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O Centenário da elevação de Indaiatuba a Freguesia de Itu

Adriana Carvalho Koyama


Marcelo Alves Cerdan

Crear se hão Freguezia as Capellas de [...] Indaiatuba no [distrito] da Villa


de Itu [...]. Palácio do Rio de Janeiro em nove de Dezembro de mil e
oitocentos e trinta. Nono da Independencia e do Império.

Assim se lê na transcrição do decreto imperial, feita no primeiro Livro Tombo da Igreja


de Nossa Senhora da Candelária de Indaiatuba1, a lei que tem simbolizado o
“nascimento” político de Indaiatuba, ao criar seu primeiro estatuto jurídico, apenas nove
anos após a criação do Estado brasileiro. Época de renovação política, de
reordenamentos jurídicos e de fundação de muitos núcleos político-administrativos no
interior de São Paulo, até então modesto em Villas e aglomerados urbanos. O poder
político do novo Estado Nacional estava se estruturando.

Um século depois, em 1930, no centenário desse decreto, um golpe militar havia


acabado de fazer mover novamente o poder político em suas ramificações mais
próximas ao nosso cotidiano: na vida política local. O Major Alfredo de Camargo
Fonseca, prefeito de Indaiatuba durante toda a Primeira República, que quase coincide
com a sua própria vida adulta, viu-se em meio à maior disputa política de todos os seus
sucessivos mandatos. A oposição queria substituí-lo, em nome da Revolução de 1930.
Mas seu grupo de apoio político aparentava ser substancialmente mais extenso.

No calor desse embate, deu-se a comemoração do Centenário, que então se tornou um


momento de forte expressão de apoio e reconhecimento de boa parte da elite de
Indaiatuba à vida pública do Major Fonseca, então com mais de 60 anos. Foi uma
grande comemoração, que começou às 04h30min da manhã, com a Banda e uma salva
de tiros, seguiu por todo o dia, com missa e sessão solene da Câmara, e só terminou bem
à noite, com um baile ao som de uma Jazz Band, no salão do Cine Internacional.

1
Anotações de pesquisa, Coleção Nilson Cardoso de Carvalho, Arquivo Público de Indaiatuba (SPAI) -
Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.
A primeira audição do Hino Indaiatubano, que havia sido encomendado a Nabor Pires
Camargo no ano anterior, para o evento do Centenário, foi feita às 12 horas, no Largo
da Matriz, com o hino cantado por um coro de senhoritas. Nessa hora houve também
uma missa campal e a inauguração de um monolito comemorativo. Esse monolito foi
depois arrancado da praça, jogado em um depósito, reinstalado anos depois na Praça
Dom Pedro II, e finalmente removido em definitivo. O único símbolo que, naquela
ocasião tão apaixonada, uniu as forças políticas locais foi o Hino, elogiado por ambos,
situação e oposição.

Os artigos
publicados
na Gazeta
do Povo
desse dia
09 de
dezembro
de 1930
refletem
essa
disputa
entre
projetos de
futuro para
a cidade, e
seus
respectivos grupos políticos. Os textos tomam o ponto de vista do grupo liderado pelo
Major Fonseca, e fazem um balanço de sua vida pública, imbricada com muitas das
reflexões sobre a história de Indaiatuba, escritas nesse exemplar comemorativo.

Ao lermos os textos escritos na ocasião, tendo essa disputa como contexto, as palavras
ganham vida e paixão, descolando-se do cerimonial frio, e indicando as questões
políticas candentes a que se referem. Poucos dias depois, o Major seria substituído por
Francisco Xavier da Costa, por ordem do interventor federal em São Paulo, até 1934,
quando volta à prefeitura.

Dois projetos distintos de desenvolvimento futuro para a cidade se enfrentavam naquele


momento: um ligado à burguesia agrária, e ao Major, que defendia uma ação do poder
público nos moldes do liberalismo, outro vinculado às classes médias urbanas, que
reivindicava um poder público forte, que impulsionasse o crescimento urbano e
industrial e se fizesse presente em toda a vida cotidiana da população.
Com o governo Vargas esse grupo de oposição ao Major ganhou força, e acabou por ver
seu projeto implantado. Sua visão de mundo se impôs a tal ponto que, ainda hoje,
vemos suas palavras refletidas em fragmentos de artigos atuais sobre a história de
Indaiatuba, que muitas vezes é vista como “pouco desenvolvida” nas primeiras décadas
do século
vinte. Nessa
edição da
Gazeta do
Povo, de 9 de
dezembro de
1930,
podemos
ouvir, 80 anos
depois, as
palavras já
esquecidas
desse outro
forte grupo
político local,
que governou
Indaiatuba
desde a
proclamação
da República,
até o Estado
Novo. E a
festa vai
ganhando vida
e corpo,
deixando
entrever o
envolvimento
da cidade na
comemoração.
Programa das festividades em comemoração do Centenário da elevação de
Indaiatuba a Freguesia de Itu, em 1930.
Capa da partitura do Hino Indaiatubano, de 1930.

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