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Revue franco-brésilienne de géographie / Revista franco-brasilera de geografia
44 | 2020
Número 44
Dossiês
Geografia regional
Regionalizações brasileiras:
antigos legados e novos desafios
Régionalisations brésiliennes : anciens héritages et nouveaux défis
Brazilian regionalizations: old legacies and new challenges
Rogério Haesbaert
https://doi.org/10.4000/confins.26401
Résumés
Português English Français
Este artigo problematiza a regionalização brasileira a partir de questões trazidas por antigas
regionalizações e dos desafios contemporâneos para sua realização. São consideradas tanto as
tendências de continuidade quanto as de ruptura, seja em termos analíticos quanto da realidade
empírica. São apontados alguns processos mais recentes, como o da megarregião Rio-São Paulo,
o das regiões e/ou redes regionais em áreas de modernização agrícola, as regiões
transfronteiriças e, sobretudo, as regionalizações “a partir de baixo”, construídas através de
processos de resistência de grupos subalternos.
This article problematizes the Brazilian regionalization from issues coming from old
regionalizations and the contemporary challenges to its realization. Both continuity and rupture
tendencies are considered, both analytically and empirically. Some recent processes are pointed
out, such as the Rio-São Paulo mega-region, the regions and/or regional networks in areas of
agribusiness, the cross-border regions and, above all, ” regionalizations “from below”, produced
through processes of resistance of subaltern groups.
Cet article problématise la régionalisation brésilienne à partir des questions posées par les
anciennes régionalisations et les défis contemporains pour sa réalisation. Les deux tendances de
continuité et de rupture sont considérées, à la fois en termes analytiques et dans la réalité
empirique. Quelques processus plus récents sont signalés, comme celui de la méga-région Rio-
São Paulo, celui des régions et/ou des réseaux régionaux dans les domaines de la modernisation
agricole, les régions transfrontalières et, surtout, les régionalisations « d'en bas », construites par
des processus de résistance des groupes subalternes.
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Texte intégral
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1 O principal objetivo deste artigo é problematizar a regionalização brasileira à luz de
questões trazidas por antigas regionalizações e de novos desafios que emergem a partir
de transformações geográficas mais recentes. A atualização dessa regionalização passa
também por uma reavaliação das ferramentas teóricas de que dispomos para
compreender o que denominamos des-articulação regional. Antigas regionalizações,
como veremos, não devem ser completamente rejeitadas, na medida em que podem
evocar processos que somente hoje emergem com maior relevância. É o caso, como
veremos, da consolidação de um “multi-centro” em torno da área Rio-São Paulo,
“região core” do país.
2 Sem a pretensão de trazer uma resposta consolidada para uma nova regionalização
do país, levantamos algumas evidências empíricas que balizam novos desafios teóricos,
como no que tange ao papel revigorado e multidimensional das redes – que em
determinado momento são tratadas como “redes regionais” – e a emergência de
“regionalizações de baixo para cima”, como aquelas que envolvem as novas
territorializações dos chamados povos tradicionais e que refletem igualmente a
necessidade de um pensamento descolonizado sobre a região.
3 Hoje, dentro de uma constelação geográfica de conceitos (Haesbaert, 2014), pode-se
afirmar que temos três grandes perspectivas para conceber a região: em primeiro lugar,
no sentido analítico mais amplo, temos a região “lato sensu”, como recorte com base na
diferenciação espacial que pode mudar conforme a escala e os propósitos e critérios
indicados pelo pesquisador. Se essa região considerar uma certa integração das
múltiplas dimensões do espaço, ela pode se confundir com a própria ideia de espaço
geográfico na perspectiva da articulação de suas diferenciações.
4 Finalmente, caso se parta de uma determinada relação/composição da região com
outros conceitos (como território, lugar e paisagem) e se considere a ampla tradição de
diálogo do conceito geográfico de região com a Economia, temos a região como o
conceito que melhor responde às problemáticas ligadas à dimensão econômico-
funcional do espaço. De qualquer forma, não é demais lembrar que o caráter
homogêneo da região há muito foi questionado, e o pressuposto da coesão ou, como
preferimos, da des-articulação regional, é a perspectiva mais consistente para
compreender o que podemos denominar os complexos regionais contemporâneos.
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“zonas fisiográficas” por ocasião da primeira divisão regional oficial do país, em 1941
(Guimarães, 1941). Iremos nos ater, aqui, apenas à escala das macrorregiões1, o
primeiro nível logo abaixo do nível nacional, comentando alguns exemplos, mas sem
nenhuma pretensão de tratamento exaustivo num tema tão vasto e já abordado, em
distintas perspectivas, por outros autores (ver por exemplo, para o caso das
regionalizações propostas pelo IBGE, Contel, 2014).
6 Para iniciar, nunca é demais lembrar o quanto o tratamento da regionalização está
impregnado dos processos de periodização, e vice-versa. Jamais podemos ignorar que
as regionalizações são sempre historicamente datadas, assim como as periodizações
têm sua validade regionalmente delimitada, pois nunca podem ser amplamente
generalizadas. Essa contextualização espaço-temporal, não podemos esquecer, refere-se
tanto às transformações histórico-geográficas concretas quanto – e às vezes de maneira
dissociada – no campo da história das ideias. Por diferentes motivos, entretanto,
algumas regionalizações, como veremos, podem resistir no tempo.
7 Uma das primeiras regionalizações do Brasil amplamente difundidas, sobretudo
através de livros didáticos, foi a do geógrafo Delgado de Carvalho, em 1913 (figura 1),
mais de cem anos atrás, portanto, identifica uma região Setentrional, e uma região
Central praticamente equivalentes às atuais regiões Norte e Centro-Oeste, não fosse a
variação na composição político-administrativa que criou, posteriormente, os
territórios – depois estados – de Rondônia (incluída na região Norte), Roraima e
Amapá2. Pautado em critérios de diferenciação físico-natural, Carvalho critica a
regionalização com base em divisões administrativas (como a de Manuel Said Ali Ida,
de 1905, que identificava, entre outras regiões, um Brasil Oriental de São Paulo a
Sergipe) e propõe a divisão por critérios “geográficos” – sinônimo, à época, de “quadros
naturais”.
8 Assim, visivelmente inspirado no “primeiro” Vidal de la Blache de 1897 (em “Divisões
fundamentais do território francês”), Carvalho considera que os geógrafos demoraram
tanto a “encontrar bases naturais para o estudo da geografia” porque ela permaneceu
“demasiadamente ligada à história”. Daí, afirma: “Para a classificação e a interpretação
dos fenômenos da Natureza [fundamento da Geografia] só mesmo a Natureza é que
pode oferecer quadros adequados, e estes são exatamente as regiões naturais”.
(Carvalho, 1925, apud Vlach, 1989, p. 153)
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12 Embora não sejam definidas com clareza expressões como “conjunto ecológico de
pessoas” ou “relações espaciais de população”, é evidente a relevância que o autor
concede às relações entre a sociedade e seu meio “ecológico” ao longo da formação
histórica de determinado espaço, especialmente em sua dimensão econômica. A própria
nomenclatura utilizada para definir as regiões culturais (v. figura 2) parece, na verdade,
dar um peso fundamental à atividade econômica predominante, fruto de uma
determinada relação com a natureza (base geológico-mineral, tipo de solo, clima e
vegetação).
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17 Depois de apresentar as sete “regiões físicas brasileiras” (onde, além das então
recorrentes regiões Amazônia, Central, Nordeste, Leste e Sul, aparecem o Meio-Norte e
o Planalto Paulista) e propor uma síntese do processo histórico de colonização e
formação econômica do país, o autor conclui que resultou daí um Sul e Sudeste “de
maior influência das migrações europeias modernas” onde estão as “partes mais
desenvolvidas, mais industrializadas e mais urbanizadas”. Esse raciocínio “moderno-
colonial” da época, contrapondo “atraso” e “progresso”, tradição e modernidade,
concede ao Norte e Nordeste “a parcela mais tradicional, menos industrializada” e com
menor influência da migração europeia (p. 34), mas o autor ressalta que o
“crescimento” do Sul-Sudeste também se fez “às expensas de correntes de migrações
internas” e que nossa “miscigenação étnica” evitou a existência de “problemas étnicos
profundos” (p. 35).
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cada uma dessas “grandes regiões” também são identificadas subdivisões regionais. Na
“região que comanda o país”, o Sudeste, aparece em primeiro lugar a “região industrial
e urbana”, resultante do “entrelaçamento da ação” das duas grandes metrópoles, Rio e
São Paulo. Ela se estende de Cabo Frio e Santos, de Rio a Juiz de Fora e de São Paulo a
Sorocaba e Piracicaba – praticamente aquele espaço que hoje Lencioni (2015) identifica
como megarregião Rio-São Paulo, e que será comentada mais à frente.
19 Outra regionalização que de certo modo dá sequência àquela proposta por Geiger,
sob outras bases teóricas, é a da geógrafa Bertha Becker, em 1972 (republicada em
Becker, 1982). A autora desenvolve uma regionalização através de “regiões segundo
interações espaciais” (fig. 4), fundamentada na teoria dos sistemas e na ideia de
desenvolvimento capitaneado por centros difusores de inovações, bem ao estilo da
“integração nacional” projetada pelos governos militares. Em suas palavras, “à medida
que as inovações se difundem pelo sistema espacial, o desenvolvimento é alcançado. A
incidência espacial do desenvolvimento é a integração nacional, realizada quando a
multiplicidade de core regions absorve a periferia”. (Becker, 1982, p. 16)
20 Reconhece-se, entretanto, o processo concentrador em torno das “core regions”,
representadas pelas duas grandes metrópoles, Rio de Janeiro e São Paulo, e suas
regiões metropolitanas. Para Becker, o “efeito cumulativo” das relações centro-periferia
“é fortemente favorável ao ‘centro’, que vem continuamente reforçando sua vantagem
relativa”. A região “core” das duas áreas metropolitanas “constitui o centro de decisão
da nação, sede das iniciativas que organizam o espaço”, sendo o “dinamismo do ‘centro’
que comanda o sistema espacial, ao qual a periferia se integra de formas diversas”. (p.
20) A partir daí a autora identifica (ver fig. 3) “regiões periféricas dinâmicas ou em
desenvolvimento”, “regiões periféricas em lento crescimento”, “regiões periféricas
deprimidas” e “fronteira de recursos ou regiões de novas oportunidades”.
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21 Menos de uma década depois, Milton Santos e Ana Clara Torres Ribeiro ampliariam
a concepção da “região core” propondo o termo “região concentrada” num trabalho que,
por referência do próprio autor (Santos, 1993), não chegou a ser publicado (Santos e
Silveira, 1979). É interessante notar que em 1993 Milton Santos, que ainda não havia
acrescentado o qualificativo “informacional” ao seu então “meio científico-técnico”,
chega a espacializá-lo, propondo substituir o termo “região concentrada”, como se o
efetivo “meio científico-técnico” estivesse circunscrito espacialmente à região Centro-
Sul5. Mas logo a seguir ele reafirma:
Hoje, pode-se falar de uma região concentrada que abrange, grosso modo, os
estados do Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) além de São Paulo e
Rio de Janeiro e parcelas consideráveis do Mato Grosso do Sul, Goiás e Espírito
Santo. Trata-se de uma área contínua onde uma divisão do trabalho mais intensa
que no resto do País garante a presença conjunta das variáveis mais modernas –
uma modernização generalizada – ao passo que no resto do país a
modernização é seletiva, mesmo naquelas manchas ou pontos cada vez mais
extensos e numerosos, onde estão presentes grandes capitais, tecnologias de
ponta e modelos elaborados de organização. (1993, p. 39-40)
22 Seis anos depois, em 1999, agora com Maria Laura Silveira (Santos e Silveira, 2001),
Milton Santos desdobra esse caráter concentrador, que – como na regionalização
proposta por Pedro Geiger – aparece caracterizando quase todo o Centro-Sul do país.
Trata-se ainda, em primeiro lugar, de reconhecer a “difusão diferencial do meio
técnico-científico-informacional” e as “rugosidades”, o acúmulo das heranças do
passado. Propõe-se, “grosseiramente – e como sugestão para um debate”, “quatro
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Brasis (ver fig. 5): uma Região Concentrada, formada pelo Sudeste e pelo Sul, o Brasil
do Nordeste, o Centro-Oeste e a Amazônia” (p. 268). O que mais importa não é a
configuração, questionável, de base político-administrativa, mas o conteúdo das
relações de e entre essas regiões.
23 A partir da interpretação de Santos e Silveira (1999) denominação “Região
Concentrada” traduz agora a leitura crítica que fundamenta uma regionalização onde a
polarização e a “centralidade” (comandada, segundo os autores, por São Paulo e
Brasília) é “criadora de conflitos”. A ênfase ao processo de concentração supera em
muito, portanto, a concepção desenvolvimentista presente nas interpretações dos anos
1960/1970 – o que não significa que o imaginário político nacional não continue, ainda
hoje, moldado por aquele ideário.
24 Os autores consideram, assim, novas lógicas centro-periferia, muito distintas da
interpretação sistêmico-desenvolvimentista de Becker, anteriormente comentada6.
Reconhece-se um crescimento econômico desigual e combinado em que o
aprofundamento das desigualdades pode ocorrer no próprio interior da “região
concentrada”. A informação e os serviços, desde os anos 1970, passam a comandar a
economia, reforçando a centralidade de São Paulo que, juntamente com Brasília, exerce
uma “regulação delegada”, subordinada às “forças centrífugas”, externas a sua
“competência territorial”. O padrão capitalista neoliberal vigente no final dos anos 1990
revela, por sua vez, um Estado também “centrifugador”, onde “sua regulação acaba por
ser desreguladora”, periferizando ainda mais o país na esfera internacional. (Santos e
Silveira, 1999:268)
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nas últimas duas ou três décadas, e que permitem falar em novos desafios para a
regionalização do país. É o que focalizaremos no próximo item.
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(fonte: Lencioni, 2015:65, com base no Google Earth, 2014)
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transfronteiriças que não há como efetivar uma regionalização do Brasil sem considerar
a intensidade dos laços travados ao longo das fronteiras (ver por exemplo as redes
transfronteiriças com os vizinhos do Mercosul identificadas em Haesbaert e Santa
Bárbara, 2001). O caso mais evidente é o do leste paraguaio, tomado pela migração
sulista que devastou a floresta e disseminou a cultura da soja, mas isso também se
reproduz, em escalas menores, em casos como os do Uruguai e Argentina (através da
rizicultura) e da Bolívia e Venezuela (também com a soja).
38 Para completar, uma regionalização que se preze, hoje, além de incorporar relações
transfronteiriças, não pode se eximir de considerar a incorporação econômica de áreas
marítimas, onde o caso mais destacado é o do petróleo, notadamente no caso do pré-
sal. O mapa apresentado por Lencioni (2015) como “o reverso” da megarregião Rio-São
Paulo representa bem a relevância dessa nova configuração territorial para além do
espaço continental brasileiro (figura 8)
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Considerações finais
45 Este texto foi estruturado em duas grandes partes: a primeira, que analisou algumas
regionalizações relevantes da história brasileira ao longo do século XX, e a segunda, que
se deteve em alguns dos principais desafios que se colocam para uma nova
regionalização do Brasil. O passado e o presente, é claro, não são excludentes, sendo
necessário um tratamento histórico consistente para entender as atuais transformações
em curso no nosso país. Embora a limitação de espaço neste artigo não tenha permitido
um maior detalhamento do processo histórico, o próprio percurso através da história
(incluindo a história das ideias) pelas distintas regionalizações aqui tratadas mostrou
um pouco das dinâmicas que, entre avanços e retrocessos, continuidades e
descontinuidades, desenhou o atual mapa regional do país.
46 A maioria de nossas regionalizações, geralmente vinculadas a interesses
administrativos (e do planejamento), foram delimitadas tomando como referência as
unidades político-administrativas. Delgado de Carvalho, entretanto, no início do século
XX, tal como o Vidal de la Blache do final do século XIX (Vidal de la Blache,
2012[1888]), considerava as divisões regionais com base administrativa “divisões
artificiais”, devendo-se pautar pelas “divisões naturais”. Com o tempo, ignoramos as
bases naturais na construção do espaço geográfico e passamos a regionalizar
considerando quase que exclusivamente as funções e/ou os fluxos econômicos
(comércio, indústria e serviços nas regiões funcionais, por exemplo) ou a dinâmica de
acumulação desigual capitalista (região como produto da divisão espacial do trabalho).
47 Por mais que enfatizemos hoje as redes técnicas, de natureza econômica, nas
configurações regionais, temos que considerar a força, crescente em muitos contextos,
do conteúdo mais especificamente político e/ou cultural das redes (como vimos no caso
das redes transfronteiriças e das redes regionais para o caso brasileiro). Além disso, não
podemos esquecer que toda construção geográfica compreende também as des-
articulações (com hífen, pois são processos concomitantes), cada vez mais
problemáticas, com o espaço natural. Além disso, percebido, concebido e vivido (nos
termos de Lefebvre) se entrecruzam através da ação de múltiplos sujeitos sociais que
produzem as regiões em cada contexto histórico-geográfico.
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50 Agradecimento: a Sandra Lencioni, pela gentileza da cessão das imagens das figuras
6 e 8.
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Notes
1 Mesmo se, como fizemos aqui para o caso brasileiro, priorizarmos a escala “macrorregional”,
não ignoramos a valorização, hoje, até mesmo do âmbito local no entendimento da região. O
famoso “localismo” de que Paul Vidal de la Blache foi equivocadamente acusado (a propósito, ver
Haesbaert et al., 2012), acabou voltando, renovado, nos anos 1990, no bojo do chamado
pensamento pós-moderno (v. por exemplo Nigel Thrift, 1991, 1992 e 1993).
2 É surpreendente que ainda hoje esse recorte se mantenha – talvez justificando a permanência,
também, de vínculos por vezes fortes entre a forma de ocupação socioeconômica de cada uma
dessas macrorregiões e seus traços naturais preponderantes.
3 “É a célebre questão da diversidade e da variedade que está em jogo, do genius loci, de uma
organização espacial dos contrastes típicos ao território do País (entendido aqui como nação). (...)
As figuras paisagísticas de cada região respondem a uma territorialidade marcada pela alteridade
de seus elementos naturais e por seus habitantes que os modificam ou se adaptam a eles”.
(Angotti-Salgueiro, 2005, p. 31)
4 A regionalização do país definida pelo IBGE que propôs a região Sudeste só viria a ser
oficializada em 1970. Para uma análise das regionalizações oficiais do Brasil de 1942, 1970 e 1990
ver Contel, 2014.
5 “Nesta ordem de ideias, a expressão meio científico-técnico poderia ser utilizada em
substituição àquela (que há alguns anos cunhamos juntamente com Ana Clara Torres Ribeiro) de
região concentrada”. (Santos, 1993, p. 39)
6 “... é difícil prosseguir falando de uma situação de polo-periferia, onde o polo seria uma área
circunscrita confundida com a própria extensão da principal aglomeração e sua região de
influência imediata como na proposta de Boudeville (1968) ou na de Friedmann (1971)”. (Santos,
1993, p. 39)
7 Para Elias: “... as RPAs [regiões produtivas agrícolas] devem ser estudadas como lugares
funcionais de circuitos espaciais da produção e círculos de cooperação da produção de
importantes commodities, cada vez menos resistente às ingerências exógenas e aos novos signos
do período histórico atual, comandado por algumas empresas hegemônicas do setor, tornando-se
lugares do fazer do agronegócio globalizado (representando suas áreas mais competitivas).
Assim, na definição das RPAs, estamos longe daquela solidariedade orgânica que era o próprio
cerne da definição do fenômeno regional” (Elias, 2011, p. 156)
Titre
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Auteur
Rogério Haesbaert
Professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia, da Universidade Federal
Fluminense e de Políticas Ambientales y Territoriales da Universidade de Buenos Aires,
rogergeo@uol.com.br
Droits d’auteur
Creative Commons - Attribution - Pas d’Utilisation Commerciale - Partage dans les Mêmes
Conditions 4.0 International - CC BY-NC-SA 4.0
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/
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