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BENEDICTA

O APOSTOLADO EM SEU LAR

VOLUME 01 • NÚMERO 02 • AGOSTO 2020


BENEDICTA

EDITORA DA IRMANDADE DO CARMO


 
Associação Civil Irmandade Nossa Senhora do Carmo
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Conselho Editorial:
Bruno Vieira
Jacqueline Domingues
Kaúla Rocha Araújo
Laura Coradi
Marcos Domingues
 
Revisão:
Camila Severino
 
Diagramação:
Kaúla Rocha Araújo
 

FICHA CATALOGRÁFICA
 
Benedicta, Revista
            V.1, N.2, ago. 2020. Uberlândia. 19p. (1ª edição)
 

Reservados todos os direitos desta obra. Proibida toda e qualquer reprodução sem permissão expressa do Editor-diretor.
Todos os trabalhos com autoria discriminada são de responsabilidade dos autores, não cabendo qualquer responsabilidade
legal sobre seu conteúdo à Revista Benedicta.
Todas as imagens utilizadas são de domínio público.
ÍNDICE

APRESENTAÇÃO
03
FIDES QUAERENS INTELLECTUM

Memento mori 04
A paternidade: a vocação para a
Cruz 07
CATHOLICAE LITTERAE

O Namoro Cristão em um mundo


supersexualizado, do Pe. Thomas
G. Morrow 10
DOMINUS VOBISCUM

A Virgem Gloriosa 13
YSTORIA SANCTI

São Domingos de Gusmão 15


EUTRAPELIAM

Aparições marianas 17
APRESENTAÇÃO
Salve Maria!

A Revista Benedicta é o veículo eletrônico mensal de divulgação católica da Irmandade do Carmo.


Compõe-se por estudos de fiéis da Irmandade e convidados externos que versam sobre Tradição,
Teologia, Política, Magistério, História, Filosofia, Arte e Apologética da Igreja Romana. É um apostolado
para formação espiritual, intelectual e moral dos membros da Irmandade e de todos que desejam fortale-
cimento no caminho da santidade.
O número 02, publicado no mês de agosto e dedicado a Assunção de Nossa Senhora, encontra-se
assim constituído:
Na seção FIDES QUAERENS INTELLECTUM, própria para artigos e ensaios, a preparação cristã para
a morte é abordada por Marcos Domingues em Memento mori. Sendo o evento mais importante da vida, a
morte é condição para que passemos à bem-aventurança eterna ou condenação eterna. Em nosso tempo, a
crença moderna de que o inferno se trata de uma superstição medieval e a pregação pós-conciliar de
perdão incondicional de Nosso Senhor extirpam a esperança de salvação de muitos. Por isso, o Mestre nos
ensina a vigiar e o Magistério nos inspira no exercício do santo temor, basilar para que a morte seja o iní-
cio da beatitude eterna.
Não apenas o Pai Celeste se preocupa com a salvação do cristão, mas o pai carnal também dela deve
ocupar-se. Em A paternidade: a vocação para Cruz, Laura Coradi apresenta os fundamentos da paterni-
dade cristã, versando, sobretudo, acerca da autoridade e do espírito de sacrifício. Esses atributos refletem
algo como uma dupla função da paternidade: é, ao mesmo tempo, instrumento de aperfeiçoamento espiri-
tual da família e meio de santificação do próprio homem. O ofício paternal, à medida que imita Cristo e
os santos pais (especialmente na santidade de São José), agracia o homem com a caminhada para o Calvá-
rio.
Na seção CATHOLICAE LITTERAE¹, dedicada a resenhas de obras de temática católica, Kaúla Rocha
Araújo apresenta o livro O Namoro Cristão em um mundo supersexualizado, do Pe. Thomas G.
Morrow. A obra, publicada em 2003, tem a finalidade de orientar os jovens católicos quanto ao namoro
ao molde cristão e o combate às influências atuais da revolução sexual da década de 1960. Para tanto,
parte da crítica ao namoro mal vivido e do índice crescente de fracassos matrimoniais e apoia-se em ins-
truções práticas para a construção de um relacionamento ao agrado de Cristo, Nosso Senhor.
Em DOMINUS VOBISCUM, seção de homilias e meditações de santos, divulgamos uma homilia do
Pe. Júlio Maria de Lombaerde denominada A Virgem Gloriosa. Essa é dedicada a Assunção de Nossa Se-
nhora, solenidade que remonta ao século IV d. C., sendo uma das festas mais antigas a Virgem Maria. Pe.
Júlio Maria explica o fato histórico da Assunção e também os outros três pormenores nela envolvidos, isto
é, Morte, Ressurreição e Coroação de Nossa Senhora; mistérios antigos da Igreja primitiva e que se torna-
ram dogma de fé.
Adiante, a seção YSTORIA SANCTI deste mês tem por protagonista São Domingos de Gusmão, co-
memorado ao dia 04 de agosto. O Doutor da Igreja e Pai dos dominicanos realizou a perfeita harmonia
entre vida contemplativa e vida ativa. Segundo Deus revela a Santa Catarina de Sena, São Domingos teve
a mesma missão do Verbo Encarnado: proclamou a Verdade e espalhou seus irmãos para pregar pelo
mundo; manteve-se puro e obediente e destinou à salvação das alma sua vida inteira.
Por fim, apresentamos a seção EUTRAPELIAM, de conteúdo lúdico e educativo. Nesta edição, para
celebrar o Reinado de Nossa Senhora, apresentamos um caça-palavras que tematiza as Aparições
marianas.
Boa leitura!
Que Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra, olhe sempre por nós e pela Revista Benedicta.

A Diretoria

¹ Título de seção alterado regimentalmente.

03
FIDES QUAERENS INTELLECTUM

MEMENTO MORI
MARCOS DOMINGUES

O evento mais importante da nossa vida é a ção. Com esse grande remédio espiritual, pode-
morte. As horas que a antecedem serão decisi- remos partir desta vida reconciliados com Jesus
vas para nossa salvação ou condenação eterna. Cristo, o Soberano Juiz que logo nos julgará.
Nesse momento derradeiro, teremos a última Nessas últimas horas, a vida do homem pas-
chance de nos arrependermos de nossos peca- sará diante dele como um filme, fazendo-o re-
dos que tanto ofenderam Nosso Senhor Jesus lembrar como levou uma vida miserável, repleta
Cristo. É nesse momento também que os demô- de ofensas a Deus, e então começará a refletir
nios virão com grande impetuosidade para nos sobre seu destino eterno. Se foi rico, verá que a
acusar os pecados, pretendendo que fraqueje- riqueza lhe foi inútil: em poucos dias seu corpo
mos e caiamos na desesperação final. Nessa úl- estará apodrecido e devorado pelos vermes da
tima batalha, os bandos infernais procurarão terra; se foi famoso, verá também que toda a
fama lhe foi inútil: não demorará para que mal
obscurecer a inteligência do moribundo para
se lembrem dele, e, assim que morrer, seu corpo
que, ao invés de encomendar-se à misericórdia
começará a exalar um odor fétido de tal sorte
divina e recorrer ao auxílio da Santíssima Vir-
que toda a sua fama se transformará imedia-
gem, diga como Caim: “a minha iniquidade é
tamente em repulsa, e tratarão de se livrar dele
muito grande, para que eu mereça perdão”
o quanto antes; se foi poderoso, já no leito de
(Gên. 4,13). Ao ataque dos demônios, ainda
morte o desprezarão como um inválido e não
são acrescentadas a fraqueza das ideias, causa-
raro desejarão que sua morte não demore, por-
da pela própria enfermidade, e as más disposi-
que cobiçam seu posto.
ções remanescentes do hábito do pecado, que
Imediatamente após o último suspiro, a alma
refreiam o ímpeto para uma contrição perfeita. do falecido será conduzida ao julgamento
Santa Teresa de Ávila, em seu leito de mor- particular, chamado Juízo. Nessa hora, o livro
te, pedia a Deus para morrer o mais depressa, da vida será aberto e nenhum detalhe passará
pois temia ainda ofendê-Lo com algum pecado; em vão: nenhuma palavra passará despercebida,
considerava cada minuto sem pecado uma ba- nenhum pensamento passará por oculto,
talha vencida contra o demônio. Se para os nenhuma ação passará por desconhecida. Diante
grandes santos da Igreja a hora da morte é crí- dela, estará um Juiz rigoroso: o próprio Senhor
tica, imaginemos nós a última hora dos pobres Jesus Cristo; atrás, estarão os demônios, como
pecadores. Felizes os que puderem contar com acusadores, e, ao redor, os anjos, prontos a
o precioso auxílio do sacerdote, que adminis- cumprir a sentença. Caso tenha sido devoto de
trará o derradeiro sacramento da Extrema Un- Nossa Senhora, a alma contará com a poderosa

04
Advogada que intercederá para aplacar a justa mais que crenças que dividem relevância com
indignação de seu Filho, que derramou seu tantas outras acerca do destino humano - noção
próprio sangue pelos nossos pecados. Se apesar bastante disseminada pelo indiferentismo
da miserável condição de pecado, a alma se a- religioso —, ainda terá que comparecer ao tri-
presentar diante d’Ele sem pecado mortal, ou- bunal de Cristo no dia do Juízo. Diante da
virá a sentença: “Vinde, bendito de meu Pai, Verdade, essa alma infeliz estará comple-
tomai posse do Reino que vos está preparado tamente desnudada e incapaz de enganar-se a
desde a criação do mundo”. Em contrário, se si mesma; e Jesus então narrará as inúmeras
ousar se apresentar diante d’Ele em pecado ocasiões que lhe concedeu no tempo para que
mortal, ouvirá a dura sentença: “Apartai-vos de conhecesse sua verdadeira religião. Assim tam-
mim, filho ingrato; vá para o fogo eterno junto bém o Senhor mostrará todos os meios que dis-
aos demônios, para sofrer pela eternidade”. De pôs a essa alma para que se salvasse, mas ela,
nada adiantará, nessa hora, recorrer à miseri- tendo negado tão preciosas graças, a preferir a
córdia divina, pois o tempo de misericórdia ha- descrença ou as falsas doutrinas dos homens,
verá terminado no exato momento da morte do por comodidade, respeito humano e apego ao
homem. mundo, não terá como escusar-se nem tam-
Na condenação eterna, a vingança de Deus pouco a quem recorrer. Não terá sequer o auxí-
contra seus inimigos é cumprida. A vingança lio da Bondosa Mãe, Advogada dos indefesos,
divina, contudo, não é um sentimento; trata-se pois que nunca lhe prestou a homenagem de u-
da execução da sua perfeita e reta justiça con- ma única Ave-Maria. 
tra o homem mau e iníquo. Não há aí chance de O homem moderno prefere não pensar nes-
erro. Nenhum condenado ao inferno jamais se sas verdades e evitar refletir sobre a morte e
sentiu injustiçado; todos reconhecem as causas suas implicações sobrenaturais, porque cami-
de suas próprias condenações. Depois de ter nha para o naturalismo; prefereMARCOS
tapar os DOMINGUES
olhos
contemplado Nosso Senhor face a face, em sua para a realidade do Juízo, porque está imbuído
infinita bondade e dignidade, a alma condenada do orgulho de não querer prestar contas a
compreende perfeitamente o seu estado, e até Deus. Quantos, mesmo entre os católicos, vi-
se conduziria voluntariamente ao inferno se o vem despreocupados, como se a morte nunca
desespero de ver abrir sob seus pés as chamas fosse chegar? A crise de fé entre os católicos é
onde será precipitada e consumida pela eterni- assombrosa, de tal modo que já mal distin-
dade não lhe sobrepujasse a razão. O sentimen- guimos um católico de um pagão. A própria e-
to que impera no inferno não é, portanto, o de xistência do inferno é desacreditada no cato-
injustiça, mas o de remorso, que consome a licismo moderno pós-conciliar, que já há muito
alma como um verme que nunca morre (cf. S. tempo abandonou a ortodoxia da fé e preferiu
Mac. 9,44). “Deus me pediu tão pouco — pen- acompanhar as tendências de um mundo pós-
sarão os infelizes — e mesmo nesse pouco fui iluminista, que vê o inferno como uma su-
infiel a Deus e rejeitei sua graça; por tão pouco perstição medieval. Muitos sacerdotes moder-
deixarei de ganhar o Reino dos Céus, e por isso nos, adotando essa linha de pensamento, já não
sofrerei eternamente; preferi os prazeres ilíci- falam do sério risco da condenação eterna.
tos e passageiros do mundo, que de nada me Preferem falar da salvação fácil e ressaltar a
servem agora a não ser para a minha desgraça; misericórdia em detrimento da justiça divina.
preferi a miséria e a escravidão do pecado à Nas missas já não se canta mais o Dies irae;
liberdade e a felicidade eterna”. Do outro lado, preferem algum canto sugestivamente adocica-
estarão os que gozarão da eterna felicidade: do que fale do perdão incondicional de Nosso
foram prudentes em vida, multiplicando o pou- Senhor, sem mover o pecador ao verdadeiro ar-
co que lhes foi confiado, e agora em muito se- rependimento, que, ao contrário do que imagi-
rão recompensados (cf. S. Mat. 25,21). nam, não é um sentimento sugestionado por u-
Essas são verdades ensinadas pela santa ma melodia, e, sim, a compreensão inteligente
religião Católica, verdades que o próprio Cristo da gravidade da ofensa a Deus pelo pecado e a
ensinou e os santos apóstolos pregaram aos firme disposição de não tornar a cometê-lo.
povos. Elas não dependem dos gostos dos ho- Enquanto o modernismo ensina que todos se
mens ou das circunstâncias dos tempos. Que salvarão, muitos santos da Igreja entendiam
ninguém, portanto, engane-se. Mesmo que se que a maior parte das pessoas são condenadas
persuada de que esses ensinamentos não são ao inferno, baseados principalmente nas pala-

05
vras de Nosso Senhor: “Entrai pela porta to temor, mas, se bem compreendido, excita-
estreita, porque larga é a porta e espaçoso o nos a esperança da vida futura na beatitude
caminho que conduzem à perdição e numerosos eterna e o desapego das coisas mundanas.
são os que por aí entram” (S. Mat. 7,13). Tal- Devemos meditar essas verdades e difundi-las
vez o caminho mais curto para o inferno é a- sempre que pudermos, haja vista que poderá
creditar que ele não existe, e é exatamente por ser a causa da salvação de muitos que estão na
aí que o mundo moderno se envereda. Sem a obscuridade do vício e do erro. Tal meditação
noção de um castigo eterno, extingue-se o pri- é poderosíssima para converter o pecador, que
meiro degrau da santificação, que é o santo te- procurará viver retamente, sempre tendo em
mor. Sem o primeiro degrau, muitos jamais su- vista que a hora da morte vem sem aviso, como
birão a escada que leva à vida eterna. ensinou nosso divino Mestre: “Vigiai, pois,
Assim, devemos sempre ter em mente a an- porque não sabeis o dia nem a hora” (S. Mat.
tiga expressão memento mori, tão valiosa e 25,13); “Eis que venho como um ladrão. Bem-
repetida pelos santos, e que resume em poucas aventurado aquele que vigia e guarda os seus
palavras a doutrina da Igreja sobre os novís- vestidos, para que não ande nu, e não vejam a
simos (Morte, Juízo, Paraíso e Inferno). Esse sua fealdade” (Ap. 16,15).
santo exercício nos inspira não somente o san-

Sugestões de conteúdo:

Santo Antônio Maria Claret - Caminho reto e seguro para chegar ao céu
São Leonardo de Porto Maurício – O pequeno número daqueles que se salvam

06
A PATERNIDADE:
A VOCAÇÃO
PARA A CRUZ
LAURA CORADI

“E vós, pais, não deis a vossos filhos motivo de


revolta contra vós, mas educai-os com correções e
advertências que se inspiram no Senhor” (Ef. 6,4)

A família é o sustentáculo da sociedade quista por


Deus; é nela que se geram vidas e que se vivenciam as
virtudes. Deus, se quisesse, poderia vir diretamente a
este mundo, sem passar pelo ventre da Virgem, e
tampouco ter como pai a São José; não precisaria ter
sido Filho. Mas, sendo Pai, assim o quis. Sendo Pai,
deixou-se ser levado à Cruz, vivenciando o Sacrifício.
Deus, portanto, ainda que Autoridade, detentor da Lei,
quis submeter-se à Cruz, ao Sacrifício. Autoridade e
Sacrifício. Eis algumas características que definem o
Pai. De modo análogo, no seio da família há o pai, do
latim pater, cujo significado é “aquele que gera; o-
rienta”; o pai é aquele que carrega, em si, ao mesmo
tempo, a autoridade e o espírito de sacrifício; ou pelo
menos assim deveria sê-lo.
Sacrificar algo por outrem é abnegar-se da indivi-
dualidade e agir regido por um bem exterior a si
mesmo. Segundo o Abade René Bethléem (2019), a
mãe, por sua própria natureza, abnega-se pelo filho
mesmo que este a faça sofrer, mesmo que ele não diga
“mamá” ao proferir as suas primeiras palavras. O pai,
diferentemente, é mais inclinável ao egoísmo, de modo
que necessita do estímulo “papa” para apertar-lhe o
coração e sentir-se compelido a abnegar-se por seu
filho. Isso não significa que o pai não possua em sua
natureza um ímpeto ao sacrifício, mas que este, de
certo modo, precisa ser adubado para florescer or-
denadamente. Caso contrário, “quanta hesitação e fra-
queza na educação de que o pai anda arredio!”
(BRIEUX apud BETHLÉEM, 2019, p. 31).
Forjar-se pai vai na contramão daquilo que vemos
atualmente. Cada vez mais figura-se, nas certidões de
nascimento, a presença do pai incógnito. Vivemos nu-
ma geração de pais incógnitos; numa geração de
divórcios em crescimento exponencial. Aquele que de-
veria ser o alicerce da família não conhece mais o seu
papel dentro do âmbito familiar. Logo, como afeiçoar-
se à função paterna se não se pode amar aquilo que se
lhe é desconhecido?

07
Etimologicamente, atribui-se Para tanto, é basilar ao pai for sábio, também o meu será
o significado de pater tanto para “fugir de mostrar-se dissipador cheio de alegria. Exultarei dentro
o pai quanto ao padre. Ambos o- pelo jogo, pela incúria, pela oci- de mim, quando os teus lábios
rientam, decidem; são como juí- osidade ou por aquela incurável disserem palavras retas” (Pv. 23,
boemia, que faz de um grande
zes. E, para sê-los, é condição 15-16).
número de pessoas, excessiva-
que sejam modelos na tempe- Deus deu aos pais a autoridade
mente ingênuas, o pasto certo de
rança dos afetos e prazeres e na todas as explorações.” sobre seus filhos a fim de auxiliá-
sobriedade dos atos e palavras. (MARCHAL, 1900, p.178, adap- los no alcance da salvação: “Cada
Assim o deve ser pois a forma- tação ortográfica nossa). um se submeta às autoridades
ção dos filhos se constitui a par- constituídas, pois não há auto-
tir do modelo imediato que têm O pai deve aplicar o castigo ridade que não venha de Deus, e
em casa, desse modo, eles devem proporcional às ações indevidas as que existem foram estabele-
ver na figura do pai uma autori- dos filhos, sempre tendo como cidas por Deus. De modo que a-
dade repleta de virtudes. Pe Vi- fim último deixá-los ver a Quem quele que se revolta contra a
tor Marchal (1900) afirma que o realmente ofendem. Por outro la- autoridade, opõe-se à ordem esta-
pai deve esforçar-se por mostrar do, não devem deixar de ser re- belecida por Deus, e os que se o-
o caminho da retidão à sua fa- cíprocos às boas ações praticadas põem atrairão sobre si a condena-
mília, através de um diálogo fir- pelos seus herdeiros, que devem ção” (Rm. 13, 1-2). A autorida-
me, fazendo-lhes conhecer as ser recompensados com um sor- de corresponde a uma verdade da-
virtudes, especialmente através riso no rosto e palavras de admi- divosa porque ela conserva o
de exemplos pessoais. Não se ração, mantendo a coerência e a princípio da responsabilidade mo-
deve confundir a firmeza com a prudência no que se refere à ral e da ordem. Portanto, a auto-
dureza de coração, que se con- proporcionalidade do que é dado. ridade parental é validada à medi-
verte em autoritarismo. O pai, Segundo Pe. Marchal, não se de- da que se configura um prolon-
quando autoritário, não direciona ve recompensar por atos sagra- gamento da moral e da ordem cri-
os seus filhos a Deus, mas quer dos, como dar um presente pelo adas por Deus. Tal sacralização
que eles o vejam como um deus. filho ter feito a primeira comu- da autoridade dos pais justifica o
Por outro lado, quando não há nhão. Deve-se aproveitar a in- quarto mandamento da Lei de
exemplos firmados na ação, res- clinação à imitação para a finali- Deus e serve para que os filhos
tam o falatório e o castigo des- dade de habituação à vida religi- encontrem na família os primeiros
proporcional. São José, de pater- osa. meios necessários para o aperfei-
nidade exemplar, fugiu com Além de procurar ensinar pe- çoamento espiritual. Do mesmo
Nosso Senhor e com a Bem A- lo exemplo, é dever tanto do pai modo, a paternidade também ser-
venturada Sempre Virgem Maria como da mãe buscar educar-se a ve à santificação do próprio ho-
da ameaça de Herodes; levava respeito das Verdades reveladas, mem: “E aquele que receber uma
Jesus à sinagoga aos sábados e pois só pode bem educar aquele criança como esta¹ por causa do
ensinou-o a sua ocupação - car- que As ama, e só se ama aquilo meu nome, recebe a mim” (S.
pinteiro. Foi um pai respeitado, que se conhece. Muitos pais sa- Mat. 18, 5).
porque guiou sua família na o- crificam-se apenas pelo futuro A vida dos santos católicos
bediência a Deus. Logo, se a I- financeiro de seus filhos, anga- também auxilia na formatação da
greja pede aos cristãos a imi- riando esforços para que possam paternidade cristã. Dentre os san-
tação da Sagrada Família, fica cursar uma universidade de ex- tos modernos, não se pode esque-
claro que os pais devem mode- celência; porém, pouco esforço cer de São Luis Martin, cuja pa-
lar-se pela paternidade santa de fazem para que conheçam e ternidade devota, ao lado de sua
São José. queiram buscar a Verdade. Como esposa Santa Zélia, contribuiu pa-
Orienta o catecismo: poderiam levar os jovens a amá- ra que as cinco filhas entrassem
Os pais têm o dever de amar, La, se A conhecem de modo tão para a vida religiosa, sendo a ca-
cuidar e alimentar seus filhos, de ofuscado? Estar educado espiri- çula Santa Teresa do Menino Je-
prover a sua educação religiosa e tual e moralmente é pressuposto sus, grande Doutora da Igreja.
civil, de dar-lhes o bom exem- necessário para formar correta- Também no século XIX, São João
plo, de afastá-los das ocasiões
mente um jovem, pois este pre- Bosco foi exemplo de pai a diver-
de pecado, de corrigi-los nas
cisa sentir-se seguro para seguir sos jovens pertencentes às perife-
suas faltas, e de auxiliá-los a a-
braçar o estado para o qual são a Fé católica. Eis o que Deus fa- rias da Itália. Através de seu mé-
chamados por Deus. la: “Filho meu, se o teu coração todo preventivo, trocou o autori-

¹ Nosso Senhor se refere a uma criança próxima dos discípulos, ao responder-lhes a respeito de “quem é o maior no Reino dos Céus”.

08
tarismo pela amabilidade e pela firmeza. castigo quanto na recompensa. Ademais, deve
Mostrou-se um companheiro e conselheiro aos sempre agir para o agrado de Deus, tendo-O
seus aprendizes, estando tão junto a eles que como condutor de sua vida; sendo influenciado
cada qual pensava que o Santo o amava mais pela humildade e obediência de São José; pela
do que aos outros. devoção de São Luis Martin e pela prudência e
O pai é um educador por natureza e, se não firmeza de São João Bosco.
o é por excelência, eis o resultado da deca- Que São José, São Luis Martin e São João
dência da paternidade ao molde cristão. Para Bosco roguem por todos os pais, para que este-
evitá-la, o pai deve permanecer firme na o- jam cada vez mais atentos à sua missão neste
ração e no estudo, e fomentar o gosto pela Sã mundo: por meio de sua família, carregar sua
doutrina nos filhos. Como um juiz, deve proce- cruz e orientar seus filhos em meio a um
der justamente em todas as suas ações; tanto no mundo tomado pela crise familiar.

Fontes:

BETHLÉEM, Ab. René. Catecismo da Educação. São Paulo: Castela, 2019.


MARCHAL, Pe. Vitor. O homem como deveria sê-lo. Rio de Janeiro: Garnier, 1900.
São Pio X. Catecismo maior de São Pio X. Goiânia: América Ltda., 2015.

09
CATHOLICAE LITTERAE O NAMORO CRISTÃO
EM UM MUNDO
SUPERSEXUALIZADO,
DO PE. THOMAS G.
MORROW
KAÚLA ROCHA ARAÚJO
O livro O Namoro Cristão em um mundo super-
sexualizado foi publicado em 2003 e escrito pelo sacer-
dote estadunidense Thomas G. Morrow¹, doutor em
Teologia Moral. A obra apresenta conselhos práticos
para as diversas etapas do namoro cristão até o casa-
mento, com o propósito de ajudar os jovens católicos a
“sobreviverem alegremente no meio da revolução pós-
sexual”² e construir o relacionamento para agrado de
Cristo, Nosso Senhor. Trata-se de orientações simples
e bem-humoradas, baseadas na experiência de namoro
do próprio Pe. Morrow prévia ao seminário e de sua
posterior atuação como diretor espiritual de grupos so-
bre o namoro cristão e a castidade, compostos por ho-
mens e mulheres solteiros de sua paróquia, em
Washington.
A princípio, o autor discute os problemas envolvi-
dos no namoro mal vivido, como a incompatibilidade
de gênios, a discrepância de padrão de vida, a abertura
à vida sem a contagem de número de filhos e as rela-
ções sociais de cada parte do casal. Essas e diversas
outras questões devem ser discutidas durante o namoro,
que é o tempo para o desenvolvimento da amizade e o
conhecimento do parceiro. Mas, quando se há grande
intimidade física durante o namoro (troca de beijos e
carícias excessivas que, por muitas vezes, levam à rela-
ção sexual fora do casamento), muitos casais se perdem
e deixam de conhecer pontos importantes um sobre o
outro, decorrendo daí, caso venham a contrair matrimô-
nio, a significativa probabilidade de divórcio.
Traçado esse panorama, o primeiro capítulo da obra
tematiza os aspectos fundamentais na escolha de um
bom cônjuge. “A pessoa que você escolhe tem que ser
alguém que o ajude a chegar ao Céu”, afirma o padre.
Por conseguinte, para a escolha, é necessária a graça de
Deus através de uma vida de virtudes e do bom
entendimento do que é o amor. Tal resposta fica expos-

¹ Por desconhecer outras, recomendamos apenas esta obra do autor.


² A fim de não poluir a leitura, a paginação das citações diretas do
texto consta desta nota de rodapé. Segue, respectivamente, a se-
guinte ordem de páginas: 10, 30, 33, 38, 42, 48, 52, 82, 85, 91, 183,
199, 215.

10
ta no capítulo seguinte, a partir da definição de nas o corpo do ser amado. Ela educa os apeti-
quatro tipos de amor, a saber: tes carnais e contribui para a descoberta da
- ágape (amor divino/ caridade): amor que sexualidade do casal após o matrimônio. O se-
transborda, “a entrega incondicional que al- xo deve ser bom e belo, por isso está reservado
guém faz de si mesmo pela pessoa amada”; para o casamento. Todavia, deve-se compre-
- philia (amizade): “é essencialmente uma re- ender que a virtude da castidade aí permanece,
lação baseada na participação em interesse co- pois não possui um fim em si mesma, já que “o
mum”; mais importante é cultivar uma vida de oração,
- storage (afeto): conexão estabelecida a partir uma vida sacramental [...] uma relação tão
do gosto por algo ou alguém, e que geralmente profunda com Deus que nos facilitará viver
surge entre os membros da família; “é o cari- castamente”.
nho que existe entre pai e filho, entre uma O sexto capítulo trata sobre o pudor, cuja
mulher e o seu marido, entre uma moça e sua natureza significa proteger o mistério da pes-
melhor amiga.”; soa e do seu amor. “O pudor preserva a inti-
- eros (paixão): gostar muito, “estar muito midade da pessoa. Designa a recusa de mostrar
contente com alguém ou com alguma coisa”. o que deve ficar oculto. Ordena-se para a cas-
Todos os quatro tipos de amor podem ser tidade, cuja delicadeza proclama. Orienta os o-
desenvolvidos no relacionamento a dois, mas lhares e os gestos em conformidade com a dig-
“só o amor ágape é divino e vivifica todos os nidade das pessoas e os sentimentos que as
outros”. A amizade (philia) deve ser o ponto unem”. Para ilustrar, o autor diz que “a melhor
inicial de um namoro, sendo ela cultivada ou maneira de que o escutem é com o exemplo,
surgindo de forma espontânea; é através dela especialmente com o exemplo de mulheres que
que se descobre se o casal compartilha a tenham a prudência e a capacidade de escolher
mesma fé, a mesma educação, os mesmos valo- o traje apropriado para lugar e ocasião”.
res. É sobre essa base que se edifica um bom Do sétimo ao décimo segundo capítulos, o
casamento. Por meio da percepção e conheci- namoro é analisado à luz do contexto bíblico,
mento do outro é que surge a paixão: o eros de onde se sistematizam estratégias para en-
significa enamorar-se; é uma atração emocio- contrar um bom parceiro e com ele viver de
nal que parece descontrolada, por isso, a ne- forma católica. O autor traz dicas práticas para
cessidade de encontrar-se com o ágape, a fim que o namoro seja uma real escola prepa-
de que se torne estável a paixão, que é boa em ratória para o matrimônio, como a vivência da
si mesma e deve permanecer viva ao longo da vida de oração individual e em casal, a busca
vida conjugal. O afeto (storage) é também de por frequentar bons lugares, o cuidado com a
grande importância durante o namoro e o noi- beleza em ambos; também cita a comunicação
vado. Um gesto afetuoso no lugar adequado é bem estabelecida entre o casal e seu efeito
um belo modo de comunicar o amor, e, se esse facilitador de todo o percurso até o altar.
gesto não se aflora durante o namoro, torna-se No décimo terceiro e no décimo quarto ca-
difícil que venha a se desenvolver sozinho du- pítulos, Pe. Morrow orienta acerca dos pecados
rante o matrimônio. O carinho é uma impor- anteriores ao relacionamento, o recomeço da
tante linguagem do amor e deve ser vivido em vida cristã e o comportamento do católico sol-
cada fase, seja por um sorriso carinhoso, seja teiro. O autor explica que, mesmo depois da
por um breve toque no braço, um abraço. O conversão de um dos membros do casal, é im-
marido e a mulher devem ser capazes de se portante revelar à pessoa amada os pecados
acariciar, abraçar e beijar sem que isso seja um passados, tendo ciência de que o recomeço se
prelúdio ao ato sexual. dá pela misericórdia de Deus em perdoar todas
Os próximos três capítulos abordam a im- as faltas cometidas se há um arrependimento
portância do namoro casto e como bem vivê- sincero. Ele aconselha a entrega irrestrita à
lo. Faz-se preciso cautela nos abraços, beijos e misericórdia e a busca da conversão diária, que
carícias, para que não deixe de ser um carinho gera bons frutos para a vida de oração; e a vi-
terno e vire fonte de excitação para o casal. vência do tempo de Deus para cada pessoa. A
Nada mais sensato do que deixar os beijos de leitura sobre a vida e os escritos dos santos é
língua e os abraços apertados e prolongados um grande auxílio para quem deseja progredir
para depois do casamento. A castidade traz na vida espiritual e fazê-lo enquanto se está
consigo a graça de conhecer a alma e não ape- solteiro ajuda a centralizar a vida na busca da 

11
salvação eterna, que é o fim último do cristão. em cada uma das cerimônias: "O sacramento do
Os últimos quatro capítulos tematizam, por matrimônio é algo grande, mas Deus o é ainda
meio de breve explanação, o matrimônio. Os mais.”. Com isso em mente, o casal deve pre-
capítulos décimo quarto e décimo quinto tratam parar-se e fazer as escolhas sensatas.
especificamente sobre o matrimônio cristão e O sacerdote Thomas Morrow traz, nesse li-
apresentam orientações para a boa vivência do vro, um compilado de dicas práticas, tanto ao
mesmo. “Rezem juntos todas as noites. E pro- homem quanto à mulher, para o estabeleci-
metam ambos, muito antes de se casarem, que mento da ideal vivência a dois. Com a clareza e
irão procurar um sacerdote de bom critério e a concretude próprias da linguagem sacerdotal,
piedoso, se surgirem problemas reais na sua ele discute temas complexos para os jovens a
vida conjugal”. Além disso, “Consideremos os fim de defender a possibilidade de se viver o
filhos como um dom precioso de Deus, ‘o su- namoro verdadeiramente cristão mesmo nos
premo dom do matrimônio’. Os pais sejam tempos atuais. Suas dicas encontram respaldo
generosos aceitando os filhos que o Senhor en- na moralidade atemporal da cristandade, e a
via, sabendo que eles e a inocência são a me- mais fundamental delas se centra na vida de o-
lhor arma para o mundo”. No décimo sexto e ração, cujo início deve anteceder o namoro e se
décimo sétimo capítulos, de forma mais apro- estender por toda a vida matrimonial, para que
fundada, abordam-se o noivado e o dia do ca- ela nunca se aparte da direção da caminhada
samento com orientações para as bênçãos dadas rumo ao Céu.

Edição resenhada:

MORROW, Thomas G. O namoro cristão - em um mundo supersexualizado. 3ed. São Paulo:


Quadrante, 2015. 224p.

12
DOMINUS VOBISCUM

A VIRGEM GLORIOSA
PE. JÚLIO MARIA DE LOMBAERDE

No dia da gloriosa Assunção de Maria², a Na ocasião de Pentecostes, Maria Sma. ti-


Igreja faz recitar o Evangelho de Marta e Ma- nha mais ou menos 47 anos de idade.
ria², que parece não ter relação com o mistério Permaneceu ainda 25 anos na terra, para
da festa. formar e educar, por assim dizer, a Igreja nas-
Desenganemo-nos. Marta e Madalena são cente, como outrora ela dirigira a infância do
duas irmãs, duas santas, cujas vidas simbolizam Filho de Deus.
a lida da terra e a contemplação do céu. Terminou a sua carreira mortal na idade de
Marta é o símbolo da atividade terrestre. 72 anos.
Maria Madalena é o símbolo da contempla- A Sua morte foi suave, como o tinha sido a
ção celeste. sua vida: ela vivera de amor; devia morrer de
O Salvador não censura Marta pela ativida- amor.
de; mas diz que a parte escolhida por Madalena Os Apóstolos que ainda não haviam sofrido
é a melhor. o martírio foram, salvo S. Tomé, milagro-
A vida é de trabalho, é de luta: é uma ne- samente transportados das diversas partes do
cessidade. mundo, onde estavam pregando o Evangelho,
O céu é a possessão de Deus: é recompensa; para assistirem à morte da Mãe de Jesus, e se-
ora, a recompensa vale mais do que o trabalho: rem testemunhas da sua ressurreição.
o céu vale mais do que a terra. Aí estavam S. Pedro e S. João com os ou-
No dia da sua Assunção, Maria Sma. toma tros Apóstolos e diversos discípulos, entre os
posse de seu trono na glória. É a melhor parte quais Dionísio Areopagita, São Timóteo e o
que não lhe será tirada, como é tirada aos ho- Bem-aventurado Hieroteu.
mens a parte da vida terrena. Meditemos hoje Maria Sma. os abençoou uma última vez,
sobre esta sublime prerrogativa da Mãe de Je- consolando-os, e recebeu das mãos de São Pe-
sus, considerando: dro o adorável Sacramento da Eucaristia que,
I - O fato histórico da Assunção; até esse dia, havia recebido diariamente das
II - Os pormenores deste fato. mãos de São João.
Depois, sem moléstia, sem sofrimento, sem
I - O FATO HISTÓRICO agonia, entregou sua alma, toda abrasada de a-
mor, nas mãos de seu Criador e Filho.
 
Nessa ocasião, diversos ressuscitaram; ce-
A Assunção é a festa que nos lembra Maria
gos, paralíticos, enfermos de toda espécie, fo-
Sma. levada para o céu, em corpo e alma.
ram repentinamente curados ao contato do cor-
A diferença entre a ascensão e a assunção,
po de Maria.
como o termo exprime, é que Jesus Cristo subiu
Os Apóstolos sepultaram o corpo⁴ com uma
ao céu pelo seu próprio poder, e que Maria foi
veneração de filhos amorosos, envolvendo-o
levada ao céu pelo poder divino.
em alvas mortalhas; uma multidão de fiéis se-
Esta verdade não é dogma de fé, estando a-
guiram-nos, quando foram depositar no túmulo
penas implicitamente contida no Evangelho,
as relíquias preciosas da Mãe de Deus.
porém, está explicitamente na tradição e sem-
Fecharam-no com uma grande pedra em
pre foi reconhecida pela autoridade da Igreja.³
forma de porta, como era costume naquele
Eis, em resumo, o que dizem os Santos e os
tempo.
Doutores da primitiva Igreja a este respeito:

¹ A mais antiga das solenidades estabelecidas em honra da Virgem Maria. Remonta ao quarto século.
² S. Lc. 10, 38-42.
³ Quando vivia o autor, não fora ainda proclamado Dogma. A 1º de novembro do ano Santo de 1950, S.S. o Papa Pio XII, assistido
pelo Espírito Santo, proclamou o Dogma da Assunção.
⁴ Nossa Senhora morreu em Jerusalém e foi sepultada no rochedo do Getsêmani, onde jaziam os restos mortais de seus pais São
Joaquim e Santa Ana.

13
Três dias depois, chegou o A Morte Como Mãe de Deus, devia
Apóstolo S. Tomé, vindo das Ín- morrer de amor.
dias, onde estava pregando o E- A morte é o castigo do peca-  
vangelho, e que a Providência do: stipendia peccati mors, diz o A Ressurreição
parece ter afastado para melhor Apóstolo (Rom. VI. 23).
manifestar a glória de Maria, co- Ora, Maria havia sido preser- Não existem provas sensíveis,
mo outrora o havia afastado da vada de todo pecado. explícitas, desta ressurreição,
reunião dos Apóstolos, quando Logo, não devia morrer. porém, há muitas provas
Jesus lhes aparecera no Cenácu- O raciocínio é exato, porém, implícitas de autoridade.
lo, a fim de manifestar sua res- uma distinção se impõe. Os Apóstolos, ao abrirem o tú-
surreição. Pode-se considerar a morte do mulo intacto, onde eles mesmos
Tomé pediu com instância homem sob um duplo aspecto: haviam depositado o corpo da
permissão para poder contemplar a) Como consequência natu- Virgem Santa, não encontrando
uma última vez o semblante au- ral da constituição de seu corpo, mais, concluíram pela sua ressur-
gusto da Mãe de Deus. composto de elementos desagre- reição, e isto por muitas razões.
São Pedro, São João e outros gáveis; Não era preciso ver Maria res-
Apóstolos sentiram-se felizes em b) Como consequência do suscitada e glorificada para crer
acederem a esse desejo, que pecado original. na realidade do fato.
também era o seu. Se Adão não tivesse pecado, A desaparição do corpo - as
Quebraram os selos da pedra. o homem, por um privilégio es- circunstâncias celestes da sua
Abriram o sepulcro, mas oh! pecial, teria tido uma vida per- morte - a sua dignidade de Mãe
prodígio no lugar onde tinham pétua, pois o fruto da árvore da de Deus - a sua santidade - sua
sido depositados por eles mes- vida teria impedido a desagre- união com o Redentor - a sua
mos os despojos mortais de gação de seus elementos compo- Imaculada Conceição; tudo isso
Maria Sma.; não encontraram se- nentes. constitui uma prova irrefutável da
não as mortalhas, cuidadosamen- Adão, pecando, tal privilégio sua ressurreição.
te dobradas. lhe foi retirado. Há, sobretudo, seis argumen-
Um perfume de uma suavida- Maria, não obstante a sua i- tos com que os teólogos provam a
de celestial exalava-se do túmu- maculada Conceição, não tinha ressurreição de Maria:
lo. mais o fruto da árvore da vida e, l) O pecado e a morte são as
Como seu Filho, e pela virtu- como tal, ficou sujeita à morte. duas portas da vida atual. Ora.
de Dele, a Virgem ressuscitara Acredita-se, entretanto, que, Maria entrou na vida sem passar
no terceiro dia. por um privilégio particular, pela porta do pecado. Logo, devia
Nada é mais autêntico do que Deus lhe havia dado o poder de sair dela sem passar pela porta da
essas antigas tradições da Igreja não morrer, se assim o preferis- morte;
sobre o mistério da ressurreição se. 2) A morte deve ser o eco da
da Mãe de Jesus. Era privilégio, não era um vida;
Encontram-se essas narrações direito; e Maria não quis fazer 3) O que Deus faz nascer in-
nos escritos dos Santos Padres e uso dele, para melhor asseme- corruptível deve permanecer in-
Doutores da Igreja dos primeiros lhar-se a seu divino Filho. corruptível. Ora. Maria nasceu in-
séculos, e são relatados no Quis morrer e morrer de amor. corruptível. Logo, devia permane-
Concílio geral de Calcedônia, em O amor tem uma tríplice in- cê-lo após a morte;
451. fluência em nossa morte. 4) O princípio de incorrupti-
Todos os homens devem mor- bilidade não pode estar sujeito à
II - PORMENORES DO rer no amor, isto é, na graça corruptibilidade, diz São Bernar-
FATO divina, do contrário não há sal- do. Ora, Maria é o princípio da
vação. incorruptibilidade do corpo de
Há 4 partes a lembrar na fes- Outros morrem por amor, são Jesus. Logo, ela mesma devia
ta da Assunção: os heróis, os mártires. ficar incorruptível;
A Morte de Maria Sma.; Maria morreu de amor; isto é, 5) Jesus Cristo devia fazer pa-
A sua Ressurreição; o amor foi a causa da sua morte. ra sua Mãe o que nós faríamos
A sua Assunção ao Céu; Como Mãe dos homens, Maria para a nossa se o pudéssemos.
A sua Coroação na glória. morreu no amor, Ora, qual de nós deixaria sua ge-
Indiquemos uns pormenores Como Rainha dos Mártires, nitora entregue ao túmulo? Logo,
destas quatro partes. morreu por amor, Jesus Cristo devia ressuscitar sua

14
Mãe; III - CONCLUSÃO
6) A graça, o amor e a glória são correlati-
vos. Ora, a graça e o amor o foram durante a Eis o que significa a solenidade da Assunção
vida em Jesus e Maria. Logo, a glória devia sê- de Maria Santíssima.
lo na morte. Ora. Maria foi igual na vida. Maria Sma. morreu, é um fato, porém não é
Logo, devia sê-lo na morte. um efeito.
Ela morreu de amor pelo seu Filho querido,
A Assunção como este havia morrido de amor pelos ho-
mens.
O corpo da Virgem Sma., após a sua ressur- Ela ressuscitou porque o seu corpo imacu-
reição, não ficou na terra. lado não podia ser tocado, menos ainda ser
A Assunção é como a consequência da En- destruído pela corrupção do túmulo.
carnação do Verbo. Subiu ao céu, porque sendo a Rainha do céu
A Virgem Imaculada recebeu outrora a Je- e da terra, devia tornar posse de seu trono glo-
sus em seio virginal - é justo que Jesus receba rioso, em corpo e alma.
agora a sua Mãe no seio de sua glória. Foi coroada pela Sma. Trindade com uma
Na terra, Jesus e Maria ficaram sempre uni- coroa de glória que significa a plenitude da
dos, corpo e alma. Durante nove meses de uma glória, pois, a plenitude de graças e a plenitude
união física, o resto da vida de modo místico e, de méritos exigem a plenitude da glória.
agora no céu, de modo glorioso. Oh! neste dia levantemos os olhos para a
  Virgem Santa: ela é grande, é Mãe e Deus.
A Coroação Ela é também terna, é nossa Mãe.
Nós também teremos que morrer.
Deus devia coroar na glória aquela que já Ressuscitaremos no último dia.
coroara na terra, e devia conservá-la perto de Possamos, como Maria, subir ao céu.
si no céu, como a conservara perto de si na ter- Possamos um dia contemplar sua glória e
ra. receber das mãos de seu Jesus a coroa dos
O Padre Eterno coroou a sua Filha amada. predestinados.
O Filho coroou a sua Mãe querida. Para isto: amemos Maria.
O Espírito Santo coroou a sua esposa predi- Consagremo-nos a Maria.
leta. Imitemos a Maria.⁵
Tríplice coroação que devia corresponder às Fonte:
três prerrogativas de Maria:
A dignidade de Mãe de Deus; LOMBAERDE, Pe. Júlio Maria. O Evangelho das
As graças recebidas durante a vida; Festas Litúrgicas e dos santos mais populares. 2ed.
Manhumirim: O Lutador, 1952. p. 276-284.
Aos méritos acumulados pelas suas virtudes.
⁵ Revisado e atualizado ortograficamente.

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YSTORIA SANCTI

SÃO DOMINGOS
DE GUSMÃO
“Fostes o luzeiro da Igreja, Doutor da
Verdade, Pregador da graça”

Doutor da Igreja e fundador da Ordem dos estudar em peles mortas quando há tantos ho-
Pregadores (Dominicanos), São Domingos é o mens que morrem de fome?”; são essas suas pri-
seu mais perfeito modelo. Nasceu em Caleruega meiras palavras registradas para a posteridade.
(Espanha), em 1170, segundo a carne, filho de Mais tarde, como cônego do Cabido de Osma,
Félix de Gusmão e Joana d’Aza. Pelo menos entregou-se, por trinta e cinco anos, ao estudo,
três episódios manifestam a grandeza de sua ao silêncio e à oração. Nesse período, durante
predestinação: antes de seu nascimento, sua uma pregação contra os heréticos, enviou-lhes
mãe sonhou que trazia no útero um cão se- uma folha na qual listava refutações ao
gurando na boca uma tocha acesa, que foge de catarismo. Os heréticos, repetidas vezes, tenta-
seu seio e incendeia o mundo inteiro. Na oca- ram queimá-la na fogueira, sob a condição de
sião de seu batismo, sua madrinha enxergou- que, se a mesma não queimasse, significaria a
lhe, também em sonho, com uma estrela radiosa Verdade da fé da Igreja de Roma e a invalidez
na fronte, que iluminava o coração de todos da doutrina herética. Por todas as vezes, a folha
que lhe contemplavam. Ainda pequenino, assim permanecia no fogo e saltava intacta para fora.
que pode servir-se dos seus membros, o meni- Noutras ocasiões, impunha-se jejuns e vigílias e
no Domingos saía do berço, quando o não vi- outras formas de austeridade pela conversão dos
am, e deitava-se nu sobre as tábuas no chão; hereges, oferecendo-se à venda diversas vezes a
como se então já quisesse conhecer a miséria fim de resgatar cativos espirituais. Nisso, pou-
dos homens e, cheio de amor pela humanidade, cos o igualavam: “Nunca vi um homem tão
sofresse de se ver numa cama melhor que a do constantemente dedicado à oração— testemunha
mais humilde dos seus irmãos; ou então que, i- o abade de S. Paulo de Narbonne — passava as
niciado no segredo do berço de Jesus Cristo, noites sem dormir, chorando os pecados dos
desejava ser tratado como ele. outros”.
Sem deter-se na escolha entre vida de con- Enquanto contemplativo, São Domingos se a-
templação e vida ativa nas obras de caridade presentava um místico. Quem o contemplava, si-
espiritual e corporal, São Domingos, tomando lencioso nos claustros de Osma, prostrado ao pé
como exemplo os próprios Apóstolos, realizou dos altares em Santa Sabina, ou caminhando pe-
com perfeição a união harmoniosa entre con- las estradas, acompanhado por seus filhos, sentia
templação e ação. Como contemplativo, São o coração recolher-se, como que forçado a ca-
Domingos é um dos mais profundos místicos. lar-se diante de tanta simplicidade e profundeza.
Ao longo da década em que foi estudante da Na multidão dos santos, nenhum é mais tranqui-
Universidade de Palência, por amor à sabe- lo e mais profundo, mais forte e mais suave. A-
doria, absteve-se de vinho e, na ocasião de u- pelidaram-no “terníssimo pai". E, no entanto,
ma escassez alimentar que assolou a região, esse Frade tão silencioso, esse penitente, tão en-
vendeu todos os seus livros e móveis a fim de volvido em contemplação, foi também um ho-
distribuir dinheiro aos pobres. "Posso por acaso mem de ação, que a seu século deu um impulso

16
decisivo por meio da instituição de uma Ordem vontade, ternura e suavidade de coração, pro-
cuja missão fosse percorrer o mundo a pregar e fundeza na contemplação, energia e condes-
fortalecer a fé católica contra os hereges. A cendência na ação. O canto Litúrgico diz a seu
Ordem dos Pregadores, adotante da regra de S. respeito: “fostes o luzeiro da Igreja, Doutor da
Agostinho, foi confirmada em 1216, pelo Santo Verdade, Pregador da graça”. Dormiu no Senhor
Papa Honório III. O pai dos dominicanos tam- em 1221.
bém fundou uma Ordem de religiosas contem- Quis o próprio Deus elogiá-lo na célebre
plativas, voltada exclusivamente à oração. visão concedida a Santa Catarina de Sena. San-
A contemplação acendera em seu coração ta Catarina viu o Pai Eterno: de seus lábios
um fogo abrasador; o zelo pelas almas. Deus lhe nascia o Verbo, seu Filho bem amado; enquanto
fez compreender que esse zelo devia expandir- a Santa O contemplava, São Domingos saiu do
se. Uma noite, enquanto orava na Basílica de peito do Senhor, enquanto se ouviam estas pa-
São Pedro, teve uma visão. Apareceram-lhe os lavras: — “Aqui estão, minha filha, os dois fi-
apóstolos Pedro e Paulo; o primeiro entregou- lhos que eu gerei: um por natureza, outro por a-
lhe um bastão; o segundo, um livro; e ambos doção. Assim como meu Filho por natureza
lhe disseram: “Vai e prega; Deus te escolheu sempre foi, na sua humanidade, obediente até a
para este ministério”. Então, sem interromper a morte, assim também meu filho adotivo Do-
contemplação, deixou a sua vida silenciosa e mingos me obedeceu desde o nascimento até a
partiu descalço, sem dinheiro, nem recursos, à morte. Suas obras estiveram sempre em perfeita
mercê dos homens e da Providência. Percorreu a conformidade com os meus mandamentos e, até
pé, várias vezes, a Europa Ocidental, pregando o fim da vida, conservou pura e imaculada a i-
sempre e por toda parte, nas aldeias, nas cida- nocência que lhe dera o batismo”.
des e nas Universidades. “Meu Filho por natureza fez ouvir a sua voz
As verdades, acumuladas durante anos de no mundo, proclamando a verdade que eu puse-
recolhimento, saíram-lhe então da alma, envolta ra nos seus lábios: do mesmo modo meu filho
em ondas de amor, comovendo até os mais en- adotivo pregou o Evangelho aos hereges, aos
durecidos. Em poucos meses, converteu mais de cismáticos e aos fiéis.”
cem mil hereges no norte da Itália. “Sua missão “Meu Filho por natureza enviou os Apósto-
foi a mesma do Verbo, meu Filho único — re- los a todas as criaturas para lhes anunciar o E-
velou Deus a Santa Catarina de Sena - tão po- vangelho; meu filho adotivo continua e con-
derosa era a verdade e o brilho com que seme- tinuará a mandar seus irmãos, sob o jugo da
ava a palavra, dissipava as trevas e espalhava a obediência e da disciplina, pregar às nações.
luz, que apareceu ao mundo, sobretudo, como Eis aí porque, por um privilégio especial,
apóstolo”. Domingos e seus filhos sempre interpretarão,
Durante sua vida, expôs a teologia e escre- com fidelidade, a minha palavra e jamais dela
veu obras luminosas; aconselhou Papas e ho- se afastarão.”
mens de guerra; espalhou os pregadores e o foi “Meu Filho por natureza destinou à salva-
ele mesmo; por onde percorreu, expulsou demô- ção das almas suas palavras, suas ações, sua vi-
nios, fez profecias, manifestou o dom de lín- da inteira; meu filho adotivo dedicou-se total-
guas e milagres. Instituiu, sob a inspiração da mente, pela sua doutrina e seus exemplos, à ta-
Bem-aventurada Virgem Maria, o Santo Rosário refa bendita de afastar as almas das ciladas do
em 1214. Soube aliar ao sentimento profundo demônio, que são o erro e o pecado, e seu fim
das coisas divinas o senso prático e justo das principal, ao fundar a Ordem, outro não foi se-
coisas humanas. A mesma luz esclarecia, a seus não o de libertar almas da escravidão do erro e
olhos, o ideal e a realidade, sempre em harmo- do pecado e conduzi-las ao conhecimento da
nia em todos os seus atos. Sua personalidade, verdade e à prática da virtude e da vida cristã.
bondosa e enérgica, possuía todos os encantos: Por esses motivos é que o comparo a meu Filho
pureza de alma, lucidez de espírito, força de por natureza”.

Fontes:

BERNADOT, O.P., Frei M. Vicente. S. Domingos e sua Ordem. 2ed. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1957.
DE VARAZZE, Jacopo. Legenda Aurea: Vidas de santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
LACORDAIRE, Pe. Henri-Dominique. Vida de São Domingos. [s.n.]

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EUTRAPELIAM

APARIÇÕES MARIANAS
ABADIA – APARECIDA – AUXILIADORA - CARMO – DESATADORA DOS NÓS – FÁTIMA –
GRAÇAS – GUADALUPE – LA SALETTE – LOURDES

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