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PEREGRINAÇÃO - FERNÃO MENDES PINTO

Luísa Lopes

MENSAGEM DA OBRA:

Sátira ao modo como os Portugueses se relacionavam e comerciavam com os povos


orientais e à pouca coerência que havia entre as suas acções e a sua condição de cristãos.
“esta rude e tosca escritura, que por herança deixo a meus filhos (...) para que eles
vejam nela estes meus trabalhos e perigos da vida que passei no discurso de vinte e um
anos (...) e daqui, por uma parte, tomem os homens motivo de se não desanimarem c’os
trabalhos da vida (...) e por outra parte, me ajudem a dar graças ao Senhor Omnipotente,
por usar comigo de sua infinita misericordia”

São pois três os fins que levaram o autor a escrever a obra:

1. dar a conhecer aos filhos os seus trabalhos.


2. encorajar os desesperados e os que se vêem em dificuldades.
3. ter quem o ajude a dar graças a Deus.

CONTEÚDO EXÓTICO:
É uma das primeiras obras a desvendar o exotismo
1. Descreve os exteriores geográficos da Índia, China e Japão: terras, cidades,
templos, palácios, choupanas, estuários e cursos de rios, enseadas, litorais lamacentos,
florestas, campinas.
2. Desenha com perfeição curiosos quadros de etnografia: leis, costumes
tradicionais, moral, assistência, administração de justiça, impostos em vigor, guerras,
festas, bodas, funerais, o comércio e outras actividades de trabalho.
3. Fala da docilidade de carácter de algumas populações, da sua crueldade e
hospitalidade, da sua religiosidade, etc.

CRÍTICA À ACÇÃO DOS PORTUGUESES:

F.M.Pinto conviveu com mercadores, piratas e homens sem escrúpulos e nem todos
os portugueses eram assim. No entanto fala de portugueses que afundavam barcos
indefesos para os roubar, raptavam noivas e violavam mulheres, chacinavam e
queimavam povoações inteiras, saqueavam sarcófagos e templos...
Uma das figuras típicas da obra, que é sem dúvida uma invenção, é o menino
prodígio. O menino foi feito prisioneiro por um pirata português (António de Faria) que
prometeu criá-lo como a um filho. Perante tal atitude tão incoerente o menino diz-lhe:
“ Não cuides de mim, inda que me vejas menino, que sou tão parvo que possa
cuidar de ti que, roubando-me meu pai, me hajas a mim de tratar como filho. E se és quem
dizes, eu te peço muito, muito, muito que me deixes botar a nado a essa triste terra onde
fica quem me gerou, porque esse é o meu verdadeiro pai, com o qual quero antes morrer
PEREGRINAÇÃO - FERNÃO MENDES PINTO
Luísa Lopes

ali naquele mato, onde o vejo estar-me chorando, que viver entre gente má como vós
outros sois”.

CONCEPÇÃO ANTI-CLÁSSICA DO HOMEM:

Cheio de humanismo pela simpatia com que olha todas as raças, esta obra põe-nos
diante dos olhos o anti-herói, o homem que tem mais medo do que coragem, o homem
que, em vez de dominar a Natureza, é por ela desfeiteado a cada passo, o homem que,
vencidos milhentos perigos, pouco mais tem a fazer do que dar graças ao Deus que o
salvou.

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