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O DILEMA DA CRIAÇÃO
Marcelo Berti
1
DEFFINBAUG, Bob, The creation of Heavens and the Earth (Gênesis 1.1-2.3). IN:
http://bible.org/seriespage/creation-heavens-and-earth-genesis-11-23
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“Uma janela de vidro está diante de nós. Levantamos os olhos e vemos o vidro; notamos
sua qualidade, observamos seus defeitos e especulamos sobre sua composição. Ou
olhamos através dele na perspectiva de ver além terra, céu e mar. Da mesma forma, há
duas maneiras de se olhar o mundo. Podemos ver o mundo e ficar absorvidos pelas
maravilhas da natureza. Essa é a maneira científica. Ou podemos olhar diretamente
através do mundo e ver Deus por detrás dele. Essa é a maneira religiosa. A maneira
científica de olhar para o mundo não é mais errada do que a maneira do fabricante do
vidro olhar a janela. Essa maneira de olhar para as coisas tem um uso muito importante.
No entanto, a janela foi colocada não para ser observada, mas para observarmos através
dela, e o mundo falha em seu propósito a menos que também olhemos através dele e os
olhos repousem não nele mas no Deus que o fez2”
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WARFIELD, Benjamin B., Selected shorter writngs of Benjamin B. Warfield, Vol 1, pp.108.
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O que podemos dizer com certeza é que o relato de Gênesis não foi escrito para o
fabricante de vidros, mas para pessoas como nós que param diante da janela e admiram a
paisagem d'além dela. Gênesis foi escrito para que as pessoas pudessem olhar Deus por
detrás do universo e ser admirado como tal.
3
KRELL, Keith, Gênesis – The Book of Beginnings. pp. 15-16. Escrito como artigo, Creative Gennius,
também encontrado em: http://www.timelessword.com/?p=147
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diversos mitos sobre a criação do universo e do homem. Em função de esses relatos serem
anteriores ao relato bíblico, não poucos estudiosos se propuseram a estudá-los. Muitos
desses, entendem que esses mitos egípcios tem grandes relações com o relato mosaico.
No livro Caos and Creation, Watke sugere algumas similaridades entre os mitos e
informações encontradas nas escrituras. Segundo ele, o Sl.74.13-14 tem claras
similaridades com o Texto Ugarítico 67:I.1-3; 27-30:
“Salmo 74:13-14 “Tu, com o teu poder, dividiste o mar; esmagaste sobre as águas a
cabeça dos monstros marinhos. Tu espedaçaste a cabeça do crocodilo e o deste por
alimento às alimárias do deserto.”
Texto 67: I . 1-3, 27-30: “Quando esmagaste Lotan (Leviathan) o diabólico dragão,
também destruíste o dragão disforme, o poderoso de 7 cabeças...4”
A relação entre os textos mencionados acima (vale lembrar que não são so únicos)
devem ser entendidos á luz da cronologia da revelação, até por que sabe-se que existe
grande distância entre os relatos de tal forma que podem nem ser relacionados. É por isso
que alguns tem sugerido que a cosmologia hebraica é uma adaptação desmitologizada das
antigas cosmologias e por isso, são equivalentes ou de mesmo valor. Contudo,
considerando sobre essas similaridades, Bob Deffinbaug diz:
A explicação mais aceitável é que as semelhanças são explicadas pelo fato de que todos
os relatos similares da criação tentam explicar os mesmos fenômenos5.
4
Watke, Caos and Creation, pp.12; IN: DEFFINBAUG, Bob, The creation of Heavens and the Earth
(Gênesis 1.1-2.3). ( http://bible.org/seriespage/creation-heavens-and-earth-genesis-11-23)
5
Idem.
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“A versão mais completa que existe do Épico de Atrahasis, de mais de 1200 versos, liga os
dois acontecimentos [criação e dilúvio] numa só história contínua que nos dá uma espécie
de paralelo de [Gn.] 1-8. Mas, ao terminarem esses poemas, Gênesis mal está
começando. A narrativa deste começa num ponto bem anterior ao daqueles (visto que,
neles, as águas, personificadas, são o princípio, e os deuses que a dominavam são apenas
seus produtos) e só termina quando a igreja do Antigo Testamento já está firmemente
alicerçada e quatro gerações de patriarcas tinham tido vida momentosa no cenário de
duas civilizações diferentes7”
6
Merrill F. Unger, Archaeology and the Old Testament, p. 37, citado por DEFFINBAUG, Bob, The creation
of Heavens and the Earth (Gênesis 1.1-2.3). (http://bible.org/seriespage/creation-heavens-and-earth-genesis-
11-23)
7
KIDNER, Derek, Gênesis – Introdução e Comentário. pp.13
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8
Material adaptado de Tony L. Shetter: “Genesis 1-2 In light of Ancient Egyptian Creation Myths”.
9
Brandon, Creation Legends, pp. 61. Cyrus H. Gordon, “Khnum and El,” in Scripta Hierosolymitana:
Egyptological Studies, vol. 28, pp. 206-07
10
Brandon, Creation Legends, pp.14.
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seu trabalho de criação. Por não ter um conjugê, ele se masturba para trazer outros
deuses para ajudá-lo na criação. O texto piramidal 1248 graficamente descreve este
evento. "Tendo Atum desenvolvido seu crescimento fálico, em Heliópolis, colocou
seu pênis em sua posse de modo que ele pudesse fazer orgasmo com ele, e os dois
irmãos nasceram-Shu e Tefnut". Desde a sua emissão erótica, Shu e Tefnut,
deificaram o ar e umidade, respectivamente. Então, Shu e Tefnut copularam e
produziram Geb, a terra, e Nut, o céu. Geb e Nut, por sua vez produziram cinco
filhos: Osíris, Isis, Horus o Velho, Set, e Nephthys. No entanto, Horus o Velho não
se tornou um membro da Grande Ennead. Em vez disso, ele, junto com Thot, Maat,
Anúbis, e outras divindades que não são claramente identificadas, constituem o
pequeno Ennead.
11
Mercer, Religion of Ancient Egypt, pp.79.
12
Miriam Lichtheim, Ancient Egyptian Literature: A Book of Readings, vol. 1, pp.54.
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trás do método de Atum de criar. A Teologia Memphita não retrata Ptah ao usar a
magia para chamar o mundo à existência. "O criador divino não é imaginado como
um mago recitando suas magias, ele é visto como aquele que primeiro concebeu em
sua mente o que deve ser criado para dar forma ao mundo e, em seguida, pôs em
circulação, pronunciando o comando necessário para que seja13".
13
Brandon, Creation Legends, pp.38
14
Henri Frankfort, Kingship and the Gods: A Study of Ancient Near Eastern Religion as the Integration of
Society & Nature, pp.155.
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1. Promover correção:
Diante da cosmologia egipcia, e pelo tempo que passaram em sujeição ao domínio
egípcio, não seria estranho que o Povo de Deus tivesse sido contaminado pela visão
altamente religiosa do Egito. Isso é claramente percebido nas declarações de fidelidade a
YHWH e nas diversas advertências para o povo abandonar os ídolos que carregavam.
“Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor teu Deus requer de ti, senão que temas o Senhor
teu Deus, que andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor teu Deus de
todo o teu coração e de toda a tua alma” (Dt. 10.12)
“Agora, pois, temei ao Senhor e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai fora os
deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e servi ao Senhor.” (Js. 24:14)
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Por isso, não podemos descartar que Deus em sua Sabedoria está a corrigir a visão
sobre a cosmologia do seu povo, para que possam reconhecê-lo como Senhor exaltado
acima de todos os falsos deuses que haviam conhecido no Egito. Assim, “não era suficiente
honrar a Yahweh simplesmente como um deus, um entre muitos. Nem poderia ser
concebido isso do Deus de Israel. Só Yahweh é Deus. Não há outro Deus. Ele é o criador
dos céus e da terra. Ele não é simplesmente superior aos deuses das nações em derredor.
Somente Ele é Deus15”. Essa visão permeia todo o Pentateuco:
“Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt. 6:4)
O Deus exaltado acima da criação é o Deus único que não precisa de mediadores
para sua Criação, em distinção dos deuses egípcios (Dt.4.32). Ele não exerce seu poder de
modo erótico, ou até mesmo promíscuo na criação, Ele em santidade mostra-se superior
moralmente (Lv.11.45). Além disso, Ele está além de sua Criação e lhe é superior. Por isso
“a tendência em se começar a confundir Deus com Sua criação foi uma parte dos
pensamentos do mundo antigo. Ele deve ser honrado como o Deus da criação, não apenas
Deus na criação. Todas as tentativas de se visua-lizar ou humanizar a Deus na forma de
alguma coisa criada foram tendências em equiparar Deus com Sua criação. Creio que foi
assim com o bezerro de ouro de Arão16”.
2. Promover Informação17:
Negativamente, Gênesis um corrige muitas concepções populares erradas a respeito
de Deus. Positivamente, retrata Seu caráter e Seus atributos.
Deus é soberano e Todo-Poderoso. Distintamente das cosmogonias de outros
povos antigos, não há nenhuma batalha na criação descrita em Gênesis um. Deus não
enfrentou forças opostas para criar a terra e o homem. Deus criou com uma simples ordem
“Haja...” Há ordem e progresso. Deus não faz experiência, mas, ao invés disso, habilmente
molda a criação conforme Seu projeto onisciente.
Deus não é simplesmente energia, mas uma Pessoa. Ainda que devamos ficar
15
DEFFINBAUG, Bob, The creation of Heavens and the Earth (Gênesis 1.1-2.3). (
http://bible.org/seriespage/creation-heavens-and-earth-genesis-11-23)
16
Idem.
17
Material aproveitado de DEFFINBAUG, Bob, The creation of Heavens and the Earth (Gênesis 1.1-2.3). (
http://bible.org/seriespage/creation-heavens-and-earth-genesis-11-23)
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atemorizados pela transcendência de Deus, devemos ficar também pela Sua imanência. Ele
não é uma energia cósmica distante, mas um Deus pessoal sempre presente. Isto é refletido
no fato de que Ele criou o homem à sua própria imagem (1:26-28). O homem é um reflexo
de Deus. Nossa personalidade é simplesmente uma sombra da personalidade de Deus. No
capítulo dois Deus deu a Adão uma tarefa significativa, com uma companheira como
auxiliadora. No terceiro capítulo aprendemos que Deus tinha comunhão diária com o
homem no jardim (cf. 3:8).
Deus é eterno. Enquanto que outras criações são vagas ou errôneas no que
concerne à origem de seus deuses, o Deus de Gênesis é eterno. O relato da criação
descreve Sua atividade no princípio dos tempos (do ponto de vista humano).
Deus é bom. A criação não teve lugar num vácuo moral. A moralidade foi tecida
dentro da estrutura da criação. Repetidamente é encontrada a expressão “e era bom”. Bom
implica não somente em utilidade e complexidade, mas em valores morais. Aqueles que
sustentam pontos de vista ateístas sobre a origem da terra não vêem nenhum outro sistema
de valores a não ser o que é sustentado pela maioria das pessoas. A bondade de Deus é
refletida em Sua criação, a qual, em seu estado original, era boa. Mesmo hoje, a graça e a
bondade de Deus são evidentes (cf. Mt. 5:45; At. 17:22-31).
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