Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Geografia:
Conceitos eTemas
. ~-
ORGANIZADORES
~ -- ~
GEOGRAFIA:
CONCEITOS E TEMAS
GEOGRAFIA:
CONCEITOS E TEMAS
Organizado por:
2ª EDIQÁO
lB
BfRTRAND BRASIL
Copyright© 1995, Roberto Lobato Correa, Pauto Cesar da Costa Gomes,
Iná Elias de Castro, Marcelo José Lopes de Souza, Leila Clyistina Días,
Rogério Haesbaert, Claudio A. G. Egler, Julia Adáo Bernardes, Bertha K.
, Becker, Lía Osorio Machado
2000
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Incluí bibliografia.
ISBN 85-286-0545-0
CDD- 910
95-164 CDU- 910
APRESENTAQÁO 7
PARTE 1: CONCEITOS
Os organizadores.
PARTE!
CONCEITOS
ESPAQO, UM CONCEITO-CHAVE
DA GEOGRAFIA
E continua Tuan:
•
34 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
AS PRÁTICAS ESPACIAIS
Seletividade espacial
Antecipa~ao espacial
Marginaliza~io espacial
dista ali existente, Santo Ángela, que no passado foi urn significati-
vo lugar na rede de centros da Souza Cruz, foi submetido a margi-
nalizac;áo espacial.
Em 1978 é implantada a maior e mais moderna fábrica de ci-
garros da Souza Cruz, localizada em Uberlandia, urn estratégico
centro que passa a produzir tanto para o Sudeste como para os
promissores mercados consumidores das regióes Centro-Oeste e
Norte. A implantac;ao da fábrica, por outro lado,. que representa
também urna prática de antecipac;ao espacial, implicou o fecha-
mento em 1980 da fábrica de cigarros em Belo Horizonte, implan-
tada em 1938. Como a capital mineira manteve a sua filial de ven-
das e depósitos atacadistas, configurou-se urna marginalizac;ao
parcial.
BffiLIOGRAFIA
ALGUNSIMPORTANTESANTECEDENTES
A palavra regiáo deriva do latim regere, palavra composta
pelo radical reg, que deu origem a outras palavras como regente,
regencia, regra etc. Regione nos tempos do Império Romano era a
denominac;;áo utilizada para designar áreas que, ainda que dispu-
sessem de mna administrac;áo local, estavam subordinadas as
regras gerais e hegemónicas das magistraturas sediadas em Roma.
Alguns filósofos interpretam a emergencia deste conceito como
O CONCEITO DE REGIAO E SUA DISCUSSAO 51
BffiLIOGRAFIA
'Vale a pena chamar a atenc;:ao para o fato de que eE~sa diferenc;:a ou mesmo esse
antagonismo entre poder e violencia nem sempre é percebido pelos estudiosos.
Um exemplo dentre muito& é o do geógrafo Claude Raffestin, ao designar a vio-
lencia como "a forma extrema e brutal do poder" (RA.FFESTIN, 1993:163).
82 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
3
No Brasil, os anos 80 trouxeram vários exemplares bastante respeitáveis de con-
tribuif;oes ao estudo da territorialidade oriundos da pena de antropólogos urba-
nos, tendencia que prossegue na década de 90: GASPAR, 1985; ZALUAR, 1985
(especialmente pp. 174 e segs.); PERLONGHER, 1987; ZALUAR, 1994.
O TERRITÓRIO 83
5 Vide, p.ex., ajá clássica crítica de LACOSTE (1988). Quanto a regiao como urna
espacialidade ideologicamente funcional nos marcos de urna retlexao conserva-
l •.l
O TERRITÓRIO 85
tivo grupo apenas a noite. Durante o dia as ruas sao tomadas por
outro tipo de paisagem humana, típico do movimento diurno das
áreas de obsolescencia: pessoas trabalhando ou fazendo compras
em estabelecimentos comerciais, escritórios de baixo status e
pequenas oficinas, além de moradores das imedia~oes. Quando a
noite chega, porém, as lojas, com exce~ao dos bares e night clubs,
estao fechadas, e os transeuntes diurnos, como trabalhadores
"nonnais", pessoas fazendo compras e os residentes «o tipo que a
moral dominante costuma identificar como "decentes", cedem
lugar a outra categoría de freqüentadores, como prostitutas ( ou
travestis, ou ainda rapazes de programa) fazendo trottoir nas cal-
~adas e entretendo seus clientes em hotéis de alta rotatividade. O
caráter cíclico deste tipo de territorializa~ao, com urna alter-
nancia habitual dos usos diurno e noturno dos mesmos esp~os,
está representado pelo exemplo ficticio da Figura l.
Os territórios da prostitui~ao sao bastante "flutuantes" ou
"móveis".7 Os limites tendero a ser instáveis, comas áreas de
influencia deslizando por sobre o espa~o concreto das ruas, becos
e pra~as; a c~ao de identidade territorial é apenas relativa, diga-
mos, mais propriamente funcional que afetiva. O que nao significa,
em absoluto, que "pontos" nao sejam as vezes intensamente dispu-
tados, podendo a disputa desembocar em choques entre grupos
rivais -por exemplo, entre prostitutas e travestis, com estes ex-
pulsando aquelas de certas áreas, conforme relatado por GASPAR
(1985:18), que exemplifica com locais doRio de Janeiro e de Sao
Paulo. Esta característica de serem os territórios da prostitui~ao
bastante móveis, com limites as vezes muito instáveis, se encontra
ilustrada pelo modelo da Figura 2. Outros grupos sociais, como
gangues de rua constituídas por adolescentes e jovens, podem
apresentar territorialidades similares a da prostitui~ao, ao menos
~~r-----~----~~~ &WMhl
11:00 horas
~~~----~----~~~ &W~o
23:00 horas
J D c::::::J 1
Figura!
r
MOMENTO"X"
Limite territorial
UM ANO DEPOIS
M. J. Lopes dP Souza
Figura2
O TERRITÓRIO 91
t
1
f
M. J. Lopes de Souza
Figura3
96 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
" Vale a pena, aliás, tomar conhecimento da autocrítica feita muitos anos depois
por Hirschman (HIRSCHMAN, 1986b).
O TERRITÓRIO 103
A TÍTULO DE CONCLUSÁO
'"Vale a pena, de passagem, atentar para urna diferenci~íio implícita nesse exem-
plo: nao apenas a territorializac;:íio pelo tráfico de drogas em geral, mas sobretudo
a territorializac;:íio por organízac;:oes criminosas cada vez mais poderosas, como o
Comando Vennelho (maior organizac;:íio do tráfico de drogas carioca), que domi-
na muitas favelas e impoe chefes locais estranhos a "comunidade", acarreta difi-
culdades para os moradores, que tendem a ser menos respeitados.
r
112 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
BIBLIOGRAFIA
InáElias de Castro
Professora do Departamento de Geografia, UFRJ
INTRODUQÁO
ria, ou seja, nesta escala este seria o regional. Ele apontou a con-
tradi~ao mas nao a solucionou, sua prisao original do paradigma
totalizante do materialismo histórico foi mais forte.
Em seu objetivo, nao de definir toda a escala do espac;o so-
cial, mas de precisar os preambulos teóricos necessários a esta
elaborac;ao, o autor aponta para a necessidade de nao querer ir
além das reais possibilidades da escala cartográfica e para a ambi-
güidade das palavras nível e escala. Ou seja, as contradic;oes e pa-
radoxos com os quais ele se defronta ao longo de sua argumenta-
c;ao nao sao solucionados com seus supostos conceituais, mas tem
o mérito de sacudir o uso acomodado de determinados termos. No
entanto, em sua perspectiva a escala geográfica continuou sendo
percebida como um nível de análise de fenómenos sociais, cuja re-
ferencia analítica nao é nessariamente o espac;o, o que nao confere
significancia, em sua lógica de ocorrencia, a quaisquer recortes es-
paciais; além do problema de deixar de forado escapo analítico da
geografía segmentos importantes do espac;o, como os espac;os re-
gionais ou mesmo os espac;os do cotidiano da geografia humanis-
ta, que, se nao cabero em algumas estruturas conceituais, impoem-
se a partir da realidade da sua existencia.
Outros autores como RACINE, RAFFESTlN e RUFFY (1983) tam-
bém destacam a inconveniencia da analogia entre as escalas carto-
gráfica e geográfica. Para eles este problema existe porque a geogra-
fia nao dispoe de um conceito próprio de escala e adotou o conceito
cartográfico, embora nao seja evidente que este lhe seja apropriado,
pois a escala cartográfica exprime a representac;ao do espac;o como
forma geométrica, enquanto a escala geográfica exprime a repre-
sentac;ao das relac;oes que as sociedades mantero com esta forma
geométrica. Os autores apontam algumas fontes de ambigüidades
importantes, ligadas a confusao entre escalas geográfica e cartográ-
ficas e afalta de um conceito próprio de escala na geografla.
O primeiro problema crucial apontado refere-se a distribui-
c;ao dos fenómenos, cuja natureza se altera de acordo com as esca-
126 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
riódico sempre ao mesmo lugar, que foi urna das mais antigas fon-
tes de inspira<;ao da ciencia clássica, passou a ser confrontada
pelas partículas elementares que se transformam, que colidem,
que se decompoem e nascem. Segundo, o tempo, urna referencia
da biologia, geologia, ciencia sociais, penetrou também no nível
fundamental e cosmológico, de onde ele era excluído a favor de
urna lei eterna. Em síntese, a lei universal de Newton nao conse-
gue explicar tudo neste universo ampliado porque seu mecanismo
de base nao é transferível da escala macroscópica aquela micros-
cópica.
A escala é, portanto, um problema colocado para o pensa-
mento científico moderno. Para ULLMO "a hierarquia dos seres
científicos conjere todo o sentido a norao de escala dos jerúJme-
nos, norao corrente que temas utilizado sem dejini-la precisa-
mente, mas que merece atenrao" (1969, p. 72). Para ele, a escala se
defme tanto quando sao selecionados os instrumentos utilizados
nas experiencias de fenómenos microscópicos, como nos sentidos
do observador de fenómenos macroscópicos. Um mesmo fenóme-
no, observado por instrumentos e escalas diferentes, mostrará as-
pectos diferenciados em cada urna. "Colocar-se numa determina-
da escala é (. .. ) renunciar e perceber tudo que se passa na escala
iriferior'(Op. cit., p. 73).
O autor contribui ainda com a no<;ao de "ordem de grandeza"
dos fenómenos (tomada posteriormente por Lacoste para definir
os recortes espaciais da geografia) como ponto de partida opera-
tório adequado as diferen<;as de escala, acrescentando a proposi-
<;ao de que a escala de observa<;ao cria o fenómeno. Na realidade,
o que é visível no fenómeno e que possibilita sua mensura<;ao, aná-
lise e explica<;ao depende da eschla de observa<;ao.
Também LEVY-LEBLOND (1991), respondendo a questoes so-
bre mecanica quantica, afirma que com o desenvolvimento da físi-
ca atómica, tomou-se consciencia de que os objetos a escala ató-
mica (os elétrons, os prótons, os núcleos) tinham urn comporta-
132 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
Para ele a escala em si nao existe, e é por isto que ela consti-
tui urn problema.
Como já foi indicado acima na referencia a Merleau-Ponty, a
escala é urna proje<;ao do real, mas a realidade continua sendo sua
base de constitui<;ao, continua nela. Como o real só pode ser
apreendido por representa<;ao e por fragmenta<;ao, a escala consti-
tui urna prática, embora intuitiva e nao refletida, de observa<;ao e
elabora<;ao do mundo. Nao espanta a polissemia do termo, sua uti-
liza<;ao com significado específico em diferentes áreas do conheci-
mento.
134 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
BffiLIOGRAFIA
INTRODUQÁO
1
Este trabalho se inscreve num projeto de pesquisa em curso, com apoio do
CNPq, sobre as implicac;oes das redes de informac;iio sobre a organiZ3.9iio territo-
rial brasileira. A redac;iio do texto foi enriquecida pelas re¡u;oes de meus estu-
dantes do Curso de Pós-Gradua<;iio em Geografía da UFSC, em particular de
Eliane da V. Pacheco e de Rogério L. da Silveira.
142 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
O CONCEITO'DE REDE
'Esta idéia é defendida por G. RIBEILL (1988). Segundo o autor, o termo rede, de
uso pouco corrente até a primeira metade do século 19, ausente no Dictiannaire
Technologique (1828) e no Dictionnaire des Arts et Manufactures, aparece com
clareza nas obras dos discípulos do Conde de Saint-Simon ou Claude Henri de
Rouvroy (1760-1825).
' Lamé, Clapeyron e os irmii.os Stéphane e Eugene Flachat.
REDES: EMERG~NCIA E ORGANIZAQÁO 145
CONSIDERAc;óES FINAIS
BffiLIOGRAFIA
TEMAS
DESTERRITORIALIZAQÁO: ENTRE AS REDES E
OS AGLOMERADOS DE EXCLUSÁO*
Rogério Haesbaert
Professor do Departamento de Geografía da UFF
e
nalidade e utilitarismo especialmente para os capitalistas em bus-
ca da máxima lucratividade). Vastos espac;os no mundo contem-
poraneo, especialmente nas chamadas novas ee talvez der-
radeiras) "fronteiras" de ocupac;ao, exibem com incrível nitidez os
efeitos dessa "moderniza~ao arrasadora" que impoe sua geome-
tría regular sobre todos os espa~os: estradas que parecem retas
sem frm, gigantescos quadriláteros de novos loteamentos e con-
juntos habitacionais padronizados, imensos círculos das áreas
irrigadas pelo sistema de pivos centrais ...
Tratam-se de espa~os que, "arrasados" e padronizados a fei-
~ao do modelo dominante, muitos preferem considerar espa~os
sem Jústór.ia, sem identidade. NeJes, a veJocidade atroz das novas
tecnologías transforma num ritmo alucinante a paisagem e incorpo-
ra áreas imensas numa mesma rede hierarquizada de fluxos alinha-
vada em escalas que vao muito além dos níveis local e "regional".
Mas este mesmo processo que, por um lado, produz redes
que conectam os capitalistas com as bolsas mais importantes do
mundo e aceleram a circula~ao da elite planetária, por outro gera
urna massa de despossuídos sem as menores condi~oes de acesso a
essas redes e sem a menor autonomía para definir seus "circuitos
de vida". Essa massa "estrutural" de miseráveis, fruto em parte do
novo padrao tecnológico imposto pelo capitalismo, fica totalmente
marginalizada do processo de produ~, formando assim verdadei-
ros amontoados humanos- daí sugerinnos o termo aglomerados
de exclusao para os espac;os ocupados por esses grupos - que
muitas vezes, como indica KURZ e1992), nao podem ser vistos nem
mesmo na acep~o marxista de exército industrial de reserva
Muitos autores, e nao apenas geógrafos eLATOUCHE, 1990;
IANNI, 1992 e ORTIZ, 1994, por exemplo), se reportam a essa dinami-
ca como um processo de "desterritorializ~", o qual seria, se nao
a marca fundamental do nosso tempo, urna de suas marcas funda-
mentais. VIRILIO e1982), citando Deleuze em sua afinnac;ao de que
"tecnología é desterritorializac;ao", chega mesmo a considerar a
desterritorializa~ "a questao deste final de século" (p. 133).
DESTERRITORIALIZAQÁO 167
~
Q 45>-:.~
%~"~.~~~ Malltas Nós Redes
~"~~
Civiliza<;iles
tradicionais
e ®
•
Civiliza<;ileS
tradicionalistas
e racionalistas
•
Civilizaf;iles
racíonais
impossível negar que urna inte:rpre~ desse tipo pode ocorrer, es-
pecialmente quando nos deparamos com o "esquema teórico de
evoluc;ao" de cada modelo (cf. LÉVY, 1992:28). Aparte essas implica-
c;oes, contudo, a síntese espacial que o autor propoe para a identifi-
cac;ao de cada modelo ou sistema oferece inúmeras perspectivas.
o
o o
o
·~:) o l. Conjunto de mundos
- tenitorial.i.zafao
e:>
o
(:•
o o
o
o
o "tradicional", radical
(alteridade máxima)
geograticamente descontínua
- "Tribalismo"
2. Campo deforr;as
- territorializru;ao "moderna",
geograticamente contínua/
contigua.
-Nacionalismo
3. Rede hierarquizada
- desterritorializru;ao/
hierarquizru;ao dominante
superposi~ao geográfica
- Globaliza~ao
TERRITORIALIZAQAO DESTERRITORIALIZAQAO
Dimensoes
sociais política e cultural económica e política
jundamentais
REDES E DESTERRITORIALIZAQÁO
DESTERRITORIALIZAQÁO E
AGLOMERADOS DE EXCLUSÁO
(1985), por exemplo, ao definir massa, afirma que ela nunca é "de
trabalhadores" ou de "camponeses", pois "só se comportam como
massa aqueles que estao liberados de suas obrigac;oes simbólicas,
'anulados' (presos nas infinitas 'redes')" (p. 12), desintegrados, "re-
síduos estatísticos".
Assim, podemos afirmar que o aglomerado, mais do que urn
espac;o "a parte", excluído e amorfo, deve sua desordem principal-
mente ao fato de que nele se cruzam urna multipliddade de redes e
territórios que nao pennitem definic;oes ou identidades claras. É
como se o ''vazio de sentido" contemporánea reproduzido no senti-
do sociológico pela polemica noc;ao de "massa" tivesse sua contra-
partida geográfica na noc;ao de aglomerados humanos de exclusao.
Baudrillard critica o conceito de massa, que para ele "nao é
urn conceito. Leitmotiv da demagogia política, é urna noc;ao flui-
da, viscosa, lumpen-analítica. ( ... ) Querer especificar o termo
massa é justamente urn contra-senso - é procurar urn sentido no
que nao o tem" (p. 11). "Na massa desaparece a polaridade do urn e
do outro". Baudrillard muitas vezes parece delirar na fluidez retó-
rica de suas in-defmic;oes e criar um "tipo ideal" de massa que na
prática parece nao existir. De tao nula, indistinta e indefinível,
nem ele próprio parece as vezes encontrá-la ...
Num mundo tao complexo, de imbricac;oes e superposic;oes,
onde as vezes tudo parece estar em todas as escalas, definir espa-
cialmente os;g¡~-merad~ difícil, imbricados que estao
na avalanche que joga em nosso cotidiano todas as escalas e quase
todos os sentidos possíveis. A influencia dos aglomerados se daria
basicamente através do "caos" e da desorganizac;ao, pelo volume e
o crescimento desordenado que eles envolvem- sua forc;a advém
de "sua própria desestruturac;ao e inércia", na expressao utilizada
por Baudrillard para as massas. Enquanto isso, as redes e territó-
rios pressupoem sempre um certo ordenamento - dentro ou fora
da ordem hegemónica - embora imponham mais a desordem
quando se confrontam redes e/ou territórios de tendencias e rit-
mos distintos.
DESTERRfn)RUUJZAvÁO 187
e
como trabalhadores <liante do desemprego estrutural) quanto
como consumidores (dado o seu nível extremo de pobreza), aca-
bam "nao tendo ftmc;ao", como disse Samir Amin, ou tendo um
papel disftmcional na medida em que podem abalar o sistema por
representarem, pelo menos, urna "massa" potencialmente incon-
trolável.
Nao é a toa que as "questoes demográficas" voltam a tona
com toda a sua forc;a- a massa de miseráveis do planeta só preo-
cupa, no fundo, por sua reproduc;ao biológica que, apesar da indi-
gencia e das epidemias, nao cessa de crescer, podendo mesmo
abalar a "saúde" (ecológica... ) do planeta. Na outra face da ques-
tao aparecem, como enfatiza Kurz, as novas bases (tecnológicas)
da acumulac;ao capitalista, responsáveis em grande parte por esta
exclusao social mundializada.
Aglomerados de exclusao seriam marcados entao pela des-
territorializac;ao extrema, urna certa fluidez marcada pela instabi-
lidade e a inseguranc;a constantes, principalmente em termos de
condic;oes materiais de sobrevivencia, pela violencia freqüente e
pela mobilidade destruidora de identidades. Tratam-se, em sínte-
se, de espac;os sobre os quais os grupos sociais dispoem de menor
controle e seguranc;a, material e simbólica. A desterritorializac;ao
arrasadora dos aglomerados excludentes produz assim o anoni-
mato, a anulac;ao de identidades e a ausencia praticamente total de
autonomia de seus habitantes. Como diz Baudrillard, "todas as
tentativas para fazer {da massa] um sl_\jeito (real ou mítico) depa-
ram com urna espantosa impossibilidade de tomada de conscien-
cia autónoma" (1985:29).
Por isso neles podem ser geradas, com relativa facilidade, re-
territorializac;oes de caráter reacianário, muito conseiVador, ge-
rando mesmo o extremo oposto da desterritorializac;ao dos aglo-
merados: os territorialismos, vulneráveis que sao a mobilizac;oes
sociais extremamente reacionárias. BRUNET et al. (1993) afrrmam
que o territorialismo é o "mau uso da territorialidade, derivac;ao
194 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
CONSIDERAQÓES FINAIS
BffiLIOGRAFIA
Claudio A. G. Egler*
Professor do Departamento de Geografia da UFRJ
INTRODUQÁO
que sintetiza sua concepc;ao acerca das relac;oes entre política eco-
nómica e questao regional. Em suas palavras:
fácil perceber a raiz de sua crítica aos autores marxistas que anali-
sam o desenvolvimento do capitalismo através de seus padroes de
concorrencia (mercantil, concorrencial e monopolista), pois para
ele "nao é o capitalismo que se transforma, mas o quadro espacial
que se amplia" (Op. cit., p. 18), o que sem dúvida constituí urna cu-
riosa forma de "determinismo espacial" da dinfunica das econo-
mías capitalistas.
Do ponto de vista da concorrencia intercapitalista, urna das
sínteses mais elaboradas da dinfunica regional no capitalismo foi
aquela realizada por HOLLAND (1976). Partindo da crítica da visao
neoclássica de equilíbrio no espac;o económico, argumentando
sobre as teori~ de crescimento polarizado de Myrdal e Perroux,
Holland utiliza a teoría da concorrencia oligopólica de SYLOS-LABI-
NI (1964) paré:l ensaiar urna síntese entre os aspectos micro e
macro da dinamica regional através da defmic;ao do setor mesoe-
conómico. Para ele
Figura 1
CONCLUSAO
BIBLIOGRAFIA
A hipótese de investiga~ao
A concep~ao genético-dinAmica
As condi~Oes dadas
A lógica da renovat;io
A mundializac;ao da economia
CONSIDERAQÓES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
Bertha K. Becker
Professora do Departamento de Geografia, UFRJ
• Este capítulo é urna reflexii.o baseada em trabalhos da autora, que agradece a co-
laborac;:ao do Prof. Ivaldo G. Lima na sua montagem.
272 GEOGRMnkCONCEITOSETEMAS
A HERANQA DA GEOPOLÍTICA
DAESTRATÉGIAÁLOGÍSTICA: O
NOVO SIGNIFICADO DO TERRITÓRIO
renc;a. Se, por urn lado, a acelerac;ao do ritmo dos processos eco-
nómicos e da vida social, viabilizados pelas redes, encolhe o espa-
c;o, derrubando barreiras espaciais, por outro lado, nurn quadro de
economía globalizada e tecnificada é alta a seletividade. Quanto
menos importantes as barreira.'3 espaciais, tanto maior é a sensibi-
lidade do capitalismo as variac;oes dos lugares (HARVEY, 1989).
O significado histórico específico das novas tecnologías é,
portanto, a criac;ao de urna nova estrutura de relac;oes espac;o-
tempo (MACHADO, 1995). O valor económico e estratégico de um
território decorre da velocidade em passar a nova forma de produ-
c;ao, para o que o acesso as redes de informac;ao é condic;ao essen-
cial, perrnitindo ao local se relacionar diretamente ao espac;o
transnacional, "by passando" o Estado (SANTOS, 1988). Tais vanta-
gens competitivas, contu do, nao sao determinadas pela tecnología
- decorrem também das condic;oes particulares do território, em
termos de recursos e da iniciativa política.
Tal revalorizac;ao estratégica e económica do território se re-
fere a todas as escalas geográficas, do país ao lugar. Na escala glo-
bal, verdadeiro zoneamento tende a ocorrer, distinguindo-se cen-
tros de inovac;ao tecnológica, áreas desindustrializadas, áreas de
difusao de indústria e agroindústria convencionais e áreas a serem
preservadas. Sob o comando dos agentes económicos e fmancei-
ros, esse zoneamento introduz fortes diferenciac;oes nos territó-
rios nacionais afetando o poder dos Estados que perdem o contro-
le do conjunto do processo produtivo.
A valorizac;ao da dimensao política do espac;o também se re-
laciona a redefmic;ao da natureza e das relac;oes sociedade-nature-
za. Na medida em que a crise ambiental estabelece limites reais a
explorac;ao predatória de recursos naturais, o novo modo indus-
trial atribuí outro significado a natureza. Por urn lado, tenta se in-
dependizar da base de recursos naturais utilizando menor volume
de matérias-primas e de energía. Por outro lado, as novas tecnolo-
gías valorizam os elementos da natureza num outro patamar, como
A GEOPOLÍTICA NA VIRADA DO MILtNIO 289
e
fonte de infonna<;ao codifica~ao da vida) para a ciencia e a tecno-
logía, e, portanto, como capital de realizru;ao atual ou futura (BEC-
KER, 1994).
Mas a dinamica contemporanea nao decorre apenas da lógi-
ca instrumental. Por motiva~oes opostas, a lógica cultural, dos va-
lores, expressa em movimentos sociais diversos, converge para o
processo de diferencia~ao espacial e valorizru;ao estratégica dos
territórios. A reorganiza~ao do espa~o nao é apenas expressao de
processos económicos e tecnológicos que, na verdade, sao resulta-
dos de decisoes políticas e estratégias organizacionais. As tenden-
cias de reestrutura~ao tecnoeconómicas, do espa~o de fluxos,
devem, pois, ser confrontadas com projetos alternativos vindos da
sociedade, do território.
Também os movimentos sociais se organizam na escala glo-
bal em redes, gra~as particularmente a rede de telecomunica~oes,
pennitindo as comunidades se relacionar diretamente ao espa~o
transnacional. "Pense globalmente e atue localmente" é urna ban-
deira significativa, envolvendo as mais esdrúxulas alian~as.
No início da década de 80, WALLERSTEIN (1983) atirmava que a
lógica do projeto civilizatório desafiando a universaliza~ao da civi-
liza~ao ocidenrol era a grande variável desconhecida do fmal do sé-
culo 20. Poderla contribuir para a cria~ao de urna ordem socialista
ou proporcionar envoltura exterior para a lógica da acumula~ao.
Hoje, ao que parece, essa variável tende a se defmir. O indivi-
dualismo domiilante revela o fracasso de muitos movimentos e o
sucesso do movimento ambientalista nas novas rela~oes socieda-
de-natureza, fato que merece ser analisado no contexto de geopolí-
tica global.
As novas tem territorialidades e afetam os pressupostos da
Geopolítica convencional. Resta saber se sob essas tendencias há
urna nova racionalidade.
290 GEOGRAFIA: CONCErrüS E TEMAS
( 1) A consciencia ecológica .
Corresponde a preocupa~ao legítima com a crise ambiental.
O desejado domínio sobre a natureza nao foi alcan~ado, gerando
urna preocupac;ao ambiental.legítima. A explora~ao de recursos
sem precedentes no século 20 resultou em urna abrangencia global
294 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
QUESTÓES FINAIS
BffiLIOGRAFIA
' Sodré faz parte de um número muito restrito de cientistas sociais brasileiros que
conhecem a importancia das idéias desses filósofos para o entendimento das ori-
gens das ciencias sociais no Brasil. Se equivoca, no entanto, ao afirmar que eram
filósofos menores no país de origem, pois, ao contrário, nesse período foram
ínfluentes em toda a Europa. Ver a respeito, P. TORT (1992); RAFFESTIN (1995).
316 GEOGRAFIA: CONCEITOS E TEMAS
CONCLUSÁO
BIBLIOGRAFIA
Nos últimos vinte anos o campo de pesquiso do Geogrofio ve msendo otrovessodo por
diversos questiíes e temas que te msuscitado umomplo debate internacional, desafiando o
comunidode ocodemico brosileiro o contribuir tonto com urna reflexíio teórico, como
tombém com trobolhos de pesquiso voltodos poro os problemas característicos do
reolidode nocional. Foi o consciencia deste foto que norteou o concep~íio de um livro, cujo
unidode reside no orticulo~íio entre conceitos e temas do Geogrofio otuol.
Os trobolhos oqui reunidos possuem urna forte preocupo~íio didático no formo de
obordogem dos conceitos e dos temas, procurando sempre tro~or os cominhos que
sustento ro mos diferentes concep~oes no seu trotomento. Oespo~o geográfico é onolisodo
em fun~íio dos diferentes correntes do pensomento geográfico, ossim como o conceito de
regiíio, opresentodo o partir de su o evolu~íio no interior do pensomento geográfico, ambos
sintetizando os principois debates epistemológicos que os ocomponhorom.
Oterritório, concebido e onolisodo como umespo~o definido e delimitado por, e o partir
de, relo~oes de poder, reflete o otuolizo~íio do conceito, do mesmo modo que o escalo,
onolisodo como um problema geográfico, oponto os limites impostas o este conceito no
geogrofio pelo rociocínio analógico como cortogrofio.
Atemático dos redes, tornado de extremo relevancia nos últimos décadas do século 20,
exige reflexiíes. Aqui síio onolisodos o genese do conceito e, o seguir, os relo~oes entre
fluxos de informo~íio e dinomico territorial, olém do processo de desterritoriolizo~íio e
suos vinculo~oes com os diversos redes implantados o partir do modernidode e suos
relo~oes com os aglomerados de exclusíio.
Aquestíio regional e o gestíio do território no Brasil síio discutidos, tonto retomando
criticomente os supostos do Geogrofio Economico em suos diferentes vertentes,
especialmente o do plonejomento regional, como no relocionomento entre os mudon~os
técnicos nos processos produtivos e os tronsformo~oes no estruturo espacial. Aindo no
perspectivo do território nocional, síio onolisodos os personogens, comumente esquecidos
pelo Geogrofio, que contribuírom poro lon~or os fundamentos de urna reflexíio sobre os
problemas, os desofios e os característicos do identidode territorial brosileiro.
Finalmente, o conceito do geopolítico é discutido e otuolizodo, incorporando os questoes
otuois do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.
[texto orelhos]
Este livro vem, em boa hora, preencher urna grave
lacuna na biblioteca geográfica básica do país. A cole-
tanea que ora apresentarnos é o resultado de um esfor-
<;o conjunto de reflexao e atualiza<;ao dos grandes de-
bates da Geografia contemporanea, nao só no que diz
respeito a reconstru<;ao de seus conceitos fundadores
como tarnbém nas possibilidades de sua aplica<;ao aos
problemas com os quais as sociedades modernas se
defrontarn. Desta forma, o público ao qual ele se desti-
na compoe-se, basicamente, de profissionais ligados ao
ensino superior, aos estudantes de gradua<;ao, aos
graduados que procuram urna atualiza<;ao, aos profis-
sionais de outras áreas que se aproximam dessas
reflexoes, conduzidos pelo diálogo interdisciplinar, que
é cada vez mais urna necessidade da cH~ncia em nossos
dias e, finalmente, a todos aqueles que se interessam1
por problemas que afetarn a dinfunica espacial.