E istemo ogia
a eogr fia
CONTEMPORÂ EA
e ci çã o revisada
FRANCISCO MENDONÇA
SALETE KOZEL
4(//4,,m-
A publicação Elementos de
epistemologia da geografia
contemporânea reúne trabalhos
de pesquisadores brasileiros e
estrangeiros sobre as concepções
atuais da geografia.
Acha-se dividida em três tópicos
que englobam as discussões
relativas à geografia crítica,
geografia ambiental e geografia
cultural, na perspectiva do
processo de evolução dessas
correntes. Os renomados autores,
representantes de diversas e, por
vezes, conflitantes correntes de
pensamento, propõem questões
cruciais a respeito das tendências
contemporâneas do pensamento
geográfico face ao processo de
globalização, propiciando um
aprofundamento do debate
acerca da epistemologia da
geografia no âmbito da formação
de pós-graduação no Brasil.
ELEMENTOS DE
Epistemologia
da Geo rafia
CONTEMPORÂNEA
1 , edição revisada
2---.~-
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IJFPR
Reitor
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Vice-Reitor
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Conselho Editorial
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Marcia Santos de Menezes
Maria Auxiliadora M. dos Santos Schmidt
Maria Cristina Borba Braga
Nadtake Fukushima
Sergio Luiz Meister Berleze
Sergio Said Staut Junior
ELEMENTOS DE
Epistemo ogia
da Geogr fia
CONTEMPORÂ EA
1. edição revisada
M1
410fr
UFPR
sejam, a geografia crítica, a geografia ambiental e a geografia cultural.
O evento buscou atingir três objetivos principais:
- Delinear e debater as tendências contemporâneas do pensa-
mento geográfico face ao processo de globalização.
Evidenciar e discutir características de três importantes cor-
rentes do pensamento geográfico contemporâneo no Brasil (crítica,
ambiental e percepção/cultural) na perspectiva do seu processo de evo-
lução.
Propiciar o aprofundamento do debate acerca da
epistemologia da geografia ao nível da formação de pós-graduação
no Brasil.
O curso de Mestrado em Geografia da Universidade Federal
do Paraná — UFPR, associado ao departamento de Geografia e ao
curso de Especialização em Análise Ambiental do mesmo departamento,
foram os promotores do Colóquio, que contou com o apoio da Asso-
ciação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia — Anpege,
da Associação dos Geógrafos Brasileiros — AGB, da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior — Capes e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico — CNPq.
O evento foi organizado especialmente para a pós-gradua-
ção, pois seu intento principal foi o de propiciar uma discussão
aprofundada das temáticas escolhidas, compatível com esse nível. Este
objetivo foi plenamente atingido, o que pode ser comprovado tanto
nos textos enviados pelos convidados quanto no depoimento dos se-
tenta participantes provenientes de vinte e uma instituições de ensino
superior e de dezesseis dos cerca de vinte e dois programas de pós-
graduação em geografia no Brasil em funcionamento.
Esta obra apresenta a mesma estrutura do evento, ou seja,
um texto introdutório e três sessões relativas aos subtemas das mesas-
redondas. Os textos que a compõe foram enviados pelos conferencis-
tas, palestrantes, debatedores e coordenadores das mesas-redondas, e
dessa maneira acham-se aqui organizados. Uma primeira versão dos
textos foi distribuída aos participantes durante o Colóquio. Os auto-
res tiveram cerca de quarenta dias após o término do evento para
promover a inserção de eventuais alterações e complementações. So-
mente três dos dezesseis convidados não enviaram seus textos.
Numa avaliação geral, pode-se dizer que importantíssimos
avanços foram alcançados com os debates promovidos pelo Colóquio,
sobretudo o delineamento de desafios e possibilidades futuras do de-
senvolvimento do conhecimento geográfico face às intensas transfor-
mações que a sociedade e a natureza estão submetidas neste processo
de globalização. A seriedade com que os convidados e participantes se
dedicaram às atividades do evento é que garantiram seu sucesso. A
todos que nele se envolveram, nossos mais sinceros agradecimentos. A
geografia brasileira muito se beneficiará com os resultados dessas dis-
cussões, boa parte materializada na presente obra.
Com a presente publicação, o teor dos debates realizados no
I Colóquio torna-se acessível a um público bem maior e poderá, assim,
render uma maior contribuição ao avanço da epistemologia da geo-
grafia contemporânea, para a qual oferece importantes elementos.
Decorre daí o título desta obra — Elementos de epistemologia da geo-
grafia contemporânea.
A realização deste I Colóquio reunindo diversas, diferentes, e
não raro conflitantes correntes do pensamento geográfico contempo-
râneo, foi, sem dúvida, uma cara mas necessária ousadia. Parecia pre-
mente oportunizar tal debate que, mesmo identificado como funda-
mental e já galgando alguns passos nas tradicionais instituições às
quais se vincula a geografia no Brasil, não atingia a franqueza e o
aprofundamento como o observado durante os debates ocorridos em
Curitiba. Para nós, constitui-se motivo de grande honra tê-lo promo-
vido, mesmo cientes de ser este um dos principais objetivos da forma-
ção ao nível de pós-graduação de qualquer ramo da ciência. Estamos
certos de que a realização de um II Colóquio desta natureza — já anun-
ciado para ser organizado pelo curso de Mestrado da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte — dará continuidade ao pertinente e
interessante debate relativo à evolução do conhecimento geográfico,
como esse que tivemos a felicidade de vivenciar.
Francisco Mendonça
Coordenador do curso de Mestrado em Geografia — UFPR
Coordenador do curso de Especialização em Análise Ambiental — UFPR
3 PERCEPÇÃO, REPRESENTAÇÃO E RELIGIÃO
NO GEOGRÁFICO
OS AUTORES / 267
A REVOLUÇÃO PÓS-FUNCIONALISTA
E AS CONCEPÇÕES ATUAIS DA GEOGRAFIA
Paul Claval
(Tradução: Nathalie Dessartre-Mendonça)
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Francisco Mendonça e Salete Kozel (Orgs.)
colonialistas foi tanta que ela conhecerá com certeza um refluxo rápi-
do.
Uma orientação mais moderada também é explorada. Ela
leva em consideração as críticas formuladas a respeito dos grandes
relatos, das metanarrações, que os geógrafos de cunho naturalista ou
funcionalista propunham Uma concepção mais modesta da ciência
se impõe: não se tem mais certeza de que as "rupturas epistemológicas"
que garantiam o estatuto dos conhecimentos de ontem tenham real-
mente dado à luz a modos de pensar e a práticas narrativas distintas
daquelas que sempre atuaram nas sociedades humanas. Os geógrafos
que pensam em reconstruir a geografia devem continuar tendo em
mente que o que estão fazendo não difere muito das geografias
vernaculares praticadas pelos povos sem escrita, dos relatos, das
recensões e dos guias produzidos pelas civilizações históricas.
Para acompanhar o movimento contemporâneo da reflexão
epistemológica, é bom mostrar como surgiu, relembrar as concepções
que critica, e ressaltar a sua lógica.
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Um espaço organizado
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Primeiro balanço
Limitações similares
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Epistemologias paralelas
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Os questionamentos da ciência
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A ontologia espacial
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ressar-se pelo sentido que os homens dão à suas vidas, e dar importân-
cia ao modo como eles se projetam no futuro.
Temas reinterpretados
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Conclusão
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Nota complementar
Introdução
Que epistemologia para enfrentar um mundo globalizado?
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1 - GEOGRAFIA CRÍTICA
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VELHOS TEMAS, NOVAS FORMAS
Ruy Moreira
1 Todo movimento de ideias traz um nome de batismo que o identifica. Com o movimento
nascido nos anos 70 não foi diferente, e recebeu diversos nomes: Santos denominou-o geografia nova (em
contraposição à nova geografia, designação também dada à geografia teorético-quantitativa, objeto da crítica
do autor); Oliveira, geografia libertária; Moraes e Costa, geografia crítica; chamei-a geografia marginal;
Silva, renovação (terminologia que tenho adotado). Este texto trata do temário da renovação, sua atualidade
e vencimento. O convite ao leitor é para a análise dos conteúdos desses temas e dos modos de enfrentá-los
hoje. O nome com que a intelligentsia geográfica tenha se reconhecido, seu significado, selos, zelos e rubricas
é um problema da história institucional, que o leitor interessado fica convidado a fazer. Para o estudo do
ternário e desenvolvimento da renovação no período inicial da década de 1978-1988, bem como a bibliogra-
fia correspondente, remeto o leitor a Assim se passaram dez anos (A renovação da geografia brasileira no
período 1978-1988), texto publicado em versão final na revista GEOgraphia, número 3, ano de 2000, e do
qual este pode ser considerado de certo modo uma continuidade.
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O espaço-ação
Os temas
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A descentralização fabril
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A metamorfose do valor-trabalho
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Referências
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PEQUENAS ARGUMENTAÇÕES PARA
UMA TEMÁTICA COMPLEXA
Introdução
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1 O rigor ao qual nos referimos, torna-se cada vez mais necessário, porque temos observado,
ao longo dos anos trabalhando na docência universitária, uma depreciação contínua e lamentável da língua
portuguesa por parte dos segmentos discentes. Não cabe aqui discutir as razões, mas esta constatação precisa
ficar registrada.
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nação que é utilizado para que seja mantida a dominação". Para que
não seja percebido o "mascaramento das propostas dos dominadores,
as idéias dominantes devem ser assumidas pelos dominados como suas
ou de sua classe" (p. 26). A assunção das ideias dominantes dá-se sob
a forma ideológica. Daí sua importância para explicar os conflitos
latentes entre classes ou grupos distintos na sociedade capitalista e a
intermediação do Estado como intermediário e como diminuidor das
possibilidades de conflitos.
Neste ponto do texto, temos que "fechar" o encaminhamento
dedutivo de nossa reflexão, afirmando que o método, em suas dife-
rentes formas de organização não prescinde da consideração de ou-
tros elementos como doutrina, teoria e ideologia, além da distinção
clara entre indução e dedução, que não são métodos, mas antes de
tudo, mecanismos intelectuais do exercício do pensamento humano,
dependendo do ponto de partida que se toma, sempre relacionando
as noções de totalidade e de singularidade, todo e partes, universal e
individual etc.
Todos esses elementos devem ser considerados, conjuntamen-
te, quando vamos estudar qualquer temática, teoria, conceito,
metodologia, desenvolvimento histórico etc., referentes a aspectos
epistemológicos de qualquer corrente da geografia e, entre elas, a geo-
grafia crítica.
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3 As ideias deste parágrafo foram expostas por Maria Encarnação B. Sposito, na sessão de
avaliação das mesas redondas do 7 Simpósio Nacional de Geografia Urbana.
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Referências
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CERTA MÁ HERANÇA MARXISTA: ELEMENTOS
PARA REPENSAR A GEOGRAFIA CRÍTICA
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3 Uma crítica a esse conceito de ideologia característico do marxismo ortodoxo pode ser
encontrada em Moraes (1988).
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4 Embora sem utilizar tão ostensivamente termos marxistas, as objeções de Milton Santos
àquelas correntes alinhavam-se perfeitamente às dos demais geógrafos críticos brasileiros da época. Seus
comentários sobre a geografia quantitativa mesclavam reflexões aprofundadas sobre os pressupostos teóricos
e metodológicos da modelagem dos padrões espaciais com criticas puramente ideológicas, que reproduziam
os argumentos usados pelos marxistas sobre o caráter intrinsecamente conservador daquela corrente (SAN-
TOS, 1982 e 1978, p. 41-83).
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5 Tal reconhecimento pode encerrar algumas armadilhas, porém. Manuel Correia de Andrade
fala de um grupo de autores que trabalharia com um marxismo ortodoxo e dogmático, aí incluídos os que
"procuravam escantear os problemas da geografia física, geografia em uma sociologia menor". Deles se
distinguiriam aqueles que "...formulavam seu pensamento em função da práxis e aplicavam um marxismo
dinâmico e verdadeiramente dialético. Não esqueciam, entre outros textos, os ensinamentos de F. Engels na
Dialética da natureza e acompanharam com atenção os ensinamentos de geógrafos franceses como Pierre
George, J. Tricart, Yves Lacoste, Michel Rochefort etc." (CORREIA DE ANDRADE, 1999, p. 30). Existem
aí várias ideias criticáveis, como a de sugerir que aqueles representantes da geografia ativa seriam marxistas
por excelência e o postulado de integrar as geografias física e humana com base numa suposta "dialética da
natureza". Todas as tentativas de aplicar o marxismo às ciências naturais fracassaram (inclusive aquelas
perpetradas pelos geógrafos), já que o materialismo histórico dialético é justamente uma das mais bem
acabadas propostas de analisar a sociedade através de parâmetros totalmente autônomos em relação àqueles
empregados nas ciências naturais (MORAES, 1997; GOMES, 1996, p. 284). Ao insistir em teses desacredi-
tadas, a análise de Andrade acaba carregando mais elementos de ortodoxia do que as visões que ele rejeita.
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6 Mostrar a atualidade de Marx é o que procura fazer, por exemplo, José Arthur Giannotti
em seu livro Certa herança marxista, título parafraseado neste artigo (GIANNOTTI, 2000). A razão da
paráfrase está no entendimento de que, enquanto em outras áreas já existe uma discussão intelectual
amadurecida sobre a crise do marxismo e a necessidade de sua renovação, na geografia brasileira o desafio
ainda é o de estimular uma verdadeira revisão do marxismo vulgar.
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tos químicos etc.), e esses setores podem ter suas atividades planeja-
das pelo Estado. Nesse contexto, o "planejamento centralizado to-
tal" deve ser substituído por um planejamento parcial, em que o
Estado opera apenas os setores que demandam um controle mais
centralizado, ainda segundo Singer.
Alguns debatedores ressaltaram também que o mercado é essencial
para concretizar o próprio ideal socialista, pois sem ele é impossível
combinar cidadania, desenvolvimento e justiça social. Para Gabriel
Bolaffi, é preciso pensar formas que permitam compatibilizar pla-
nejamento e mercado, e isso não só para a economia ser melhor
planejada, não só porque o mercado em muitos casos fornece indi-
cações mais eficientes para a organização da produção, mas tam-
bém porque o mercado [...] é o lugar em que as relações sociais e as
relações econômicas realmente se objetivam. E o planejamento pre-
cisa dessa objetividade para ser um planejamento eficaz, para ser
um planejamento para o bem comum e não para os interesses desse
ou daquele grupo ou até para os interesses desse ou daquele diretor
de empresa estatal (SINGER et al., 1991, p. 17).
Em suma, houve consenso de que é necessário combinar mercado e
planejamento estatal para que essas duas instâncias operem de for-
ma mutuamente limitante. Sem a imposição de limites ao poder do
Estado, este degenera em totalitarismo; se o mercado funcionar
sem qualquer limite, geram-se inúmeras distorções na distribuição
da riqueza, entre várias outras.
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7 Se o silêncio pode ser mais eloquente que as palavras, cabe assinalar um importante ponto
de reflexão para os geógrafos embutido no fato de que nenhum dos debatedores, nem mesmo aqueles que
afirmaram que o sistema capitalista foi "vitorioso" só em poucos países, propôs explicar esse fenômeno como
fruto de algum mecanismo de exploração do tipo "centro/periferia". E cabe acrescentar que alguns debatedores,
como Maria Hermínia Tavares de Almeida, criticaram a ideia de que o êxito dos países capitalistas
desenvolvidos possa ser encarado como uma "experiência idiossincrática", que por isso não careceria de
reflexão teórica mais aprofundada (SINGER et al., 1991, p. 28).
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Por sua vez, Marco Aurélio Garcia assinala "...a crise não só de
territórios gigantescos da teoria econômica de inspiração marxista,
mas também da forma pela qual se articulavam, na teoria marxis-
ta, economia e política" (SINGER et al., 1991, p. 25). Tal articula-
ção entra em crise, entre outros motivos, porque a teoria da revolu-
ção construída pelo marxismo tinha como um de seus pressupostos
fundamentais uma análise crítica da economia capitalista que pro-
curava demonstrar a inevitabilidade de uma crise fatal do capitalis-
mo, na qual esse modo de produção iria sucumbir sob o peso das
próprias contradições. Justamente as visões apocalípticas do capi-
talismo é que caíram em descrédito nas últimas décadas.
a produção de mercadorias, o qual deveria atuar justamente como medida objetiva da exploração do trabalho.
Sendo assim, a mais-valia despiu-se de seu fundamento econômico, mas ainda conserva seu fundamento
político, ligado ao controle sobre os processos de trabalho (GIANNOTTI, 1990 e 2000).
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tado pelo marxismo nos anos 70. David Slater, por exemplo, mante-
ve várias de suas preocupações iniciais com a questão do subdesenvol-
vimento e da dependência, mas reconhece que sua abordagem migrou
de uma perspectiva própria da geografia econômica para a geografia
política (SLATER, 1999). Ainda mais ilustrativo é o percurso de David
Harvey, que rompeu com os postulados do marxismo ortodoxo quanto
à busca de cientificidade e objetividade das análises e passou a se dedi-
car principalmente à temática cultural e da história das ideias. Embo-
ra sem deixar de utilizar com frequência algumas categorias marxistas
no estudo dessas temáticas, essas mudanças revelam a trajetória que
levou esse autor do marxismo ao pós-modernismo (GOMES, 1996,
p. 302). E é especialmente interessante assinalar que as discussões eco-
nômicas realizadas por esse autor em sua fase pós-moderna (associa-
das às análises de caráter cultural) mostram uma diminuição da influ-
ência marxista. Comparem-se as abordagens desse autor em alguns de
seus livros mais influentes: em A justiça social e a cidade, a análise está
baseada em diversos conceitos e teorias marxistas, como "modo de
produção" e a teoria de renda da terra, além de fazer várias referências
a mecanismos de exploração entre territórios que operariam através
do sistema urbano mundial; já na obra A condição pós-moderna, o
autor se vale principalmente da "teoria da regulação" no intuito de
caracterizar a atual fase histórica do capitalismo, para a partir daí
compreender o processo de descentralização industrial ocorrido mun-
dialmente a partir da crise dos anos 70 e as expressões culturais e
formas de sociabilidade próprias da "cidade pós-moderna" (HARVEY,
1980 e 1994)12.
Em suma, muitos autores anglo-saxões procuraram relativizar
ou abandonar parcialmente o uso de conceitos e teorias econômicas
marxistas em suas análises sobre o espaço urbano-regional ou sobre as
relações internacionais, além de começarem a dar mais importância
para a análise de temas ligados à cultura e ao uso político do espaço.
Também no Brasil é possível observar um movimento semelhante, na
12 Não se trata de dizer que o autor endossou integralmente as teses "regulacionistas" nesse
último livro, apenas que elas efetivamente compuseram a principal referência teórica em sua análise do
capitalismo atual. "Mas os contrastes entre as práticas político-econômicas da atualidade e as do período de
expansão do pós-guerra são suficientemente significativas para tornar a hipótese de uma passagem do
fordismo para o que poderia ser chamado regime de acumulação 'flexível', uma reveladora maneira de
caracterizar a história recente" (HARVEY, 1994, p. 119).
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13 Um artigo escrito pelo economista cubano Pedro Monreal (2001) sobre a crise da
economia de seu país nos anos 90 e a estratégia empregada para superá-la deixa claro que o regime cubano
procura manter a economia estatizada ao máximo possível, mas ainda assim persegue uma "reinserção" na
economia mundial para obter os capitais privados necessários para financiar um movimento de reestruturação
produtiva: "The Cuban State evidently has no means of its own to successfully implement the required
economic transformations. Therefore, private funds are necessay to achieve high rates of growth. This is not
to say that economic reform should focus on downsizing the state sector, but rather that a mixed economy
is needed". Ademais, é interessante como essa "reinserção" aparece em sua análise como uma imposição para
a retomada do crescimento econômico: "...reinsertion should be considered as a kind of `second best option'
for Cuba's economy (lacking a better alternative at the moment)". Como resultado, "the global economy has
had a visible `pull effect' on policy malcing in Cuba. Important sectors of the Cuban economy are already
market oriented and have found 'a place under the sun' in the global economic system as well as potential
for `upgrading' within the system" (MONREAL, 2001, p. 3, 8 e 9).
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Referências
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2 - GEOGRAFIA AMBIENTAL
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GEOGRAFIA FÍSICA (?) GEOGRAFIA AMBIENTAL (?)
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Referências
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Centro Editor de America Latina, 1994.
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CANTERO, N. O. (Orgs.). El pensamiento geográfico: estudio interpretativo y antologia de
textos (de Humboldt a las tendências radicales). Madrid: Alianza Editorial, 1982.
CHRISTOFOLETTI, A. Análise de sistemas em geografia. São Paulo: Hucitec, 1979.
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dos organismos vivos. O recurso natural e a força de trabalho não são entes
naturais existentes independentemente do social, mas são já o biológico deter-
minado pelas condições de produção e reprodução de uma dada estrutura
social.
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mais abrangente que ela possa ser, ainda toma o homem e a sociedade
como fator e não como elemento da paisagem.
Situando a origem e o desenvolvimento da geografia ecoló-
gica como ligada à geografia física, Andrade (198 7, p.121) reconhece
a abertura vivenciada por tais geógrafos ao se lançarem a uma nova
concepção e produção do estudo do ambiente do ponto de vista geo-
gráfico, pois, segundo ele, "em muitos pontos, eles (especialistas em
geografia física)9 se aproximam do grupo dos chamados geógrafos crí-
ticos ou radicais, enquanto em outros se contactam com o grupo que
faz a geografia da percepção e do comportamento". Esta constatação
reflete, dentre outros aspectos, a insuficiência dos métodos disciplina-
res individualizadamente inerentes à ciência moderna para o trata-
mento da realidade e dos problemas ambientais. Revela, ao mesmo
tempo, a necessária aplicação de uma perspectiva multi e interdisciplinar
intrageografia, e desta com outras ciências, pois "...a discussão sobre a
questão ambiental deverá trafegar nos limites de marcos disciplina-
res..." (MORAES, 1994, p. 50).
Mesmo se aproximando dos geógrafos críticos, como o afir-
mou Andrade (1987), os geógrafos físicos não puderam inserir o mar-
xismo como metodologia central de sua análise nem nos estudos físi-
co-geográficos nem naqueles socioambientais que elaboraram, pois
...uma abordagem marxista da questão ambiental vai encará-la como uma ma-
nifestação de processos sociais, pelos quais uma dada sociedade organiza o
acesso e uso dos recursos naturais disponíveis, organização que se articula na
própria estruturação social constituindo parte do processo global de sua repro-
dução... (MORAES, 1994, p. 78).
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Sintetizando a abordagem
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Referências
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2:(
Agradecimentos
a Bernardo Mançano pelo convite para a produção deste texto, e a Nilson César Fraga pela
leitura crítica.
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A NATUREZA E O ESPAÇO GEOGRÁFICO"
Valter Casseti
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A natureza externalizada
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O desencantamento do mundo
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O princípio da subjugação
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mem dual elaborado por Descartes, que tem por objetivo alcançar a
"feliz apatia".
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11 Independente da opção que esse autor faz ao utilizar como referencial de mutação
paradigmática a filosofia chinesa (atitudes e valores culturais) em detrimento da concepção marxista.
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Referências
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\ 3 - PERCEPÇÃO, REPRESENTAÇÃO E
RELIGIÃO NO GEOGRÁFICO
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Referências
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UMA PROPOSIÇÃO TEMÁTICA
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mas. Mas isto é uma questão inesgotável: o que importa agora é ini-
ciar este caminho.
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1 Sopher analisa o processo de expansão espacial das religiões. Afirma que a distribuição das
religiões pode ser gerada pela interação espacial como a difusão, migração e competição por espaço.
Afetando significativamente estes processos estão a emicidade ou universalidade relativas aos conceitos
religiosos, a simplicidade ou complexidade do ritual religioso e a flexibilidade ou rigidez de organização
(1967, p. 86-106).
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sistemas universalizantes, pela classificação de Sopher. Ele exclui, assim, o hinduismo e a religião chinesa dos
sistemas universalizantes (SOPHER, 1967, p. 4-9).
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AS REPRESENTAÇÕES NO GEOGRÁFICO
Salete Kozel
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Percepção para
Conhecimento
as terminações
Sensível
Exterior ao nervosas
Homem
Reprodução
Interior ao
Homem
Conhecimento
Abstrato Conceito
Rendimento
Formulação
Verbal
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dos autores que trazem à luz esta concepção é Kant (1991), ao estabe-
lecer que a realidade do mundo psíquico depende do espírito, e as
coisas nos aparecem como substâncias, regidas por leis de causalidade
e finalidade; se nos aparecem como situadas no espaço e no tempo,
isto não significa que sejam tais em si mesmas, mas apenas que nós as
fazemos assim. O conhecimento é construído por meio dos sentidos,
sendo construções da razão e não dados objetivos. As coisas não po-
dem ser conhecidas por si mesmas, mas pelas representações que faze-
mos delas; as leis são produtos do entendimento e não dos
ensinamentos provenientes da natureza.
A vertente americana, centrada em Berkeley, leva esta con-
cepção a extremos, considerando a realidade do mundo à forma em
que é percebida, o que significa que o fato de existir já implica em ser
percebido. E assim surgem vários questionamentos: como admitir a
existência de uma realidade que não é concebida? Porém, para Kant
(1991), nem toda realidade se reduz ao espírito, não chegando ao
extremo proposto pelos americanos.
Entre as duas concepções opostas, surgem inúmeras inter-
mediárias, e entre elas, nem a realidade (objeto), nem o ser humano
(sujeito) são o centro, mas o conhecimento pode ser elaborado pelos
seres humanos como integrantes de uma realidade. Consideramos essa
abordagem mais coerente por articular o real e o imaginário, o cotidi-
ano e a fantasia, dentro de um contexto de representações sociais e
ideológicas do mundo. Em suma, constitui-se numa concepção
sociocultural que proporciona uma análise mais elaborada sobre a teia
de relações estabelecidas entre a sociedade e o espaço geográfico.
Esta abordagem tem suas raízes nos estudos de Durkheim
(apud MACHADO, 1998), consolidando a teoria das representações,
centrada na relação epistemológica entre sujeito e objeto, na qual, por
meio da sua atividade, o sujeito constrói tanto o mundo como a si
próprio.
Associada a essa abordagem; resgata-se a teoria social,
redimensionando-a, pois a mesma não se limita a uma só área do
conhecimento, mas perpassa todas as áreas das ciências sociais, pro-
pondo tornar intelegíveis as práticas sociais e intervir em sua conduta
e consequências, que de acorda com Gregory (1996) é profundamen-
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Prática Percepção
Espaço
Percebido
Processos
Cognitivos
GEOGRAFIA
DE
PROCESSOS
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observação, valores sobre sua vida e seu mundo, seu mirante; premissa
importante para todos os que trabalham com as ciências sociais.
Com base nessas considerações, com as quais retomamos di-
ferentes abordagens e aportes teórico-metodológicos, podemos avali-
ar a importância desse enfoque para as pesquisas geográficas, por le-
var sobretudo a compreender a lógica dos atores, desde as aspirações
individuais aos sistemas de valores dos grupos sociais refletidos nos
lugares e territórios, aspectos imprescindíveis nas análises do geográfi-
co.
Por todo o exposto, as representações devem ser vistas como
mais uma forma de pensar e entender a "teia da vida" em suas múlti-
plas relações, permeando entre a realidade e os atores sociais ao reali-
zar suas práticas, o que pode ser melhor enfatizado pelas palavras de
Bakhtin (in FARACO et al., 1996): "a vida é dialógica por natureza.
Viver significa participar de um diálogo [...I o homem participa deste
diálogo com toda sua vida: com os olhos, lábios, alma, espírito, com
todo seu corpo e com seus atos".
Nessa perspectiva, as imagens como representações dos diá-
logos encerram mais uma forma de linguagem ou enunciados que se
caracterizam por seu conteúdo e por seu sentido, pois eles não existem
sem uma intenção, mesmo implícita, sobretudo porque não escreve-
mos, falamos ou representamos algo vazio, para nada dizer. Mesmo
quando imaginamos ou externamos nossos monólogos, dirigimo-nos
a uma ou mais pessoas, e por mais simples que seja está repleto de
intencionalidades.
Esta é a dimensão das representações, que propomos quan-
do pesquisamos essa vertente no geográfico, o que atualmente vem
subsidiando algumas pesquisas desenvolvidas não só na área de geo-
grafia, como nas áreas de história, sociologia, filosofia, ciências soci-
ais, teoria da linguagem etc., sobretudo por refletir o atual momento
histórico.
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Referências
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IMAGEM, REPRESENTAÇÃO E GEOPOLITICA
" Os autores agradecem aos professores Gilmar Rocha (PUC-Minas) e André Velloso (UNI-BH)
pelo apoio na aplicação dos questionários e aos estagiários Danny Zahredine e Youssef Alvarenga por sua
ajuda na tabulação dos questionários.
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bem sucedidos nesse sentido foi o dos mapas mentais de Gould e White
e vários seguidores, a partir de 1974.
No mesmo sentido e praticamente a partir da mesma época,
Saarinen e seus associados vêm produzindo, nos Estados Unidos, pes-
quisas cujos temas são as imagens de outros países. São pesquisas que
se voltam para a relação existente entre as imagens que os seres huma-
nos formam de países e regiões do mundo e as opiniões que desenvol-
vemos sobre esses países e regiões. O importante é que essas represen-
tações e imagens geográficas, assim como as opiniões que delas resul-
tam, parecem ter impacto significativo nas opiniões, decisões e ações,
objetos do interesse dos estudiosos das relações internacionais e da
geopolítica contemporânea.
Uma das contribuições importantes da abordagem dos
geógrafos para um estudo mais consistente das imagens e representa-
ções espaciais diz respeito à consideração permanente da questão de
escala.
Na escala local (onde se desenrolam nossas experiências co-
tidianas), as representações e imagens que construímos estão, em prin-
cípio, mais próximas da realidade dita "objetiva", pois que nossa ex-
periência vivida desta realidade se acumula e se renova continuamen-
te.
Nos níveis escalares subsequentes e crescentemente mais
abrangentes, as imagens e representações vão se tornando menos pre-
cisas, na medida que não resultam mais da experiência cotidiana e
não são parte de nosso mundo vivido. Mais ainda, dependem de in-
formações, imagens e representações selecionadas e veiculadas por ter-
ceiros, com seus próprios valores, intenções, preferências, vieses e limi-
tações.
Numa escala ainda mais ampla — nível mundial —, não so-
mente há grandes espaços, numerosos países e regiões para os quais a
maior parte das pessoas dispõe apenas de imagens incompletas, este-
reotipadas, distorcidas, ou mesmo não dispõe de imagem e represen-
tações. A esse respeito, Saarinen (1976, p. 209) considera que
Na escala mundial, nossas imagens da realidade são, na melhor das hipóteses,
incompletas. As concepções sobre outras nações ou sistemas mundiais se basei-
am em generalizações muito amplas, nos quais as exceções são inevitáveis.
Ninguém pode entender mais do que uma fração da diversidade terrestre de
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O método
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Os resultados
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Os mapas mentais
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Considerações finais
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Referências
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POR UMA GEOGRAFIA DO SAGRADO
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A especialidade do sagrado
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OS AUTORES
Paul Claval
Doutor em Geografia e professor da Universidade de Paris
W- Sorbonne Pantheon. Recebeu, em 2001, a condecoração da Legion
d' Honneur da República Francesa pela sua contribuição ao desenvol-
vimento do conhecimento cientifico.
Ruy Moreira
Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São
Paulo. Atualmente é professor associado da Universidade Federal
Fluminense.
Valter Casseti
Livia de Oliveira
Zeny Rosendahl
Salete Kozel
série
9 85 3