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PSICOLOGIA PROFUNDA E RELIGIÃO

POR

LEONARDO GUIMARÃES DA SILVA

Trabalho apresentado ao cumprimento das exigências do GQ1 da

disciplina Psicologia da Religião do curso de Teologia

ministrada pela professora

Luciene Bastos

Seminário Teológico Batista Carioca

Setembro

2010
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A corrente que se denomina em sentido amplo “psicologia profunda”


defende a existência de uma dimensão inconsciente na personalidade, à qual
dá um papel primordial em sua dinâmica. Freud afirmava que se é psicanalista
somente quando se admite: a existência, o recalque, a importância da
sexualidade e o complexo de Édipo. Mas esses princípios não foram aceitos
por todos os seus discípulos.

A psicologia profunda teve uma repercussão extraordinária no


desenvolvimento da psicologia da religião ao longo de sua historia. No
momento de apresentá-la, devemos superar uma dupla dificuldade: de um
lado, os preconceitos que a psicologia profunda desperta em muitos, que vão
desde a recusa global de suas contribuições até a aceitação mais cordial, mas
a crítica na maioria dos casos, motivada por posições prévias; de outro, a
pluralidade de autores e escolas dentro dessa corrente de pensamento.

Freud foi apaixonadamente preocupado com o tema religioso, ao qual


dedicou integralmente cinco de suas maiores obras.

Na etapa pré-psicanalista Freud articula sua teoria, a firmação da base


inorgânica da neurose, diante das ideias generalizadas na Viena de sua época,
e utiliza a hipnose como método terapêutico, não só buscando remediar os
sintomas de sua paciente em questão, mas como instrumento para a busca
das causas que os geram.

A primeira etapa psicanalítica é o período mais rico em descobertas da


história da psicanálise. Nele, a partir da contribuição da análise de seus
pacientes, Freud cria a base teórica de seu pensamento e de sua técnica
terapêutica, formulando os princípios da psicanálise: assinala a existência do
inconsciente e busca o papel que desempenha no homem; observa-se a
existência de uma energia psíquica origem do instinto sexual, a qual denomina
“libido”; formula o complexo de Édipo.

Para Freud a experiência religiosa parte de uma fantasia de onipotência,


provocada pelo desejo de imortalidade, de absoluto, de transcendência, diante
da frustração e da angústia criadas pela realidade. Esse desejo interno projeta-
se para fora criando a religião.

É na segunda etapa psicanalítica que Freud realiza seus estudos sobre


a origem da religião. Em 1907, dedica a esse tema um artigo para uma revista,
“Atos obsessivos e práticas religiosas”, no qual compara as expressões rituais
com os atos rituais das neuroses obsessivas e dá uma primeira explicação
para origem da religião: o sentimento de culpabilidade, originado pela
ambivalência da figura paterna.

A terceira etapa psicanalítica é onde se propõe principalmente duas


questões sobre a religião: para que serve? Que futuro tem?
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Para Freud, o indivíduo compensa as limitações criadas ao princípio de


prazer pela vida social com a ilusão de sentir-se querido pelo líder. Essa
identificação na religião cumprirá uma dupla função compensadora, parte aqui
e parte na promessa da outra vida.

Movido pelo otimismo racionalista e pela crença continua na evolução da


historia, faz uma ode a um futuro mais racional da humanidade, no qual a
religião seja superada pela razão e pela ciência, sendo necessária uma
educação na qual a ilusão religiosa não condicione a possibilidade de um
enfrentamento racional e cientifico da realidade.

C.G.Jung

Desde sua ruptura com Freud, Jung começa a elaborar suas teorias
sobre a estrutura da psique, as quais denomina psicologia analítica. Jung
substitui a palavra “imagem” pelo termo latino imago, por acreditar que o futuro
da percepção humana não é o decalque do objeto exterior projetado em
alguma parte do cérebro, mas a apropriação por parte do sujeito da imagem da
realidade objetiva vivida subjetivamente, tanto em sua dimensão consciente
como na inconsciência.

O símbolo é uma realidade mais complexa, pois é portador de sentido, o


sujeito projeta sobre uma realidade objetiva o sentido último de sua existência,
sendo conformado por uma significação e uma complexidade que faz que, ao
mesmo tempo em que expressa às dimensões profundas do homem, oculta o
que quer expressar.

O símbolo tem uma função de compreender, de totalizar a realidade


psíquica, unificando o consciente e o inconsciente, o racional e o irracional no
homem. Diferentemente do imago, não se refere a uma realidade objetiva, mas
a transcende. A perda de sentido do símbolo, sua redução a signos “objetivos”
por parte da sociedade contemporânea desenraizam o homem de sua
realidade mais profunda, da historia e da realidade social e natural.

Para Jung, a psique é a soma dos processos mentais cuja estrutura


divide-se em quatro estamentos, dois conscientes e dois inconscientes. Aos
dois primeiros denomina “eu” e “persona”. O “eu” é o lugar onde reside a
consciência do próprio existir, do “si mesmo”, aquilo que a pessoa é
conscientemente. O termo “persona” é utilizado em seu sentido original
(máscara usada no teatro grego para representar os papéis). A “persona”
responde às expectativas sociais; são os papéis sociais. Não é a personalidade
do “real” do individuo, mas sua personalidade social. Os outros dois
estamentos são o “inconsciente pessoal” e o “inconsciente coletivo”. O
inconsciente pessoal identifica-se basicamente com o inconsciente freudiano,
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embora não exatamente. Contém essencialmente elementos que foram


conscientes e que, posteriormente, foram esquecidos ou recalcados. Para além
desses conteúdos, as análises de seus pacientes refletem outros conteúdos
inconscientes que não são próprios dos indivíduos concretos, mas do grupo
humano; isso o leva a formular a existência do inconsciente coletivo.

A partir de 1934, Jung pesquisa os vestígios do inconsciente coletivo na


cultura ocidental, como anteriormente havia feito com as primitivas; assim,
analisa sistematicamente a alquimia, os símbolos e os elementos míticos, a
religião etc.

Para Jung, a religião não é aceitação de determinas doutrinas, mas


fundamentalmente uma experiência a partir da qual podem ser formulados
conceitos. A experiência religiosa já não é para ele, como para Freud, uma
etapa infantil na vida do homem, mas uma experiência fundamental do
numinoso, que o põe em relação com as dimensões mais intimas de sua
realidade, com o inconsciente coletivo. Não é, tampouco, uma realidade
patológica, já que no processo de individuação tem a função de amadurecer e
curar.

Quando Jung faz afirmações sobre Deus, elas são ambíguas. Enquanto
em seu ultimo período a experiência de Deus, mas da “imagem de Deus na
alma humana”, ou, o que é a mesma coisa, do “arquétipo de Deus”, suscitando
muitas discussões entre os pesquisadores de sua obra. Ao designar Deus
como arquétipo, o situa nas dimensões mais intimas e inconscientes da
personalidade; só cabe entrar em comunhão com Ele pela experiência e não
pelo conhecimento racional, mas, ao mesmo tempo defende, o objeto de seu
estudo cientifico não está em afirmar a existência de Deus em si mesmo, mas
enquanto presente e operante no homem.

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