas condições, o raciocínio do autor só pode prevalecer
quando a escolha da marca, devidamente justificada, visa a garantir a uniformização de
produtos estratégicos destinados ao apoio logístico dos meios navais, aéreos e
terrestres”.
Acerca da preferência de marca, importantes são as ponderações de J.
Cretella Júnior24 “Entendemos possível essa aquisição em três hipóteses: para
continuidade de utilização da marca já existentes; para padronização de marca ou tipo
no serviço público. O essencial é que a Administração demonstre a efetiva vantagem de
determinada marca ou tipo, para continuidade, adoção ou padronização em seus órgãos
e serviços, com exclusividade”.

2.2.2 Serviços técnicos profissionais especializados

“Art. 25, II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13


desta Lei, de natureza singular, com profissionais ou empresas de notória
especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação;”
Desde já vejamos os serviços técnicos profissionais previstos no art. 13:

21
Ob. cit. 258.
22
Elementos do Direito – Direito Administrativo. São Paulo: Editora Premier, 2006, p.123.
23
Ob. cit. p. 107.
24
Pb. Cit. p. 191.
7

"Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos


profissionais especializados os trabalhos relativos a:
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou
executivos;
II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou
tributárias;
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII - restauração de obras de arte e bens de valor histórico."
Os serviços técnicos profissionais especializados para que gerem a
inexigibilidade devem ser prestados por profissionais que tenham características
peculiares que os diferencie dos demais, além da habilitação técnica, é o que a doutrina
denomina por serviços de natureza singular.
Acerca da singularidade dos serviços técnicos, Celso Antônio25 entende que
“a singularidade é relevante e um serviço deve ser havido como singular quando nele
tem de interferir, como requisito de satisfatório atendimento da necessidade
administrativa, um componente criativo de seu autor, envolvendo o estilo, o traço, a
engenhosidade, a especial habilidade, a contribuição intelectual, artística, ou a argúcia
de quem o executa, atributos, estes, que são precisamente os que a Administração reputa
convenientes e necessita para a satisfação do interesse público em causa”.
Conforme bem observa Marçal Justen Filho26 “a natureza singular não é
propriamente do serviço, mas do interesse público. (...) A questão da singularidade varia
conforme o tipo de serviço enfocado e a necessidade pública a ser atendida”.
Ainda quanto à contratação de serviços técnicos profissionais é necessário o
requisito “notória especialização”. A respeito do requisito sustenta Marçal Justen
Filho27 que “não se exige que o profissional tenha conhecimento de sua capacitação e
especialização perante toda a comunidade. Exige-se, isto sim, que se trate de
profissional destacado e respeitado no seio da comunidade de especialistas em que atua
(...). Quer-se que, no mínimo, sua especialização seja conhecida e reconhecida no meio
especializado em que desenvolve sua atividade específica”.
Quanto à possibilidade de contratação de serviços advocatícios, como muito
bem exemplifica Marçal Justen Filho28, “não é necessário contratar o melhor advogado
do Brasil (supondo-se possível qualificar um profissional nesses termos) para atender
uma pequena questão. A atuação desse grande causídico seria, sem dúvida, a solução
mais adequada e satisfatória para aquela questão. Mas não haveria sentido em pagar
honorários profissionais em valor tão elevado que poderiam superar a própria dimensão
do litígio”.

2.2.3 Contratação de artistas consagrados pela crítica ou pelo público

“Art. 25, III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico,


diretamente ou através de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica
especializada ou pela opinião pública”.

25
Ob. cit. p. 391.
26
Ob. cit. p. 262.
27
Ob. cit. p.265.
28
Ob. cit. p. 266.
8

Para que a licitação seja inexigível diante da contratação de artistas é


necessário que os mesmos sejam consagrados pela crítica especializada ou pela opinião
pública. Por isso conclui J. Cretella Júnior29 que “se o artista tem grande valor e
sensibilidade, mas é desconhecido, não pode ser escolhido, a não ser por concurso. O
que interessa é a crítica especializada e a opinião pública atual”.
Assim, se o artista tem a consagração do público e da crítica sua contratação
é licita mesmo sem o procedimento licitatório.
A respeito desse tipo de contratação afirma Marçal Justen Filho30 que “como
regra, não compete ao Estado contratar profissionais do setor artístico. O
desenvolvimento de atividades artísticas compete à iniciativa privada, ainda que ao
Estado incumba fomentar as diversas manifestações nesse campo. Portanto, somente
quando se fizer necessária a contratação de profissionais para desenvolvimento de
atividades de satisfação do interesse público é que se poderá aplicar o dispositivo”.

2.3 Da motivação da Inexigibilidade

Atualmente todos os atos de inexigibilidade deverão ser motivados,


conforme determinação expressa do art. 50, IV, da Lei 9.784/99, que exige motivação
para qualquer ato administrativo que dispense ou torne inexigível uma licitação, senão
vejamos:
“Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos
fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:
IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório;”

2.4 Da responsabilidade

Nas hipóteses de dispensa e inexigibilidade, comprovado superfaturamento,


respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda Pública o fornecedor ou o
prestador de serviços e o agente público responsável, sem prejuízos de outras sanções
legais cabíveis, conforme disposto art. 25, § 2º, senão vejamos:
“Na hipótese deste artigo e em qualquer dos casos de dispensa, se
comprovado superfaturamento, respondem solidariamente pelo dano causado à Fazenda
Pública o fornecedor ou o prestador de serviços e o agente público responsável, sem
prejuízo de outras sanções legais cabíveis”.
Para J. Cretella Júnior31 o superfaturamento “é o pagamento de preços
exorbitantes pelo Estado, em decorrência de obras, serviços ou fornecimento, cujo preço
de mercado é muito inferior ou realmente entregue ao fornecedor ou ao prestador de
serviços públicos”.
Ainda quanto ao superfaturamento como bem observa Marçal Junten Filho32
“também pode ser interpretado como elevação arbitrária do valor do contrato, tendo em
vista os valores praticados pelo próprio contratado em negociações com terceiros. Se
alguém vende no mercado um bem por preço determinado, não poderá elevar os preços
simplesmente por estar contratando com a Administração Pública”.
Para que fique caracterizado, no caso do agente a responsabilização é
necessário a comprovação da culpa e a violação dos deveres decorrentes de sua função.

29
Ob. cit. p. 195.
30
Ob. cit. p. 266.
31
Ob. cit. p.195.
32
Ob. cit. p. 268.
9

Portanto, em ocorrendo o superfaturamento os responsáveis deverão repor


aos cofres públicos o montante recebido a maior.

Considerações finais

Diante de tudo o que fora explanado, podemos concluir que a Lei de


Licitações, visa garantir primordialmente o interesse público, quando das contratações
da Administração.
Não seria diferente nos casos em que há a hipótese de exceção ao dever de
licitar, tais como a inexigibilidade de licitação.
Sendo possível contratar diretamente sem a necessidade de efetuar o
processo licitatório, ainda assim os princípios da supremacia e da indisponibilidade do
interesse público devem ser os norteadores da Administração.
Portanto podemos concluir que embora a Administração tenha liberdade no
momento de suas contratações, essa liberdade deve fundamentar-se nos referidos
princípios, quais sejam os princípios da Supremacia e da indisponibilidade do Interesse
Público e não em mera satisfação ou preferência do administrador.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Flávia Cristina Moura de. Elementos do Direito – Direito


Administrativo. São Paulo: Editora Premier, 2006.

CRETELLA JÚNIOR, José. Das Licitações Públicas. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos


Administrativos. São Paulo: Editora Dialética, 1998.

MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. São Paulo: Revista dos


Tribunais, 1999.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros


Editores, 1998.

MEIRELLES, Hely Lopes. Licitação e Contrato Administrativo. São Paulo:


Malheiros Editores, 1999.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo:
Malheiros, 1999.

MUKAI, Toshio. Licitações e Contratos Públicos. São Paulo: Saraiva, 1999.

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