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Sumário
Editorial
Nelson Kon
O Centro como protagonista, por Henrique de Campos Meirelles....................................... 5
Trajetória
Viva uma história de 15 anos, por Marco Antonio Ramos de Almeida ................................. 6
Artigos
São Paulo e a bandeira do tempo, por Jorge da Cunha Lima........................................... 15
O espaço da vida coletiva, por Regina Prosperi Meyer ...................................................... 16
Quinze anos como referência para São Paulo, por Luiza Erundina ................................ 28
O Centro revigorado, por Paulo Maluf................................................................................ 30
A revitalização do Centro de São Paulo, por Celso Pitta................................................ 32
Centro precisa de gente, serviços, cultura e moradias, por Marta Suplicy .................. 34
Um brinde às pantográficas, por Camilo Rocha ............................................................... 40
Integração e planejamento, por Maria Teresa Pereira Craveiro ............................................ 42
O direito à cidade, por Carmenza Saldias Barreneche .......................................................... 43
Flávio Moraes
Técnica com emoção, por Oscar D’Ambrosio .................................................................... 49
Flávio Moraes
Entrevista
O prefeito Gilberto Kassab fala sobre sua gestão e o Centro de São Paulo ......... 36
Resenha
Reconstruindo paisagens urbanas, por Paulo César Garcez Marins.................................. 44
Reportagem
Ações Locais: A cidade de cada um ............................................................................ 46
URBS é uma publicação trimestral da Associação Viva o Centro. Editores: Jorge da Cunha Lima e Lui C. Tanaka. Produção e edição: LDC Editora e Comunicação Ltda.
Edição de texto: Débora Mismetti. Jornalista responsável: Camila Prado (MTb 39800). Arte: Katia Oliveira e Thais Bellini. Atendimento: Karina Boso. Foto da
Capa: Fábio Mattos. Colaboradores: José Eduardo de Assis Lefèvre, Rosely Nakagawa, Renata Rödel, Deise Josiane Martins, Paulo Silva Santos, João Basto, Victor Eskinazi,
Claudenir Chinski, Cristina Café e Flávio Moraes. Impressão: Arizona. Tiragem: 14.000 exemplares. Redação, administração, circulação e assinatura: Rua Líbero
Badaró, 425 - 4º andar. CEP: 01009-000 São Paulo-SP. Fone: (11) 3106-8205. Fax: (11) 3105-8896. Redação: editora.urbs@vivaocentro.org.br. Assinaturas:
www.vivaocentro.org.br/assinaturas. Patrocinadores dessa edição:
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EDITORIAL
tomada de consciência da iniciativa privada que Museu Guggenhein para a revitalização da região portu-
A levou à criação da Associação Viva o Centro não ária de Bilbao, na Espanha, são conhecidos internacio-
se limitou a propagar um restauro do Centro da cidade. nalmente. Em São Paulo, a Viva o Centro se esforçou e
Observando a experiência internacional e tomando como teve sucesso na elaboração de projetos de recuperação
exemplo as metrópoles que são referência em processos patrimonial e funcional, entre os quais se destacam a
de requalificação de áreas centrais, como Barcelona, Lis- Praça do Patriarca e a criação da Sala São Paulo, na
boa, Londres e Nova Iorque, dentre outras, não tardamos antiga Estação Júlio Prestes.
em perceber a importância de um Centro dinâmico para o O empenho da Associação para incentivar governos e
desenvolvimento de São Paulo. empresas a investir nas obras de requalificação dos es-
A Viva o Centro assumiu um papel de liderança quan- paços públicos da região central não visa a resultados lo-
do chamou a atenção para o significado estratégico da calizados. O objetivo é beneficiar toda a metrópole com
região. A entidade tornou-se, então, espaço de diálogo o surgimento de novos empreendimentos em uma parte
entre a iniciativa privada e o Poder Público, realizando da cidade que está mais do que pronta a recebê-los. A
debates democráticos sobre os problemas e as soluções expansão para bairros afastados e com pouca infra-estru-
possíveis para a cidade. tura prejudica São Paulo, criando pressão sobre o sistema
Desde o nascimento da Associação, dois conceitos foram de transportes, por exemplo. É importante que o grande
cruciais para nortear os trabalhos da entidade. O primeiro investimento público que está no Centro seja visto como
deles dizia respeito à expectativa de resultados e quanto uma oportunidade para os agentes do desenvolvimento
a isso fui categórico em pontuar que o trabalho da Asso- econômico e é para isso que estamos aqui.
ciação Viva o Centro seria de longo prazo, uma vez que Nossas ações têm se voltado ao estudo de mecanismos
se tratava de uma proposta de mudança cultural. O se- que tornem o Centro convidativo à iniciativa privada. In-
gundo ponto tratava da idéia de que a consolidação de centivos fiscais e meios que facilitem a compra de imó-
uma identidade seria imperativa para a inclusão de São veis e a construção na região são muito importantes. A
Paulo na categoria de cidade mundial. A responsabilidade Associação tem dado sua contribuição ao Poder Público,
do Centro nesse processo é total. Ele deve ser o protago- levantando essas questões. O Programa de Ações Locais,
nista da promoção da cidade para que ela seja capaz de criado pela Viva o Centro, tem reunido localmente mora-
atrair eventos internacionais, empresas, turistas e centros dores, empresários e comerciantes para discutir e tentar
de pesquisas, contribuindo assim para o desenvolvimento solucionar problemas de seus quarteirões, chamando a
econômico de toda a metrópole. atenção para uma questão que parece simples, mas que
A recuperação do patrimônio histórico da cidade faz par- tem grande importância: a zeladoria urbana. É esse tipo de
te desse trabalho, e está longe de ser mero saudosismo. iniciativa que a Associação quer irradiar pela cidade. Que o
Certas edificações têm um poder emblemático, em que Centro seja um exemplo de que os esforços combinados
moradores e visitantes reconhecem o significado da so- de cidadãos, sociedade civil organizada, corporações e
ciedade que se organizou em torno delas. A National Gal- Poder Público podem beneficiar a todos.
lery, em Londres, ou o Metropolitan Museum, em Nova
Iorque, estão entre os pontos que configuram a imagem *Henrique de Campos Meirelles, presidente fundador da Associação
Viva o Centro, é engenheiro formado pela Escola Politécnica da USP.
dessas cidades. Os efeitos benéficos da construção do Atualmente preside o Banco Central do Brasil.
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TRAJETÓRIA
urante o último mês de novembro, a Associação Viva o de propostas que possam mudar a dinâmica do crescimento
D Centro apresentou a representantes da Prefeitura e da da cidade. Em vez de se espalhar como uma mancha urbana
sociedade civil participantes da Comissão Executiva da Ope- de baixa densidade de ocupação, sugerimos concentrar e tor-
ração Urbana Centro (que busca incentivar a recuperação do nar mais eficiente o funcionamento da metrópole, aproveitan-
patrimônio histórico, arquitetônico e paisagístico e a constru- do ao máximo os grandes investimentos públicos e privados já
ção civil na área e da qual a Viva o Centro faz parte) mais uma presentes na região central.
proposta para impulsionar investimentos privados na região O fato de a Associação conseguir evoluir sempre em suas pro-
central. A Associação propôs a criação de um fundo rotati- posições se deve muito ao modo como ela se organizou, des-
vo para desapropriações de imóveis na região central, visan- de sua fundação. O movimento que iniciou a Viva o Centro
do disponibilizá-los a empreendedores imobiliários privados. teve origem entre o fim da década de 80 e começo da de 90,
Hoje, a falta de títulos de propriedade regularizados, devido quando estava sendo finalizada, na gestão Luiza Erundina, a
a problemas de inventário, proprietários desaparecidos e ou- construção dos túneis sob o Vale do Anhangabaú, com o fe-
tras pendências dificulta a compra de imóveis no Centro. Isso chamento do acesso por veículos particulares aos edifícios da
impossibilita a realização de novos empreendimentos na área. região. Nessa mesma época, a Prefeitura estava interessada em
O fundo rotativo seria utilizado na aquisição de imóveis e, obter o apoio da iniciativa privada para um projeto denomi-
depois, recuperado com a sua venda. Ele seria rotativo porque nado Eixo Sé-Arouche, de requalificação do espaço público e
poderia ser usado sucessivas vezes. despoluição visual dos imóveis dos logradouros que ficavam
Este é um exemplo recente do tipo de ação que caracteriza a ao longo desse eixo. De um lado, a Prefeitura queria ajuda da
Associação Viva o Centro: a formulação e o encaminhamento iniciativa privada para realizar seu projeto. De outro, empresas
11 de outubro Junho
Fundação da Associação A Associação lança o Mapa do Centro,
Viva o Centro ilustrado com fotos de Cristiano Mascaro.
Criação do primeiro logotipo Primeira menção à Associação na imprensa
da Associação pela OZ Design (Jornal da Tarde de 24 de junho de 1992)
1991 1992
Novembro
Fábio Mattos
Durante a administração de
Luiza Erundina, a sede da Prefeitura
de São Paulo é transferida para o
6 urbs viva o centro 15 anos
Palácio das Indústrias, restaurado
pelo Poder Público Municipal
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15 anos Por Marco Antonio Ramos de Almeida*
e organizações estabelecidas em torno do Vale do Anhanga- soas em situação de rua, dos transportes, das comunicações,
baú precisavam viabilizar o acesso e circulação de veículos na da infra-estrutura urbana, do patrimônio histórico e outros, a
área. A necessidade de uma mediação entre iniciativa privada Associação promoveu seminários, painéis e workshops. Para
e Poder Público, fundada em propostas viáveis e tecnicamente estar um passo à frente na elaboração de propostas para o
adequadas, tornava-se clara e era preciso que fosse eficiente. equacionamento de problemas e o aproveitamento das opor-
Em 1991, nasce a Associação Viva o Centro. Diferente das tunidades presentes no Centro, a Associação promoveu, em
tradicionais associações de amigos de bairros, nossa organi- 1995, o Seminário Internacional Centro XXI, aberto por uma
zação já se iniciou profissionalizada. A diretoria, composta palestra do então presidente Fernando Henrique Cardoso; e
por representantes dos associados, contratou consultores e apresentou, em 1996, o estudo São Paulo Centro: uma nova
estudiosos para analisar projetos da abordagem, coordenado pela ur-
Prefeitura para os quais ela pedia o banista Regina Prosperi Meyer,
A Associação foi organizada
apoio dos associados, assim como que já havia trabalhado com outro
para considerar e formatar tecnica-
de forma profissional, importante colaborador da Viva o
mente as demandas dos próprios com consultores e técnicos Centro, o ex-Secretário de Estado
membros da Associação. Desse da Cultura, Jorge da Cunha Lima,
modo, não bastava que um associado quisesse, por exemplo, no projeto Luz Cultural. Os conceitos propagados por esses
mudar a mão de direção de uma via para que a Viva o Cen- debates e estudos superam a acumulação teórica. O resultado
tro assinasse embaixo e levasse a sugestão ao Poder Público. de se constatar, por exemplo, que o Centro de São Paulo pode
As propostas passavam sempre pelo crivo do corpo técnico se converter em solução para o desenvolvimento da metrópo-
da entidade antes de serem apresentadas ao governo, o que le, com o aproveitamento dos bairros ao norte dos distritos Sé
resultava na maior qualidade das sugestões e na detecção das e República, são os esforços atuais de recuperação da região
questões que mais impactavam o bom funcionamento do até então apelidada “cracolândia”, transformada em Nova
Centro. Para tratar de assuntos que afetam a vida de todos os Luz. A criação, em dezembro de 1995, da Fundação Projeto
cidadãos e empresas, como as questões dos camelôs, das pes- Travessia para a ressocialização de crianças e adolescentes em
Julho
Novembro
Lançamento do
Informe Viva o Centro Lançamento do Programa Centro Seguro,
pelo governador Luiz Antonio Fleury Filho,
com base em sugestão da Viva o Centro
1993 1994
Janeiro Julho
Paulo Maluf toma Lançamento oficial do ProCentro
posse como prefeito (Programa de Requalificação Urbana
de São Paulo e Funcional do Centro de São Paulo),
de acordo com a proposta formulada
viva o centro 15 anos urbs 7
pela Viva o Centro
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situação de rua foi conseqüência, entre outras coisas, da reali- sucessivos governos até hoje. A cada pleito, as propostas iam
zação, em maio daquele ano, do workshop A rua no Centro sendo lapidadas, aprofundadas e atualizadas, até chegarmos ao
– Uma discussão sobre a rua e seus atores sociais. Além da modelo atual de “10 Propostas Estratégicas” encaminhadas
Viva o Centro, os fundadores do Travessia foram entidades aos candidatos (veja as atuais no site da entidade www.vivao-
tão díspares como o Sindicato dos Bancários de São Pau- centro.org.br).
lo, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Esta- Ao longo das cinco gestões que se sucederam à de Luiza
do de São Paulo (Apeoesp), o Sindicato dos Metalúrgicos Erundina, prefeita no ano de criação da Viva o Centro, o
do ABC e o Banco de Boston, o diálogo com o município foi ga-
Bradesco, o Banco Fibra e a Pi- nhando formas institucionais. Pau-
res Serviços de Segurança. Desde A Prefeitura formalizou lo Maluf acatou a sugestão da Asso-
então, a instituição, reconhecida a participação da Viva o Centro ciação e, em 14 de julho de 1993,
em 2002 como Entidade Bene- depois de um trabalho conjunto de
no ProCentro
ficente e registrada no Conselho seis meses entre órgãos públicos,
Nacional de Assistência Social do entidades profissionais e técnicos
Ministério da Previdência e Assistência Social, atendeu mais da Viva o Centro, coordenado pelo então Secretário Muni-
de 5 mil crianças e reintegrou à família mais de 500 delas. cipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano, João Mellão
A participação qualificada da Associação, fazendo a inter- Neto, editou nove decretos que regulavam as intervenções na
locução entre a sociedade civil e o governo, especialmente região, estabeleciam o Programa de Requalificação Urbana e
o municipal, tem se dado desde o início de seus trabalhos. Funcional do Centro de São Paulo (ProCentro) e criavam a
A partir do lançamento público da entidade, ocorrido em Comissão ProCentro para coordenar sua implantação. O Pro-
1992, no Teatro Municipal, a Viva o Centro se mostrou à Centro nasceu com objetivo de melhorar a acessibilidade de
cidade e passou a dialogar com os candidatos à Prefeitura nas veículos, reorganizar o transporte coletivo, reformar a Praça
eleições daquele ano. Todos foram convidados a visitar a en- do Patriarca, implantar a Operação Urbana Centro, criar in-
tidade e tomar conhecimento de nossas propostas para a re- centivos fiscais para edifícios que restaurassem suas fachadas,
qualificação do Centro. Este foi um ritual que continuou a ser implantar o Programa Centro Seguro, cuidar da manutenção
repetido em todas as eleições e que contribuiu para a inserção das calçadas e da limpeza, disciplinar a presença dos camelôs,
das questões do Centro no debate eleitoral, e para a conti- transformar a Galeria Prestes Maia em espaço cultural e regu-
nuidade da meta de recuperação do Centro nos planos dos lamentar a propaganda visual no Centro, entre outras.
Setembro
Julho A Associação lança o estudo
A Associação Viva o Centro lança São Paulo Centro – uma nova
o Programa de Ações Locais abordagem, coordenado pela
urbanista Regina Prosperi Meyer
1995 1996
Agosto Outubro
Lançamento do Projeto Travessia, A Associação Viva o Centro
com apoio da Associação Viva promove o Seminário Internacional
o Centro, empresas e sindicatos Centro XXI – Perspectivas para
os Centros das Metrópoles
8 urbs viva o centro 15 anos
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O ProCentro foi um avanço também porque previa a partici-
Victor Eskinazi
pação da sociedade civil em suas decisões. A Associação Viva o
Centro estava presente na Comissão ProCentro, ao lado dos
representantes de secretarias e órgãos municipais, para apreciar
e aprovar todas as intervenções a serem realizadas na região.
Em seus primeiros anos, o programa no âmbito do governo
municipal se desenvolveu com lentidão. Obras importantes,
no entanto, foram realizadas com recursos da iniciativa pri-
vada, como o restauro, em 1994, da fachada e a iluminação
cênica do Mosteiro de São Bento, patrocinadas pelo Banco de
Boston e pela Philips do Brasil, respectivamente.
A intensa participação da Viva o Centro na Comissão Pro-
Centro levou à aprovação de programas importantes, inclusi-
ve pelo Governo do Estado, como o Centro Seguro, no final
do governo Fleury, para melhorar o policiamento da região,
O Mosteiro de São Bento foi restaurado e ganhou nova iluminação em 1994.
por meio do aumento do efetivo policial e de cabines policiais
equipadas com câmeras de monitoramento. A presença da
Associação também evitou que equívocos fossem cometidos, curamos mostrar que a atividade dos camelôs não era uma res-
como a permissão da presença de quiosques fixos de camelôs posta adequada ao problema social real do desemprego, mas
nos distritos Sé e República. Mesmo conseguindo a proibição sim uma atividade de profundo viés anti-social e criminoso.
das barracas permanentes na área de atuação do ProCentro A tolerância à venda de produtos roubados, contrabandeados
em 1994, para permitir a limpeza noturna das ruas e calçadas, e pirateados não pode ser justificada pelo desemprego, e sim
o programa teve que manter uma permanente vigilância sobre combatida de acordo com a lei. Além disso, a queda nos índi-
projetos de lei favoráveis aos camelôs. Alguns desses projetos, ces de ocorrências policiais nas áreas de onde os camelôs eram
aprovados, corriam o risco de serem interpretados a favor da retirados demonstrava a importância do combate permanente
instalação de mais ambulantes na região central. A criação de a este tipo de atividade.
bolsões em locais inapropriados foi alvo de preocupação da As primeiras obras concretas da Prefeitura aconteceram a par-
Viva o Centro e do ProCentro. Mais do que isso, sempre pro- tir de 1997, no governo de Celso Pitta, com a reforma do piso
Julho Abril
A Associação A Associação
Viva o Centro Viva o Centro
lança a revista é declarada
Flávio Moraes
URBS de utilidade
pública federal
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do Largo São Bento e dos viadutos do Chá e Santa Ifigênia. to, perderam foco ao serem pulverizados em 130 ações,
Também foram retirados os camelôs do Viaduto Santa Ifigê- abrangendo as mais diversas áreas. Pouco mais de US$ 10
nia e o palco do Vale do Anhangabaú, onde eram realizados milhões foram utilizados.
shows que perturbavam a vizinhança. É nessa época também Assim, durante a gestão Marta, o Programa ProCentro foi
que se consegue aprovar na Câmara Municipal, por unanimi- alterado e mudou de nome para Ação Centro. A Comissão
dade, a lei da Operação Urbana Centro e a lei de incentivo à ProCentro, gerenciadora do programa agora coordenada pela
recuperação de fachadas de edifícios tombados. arquitetura Nadia Someck, também presidente da Empre-
Ainda na gestão Celso Pitta, o novo coordenador da Comis- sa Municipal de Urbanização (Emurb), ampliou-se, porém
são ProCentro, Sanderley Fiusa, um técnico com experiência perdeu seu caráter deliberativo e de instância que apreciava
internacional, ajudou a dar forma a um pedido de empréstimo e aprovava todas as intervenções a serem realizadas na região.
de US$ 100 milhões ao Banco Interamericano de Desenvol- Ainda nessa época, importantes ações aconteceram no Cen-
vimento (BID), para investimen- tro. A sede da Prefeitura veio para
tos em 14 pólos de requalificação o Edifício Matarazzo, junto ao
urbana no Centro. Aos US$ 100
Empréstimo de Vale do Anhangabaú. A grande
milhões do BID, igual montante US$ 100 milhões do BID maioria das secretarias munici-
da Prefeitura, a título de contra- é destinado ao Centro pais também foi transferida para o
partida, deveria ser investido no Centro. A Rua Xavier de Toledo,
programa. Em 2000, em meio à renegociação da dívida do a Praça Dom José Gaspar e o entorno do Teatro Municipal
município com a União, o empréstimo foi autorizado. Con- foram requalificados. Felizmente, alguns projetos equivoca-
tudo, a administração Pitta não conseguiu assinar o contra- dos, como o de fixar população de baixa renda em grandes
to de empréstimo e, portanto, não começou nenhum dos edifícios comerciais reciclados, não foram adiante, evitando-
projetos previstos. Somente depois de mais de dois anos se assim o surgimento, no futuro, de novos edifícios seme-
da gestão Marta Suplicy é que o contrato foi formalizado, lhantes ao degradado São Vito. O próprio edifício São Vito
aprovado pelo Senado Federal e os recursos do BID come- foi desapropriado nesse período e desocupado. Outra obra
çaram a ser usados. A demora deveu-se a uma reformulação importante da gestão Marta foi a recuperação e reciclagem
geral dos projetos que faziam parte do programa original do Mercadão e o início do processo de reforço da iluminação
e que redundaram também na redução da contrapartida do Centro, iniciado na Praça da Sé e Rua Líbero Badaró.
municipal para US$ 64 milhões. Os projetos, no entan- Em 2005, com o início da administração José Serra, a Comis-
Jesus Carlos / Imagenlatina
Outubro
Janeiro
A Associação Viva
Marta Suplicy toma posse
o Centro comemora
como prefeita de São Paulo
seus dez anos no
Teatro Municipal
2001 2002
Julho Setembro
Grande parte das Secretarias da Praça do Patriarca reformada
Prefeitura são realocadas para o Centro é entregue à cidade, com
pórtico encomendado pela
Viva o Centro e projetado
10 urbs viva o centro 15 anos
por Paulo Mendes da Rocha
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são Coordenadora do Ação Centro (ex-Comissão ProCen- Março. Apesar das dúvidas suscitadas pelo tipo de intervenção
tro), deixou de ter representação da sociedade civil e passou física executada nesses logradouros, a decisão de intervir nos
a ser integrada exclusivamente por representantes do Poder calçadões rompe um imobilismo de mais de 25 anos do Poder
Público Municipal. Os projetos a serem executados com re- Público em relação ao tema. Além disso, a Prefeitura reforçou
cursos vinculados ao empréstimo do BID (US$ 100 milhões significativamente a presença da Guarda Civil Metropolitana
do BID e US$ 64 milhões de contrapartida local) passam (GCM) no Centro, atuando no controle dos ambulantes.
por uma profunda revisão, decorrente da necessidade de se O Centro recebeu também uma rede de câmeras de monito-
ajustarem ao novo patamar do dólar norte-americano, o que ramento por TV sob controle da GCM.
impôs um drástico enxugamento dos valores em moeda na- Andrea sinaliza ainda que pretende implantar a proposta da
cional, e à mudança das diretrizes para os projetos e ações Associação de regionalizar a Zeladoria Urbana nos distritos Sé
previstas, consideradas inadequadas ou errôneas pela nova e República, com a subdivisão da área em 12 microrregiões.
gestão. Serra confirmou o Centro como uma das prioridades O prefeito Gilberto Kassab, que sucede a Serra neste qua-
de sua gestão e nomeou Andrea Matarazzo, personalidade triênio e mantém Andrea Matarazzo na Subprefeitura Sé, já
de grande prestígio político e vasta experiência como minis- garantiu à Associação que o Centro permanece como priori-
tro, embaixador e presidente de empresas, para a Subprefei- dade de sua gestão. A Viva o Centro também já manifestou
tura da Sé, encarregando-o da coordenação geral das ações ao novo prefeito seu desejo de voltar a integrar a comissão
da Prefeitura relativas ao Centro. de coordenação do programa municipal para o Centro, que
Apesar da exclusão da participação formal da sociedade civil na recentemente recuperou sua denominação original de Pro-
definição e acompanhamento dos programas governamentais Centro, restabelecendo assim o canal formal de representa-
para a área, que era feita por meio da Comissão ProCentro, ção da sociedade civil na condução desse programa.
Matarazzo prestigia a atuação da Associação Viva o Centro e Durante os 15 anos da Viva o Centro, muitas outras con-
das Ações Locais e, na linha das “10 Propostas para o Centro” quistas marcaram a história da organização e do processo de
oferecidas a Serra pela Associação, durante a última campanha recuperação do Centro.
eleitoral, lança o Projeto Nova Luz, dá início à recuperação Em 1992, solicitamos ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha
das praças da Sé e da República, e inicia a revisão do sistema um projeto de requalificação da Praça do Patriarca. O proje-
de calçadões do Centro, com a abertura de alguns (Largo de to apresentado previa o fechamento da praça à circulação de
São Bento, ruas XV de Novembro, Dom José de Barros e 24 carros, o fim do uso daquele local como terminal de ônibus,
de Maio) e o estabelecimento de outros, como o da Rua 25 de e a substituição da cobertura de alvenaria da entrada da Gale-
Dezembro
Janeiro
A Viva o Centro moderniza
São Paulo comemora 450 anos: a sede
sua logomarca. A nova
da Prefeitura é transferida para o Edifício
imagem, desenvolvida pela
Matarazzo e é inaugurado o novo gabinete
100% Design, é inspirada
do governador no Centro
no Marco Zero da Praça da Sé
2003 2004
Dezembro Janeiro
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ria Prestes Maia por uma elegante estrutura metálica pendu- 2004 seria inaugurada a Estação Pinacoteca, começou a ser
rada em uma grande arquitrave, desenhadas pelo arquiteto. recuperado, assim como o prédio que abrigou a Secretaria
Em agosto de 1993, a Viva o Centro apresentou a proposta de Viação e Obras Públicas, que seria destinado a sediar o
de Paulo Mendes da Rocha para a praça na II Bienal de Ar- Ministério Público do Estado.
quitetura e, em fins de 1999, a Comissão Executiva da Ope-
ração Urbana Centro, com a participação da Associação Viva A atuação do Governo do
o Centro, resolveu bancar a realização do projeto. Em 2002 Estado tem contribuído para
a nova Praça do Patriarca foi entregue à cidade.
a recuperação do Centro
A atuação do Governo do Estado e o apoio da iniciativa
privada têm sido fundamentais para o êxito do processo A partir de março de 2001, o governador Geraldo Alckmin
de recuperação do Centro. Em 1997, o então governador iniciou o processo de centralização administrativa. Em julho
Mário Covas decidiu transformar a Estação Júlio Prestes daquele ano a Secretaria de Segurança Pública veio para o
em um complexo cultural e, para tanto, firmou convênio Centro. O processo foi reforçado com a compra, em 2003,
com a Associação Viva o Centro para que a entidade de- de oito edifícios no Centro para sediar secretarias, empresas
senvolvesse os projetos de restauro e reciclagem do edi- estatais e um gabinete especial do governador, na Rua Boa
fício, para transformá-lo na sede da Orquestra Sinfônica Vista. Como ponto culminante de sua gestão, Alckmin inau-
do Estado de São Paulo (Osesp), bem como para a ela- gurou, em março de 2006, o Museu da Língua Portuguesa,
boração de um plano urbanístico para o seu entorno. Em fruto de uma ampla parceria com a iniciativa privada capita-
1999, a Sala São Paulo foi inaugurada com um grande neada pela Fundação Roberto Marinho e pela Secretaria de
concerto da Osesp. Para registrar todas as etapas desses Estado da Cultura, na restaurada Estação da Luz. No subso-
projetos e obras, a Viva o Centro publicou o livro Pólo lo, teve início a construção da nova Linha 4 do Metrô. No
Luz – Sala São Paulo, Cultura e Urbanismo. governo Cláudio Lembo, o processo de centralização admi-
Já em 1998, o Governo do Estado inaugurava a obra de nistrativa continua, com o governo adquirindo, em 2006,
reciclagem da Pinacoteca do Estado, projetada por Paulo mais sete edifícios para esse fim.
Mendes da Rocha. Também da mesma época é o restauro Uma longa luta, de nove anos, iniciada em 1992, foi travada,
do Teatro São Pedro, do Museu de Arte Sacra e do Me- agora junto ao Governo Federal, pela transformação da his-
morial do Imigrante. O prédio do antigo Dops, onde em tórica agência do Banco do Brasil, na Rua Álvares Penteado,
Janeiro Março
A Viva o Centro lança José Serra deixa a
a coleção de camisetas Prefeitura para se candidatar
com estampas de ao governo do Estado Outubro
Cristiano Mascaro, de São Paulo. Assume A Associação Viva o
Carla Caffé e Paulo Caruso seu vice, Gilberto Kassab Centro completa 15 anos
2005 2006
Janeiro
José Serra toma posse Novembro
como prefeito de São Paulo A Associação celebra
15 anos com reunião do
12 urbs viva o centro 15 anos Conselho Diretor na BM&F
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As Ações Locais, lançadas pela Viva o Centro, em 1995, por
Flávio Moraes
sua vez materializam a persistência de moradores e empre-
sários da região central em cuidar das ruas e praças em que
se acham estabelecidos. A vigilância diária sobre a limpeza e
sobre o patrimônio de cada local do Centro tomou forma
e, a partir das primeiras Ações Locais fundadas naquele ano,
hoje somam-se 42 organizações, aglutinando mais de 500
dirigentes e mais de 4 mil associados.
Estes exemplos de iniciativas realizadas ou estimuladas pela
Associação Viva o Centro demonstram que os esforços de
nossos associados foram recompensados. Mostram também
que o trabalho de longo prazo dá resultados. Ao comemorar
O novo pórtico da Praça do Patriarca foi projetado 15 anos de sua fundação, e ao contabilizar suas conquistas,
por Paulo Mendes da Rocha e inaugurado em 2002. a Associação Viva o Centro, reforça seu compromisso de
trabalhar sempre com vistas ao futuro da Cidade. Por isso
em Centro Cultural Banco do Brasil, inaugurado finalmente é que continua a formular propostas como aquela, mencio-
em 2001. Outra luta, ainda no âmbito do Governo Federal,
nada no início deste texto, de facilitar a aquisição de imóveis
e até hoje em curso, é a recuperação, para melhor aproveita-
destinados a novos empreendimentos privados, no Centro,
mento, do prédio dos Correios, no Vale do Anhangabaú.
por meio de desapropriações viabilizadas pelo fundo rotativo
No âmbito da iniciativa privada é fundamental realçar a im-
que prepusemos, ou a de refuncio-
portância da decisão da Bolsa
nalização do Vale do Anhangabaú,
de Valores (Bovespa) e da Bol- O trabalho da Viva o Centro que faz parte das “10 Propostas Es-
sa de Mercadorias & Futuros
é voltado ao futuro da cidade tratégicas” da Associação. Queremos
(BM&F), ambas fundadoras
continuar nosso trabalho em direção
da Associação, de permanecerem no Centro com pesados
a uma cidade desenvolvida, mas justa; dinâmica, mas harmô-
investimentos em suas sedes, transformadas em magníficos
nica, e que tenha suas riquezas aproveitadas em benefício de
edifícios inteligentes. No campo do entretenimento, des-
todos os seus cidadãos. Por isso é justo que reconheçamos a
tacamos a visão de negócios do grupo mexicano CIE, que
dedicação dos diretores, conselheiros, funcionários e todos
decidiu instalar no Centro o Teatro Abril, um megainvesti-
os colaboradores da Viva o Centro, inclusive no âmbito Pro-
mento no setor. Também destacamos a perspicácia de rei-
grama de Ações Locais que, ao longo destes 15 anos, não
tores que estão trazendo suas escolas para cá, casos como a
mediram esforços em prol de nossa missão.
Universidade Anhembi Morumbi e Uniesp, ou recuperando
A requalificação do Centro pede dedicação contínua e pa-
prédios históricos, como da Faculdade de Direito da USP, da
ciente, fato de que estamos conscientes desde o início.
Fecap, da Unesp e da Faap. Ou ainda, de mecenatos como
Já na reunião de fundação da entidade, o presidente fun-
os que viabilizaram o restauro e conclusão da Catedral da Sé.
dador da Viva o Centro, Henrique de Campos Meirelles,
Outros investimentos importantes foram os realizados no
alertava os associados de que a tarefa a que se propunham
Shopping Light e no Hotel Jaraguá. Parcerias com a Pre-
levaria no mínimo 20 anos. Já lá se vão 15.
feitura como as mantidas pelo BankBoston (hoje Itaú),
Votorantin (CBA), Klabin e outras para a recuperação e ma-
nutenção de praças e monumentos do Centro têm de ser
*Marco Antonio Ramos de Almeida é engenheiro formado pela Escola
lembradas pelo seu significado para a melhoria da área. Politécnica da USP e superintendente geral da Associação Viva o Centro.
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!"#$%&'(()))*2 +,*-,-../))).014.14*
ARTIGO
São Paulo e
a bandeira do tempo
Por Jorge da Cunha Lima*
Fábio Mattos
A Catedral de Estrasburgo, uma notável escultura de
pedra cor-de-rosa, situa-se no Centro desta cidade
francesa, entre ruas modestas considerando-se a magnitu-
mas para iluminar o futuro. Estávamos, no fim dos anos
80, em plena queda livre: o triângulo central ruindo em
torno do Edifício Martinelli. Apesar da imensa infra-es-
de do templo cristão. Estrasburgo já conheceu a peste, a trutura feita pelo Poder Público; da presença dos mais
fome e as glórias, além de todas as guerras, desde a dos importantes equipamentos culturais; da convergência de
Cem Anos contra a Inglaterra. Conheceu nacionalidades todo o sistema público de transporte; do trânsito diário de
diversas, fronteira, que sempre foi, de atritos. Mas Estras- 2 milhões de pessoas, o Centro se encontrava num grande
burgo continua sendo um monumento da França e da processo de deterioração.
humanidade porque seu espaço emblemático, o Centro, A Viva o Centro abriu os olhos da sociedade política, da
continua vivo e renovado. sociedade civil e da sociedade econômica.
Há uma consciência universal de preservação dos Centros Foi o suficiente para, nestes 15 anos, interromper o declí-
históricos. Barcelona, Madri, a City de Londres, Paris, Rio nio, a queda livre. E agora, com a permanência de signifi-
de Janeiro até Gênova, com sua recentíssima renovação. cativas instituições financeiras, culturais e educacionais no
Nos Estados Unidos, Boston realiza a maior obra civil Centro e a consciência generalizada da mídia e dos cida-
do mundo para caracterizar a geografia urbana do Cen- dãos, estamos preparados para levantar vôo.
tro. Kennedy, em seu manifesto O desafio para os anos 60, Cidade sem história morre, como os rios desprezados. São
priorizou a recuperação dos Centros das grandes cidades Paulo hasteou a bandeira do tempo no Centro, para hon-
americanas. No bojo dessa política, Pittsburg e Chicago rar o passado e marcar o rumo do futuro.
ressurgiram nos mapas da beleza arquitetônica.
Pois em São Paulo, a Associação Viva o Centro acendeu
* Jorge da Cunha Lima é presidente do Conselho Curador
uma vela na decadência. Não para prantear os mortos, da Fundação Padre Anchieta e Editor da revista URBS.
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ARTIGO
O espaço da vida
Nelson Kon
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coletiva Por Regina Prosperi Meyer*
Reedição do artigo publicado em Os Centros das Metrópoles, 2001
!"#$%&'(()))*+ +,*-,-../))).014.145
sistiu ao aprofundamento de seus dilemas. As suas questões Apontada como instrumento decisivo para a participação
confundem-se com as questões da sociedade industrial e das nações na economia dos mercados integrados, a me-
seu papel permaneceu muito associado aos ideais urba- trópole da era informacional tornou-se, quando situada
nos lançados nos anos 20, quando o urbanismo pensado e em países desenvolvidos, ou subdesenvolvidos, alvo de
praticado segundo os pontos de doutrina do Movimento pensamento e projeto. Classificado como reparador, gran-
Moderno aspirou a levar o espaço construído a desempe- de parte das obras desse novo urbanismo tem buscado
nhar um papel transformador na sociedade industrial. pautar sua ação na necessidade de fornecer às metrópo-
Nas últimas décadas, vivendo a paradoxal situação de se les a possibilidade de participar e, é importante sublinhar,
apresentarem simultaneamente caóticas e propiciadoras, destacar-se do ponto de vista de sua organização urbana.
as metrópoles contemporâneas passaram a ser conside- Sua base de ação é a cidade existente envolvida com ques-
radas lugares indispensáveis para o bom desempenho do tões de âmbito local e abrangente, tais como o processo
sistema produtivo. No momento em que exibem todas de marginalização social, a destruição da sustentabilidade
as suas deficiências, precariedades e desvios, elas ganha- ambiental, a ameaça de homogeneização em detrimento
ram, no interior de uma nova etapa do sistema produtivo da identidade, o avanço nocivo do espaço privado sobre
e econômico do capitalis- o público e a destruição
mo contemporâneo, um
papel desafiador. Torna- “A metrópole da era informacional, das funções e do espaço
das áreas centrais. Os atri-
ram-se instrumentos de quando situada em países desenvolvidos, butos do Centro, assim
intermediação indispensá- ou subdesenvolvidos, tornou-se alvo como das novas centrali-
veis para o novo modo de de pensamento e projeto” dades, têm recebido uma
produção já denominado enorme atenção nos es-
como pós-industrial e cuja característica mais impactante tudos urbanos contemporâneos. Tanto a decadência das
para o ambiente urbano é, sem dúvida, a sua face anôni- áreas centrais como a organização espacial e funcional das
ma. Estimulado pela percepção do papel estratégico das novas centralidades, setores típicos da nova organização
metrópoles, mas, ao mesmo tempo, intimidado pela força urbana, têm um lugar assegurado na literatura especiali-
corrosiva e desestruturadora das novas funções urbanas, o zada, nas políticas públicas e nos projetos de intervenção,
urbanismo tem recebido, ainda uma vez, a tarefa de ma- em alguns casos fruto da reflexão crítica e, em outros,
nifestar-se de forma propositiva. O urbanismo contempo- traduzindo apenas compromissos e interesses de grupos
râneo tem desenvolvido conceitos e práticas comprometi- sociais e econômicos. Essa abrangência, e até mesmo esta
das com as transformações urbanas demandadas de forma flutuação do escopo e das questões, não deve nos levar
muito diversificada e ampla. O seu valor e, mais ainda, sua a pensar que o Centro, assim como as novas centralida-
validade enquanto pensamento e instrumento de interven- des, não possuem forte especificidade urbana ou que suas
ção dependem diretamente da capacidade de assumir que questões sejam pouco claras ou indeterminadas.
a organização da metrópole contemporânea não é apenas Uma reflexão sobre o Centro nos remete ainda hoje,
uma forma evoluída ou degradada da cidade moderna. apesar da sua enorme transformação física, espacial e fun-
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cional, ao pensamento modernista. Vale lembrar que em das limitações nas quais se movia o projeto urbano, Gie-
1951, o VIII CIAM (Congressos Internacionais de Ar- dion sintetiza o debate com uma pergunta contundente:
quitetura Moderna), reunido em Londres, elegeu os cen- é realmente possível voltar a criar hoje uma sociabilidade,
tros urbanos como tema do encontro. No documento de velha como a humanidade, que foi sempre considerada
abertura do encontro, Giedion dirige-se aos seus colegas, uma das funções da cidade?
vindos de diversos pontos do mundo e imersos no tema A história urbana respondeu largamente a tal pergunta.
da reconstrução das cidades no pós-guerra, reivindicando O paralelismo entre dois processos – de declínio da qua-
para o projeto urbano a possibilidade de infundir novas lidade urbana e a emergência de uma violenta crítica aos
energias no ameaçado equilíbrio entre o mundo do in- princípios teóricos do Movimento Moderno – tem do-
divíduo e o mundo da comunidade. Portanto, de acordo minado as análises urbanas e as proposições urbanísticas
com os participantes do evento, a humanização da vida desde os anos 60. O esgotamento das premissas que con-
nas cidades dependia diretamente da recuperação de espa- duziram a prática do urbanismo funcionalista ao longo
ços destinados à vida coletiva. Apesar do tema escolhido e do século XX, associado à desorganização crescente do
do título reservado ao encontro, já bastante explícito – O espaço urbano, é muitas vezes relacionado à chamada cri-
Coração das Cidades – Giedion sublinha no seu texto: em se urbana. O “mal-estar” nas metrópoles e as teses ur-
vez do temido centro cívico, foi preferida a velha palavra banas modernistas, tanto o pensamento teórico como a
Core, que é definida como a parte central e mais íntima, o prática cotidiana do projeto, tornaram-se indissociáveis na
coração das coisas. O encontro desenrolou-se não apenas medida em que ambos se materializaram num mesmo ob-
lançando mão de discursos e manifestos. Os arquitetos e jeto: a metrópole pós-industrial contemporânea. Se, por
urbanistas ali reunidos estavam munidos de projetos nos um lado, parece ser impossível desconhecer o sentido e a
quais o partido geral era a reconstrução das cidades arra- importância dessa concomitância, por outro, a assimilação
sadas pela guerra que havia terminado seis anos antes. mecânica dos dois fenômenos, criando entre eles expli-
Mantendo o tom entusiasmado e militante do evento, o cações deterministas, tem levado a conclusões bastante
então presidente do CIAM, o arquiteto José Luis Sert, equivocadas. Dessa forma, sem desprezar as informações
para quem as grandes cidades corriam o risco de se tornar nascidas pela concomitância dos processos, o caminho
lugares destinados exclusivamente ao trabalho, apontou mais efetivo para entender o conteúdo da atual crise urba-
com precisão e simplicidade as funções que podemos na é caracterizá-los com cuidado.
considerar ainda legítimas: pelos atributos, o Centro/ A qualidade e, até mesmo, a validade das proposições
coração deve garantir a possibilidade de ser simultane- apresentadas, cujo ambicioso objetivo é a intervenção no
amente o lugar de reunião e de consciência cívica; reino processo de desagregação do espaço urbano, está direta-
do pedestre; espaço simbólico da comunidade; lócus da mente relacionada à capacidade do urbanista de encami-
arte como experiência e manifestação coletiva. Refor- nhar essa operação. Para evitar qualquer possibilidade de
çando o ponto de vista de Sert e descartando qualquer mergulhar nas polêmicas discussões envolvendo as ques-
acusação de idealismo exagerado, facilmente confundido tões de ruptura ou continuidade das teses modernistas, o
com ingenuidade, demonstrando uma clara visão crítica ponto de partida mais adequado é justamente a revisão
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Nelson Kon
!"#$%&'(()))-. +,*-,-../))).014*1.*
do papel das teses urbanas do modernismo no interior da Estas considerações devem, em princípio, ajudar a aprimo-
própria crise, isto é, avaliar a sua responsabilidade, o seu rar e mudar o patamar das críticas feitas aos projetos urba-
grau de comprometimento e, sobretudo, a sua permanên- nos desenvolvidos na área central de São Paulo, sobretudo
cia e validade no atual panorama. É sempre útil reforçar a aqueles que ao longo das décadas de 60 e 70 produzi-
necessidade de evitar explicações que satisfaçam apenas o ram profundas marcas na sua estrutura e em alguns casos
ponto de vista teórico. realizaram uma verdadeira desconstrução do Centro. A
A observação direta da deterioração da qualidade urbana nas própria forma de enunciar os problemas relacionados à
grandes cidades e metrópoles, tanto nos países desenvolvidos circulação viária acabou induzindo equívocos de enorme
como nos emergentes e pobres, leva a algumas constatações impacto urbano para o Centro. Deixou-se de considerar,
recorrentes. A partir da década de 50, trabalhos produzidos por exemplo, que os projetos implantados eram respostas
fora do restrito campo disciplinar do urbanismo passaram circunscritas e unidimensionais a questões abrangentes
a relacionar o crescimento urbano de baixa densidade com do ponto de vista territorial, e eram multidimensionais
princípios urbanísticos funcionalistas. Enquanto o crescimen- do ponto de vista funcional. Tal procedimento impediu
to urbano, sobretudo nas grandes cidades, foi conduzido uma avaliação mais cuidadosa das próprias metas dos
pela expansão da mancha urbanizada através da reprodução planos e projetos que, freqüentemente, desconheciam as
contínua de conjuntos habitacionais periféricos, resultado da limitações de seu alcance. Esse é o caso de muitas inter-
política habitacional envolvida com a oferta em grande esca- venções de caráter rodoviário e metroviário executados
la e o conseqüente alastramento da moradia em territórios desde os anos 70 na cidade de São Paulo. Em inúme-
precários e distantes, iniciava-se o processo de dissolução das ros casos, isso pode ser visto como uma contingência do
áreas centrais e a decadência do seu espaço público. Embora projeto urbano desenvolvido em escala local, o preciso
distintas na sua forma de produção e, sobretudo na quali- balizamento de seus limites, e, sobretudo, de seu im-
dade urbana que as acompanhou, as periferias das grandes pacto nos trechos urbanos consolidados. Sua eficiência
cidades industriais são um fenômeno que esteve presente em será medida não apenas no âmbito da intervenção de
todas as metrópoles do mundo. São distintas dos subúrbios induzir desdobramentos, de criar condições para a ela-
que proliferam sobretudo nos Estados Unidos, pelo processo boração de novas intervenções complementares ou, até
de constituição física onde prevaleceu a irregularidade fun- mesmo, reparadoras. Portanto, podemos assumir que a
diária e pela ausência de uma infra-estrutura básica adequa- denominada crise do Centro e das áreas centrais possui
da e a carência quase absoluta de serviços públicos capazes relações intrínsecas com a crise urbana nas metrópoles.
de atender à enorme população que ali vive. Sem abusar de Reconhecer, por exemplo, que as duas faces da atual cri-
uma generalização excessiva, podemos afirmar que a relação se são o resultado do processo de crescimento periférico
entre expansão da mancha e corrosão dos espaços centrais, com baixa densidade de ocupação e pouca diversidade
baseadas, sobretudo, no transporte rodoviário, é fundamen- funcional que prevaleceu ao longo do período de expan-
tal para chegarmos a diagnósticos menos restritos, tanto no são e consolidação da cidade industrial, é decisivo para o
ponto de vista funcional quanto territorial. encaminhamento das propostas.
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São Paulo é hoje, paradoxalmente, uma metrópole precária perfil, por novos grupos sociais, é desenvolvida em nome da
e promissora. Uma abordagem urbanística da metrópole reversão do processo de declínio habitacional e urbano.
paulistana precisa hoje reconhecer a necessidade imperio- Sem perder a importante referência dos anos 50, registrada
sa de trabalhar no interior das contradições geradas pelos no VIII CIAM e, sobretudo, sem deixar para trás a per-
dois processos. Em resumo, todas as análises e propostas tinente pergunta de Giedion, julgamos indispensável pro-
deverão evidenciar, física e funcionalmente, a simultanei- por e promover as transformações no Centro de São Paulo
dade e superposição entre o comprometimento físico do levando em conta suas relações metropolitanas. A conju-
seu território, resultado de práticas urbanas lesivas, e as gação de questões consideradas essenciais para a elabora-
potencialidades urbanas ainda não consideradas ou apenas ção de um Plano para o Centro da metrópole, de projetos
exploradas. Tornou-se patente, ao longo dos anos 90, que pontuais, de uma gestão específica para a área central, deve
a precariedade urbana assumiu uma nova face. emergir de uma análise crítica de problemas específicos do
Embora a fragmentação seja um dado relevante para con- Centro e de alguns parâmetros de trabalho.
duzir qualquer análise e qualquer proposta no interior da O primeiro deles é, sem dúvida, estabelecer um diálogo
2
imensa mancha metropolitana que atinge hoje 2 mil km , crítico e criativo com a cidade existente. A avaliação das
permanece presente uma estrutura urbana construída a par- potencialidades da área central só pode ser definida a par-
tir dos elementos geográficos e consolidada entre as décadas tir de uma cuidadosa verificação de sua configuração atu-
de 30 e 50, quando a cidade assentava-se respectivamente al, do seu funcionamento em escala local e metropolitana.
2
entre 180 e 420 km . A constituição de territórios diferen- Tal postura tem por objetivo evitar qualquer tentativa de
ciados, de novas centralidades, de novos vetores imobiliários, impor um padrão de aproveitamento para esta área sem
de centros empresariais, de bairros auto-suficientes, conju- considerar a sua consolidação histórica. Assim, enquan-
gam-se simultaneamente em escala metropolitana e setorial to a análise funcional do Centro apontou para o caráter
transformando substancialmente a sua estrutura básica. sistêmico das questões, a análise estrutural aponta para
As experiências desenvolvidas em todo o mundo, ao lon- uma organização físico-espacial desarticulada. A escala
go das cinco décadas do século XX, produziram um rol de de abrangência de qualquer proposta para o Centro deve
questões que não podem ser desconhecidas pelos profissio- ser ditada pela procura de eixos e estruturas urbanas mais
nais que hoje se debruçam sobre o Centro de São Paulo. eficientes. Uma rede de novas conexões deve criar articu-
E, sobretudo, por aqueles que intervêm efetivamente, sem lações urbanas e metropolitanas mais claras, reforçando a
perceber, como já foi dito antes, os limites e desdobramen- estrutura existente e anexando setores urbanos cujas fun-
tos de suas intervenções. Os temas mais destacados até o ções estão em processo de transformação.
momento, desse amplo espectro, são, sem dúvida, a erosão Dessa forma, a fragmentação, atributo indiscutível da orga-
dos espaços públicos conduzidos pela permanente e inten- nização metropolitana, não pode ser confundida com a dis-
sa adaptação do Centro às exigências da circulação viária e solução das partes que a compõem. Embora delimitada por
metroviária; a esterilização urbana consumada em nome de uma linha administrativa que marca o Centro (distritos da
práticas esteticistas e passadistas pouco comprometidas com Sé e da República), a área central possui uma intensa relação
as funções contemporâneas das metrópoles; e as práticas de funcional com a metrópole. Em análises anteriores consta-
renovação urbana, nas quais a expulsão e substituição dos tou-se que as chamadas questões do Centro são questões sis-
antigos moradores, muito recorrente em processos com esse têmicas, cujas origens estão fora de seu perímetro e que de-
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vem, portanto, ser abordadas de forma também sistêmica. Mooca, Pari, Cambuci e Liberdade – setores urbanos
A configuração radiocêntrica da área central induziu à or- estratégicos para uma política habitacional de interesse
ganização de uma rede viária composta fundamentalmen- social. O adensamento desses bairros, tendo como pres-
te por vias radiais. A chegada dessa rede no interior do suposto o aumento de oferta habitacional de interesse
núcleo central, pelas dificuldades que acarreta, dadas as social, é uma forma adequada de potencializar o uso de
proporções adquiridas pela metrópole, tem sido um cons- equipamentos e serviços já implantados e evitar a contí-
tante objeto de projeto. A implantação dos dois sistemas nua dispersão das populações em periferias distantes e
perimetrais, implantados a partir dos anos 30 no contexto destituídas de equipamentos e infra-estrutura básica. Re-
do Plano de Avenidas, foi a resposta técnica considerada forçar seu papel de pólo cultural, lugar único de história,
mais eficiente para garantir a macroacessibilidade à área. sem abrir mão de suas potencialidades enquanto centro
O caráter polar da área central é hoje reforçado pelo trans- terciário, afasta o perigo de uma desastrosa “museifica-
porte público metropolitano, sobretudo pelas 294 linhas ção” do espaço urbano.
de ônibus para aí convergem. A ausência de uma articula- E, para finalizar, vale lembrar ainda que a vida urbana
ção entre os terminais de ônibus, as sete estações de metrô metropolitana com qualidade depende, em grande parte,
localizadas no núcleo (Sé e República), e os trens que ser- da possibilidade de uma autêntica vida coletiva. E esse
vem os municípios da região é um dos principais atributos
metropolitana impõem traves-
sias compulsórias diárias a 2 “A vida urbana metropolitana com da centralidade metropolita-
na. Historicamente, a expe-
milhões de pessoas. A organi- qualidade depende, em grande riência de vida urbana cole-
zação e a administração desses parte, da possibilidade de uma tiva tem encontrado em São
fluxos de circulação e tráfego autêntica vida coletiva” Paulo, nos espaços públicos
devem garantir, de acordo da área central, o seu lugar
com as premissas deste trabalho, condições favoráveis para natural de manifestação. São, sem dúvida, sua presença,
que a área central se torne o território privilegiado para o qualidade e quantidade que criam as condições para que
usuário do transporte público e para o pedestre. assumam o papel privilegiado da vida coletiva urbana.
No que se refere às funções urbanas do Centro, existe Seu desempenho está fortemente condicionado a dois
hoje consenso de que a monofuncionalidade pode tor- fatores decisivos: possuir uma clara legibilidade, capaz
nar-se fator corrosivo no interior das cidades. Atividades de torná-lo uma referência para todos os cidadãos, e o
pouco diferenciadas produzem espaços homogêneos, in- conhecimento e a utilização de um determinado espaço
distintos e pouco vitais. A inclusão dos chamados bairros por um grande número de cidadãos que o consagram
centrais nesta análise e proposta é uma postura estraté- como espaço de vida coletiva. Fica evidente, portanto,
gica que visa garantir a presença indutora da função re- que entre espaço coletivo e espaço público existe uma
sidencial diversificada. A associação de dois fenômenos, intensa relação dinâmica que deve ser estimulada e pro-
a perda de moradores e a grande presença de imóveis piciada pelo projeto urbano.
transformados em cortiços, indicam a necessidade de
considerar esses bairros – Bela Vista, Consolação, Santa *Regina Prosperi Meyer é arquiteta e professora
do Departamento de História da Faculdade de Arquitetura
Cecília, Barra Funda, Bom Retiro, Santa Ifigênia, Brás, e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
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ENSAIO
A escadaria do Bixiga
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Entrada da estação Sé do metrô
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26 urbs viva o centro 15 anos
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Fachada do Shopping Fashion
Center, na Praça Júlio Prestes
Vale do Anhangabaú
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ARTIGO
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para São Paulo
Flávio Moraes
As obras viárias do Vale do Anhangabaú
ligaram as zonas norte e sul da cidade.
antigos e deteriorados na Avenida Celso Garcia que serviam
como moradia coletiva e precária para a população de baixa
O trabalho realizado pela Associação Viva o Centro trouxe
renda. Os edifícios foram demolidos e, em seu lugar, foram
contribuições de valor inestimável para a cidade. Como ex-
construídos prédios em regime de mutirão, onde as famí-
prefeita de São Paulo, agradeço em nome da cidade por este
lias antes encortiçadas passaram a morar. Um dos imóveis
empenho. Uma gestão municipal democrática deve incentivar
desapropriados neste conjunto ainda aguarda uma iniciati-
a participação da sociedade civil, associando-se à iniciativa pri-
va pública ou privada para tornar-se um local de atividades
vada. A Associação Viva o Centro demonstra que a sociedade
culturais, recreativas e profissionalizantes para o uso da ju-
pode apresentar propostas viáveis e úteis, inclusive para pro-
ventude daquele conjunto habitacional e de todo o Centro.
mover a imagem da cidade, desenvolver a economia e mos-
Aproveito o espaço concedido pela revista URBS para cha-
trar, numa perspectiva de modernidade, como desenvolver a
mar a atenção do Poder Público e dos empresários, para que
cidade do ponto de vista urbanístico, social e cultural. Para-
viabilizem a reforma do imóvel, que vem sendo preservado
benizo a Associação por seus 15 anos de atuação, e por ter se
pelos ex-mutirantes desde a conclusão dos prédios de apar-
tornado referência para as cidades de outros estados brasileiros
tamentos em que hoje eles moram. Coloco meu mandato
e até mesmo de outros países.
como deputada federal à disposição para a busca de verbas
orçamentárias da União para a realização deste projeto e de
tantos mais a serem defendidos pela Associação Viva o Cen- *Luiza Erundina foi prefeita de São Paulo e é deputada federal.
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ARTIGO
Fábio Mattos
deixou há muito tempo de ser apenas uma preo- faz parte de um conjun-
cupação urbana, de proteção ao patrimônio cultural e to de obras que liga as
histórico da comunidade. Preservar o Centro é também e zonas leste e oeste da
principalmente uma necessidade social e uma prática para o cidade, por meio de vias
bem-estar e o desenvolvimento de outras áreas da cidade. expressas, túneis, viadu-
Um Centro deteriorado desvaloriza a cidade em todos os tos, pontes. Se essa via
seus aspectos e áreas, colaborando para a expansão da misé- expressa não existisse, a
ria e do crime, para o desalento e a impressão de abandono cidade pararia.
que sentimos com relação aos que continuam vivendo lá. Destaco nesse comple-
Uma grande cidade começa a morrer – que não se tenha xo viário: os viadutos
dúvida – com o enfraquecimento progressivo de seu cen- Mercúrio, 25 de mar-
tro natural, a partir do qual ela se expandiu. A metáfora ço, os viadutos Shuei
é antiga, mas atual: o que vale um corpo expandido e em Vetsuka e Guilherme de
crescimento se o coração do organismo está doente e pode Almeida, na Liberdade, o Viaduto Beneficência Portuguesa,
parar? E tendo por conseqüência a contaminação de todas sobre a Avenida 23 de maio, o Viaduto Oku Kara Koei, no
as outras partes onde a saúde é aparentemente perfeita? Centro, o Viaduto Julio de Mesquita Filho, na Bela Vista,
Sempre me preocupei com isso; entre outras razões, pelo Viaduto do Café, sobre a Avenida Nove de Julho, o túnel
pragmatismo de minha própria formação de engenheiro embaixo da Praça Roosevelt e a completa remodelação da
da Escola Politécnica da USP. Fui prefeito de São Paulo própria praça, o Viaduto Pacaembu, na zona oeste, o da
pela primeira vez entre 1969 e 1971 e, desde então, estou Praça Perola Byington, na Bela Vista, o Viaduto Antártica,
convencido de que a cidade não pode ficar submetida à no Sumaré, o Viaduto Pompéia, a Avenida Marquês de São
inércia de seu Centro, sem condições para a circulação Vicente, na Barra Funda e todo o conjunto de viadutos do
de seu “sangue estrangulado” – vamos dizer assim. Na Parque D.Pedro II, que descongestionou a zona do velho
época, governei uma cidade com 550 mil carros, que hoje Mercado da Cantareira.
aumentaram para 5 milhões e 500 mil. O que seria de São O Elevado Costa e Silva e todas essas obras são apenas um
Paulo se naqueles anos não tivesse sido criada, em minha exemplo, pois as avenidas marginais dos rios Tietê e Pi-
administração, a estrutura que permite atualmente que a nheiros, que também foram feitas em grande parte na mi-
cidade ainda se movimente? nha administração, evitaram que o Centro continuasse a
Falo não apenas do Elevado Costa e Silva, construído em ser usado como via de passagem. Só hoje, 35 anos depois,
somente um ano e meio, e já naquele tempo comparado esse tipo de obra está em expansão com a construção mui-
a um outro elevado: aquele que liga o aeroporto de Hea- to atrasada do Rodoanel, que, a propósito, também foi
throw ao Centro de Londres, que levou quatro anos para planejado durante o tempo em que fui prefeito e depois
ser iniciado e terminado. O Elevado Costa e Silva não é governador, com o nome de Grande Anel Rodoviário.
uma obra isolada para estabelecer a estrutura para a ex- Destaca-se também nesse contexto o início das obras do
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Fábio Mattos
Metrô, quando fui prefeito pela primeira vez, nas regiões
do Jabaquara e Santana, a expansão do ramal leste, concre-
tizada quando fui governador, com a construção de esta-
ções do Centro até o Tatuapé, diminuindo o número de
veículos que, sem elas, necessariamente teriam que chegar
até o Centro. Uma administração pública eficiente não se
faz de fatos isolados mas de um conjunto de obras e pro-
vidências planejadas com visão de futuro que beneficiem a
cidade como um todo. Nesse caso, a partir do Centro da
cidade. Criar essa infra-estrutura planejada para não parar
a cidade, foi o objetivo de então.
Já em meu segundo mandato de prefeito, de 1993 a 1996,
destaco a construção do terminal de ônibus da Praça da
Bandeira, do terminal de ônibus do Parque D. Pedro II,
da passagem de nível Antonio Carlos Jobim, na Avenida
Senador Queiroz sobre a Avenida Prestes Maia. Mas tam-
bém muito importante, acho eu, foi a criação de providên-
cias de longo prazo, como a Operação Urbana Centro, o
ProCentro e todo o estudo e discussão do projeto, depois
transformado em lei, que isenta da cobrança do IPTU, por
dez anos, prédios do Centro que tenham a sua fachada
restaurada. Esses estudos e a discussão feita em torno deles
possibilitaram enviar essa propositura à Câmara Municipal
logo no começo de 1997.
Continuo um defensor do Centro e credito a sua deteriora-
ção ao aumento da criminalidade nessa área. O que significa
que não basta apenas criar infra-estrutura para preservar e
revigorar o Centro, se, além de obras físicas e providências
burocráticas, não se complementem também em ação so-
cial, ligada ao aumento de empregos disponíveis, à constru-
ção de moradias, como aquelas do Projeto Cingapura, e em
uma eficiente ação policial para coibir abusos que sempre
existirão com o Centro deteriorado ou não.
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ARTIGO
A revitalização do Centro
80 o início das intervenções no desvalorizado Centro de
Fábio Mattos
Boston, que começaram pelo reaproveitamento do anti-
go mercado, transformado em pólo de entretenimento
e gastronomia. Hoje, aquela área, onde antes ninguém
queria morar, é um dos lugares mais procurados e caros
da cidade.
Nossa expectativa era de que o mesmo viesse a acontecer
em São Paulo. Para tal, partimos de um plano macro para
a região central, atribuindo tarefas aos diversos órgãos
públicos e dando início a ações pontuais: a recuperação
do Parque da Luz, a desocupação da Praça da Sé por
ambulantes, a reforma dos viadutos do Chá e Santa Ifi-
gênia, incluindo nova iluminação, o aproveitamento da
Galeria Prestes Maia pelo Masp, a interligação por linha
de trólebus dos terminais de ônibus centrais (Parque D.
das ações programadas. Situação essa que é provocada, para a área central. Na negociação da dívida da cidade
na minha opinião, pela ausência de uma Lei de Responsa- com o Governo Federal, obtivemos o aval da União para
bilidade Fiscal). Essa regra, que não existe ainda, deveria vimento (BID) de US$ 100 milhões, que garantiria a im-
ser criada para impor aos sucessivos governos municipais plementação de 130 ações na região central.
a continuidade de projetos e obras que demandem mais Lamentavelmente, a gestão que nos sucedeu abandonou a
de um mandato para a sua implementação. concepção original do projeto, mudando, inclusive, o nome
O trabalho do ProCentro durante a nossa gestão, de de ProCentro para Ação Centro; não sacou o empréstimo
1997 a 2000, baseou-se na bem-sucedida experiência do BID e, o que é pior, permitiu e até incentivou invasões
de outras cidades, americanas e européias, que empre- de prédios desocupados por sem-teto, que resultaram em
enderam programas de longo prazo para a recuperação novos cortiços. Algo semelhante já havia ocorrido em ad-
das suas deterioradas áreas centrais. Com perseverança, ministração anterior – a da prefeita Luiza Erundina – no
muitas dessas cidades conseguiram, num tempo médio que se refere às áreas de mananciais e reservas ecológicas,
de 20 anos, reverter a situação. Testemunhei nos anos ocupadas por favelas e loteamentos irregulares.
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de São Paulo Por Celso Pitta*
Fábio Mattos
O Viaduto Santa Ifigênia foi reformado na gestão de Celso Pitta.
A construção da primeira linha do Fura-Fila, mesmo com municipal, o projeto ainda não foi concluído. Moral da
recursos garantidos pelo BNDES, foi abandonada, seu história? Perde-se tempo e recursos simplesmente porque
canteiro de obras desativado e o trecho já eletrificado teve cada governo municipal se recusa a dar seguimento a um
os cabos de energia roubados. Posteriormente, quando o plano original e quer, a qualquer custo, imprimir a marca
projeto foi retomado, não se respeitou o plano original, da sua administração. Por isso é que a recuperação do
seu nome foi mudado para Paulistão, e o custo por quilô- Centro de São Paulo vai se arrastando.
metro aumentou quase 50%, conforme uma reportagem
da Folha de S.Paulo de 7 de agosto de 2006. Novamente
rebatizado para Expresso Tiradentes, pelo atual governo * Celso Pitta é economista e ex-prefeito de São Paulo.
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ARTIGO
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cultura e moradias
Flávio Moraes
O Mercado Municipal foi restaurado na administração de Marta Suplicy.
Jorge, Brigadeiro Tobias, Maria Paula, Celso Garcia e Fernão Encerramos o mandato entregando ao nosso sucessor proje-
Sales. Incluindo outras fontes de financiamento, até o final do tos já aprovados pelo BID, por exemplo: os dois piscinões da
governo, ao todo, entregamos 1.302 unidades habitacionais. Praça das Bandeiras, dois da Praça 14 Bis, a drenagem do Vale
Fortalecemos o Poder Público local com a instituição da do Anhangabaú, a reforma da Biblioteca Mário de Andrade,
Subprefeitura da Sé e trouxemos trabalhadores para a lo- do Palácio das Indústrias (que seria transformado no Museu
calidade – cerca de 8 mil servidores se instalaram em mais da Cidade), do Edifício Martinelli, do Teatro Municipal, o
de dez de secretarias e órgãos municipais. A zeladoria da Parque do Gato, e projetos habitacionais no Belém, Bresser e
região melhorou: lavagem de ruas, varrição. Por fim, com Centro (no antigo Hotel São Paulo). Cumprimos nossa mis-
o novo sistema de transporte, racionalizamos a vinda ao são, e deixamos sinalizados os caminhos para o futuro.
Centro, o que diminuiu o fluxo de passagem e qualificou
a presença na área. *Marta Suplicy foi prefeita de São Paulo e deputada federal.
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ENTREVISTA
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iluminação pública, paisagismo e ordenamento do mobili- Outro projeto interessante foi a abertura para veículos nas
ário, além da implantação de galeria técnica, que compor- ruas Dom José de Barros, 24 de Maio e XV de Novembro,
ta a infra-estrutura de tecnologia de informação, como o propiciando maior acesso ao Centro Velho. Reformamos
cabeamento de fibra ótica. Ainda há muito a ser feito, mas também a Praça Fernando Prestes e estamos revitalizando a
estamos trabalhando com afinco para resgatar a dignidade, Rua Avanhandava e o Parque da Luz, que inclusive ganhou
atrair novos negócios e multiplicar a vocação comercial e novas calçadas. A Rua Augusta também terá calçadas novas
cultural desta que é uma das mais belas regiões da área até o final do ano. É nesse sentido que a Zeladoria Urbana é
central da cidade. Algo que só acontecerá com a adesão e fundamental. Temos estudantes de arquitetura percorrendo
o apoio de todos os paulistanos. a região central em busca de problemas e soluções. Desde a
implantação, para se ter uma idéia, mais de 6 mil demandas
URBS: Quais outros desafios sua gestão está buscando en- foram encaminhadas para os setores responsáveis.
frentar no Centro?
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URBS: Tem havido um esforço da administração em retirar URBS: Como o senhor avalia o trabalho da Associação
camelôs ilegais das áreas centrais. Porém, o combate ao co- Viva o Centro, que completa 15 anos de existência?
mércio irregular muitas vezes termina com a volta das barracas
no fim de um período de fiscalização. Qual é o plano de sua GK: A Viva o Centro teve o papel de liderar todos os mo-
gestão para que essa questão seja resolvida? vimentos da cidade em favor da revitalização do Centro.
Isso é algo que todos na cidade reconhecem: lideranças,
GK: Na região central, a fiscalização do comércio ambulante entidades, poderes públicos. E a Prefeitura, seja essa gestão,
compete à Guarda Civil Metropolitana, que está intensifican- ou as anteriores, teve com a Associação uma parceria funda-
do suas ações principalmente após a instalação de 35 câmeras mental para direcionar para ao Centro a volta das principais
que monitoram o Centro durante 24 horas. Para se ter uma ações de governo, em termos de constituição dos seus nú-
idéia, hoje são 767 ambulantes autorizados a trabalhar na re- cleos de poder. A Prefeitura de São Paulo está totalmente
gião central, contra 1.244 no inicio da atual gestão. Os núme- enraizada no Centro, com suas Secretarias e empresas, e
ros são impressionantes: neste ano cerca de 140 mil sacos de também o Governo do Estado. Isso serve como estímulo
mercadorias de ambulantes ilegais foram apreendidos, sendo para que outros possam fazer a adesão a esse movimento
que 90% são produtos pirateados, contrabandeados, falsifica- de recuperação do Centro, com a presença física. É evi-
dos ou de cargas roubadas. E, em 2005, foram apreendidos dente que, em alguns casos, nós não conseguimos evitar a
e destruídos mais de 1 milhão de CDs e DVDs pirateados. saída do Centro. Recentemente, por exemplo, um grande
A fiscalização é contínua e esses ambulantes que insistem em escritório de advocacia nos deixou. Mas são fatos isolados,
voltar para as ruas são os que trabalham com produtos ilegais porque o volume das vindas para o Centro é maior do que
e não têm interesse em ir para os chamados shoppings popu- o movimento de saída. O papel da Viva o Centro nisso é
lares, onde é exigido que a mercadoria comercializada tenha fundamental.
origem comprovada. A política para os ambulantes é deixar os
que têm TPU (Termo de Permissão de Uso) e trabalham com URBS: Como vem se dando a contribuição da Viva o Cen-
mercadorias lícitas na rua e ao mesmo tempo incentivar a cria- tro junto ao Poder Municipal? Na sua gestão, essa relação
ção de popcentros, como os do Brás e das avenidas Senador tem sido proveitosa?
Queiroz e Ipiranga.
GK: Primeiro é importante registrar que a Viva o Cen-
URBS: A falta de acessibilidade para os automóveis é um tro tem no seu interior representantes das mais diversas
problema para quem circula pelo Centro. A Prefeitura tem entidades, todas elas muito representativas. Portanto tem
trabalhado por essa acessibilidade? legitimidade. Em todas as ações da Prefeitura, tivemos a
colaboração e cooperação da Viva o Centro em termos de
GK: Sim, e ela é fundamental. Algumas ruas estão sendo idéias e de parcerias. Isso é histórico. Assumi o cargo de
abertas ao público e isso vai atender os proprietários dos es- vereador em 1993, quando a Associação era bem recente,
critórios, que reivindicavam há muito tempo ter acesso aos mas já estabelecemos uma convivência muito intensa com
edifícios. Também retomamos as construções das garagens todos os dirigentes, e tenho isso até hoje, independente da
subterrâneas. Estamos na fase final de licitação de três novas condição de prefeito. O trabalho da Associação é notável e
garagens e iremos iniciar a licitação de mais três. Esperamos a presença dele está em cada ação da Prefeitura e do Gover-
poder concluir as primeiras até o final de 2008. no do Estado no Centro.
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URBS: Como o senhor enxerga o Centro daqui a 15 anos?
Zé Afonso
GK: Eu vejo o Centro com um transporte público mais
integrado. Hoje nós temos uma excelência no serviço de
metrô, com três estações excepcionalmente localizadas, for-
mando um triângulo aqui no coração da cidade. Mas temos
que pensar no transporte de ônibus e peruas, que se afastou
do Centro, e algo deve ser feito para retorná-lo, com anéis
em torno do Centro, mini-anéis, que daqui a 15 anos este-
jam concluídos. E também investimento em equipamentos,
sejam públicos ou privados. Os investimentos públicos serão
em menor escala, porque grande parte dos órgãos já volta-
ram para o Centro. Daqui a 15 anos, espero que o Centro
tenha mais moradias, que são fundamentais para a região. A
habitação é que vai dar mais vida para o Centro. Ele preci-
sa ter vida à noite e no fim de semana. Temos conseguido
trazer as universidades para cá. Isso faz com que tenhamos
a convivência dos alunos, mais serviços, dando um brilho
todo especial, que não tinha antes.
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ARTIGO
Um brinde às
“Chego à meia-noite e cinco
ou então a qualquer hora...”
Adoniran Barbosa
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pantográficas Por Camilo Rocha*
Flávio Moraes
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ARTIGO
Integração e planejamento
Por Maria Teresa Pereira Craveiro*
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ARTIGO
O direito à cidade
Por Carmenza Saldias Barreneche*
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RESENHA
Reconstruindo
paisagens urbanas
Por Paulo César Garcez Marins*
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REPORTAGEM
A cidade de cada um
Em um Centro cheio de história, participantes das Ações Locais contam
os sonhos que os motivam a persistir em um trabalho que parece não ter fim
s luzes do Centro da cidade compunham a vista que da falta de eficiência de todas as gestões que viu passar. “A
A Gilberto Taccolini teve em sua infância, passada no administração sempre entra com vontade, e depois vai es-
bairro da Bela Vista, no Morro dos Ingleses. “Não eram tan- friando”, afirma. Ele conta que o grupo de sua Ação Local
tos prédios naquela época. Eu assisti a isso tudo mudar”, reúne-se sempre por conta de problemas ligados à zeladoria
lembra o paulistano de 69 anos, que há seis é o síndico do urbana, como limpeza pública, o acesso dos veículos ao Vale,
Edifício Mercantil Finasa, no Vale do Anhangabaú. Taccoli- a falta de segurança. E a estátua. “Já falei com o subprefeito
ni trabalha nesse mesmo prédio desde 1974, quando ainda Andrea Matarazzo, e ainda não resolveram. Fui reeleito con-
era diretor-financeiro de uma empresa metalúrgica. Sua for- selheiro e vou continuar a lutar.”
mação de contabilista rendeu o convite para participar da É esse tipo de empenho que o advogado Aguinaldo Trium-
administração do condomínio. A atuação de Taccolini, no pho Avellar, de 53 anos, presidente da Ação Local Ifigênia I,
entanto, não se limita ao interior do gostaria de ver entre os empresários de
Fábio Mattos
edifício que ele gerencia. sua região. “O pessoal acha que a Viva
O processo de degradação do patrimô- o Centro tem que fazer tudo, mas eles
nio histórico e cultural do Centro veio têm que participar. As pessoas querem
bater à porta do Mercantil Finasa já nos só o benefício”, diz o advogado, que
anos 80. Uma estátua do compositor trabalha há 35 anos no Centro, na
italiano Giuseppe Verdi, vizinha ao edi- Avenida Cásper Líbero. Para Avellar,
fício, passou a ser alvo de vandalismo, e pequenos empresários e comerciantes
o jardim em volta da obra começou a não percebem a importância da união
atrair moradores de rua. Ainda durante Gilberto Taccolini é conselheiro da Ação Local e colaboração para o encaminhamento
Anhangabaú. Entre os problemas da região, está
a administração de Jânio Quadros na de respostas aos problemas da região.
a depredação da estátua do compositor italiano
Prefeitura, Taccolini, então subsíndico Giuseppe Verdi, mesmo com a proteção das grades. “Muitos só chegam para reclamar que
do edifício, conseguiu instruções do o camelô sujou a porta do estabeleci-
Poder Municipal para fechar o jardim da estátua com uma mento, ou que está concorrendo com ele. Mas não se preo-
grade. “Era preciso proteger a obra”, diz. Nos anos que se cupam em conservar bem o seu pedaço”, afirma.
seguiram, a grade se provou ineficiente contra a ação de van- Avellar conta que, mesmo com as dificuldades, sua Ação
dalismo, e a estátua foi depredada. Desta vez, as cordas da Local já realizou muito. “Conseguimos um posto policial
lira que fica nas mãos de um anjo, atrás de Verdi, foram rou- e o fim da ‘feira do rolo’, onde se comercializavam produ-
badas. “A Prefeitura não conserta, e também não me deixa tos roubados e até drogas”, lembra o advogado. “Acabamos
consertar”, reclama o síndico. tendo um canal direto com o Poder Público. Para mim, nos-
Taccolini participa há mais de dez anos da Ação Local sa Ação Local é uma realidade positiva”, analisa. Avellar tem
Anhangabaú e foi reeleito membro do conselho fiscal em muitos planos para as quadras que estão sob a responsabili-
outubro. Suas reivindicações junto ao Poder Público não dade de seu grupo. Ele batalha pela reurbanização da Praça
se resumem ao problema da estátua. Ele é um forte crítico Alfredo Issa. “Puseram uma tela para tentar proteger
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o jardim, e já tinha gente daí passou a contribuir com a Ação Local. Interessada na
colocando até galinha ali história da cidade, Sidnéa descobriu o valor histórico e arqui-
dentro”, diz Avellar, que tetônico do conjunto escultórico do Largo da Memória. “O
também luta para mudar o obelisco data de 1814, e em 1922 foi construído o conjunto
Fábio Mattos nome da praça para Oscar em volta”, explica a arquiteta.
Niemeyer, em homenagem Mesmo com o peso de ser o monumento mais antigo de São
Artur Roçado e Sidnéa aos projetos do arquiteto Paulo, o obelisco ficou por muito tempo abandonado, e foi
Silva lutam pela limpeza e no Centro. O advogado, pichado de alto a baixo. Em 2004, os membros da Ação Local
manutenção do monumento
que também é jornalista, Ladeira da Memória conseguiram a adoção do monumento
mais antigo de São Paulo,
o Obelisco da Memória, tem planos de criar um me- pela Votorantin e, em 2005, foi feita uma nova inauguração
construído em 1814. morial da imprensa na Ave- do obelisco, livre de todas as pichações e recuperado. Artur
nida Cásper Líbero, que, em 1939, tornou-se o endereço do Roçado expressa o agradecimento de todos os membros da
Palácio da Imprensa, primeiro prédio construído especial- Ação Local ao novo patrocinador do Obelisco da Memória,
mente para um jornal, a Gazeta. A avenida chamava-se ainda mas lamenta. “Houve uma nova pichação e precisamos de
Rua da Conceição, e só depois ganhou o nome do criador uma nova limpeza”, afirma. Além disso, Roçado diz que seu
do periódico. “Não existe um museu desses ainda no país”, grupo tem tido dificuldades em organizar eventos no Largo
diz Avellar. “As pessoas passam por aqui, e não conhecem a da Memória, por conta da falta de limpeza pública. “Cha-
história”, conclui. mamos um coral, no ano passado, para cantar na época das
Uma dessas histórias é o mote do trabalho do empresário festas de fim de ano, mas tivemos que cancelar tudo porque
Artur Monteiro Roçado e da arquiteta Sidnéa de Souza Sil- a Prefeitura não fez a limpeza que pedimos”, explica. Neste
va. Roçado, de 37 anos, é carioca e veio para São Paulo há 13 ano, ele diz que vão tentar fazer novos eventos, e querem
anos. Mora há nove na Rua Álvaro de Carvalho e, por ser um iluminar as árvores do entorno para o Natal. “Para mim, este
membro ativo da comunidade, foi chamado pela coordena- monumento é tão importante quanto o corcovado, no Rio
dora de Apoio às Ações Locais na Viva o Centro, Teresinha de Janeiro, ou o Pelourinho, em Salvador”, diz o empresá-
Santana, a fazer parte da Ação Local Ladeira da Memória. rio. Sidnéa concorda: “Não consigo vir ao Centro sem passar
Sidnéa, de 34 anos, trabalhava em um banco na Rua Martins por aqui. Conheço cada árvore do largo, tudo. Este não é só
Fontes. Foi convidada a participar de uma reunião e a partir um local de passagem, é um oásis na cidade”.
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ARTIGO
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viva o centro 15 anos urbs 51
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52 urbs viva o centro 15 anos
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