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RESUMO DE

MANDADO DE SEGURANÇA

JOÃO PAULO RODRIGUES DE CARVALHO

NITERÓI 2010
Sumário

1 - Breve relato histórico: ................................................................................................. 4


2- Fundamentos Normativos: ........................................................................................... 5
3 – Enunciados de súmulas de Tribunais Superiores relativos ao tema:.......................... 5
3.1 Supremo Tribunal Federal: ..................................................................................... 5
3.2. Superior Tribunal de Justiça:.................................................................................. 5
4 - Conceitos: .................................................................................................................... 5
4.1 Legal: ....................................................................................................................... 5
4.2 Doutrinário: ............................................................................................................ 6
5 - Natureza Jurídica do Mandado de Segurança: ............................................................ 7
5.1 De acordo com o Direito Constitucional:................................................................ 7
5.2. De acordo com o Direito Administrativo: .............................................................. 7
5.3 De acordo com o Direito Processual:...................................................................... 7
6 - Espécies: ...................................................................................................................... 7
6.1 Singular: .................................................................................................................. 7
6.2. Coletivo: ................................................................................................................. 7
7 - Classificação quanto ao momento: ............................................................................. 8
7.1. Antes da lesão:....................................................................................................... 8
7.2 Após a lesão: ........................................................................................................... 8
8 - Pressupostos Constitucionais do Mandado de Segurança: ......................................... 8
8.1. Direito liquido e certo que não enseje Habeas Corpus e Habeas Data:................ 8
8.1.1. Doutrina Minoritária:...................................................................................... 8
8.1.2. Doutrina Majoritária: ...................................................................................... 9
8.1.3 Natureza Jurídica do direito líquido e certo: ................................................... 9
8.2. Ato eivado de ilegalidade ou abuso de poder de autoridade publica ou pessoa
jurídica de direito privado exercendo função publica. ................................................. 9
8.2.1 Conceito de ilegalidade e abusividade: ......................................................... 10
9 - Breves comentários sobre a Lei 12.016/2009: .......................................................... 10
9.1. Panorama Geral: .................................................................................................. 10
9.2. Inovações Polêmicas: ........................................................................................... 10
9.2.1 Necessidade de depósito fiança ou caução para a concessão de liminar: .....11
9.2.2. Vedação de liminar para a entrega de mercadorias e bens provenientes do
exterior. ....................................................................................................................11

2
9.2.3. A positivação da súmula nº 512 do STF que veda a condenação em
Honorários Advocatícios. .........................................................................................11
10 – Da prova no mandado de segurança: ......................................................................11
11 – Objeto do Mandado de Segurança: ........................................................................ 12
11.1. Panorama Geral: ................................................................................................ 12
11.2. Ato Comissivo: ................................................................................................... 12
11.2.1. Mandado de Segurança para atacar lei: ..................................................... 12
11.2.1.1. Lei em tese:.............................................................................................. 12
11.2.1.2. Lei de efeitos concretos: .............................................................................. 13
11.2.2. Deliberações Legislativas: .............................................................................. 13
11.2.3. Mandado de Segurança para atacar atos judiciais: ........................................ 13
11.3 Ato Omissivo: ...................................................................................................... 14
12 – Prazo: ...................................................................................................................... 14
13- Legitimidade ad causam........................................................................................... 15
13.1. Legitimidade Ativa: ............................................................................................ 15
13.2. Legitimidade passiva: ........................................................................................ 15
13.2.1. Panorama Geral: ......................................................................................... 15
13.2.2 Ilegitimidade no pólo passivo: ..................................................................... 16
13.2.3 Casos especiais de litisconsórcio passivo. ................................................... 17
14 – Conclusão:............................................................................................................... 17
15 – Bibliografia: ............................................................................................................. 19

3
1 - Breve relato histórico:
O Mandado de Segurança, conforme o conhecemos hoje é decorrente do Habeas
Corpus. A primeira noticia que se tem do Writ no ordenamento jurídico brasileiro data
do inicio do século XIX, através do Decreto de 23 de maio de 1821, que disciplinava o
que se chamava à época de “ação de desconstrangimento”.

Na primeira carta republicana, em 1891, ocorreu a constitucionalização do Habeas


Corpus, a amplitude do dispositivo constitucional deu subsídios a construção
doutrinaria, da qual Rui Barbosa foi o principal expoente, que conferia ao Writ um
espectro de abrangência que ultrapassava a tutela da liberdade de locomoção.

Ainda que fosse de costume o uso do Habeas Corpus, para tutelar a liberdade de ir,
ficar e vir, a inexistência de remédio célere e eficiente apto a garantir outros direitos
impulsionou o Habeas Corpus em defesa destes. Rui Barbosa defendeu que o texto
constitucional de 91 abrangia todas as eventualidades de constrangimentos arbitrários
aos direitos individuais e sua posição foi largamente aceita pela doutrina e
jurisprudência da época.

Em 1926, reforma constitucional alterou a redação do Habeas Corpus na Carta


Republicana de 1891 e encerrou a possibilidade de interpretação extensiva do
Mandamus na doutrina brasileira.

Contudo, para suprir a lacuna deixada pela reforma de 1926, a Constituição de 1934
criou o Mandado de Segurança, herdeiro direto do Writ, mas exclusivo para proteger
outros direitos líquidos e certos que não amparados pelo Habeas Corpus.

Após sua criação, em 34, o Mandado de Segurança esteve somente ausente na Carta
Constitucional de 1937 e ressurgiu na de 1946 vigorando até os dias atuais. Na atual
Constituição, o Mandamus foi ampliado, passando não mais a se restringir à proteção
do direito individual, mas a abrigar, também, o direito coletivo, dilatando assim, no
artigo 5º, incisos LXIX e LXX, a garantia prevista na Constituição anterior (1967)1.

1
Didier, Fredie (Coord). Ações Constitucionais. Salvador. Ed. Jus Podivm. 3ª Ed.

4
2- Fundamentos Normativos:
O texto da Constituição Federal de 1988 prevê de forma expressa o Mandado de
Segurança no rol de direitos fundamentais (artigo 5º, incisos LXIX e LXX). No dia 07 de
agosto de 2009 foi publicada a lei 12.016, que revogou a legislação anterior e unificou
toda a disciplina relativa ao Mandado de Segurança.

3 – Enunciados de súmulas de Tribunais Superiores relativos ao tema:


O Mandado de Segurança sempre recebeu muita atenção por parte dos Tribunais
Superiores. Abaixo elencaremos os números dos enunciados das súmulas
predominantes do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça que
dispõem sobre o Mandamus. Conforme avançarmos nos temas apresentados neste
trabalho, citaremos novamente algumas destas.

3.1 Supremo Tribunal Federal:


Enunciado da Súmula Predominante números: 101, 248, 266, 267, 268, 269, 270, 271,
272, 294, 299, 304, 310, 319, 330, 392, 405, 429, 430, 433, 474, 506, 501, 511, 512,
513, 597, 622, 623, 624, 625, 626, 627, 628, 629, 630, 631, 632;

3.2. Superior Tribunal de Justiça:

Enunciado da Súmula Predominante números: 41, 99, 105, 169, 177, 202, 213, 217,
333.

4 - Conceitos:

4.1 Legal:
Disposto na Constituição Federal – o artigo 5º, inciso LXIX trás o conceito de Mandado
de Segurança individual e o inciso LXX disciplina o coletivo. A nova lei do Mandado de
Segurança reproduz basicamente o conceito da Constituição Federal, qual seja:
“conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por Habeas-corpus ou Habeas-data, quando o responsável pela ilegalidade
ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica privada no

5
exercício de atribuições do Poder Público”.

4.2 Doutrinário:
Para Hely Lopes Meireles2 Mandado de Segurança é o meio constitucional posto a
disposição de toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou
universalidade reconhecida por lei (condomínio, espólio), para a proteção de direito
individual ou coletivo, liquido e certo, não amparados por Habeas Corpus ou Habeas
Data, lesado ou ameaçado de lesão, por ato de autoridade, seja de que categoria for e
sejam quais forem as funções que exerçam.

Observe-se que o Mandado de Segurança é uma ação constitucional de cunho sumario


e esta à disposição de toda pessoa física ou jurídica. Apesar de a lei enumerar apenas
pessoas físicas e jurídicas não há óbice a que entes despersonalizados impetrem um
Mandado de Segurança.

Para utilizar a via mandamental deve haver um ato ilegal ou abusivo de poder
praticado por uma autoridade coatora, que pode ser tanto um agente publico quanto
um agente particular, sendo que quando o ato emana de agente particular, este deve
estar em exercício de uma atividade de caráter publico.

O direito líquido e certo é o direito que deve ser comprovado de plano, ou seja, não
cabe na via mandamental provas suplementares testemunhais e periciais, admitindo-
se, contudo excepcionalmente que se exija a exibição de documentos por um órgão
público ou prestador de serviço público quando o impetrante não tiver acesso aos
mesmos. Por conta disso a doutrina chama o Mandado de Segurança de ação de
documentos.

2
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª Ed. São Paulo. Ed. Malheiros

6
5 - Natureza Jurídica do Mandado de Segurança:

5.1 De acordo com o Direito Constitucional:


O Mandado de Segurança é um “remédio constitucional”. A expressão “remédios
constitucionais” designa determinadas garantias que consubstanciam meios colocados
à disposição do indivíduo para salvaguardar seus direitos diante de ilegalidade ou
abuso de poder cometido pelo Poder Público3.

5.2. De acordo com o Direito Administrativo:


Já na visão dos Administrativistas o Mandamus trata-se de uma forma de controle dos
atos da administração publica, ou seja, seria uma ação de impugnação dos atos do
poder publico.

5.3 De acordo com o Direito Processual:


Os processualistas, por sua vez, enxergam o Mandado de Segurança como uma ação de
conhecimento de procedimento sumario especial. Decorre desta visão a aplicação
subsidiaria do Código de Processo Civil ao Mandamus.

6 - Espécies:
Quando falamos de espécies, dizemos respeito a quem tem legitimidade para impetrar
o Mandado de Segurança. O remédio constitucional pode dividir-se em:

6.1 Singular:
Cabe ao titular do direito lesado.

6.2. Coletivo:
O art. 21 da nova lei consagra a primeira regulamentação infraconstitucional do
Mandado de Segurança Coletivo, previsto no inciso LXX do art. 5º da Constituição. O
Mandado de Segurança Coletivo distingue-se do Individual essencialmente em dois
aspectos: (i) legitimidade e (ii) coisa julgada.

No que diz respeito à legitimidade ativa, são legitimados o partido político com
representação no Congresso Nacional; organização sindical, entidade de classe ou

3
PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado. 2ª Ed. – São Paulo. Editora Método.

7
associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em
defesa dos interesses de seus membros ou associados. Observe-se que de acordo com
o enunciado da súmula 629 do STF a impetração de mandado de segurança coletivo
por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.

Ressalte-se que para a doutrina majoritária os entes públicos (Ministério Público,


Defensoria) não têm legitimidade para impetrar Mandado de Segurança Coletivo.

7 - Classificação quanto ao momento:

7.1. Antes da lesão:


Quando houver fundado receio que a lesão de fato ocorrerá, o Mandado de Segurança
será denominado Preventivo.

7.2 Após a lesão:


Quando a lesão já tiver ocorrido o mandado de segurança será denominado
Repressivo.

8 - Pressupostos Constitucionais do Mandado de Segurança:

8.1. Direito liquido e certo que não enseje Habeas Corpus e Habeas Data:

Observe-se que para impetrar Habeas Corpus e Habeas Data deve haver direito liquido
e certo, ou seja, são também classificadas como ações documentais. Passemos às
correntes doutrinarias sobre a conceituação do “Direito Liquido e Certo”:

8.1.1. Doutrina Minoritária:

Esta corrente tem como maior defensor o professor Carlos Maximiliano. Para os
adeptos desta teoria, direito líquido e certo é o direito evidente, insuscetível de
controvérsia.

A crítica cabível aos defensores deste conceito é que esta teoria não prevalece porque
o direito líquido e certo não esta ligado ao fato, mas sim à dilação probatória. A
liquidez e a certeza estão ligadas à necessidade de provas suficientes à comprovação

8
de plano do fato.

8.1.2. Doutrina Majoritária:

Para esta corrente, apregoada por Hely Lopes Meireles, Pontes de Miranda, Alexandre
de Moraes e Marcelo Abelha, dentre outros, o direito líquido e certo é aquele direito
demonstrado de plano através de documentos inequívocos que não vão ensejar a fase
de dilação probatória.

Enuncia Hely Lopes Meireles4: Direito Liquido e certo é o direito manifesto em sua
existência e delimitado em sua extensão e esta apto a ser exercido no momento da
impetração.

Cabe ainda, exprimir o conceito do prof. Luiz Roberto Barroso, por sua objetividade e
clareza: É o direito que resulta inequivocamente de um fato que independa de prova
ou cuja prova já esteja pré-constituída.

8.1.3 Natureza Jurídica do direito líquido e certo:

Existem diversas correntes quanto à natureza jurídica do direito líquido e certo: (i) uma
primeira corrente, defendida por Ernani Fidelis afirma que o direito líquido e certo é
mérito, (ii) existe também a corrente, liderada por Ademar Maciel que afirma que
Direito líquido e certo é condição especial da ação (condição da ação relacionada
somente ao Mandamus) e por fim, (iii) a corrente majoritária que tem como
expoentes Sérgio Ferraz e Lúcia Vale Figueiredo afirma que o direito líquido e certo é
condição da ação em um primeiro momento, mas também mérito em um segundo
momento, ou seja, quando o juiz recebe o Mandado de Segurança e analisa
previamente a documentação presente trata-se de condição da ação, já em um
segundo momento, quando é feita uma análise do direito material passa a se tratar de
mérito.

8.2. Ato eivado de ilegalidade ou abuso de poder de autoridade publica ou


pessoa jurídica de direito privado exercendo função publica.

A Constituição Federal e a lei nº 12.016/2009 indicam a ilegalidade ou abusividade

4
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª Ed. São Paulo. Ed. Malheiros

9
como fatos geradores do interesse de agir para o mandado de segurança.

8.2.1 Conceito de ilegalidade e abusividade:

É comum relacionar a iliegalidade aos chamados atos vinculados e a abusividade aos


denominados atos discricionários. Essa relação entretanto é insatisfatória porque
demasiadamente genérica e simplificada, sendo assim desprovida da clareza que
permite a identificação exata do cabimento do mandado de segurança contra cada um
dos possíveis e incontáveis atos que podem ser praticados pela administração.

Há também quem utilize as expressões como sinônimas, o que definitivamente não


são.

Hodiernamente a ilegalidade é entendida como ofensa direta à lei em sentido amplo


(ou seja, não apenas a lei, mas também à Constituição). O abuso de poder, por sua vez,
consiste na conduta ilegítima do administrador, que atua fora dos objetivos expressa
ou implicitamente tratados na lei. Entende-se, desta maneira, o abuso de poder como
uma espécie de ilegalidade.

9 - Breves comentários sobre a Lei 12.016/2009:

9.1. Panorama Geral:

No que concerne às modificações vistas como necessárias pela doutrina, a nova lei não
atacou os pontos mais criticados. Manteve o conceito de “direito” liquido e certo em
vez de prever o direito de comprovação líquida e certa e manteve o prazo decadencial
de 120 dias, o que é questionado por grande parte da doutrina que defende que neste
caso a norma infraconstitucional limitaria um direito fundamental.

Uma análise que vem sendo feita recorrentemente é que a lei juntou em um só
diploma o que estava disposto em leis esparsas e consagrado pela jurisprudência.

9.2. Inovações Polêmicas:

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9.2.1 Necessidade de depósito fiança ou caução para a concessão de liminar:

A faculdade do Magistrado de condicionar à concessão de liminar a realização de


depósito, fiança ou caução, pelo impetrante como forma de assegurar o ressarcimento
à pessoa jurídica impetrada. A crítica feita a esta disposição, diga-se de passagem, de
forma muito adequada, é que esta previsão pode criar um grande obstáculo, quem
sabe até intransponível, aos litigantes mais desfavorecidos economicamente e o que
colide frontalmente com o princípio constitucional do Acesso á Justiça.

9.2.2. Vedação de liminar para a entrega de mercadorias e bens provenientes do


exterior.

Esta disposição não necessita de grandes explicações, pois claramente vai contra a
isonomia, criando duas classes distintas de litigantes.

9.2.3. A positivação da súmula nº 512 do STF que veda a condenação em Honorários


Advocatícios.

Apesar de a disposição do art. 25 da nova lei consagrar um entendimento


jurisprudencial, esta previsão é muito combatida pela doutrina. Nesse sentido afirma
Barbosa Moreira5:

“Cumpre abandonar de uma vez por todas o vezo de pôr o mandado de segurança ao relento,
de expulsá-lo sem dó nem piedade do recinto do sistema processual vigente. Essa tendência –
quase íamos escrevendo mania - já é responsável por grandes equívocos, como do pretenso
descabimento da condenação da parte vencida em honorários advocatícios, em má hora
consagrado na Súmula de Jurisprudência Predominante do Supremo Tribunal Federal (nº 512).
Dê-se-lhe um basta, antes que ela faça mais estragos.”

10 – Da prova no mandado de segurança:

A prova no mandado de segurança é eminentemente documental pré-constituída por


conta do caráter do direito líquido e certo. A prova deve ser juntada com a petição

5
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de Direito Processual: sexta série. São Paulo. Saraiva, 1996

11
inicial salvo se os documentos estiverem em posse da autoridade coatora, ou seja, não
há dilação probatória no mandado de segurança.

As informações prestadas pela autoridade coatora fazem às vezes de contestação no


mandado de segurança. Todos os documentos que a autoridade coatora julga
pertinente juntar nos autos devem ser apresentados no momento da prestação de
informações.

Observe-se que, o Mandado de Segurança configura uma exceção ao principio da


identidade física do juiz (que dispõe que o juiz que acolhe as provas é o juiz que
sentencia a causa). Como no Mandamus não há a fase de colheita de provas não há de
se falar neste princípio.

11 – Objeto do Mandado de Segurança:

11.1. Panorama Geral:

Em sentido amplo: Ato de autoridade. No art. 1º do parágrafo 1º da nova lei do


Mandado de Segurança há uma equiparação especial. O ato de autoridade pode
decorrer de uma ação ou omissão:

11.2. Ato Comissivo:

Em regra os atos comissivos são caracterizados como atos administrativos, contudo, de


maneira atípica temos também os atos comissivos judiciais e legislativos.

11.2.1. Mandado de Segurança para atacar lei:

11.2.1.1. Lei em tese:

Não cabe mandado de segurança contra uma lei em tese (verbete nº 266 do STF). Ou
seja, contra uma lei de caráter geral e abstrato não cabe Mandado de Segurança.

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11.2.1.2. Lei de efeitos concretos:

Cabe Mandado de Segurança contra lei de efeitos concretos (especifica e individual).


Neste caso trata-se de um ato administrativo revestido da formalidade legal, como lei
que autoriza utilização de bem publico, declara utilidade publica de um bem, lei que
concede permissão ou concessão. Cabe também mandado de segurança para Decretos
de efeito concreto, em suma, sempre que o ato normativo tenha efeito concreto o
Mandamus é cabível.

11.2.2. Deliberações Legislativas:

No caso de uma deliberação do congresso que suprima, limite ou viole prerrogativas ou


direitos constitucionais dos congressistas esta poderá ser atacada pelo mandado de
segurança, ressalte-se que não cabe Mandado de Segurança contra atos de mera
gestão.

O mandado de segurança também pode ser utilizado pelos parlamentares como


instrumento preventivo de controle difuso de constitucionalidade. Ou seja, um
parlamentar pode impetrar perante o STF um mandado de segurança para controlar o
tramite de um projeto de lei manifestamente inconstitucional.

Observe-se que o STJ já pacificou entendimento de que há Legitimidade ad causum


para impetração de Mandado de Segurança por Câmara Municipal.

11.2.3. Mandado de Segurança para atacar atos judiciais:

A nova lei, no art. 5º enuncia que não cabe mandado de segurança quando: (i) cabe
recurso com efeito suspensivo, (ii) há decisão com transito e julgado.

A via mandamental revelava-se adequada, sempre que a decisão judicial fosse


irrecorrível, ou quando o recurso cabível fosse ineficaz para salvaguardar
imediatamente e com efetividade o direito da parte contra o provimento ilegal ou
abusivo capaz de lhe causar dano de difícil, incerta ou impossível reparação.

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Tomemos o exemplo do Processo do Trabalho, onde a regra é a irrecorribilidade das
decisões interlocutórias, desta forma o Mandado de Segurança é muito utilizado para
atacar decisões interlocutórias que deferem a antecipação de tutela (Enunciado da
Súmula 414, TST).

No processo civil também é cabível a via mandamental na hipótese do Art. 519,


parágrafo único do Código de Processo Civil. Neste caso, a decisão do juiz que releva a
pena de deserção é irrecorrível.

Também e possível impetrar o Mandamus quando a decisão for recorrível, porém sem
efeito suspensivo, como nos casos dos Recursos Especial, Extraordinário e Agravo
Interno.

Por fim, mantendo a lógica da irrecorribilidade, os atos que são impugnados por
Agravo de Instrumento não comportam o mandado de segurança.

11.3 Ato Omissivo:

Se a autoridade publica não pratica determinada conduta e' possível impetrar um MS.
No caso de haver uma omissão em regra não há prazo decadencial. Porem se há uma
lei prevendo um prazo para a autoridade publica realizar este ato, se contara o prazo de
120 dias. (p. ex.: Lei 6830/80 – prevê um prazo para emissão de certidão negativa de
débitos).

12 – Prazo:
O art. 23 da nova lei dispõe que o Mandado de Segurança tem um prazo decadencial
de 120 dias, de acordo com o que dispunha o enunciado da súmula 632 Supremo
Tribunal Federal. Nos atos comissivos o prazo começa a contar da ciência inequívoca do
ato.
O STF editou a súmula 430 que enuncia que o pedido de reconsideração na via
administrativa não interrompe o prazo do Mandado de Segurança. Levando-se em
conta que o Brasil adotou o principio da unicidade da jurisdição, impõe-se uma

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questão: Como compatibilizar o inciso I do art. 5º da nova lei com a Constituição
Federal? A questão se esclarece pelo viés do Interesse de Agir, ou seja, se a questão
está sendo discutida através de um recurso administrativo que tem um efeito
suspensivo, qual seria o interesse do administrado de ir para a via judicial? Não há
neste caso um interesse em agir na via mandamental.

13- Legitimidade ad causam

13.1. Legitimidade Ativa:


Qualquer pessoa física ou jurídica pode impetrar mandado de segurança, também
podem propor a universalidade reconhecida por lei e entes despersonalizados, os
agentes políticos também podem impetrar o Mandamus.

13.2. Legitimidade passiva:

13.2.1. Panorama Geral:

Tem legitimidade passiva a Autoridade Coatora. Que são todas as pessoas investidas de
funções públicas com poder de decidir. Entenda-se por poder de decidir o poder de
determinar o fazer, não fazer e o de desfazer.

No mandado de segurança há a teoria da encampação, ou seja, se a autoridade coatora


alega ilegitimidade, porém defende o ato ela encampa o ato.

O impetrante pode colocar mais de uma autoridade coatora no pólo passivo da


demanda. Outra forma também é colocar a autoridade coatora e a entidade de direito
publico na qual esta autoridade esta vinculada.

O professor Hely Lopes Meireles6 enuncia que somente a autoridade coatora

6
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª Ed. São Paulo. Ed. Malheiros

15
responsável deve figurar no pólo passivo do MS, ou seja, trata-se de um ônus do
administrado colocar a autoridade correta.

Já Lúcia vale Figueiredo defende que deve figurar no pólo passivo da ação a entidade
jurídica no qual a autoridade coatora está vinculada, pois esta pessoa jurídica que
suportara o ônus de um eventual deferimento do Mandado. Observe-se também, que
a representação jurídica da autoridade coatora na esfera recursal será efetuada pelo
responsável jurídico da entidade de direito publico (no caso do município, procurador
do município, do estado, procurador do estado, etc).

Por fim, Aguiar Dias defende que há um litisconsórcio entre a autoridade coatora e a
pessoa jurídica de direito publico (como advém de instrução normativa trata-se de um
litisconsórcio necessário). Ressalte-se que neste caso haverão duas defesas no
processo.

13.2.2 Ilegitimidade no pólo passivo:

Ocorre quando o pólo e composto pela pessoa incorreta. Neste caso, Hely Lopes
Meireles defende que o erro não é suprível e o processo deve ser extinto sem o
julgamento do mérito.

Observe-se que se o legitimado ativo ao propor a demanda indica a autoridade coatora


conjuntamente com a entidade de direito publico e a autoridade coatora está
incorreta, o juiz pode mandar emendar a inicial.

Já Sérgio Ferraz afirma que se a autoridade coatora não é a autoridade legitima não há
de se falar em extinção do processo sem julgamento do mérito. Defende que o
Mandado de Segurança e uma ação de cunho constitucional e deve ter tratamento
diferenciado. Acredita que o juiz deve corrigir de oficio o pólo passivo. Ele defende que
se a mudança da autoridade coatora refletir em mudança de competência os atos
devem ser remetidos ao foro competente, quando se trata da mesma esfera de
jurisdição.

16
Há ainda quem defenda que a indicação incorreta da autoridade coatora nunca levara a
extinção do processo.

Especial atenção deve ser dada a regra que dispõe que quando o ato administrativo a
ser impugnado afeta um terceiro que se beneficiou daquele ato, este deve figurar no
pólo passivo da demanda. Neste caso trata-se de um litisconsórcio necessário pela
natureza da relação jurídica.

No litisconsórcio passivo, onde pode ocorrer a inclusão da parte a posteriori. Aplica-se


aqui analogicamente a sumula 701 STF.

13.2.3 Casos especiais de litisconsórcio passivo.

Nos Atos administrativos complexos, ou seja, quando o ato necessita de duas ou mais
manifestações de vontade para se constituir as duas autoridades são legitimadas para
figurar no pólo passivo da via mandamental.

De forma diversa ocorre com o ato composto (ato principal + ato secundário), nesta
hipótese o prolator do ato principal deve figurar no pólo passivo.

Já no ato de órgão colegiado, a autoridade coatora é o próprio órgão colegiado


representado por seu presidente.

14 – Conclusão:

O Mandado de Segurança, como ação judicial, de rito sumario especial e de natureza


civil é o meio adequado a ser utilizado quando direito liquido e certo do individuo for
violado por ato de autoridade governamental ou agente de pessoa jurídica de direito
privado que esteja no exercício de atribuição do poder público.

Trata-se de uma importante garantia constitucional para a proteção dos direitos


fundamentais de primeira geração. O Mandado de Segurança garante de forma efetiva

17
a ação ou abstenção do Estado a fim de preservar o administrado de arbitrariedades
cometidas pela administração pública.

A nova lei do Mandado de Segurança veio em boa hora, e caberá agora à


jurisprudência delimitar os seus contornos.

18
15 – Bibliografia:

BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de Direito Processual: sexta série. São Paulo.
Saraiva, 1996

DIDIER, Fredie (Coord). Ações Constitucionais. Salvador. Ed. Jus Podivm. 3ª Ed.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 33ª Ed. São Paulo. Ed.
Malheiros

PAULO, Vicente. Direito Constitucional Descomplicado. 2ª Ed. – São Paulo. Editora


Método

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 7ª ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 1991

19

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