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Tanabata

Gustavo Martins
O vento quente do verão soprava e fazia balançar as lanternas de papel e as casas de madeira
marrom ornamentadas com bandeiras de papel coloridas vibram com a animação de seus
moradores.

A cidade de Miyagui ,cercada de bordos japoneses por norte, leste e oeste, famosa pelo secular
festival das estrelas: tanabata.

Durante a época do festival o normalmente pacato vilarejo sofre uma drástica transformação.
Toda a acinzentada calmaria que reina soberana sobre o local durante maior parte do ano é
rompida por uma explosão de cores. Chöchins tingem as paredes e postes de vermelho, brotos
de bambu doam seus verdes às praças e ruas, a timidez dos komons dá lugar à beleza gritante
das yukatas e as barracas de toldo vermelho se espalham pela praça central. Pouco a pouco a
vida toma conta do lugar, apenas esperando a grande celebração do amor celeste.

A tanabata daquele ano não seria diferente.

Por todos os lugares as pessoas iam e viam sempre falando, cantado, gritando. Uma criança
brincava com um peixe na beira do lago enquanto seus pais a olhavam-no de cima da ponte de
madeira vermelha que passava por cima da água. Belas jovens desfilavam através das ruas
estreitas exibindo yukatas multicolores e a atraindo para si olhares desejosos. Vendedores
suados ofereciam todo tipo de comida aos que passavam em frente às barracas que ocupavam
ambos os lados da rua principal. O cheiro de óleo fervente, o calor do evento e o som dos
Taikôs espalhavam energia para todos os presentes no festival.

Tenzakus colados nos brotos de bambu que se espalhavam por todos os cantos do vilarejo
carregavam os desejos e esperanças das crianças da cidade. Mas apenas das crianças, pois como
dizem, é apenas delas o direito de sonhar.

No centro de tudo um enorme palco adornado por chöchins multicoloridas despontava como
uma coroa a tornar maior a beleza de tudo aquilo. Sobre ele homens com rostos pintados de
branco e vestindo trajes espalhafatosos encenavam danças ritmadas enquanto entoavam cânticos
sobre guerreiros de tempos passados, tudo isso sob o olhar admirador de um público vibrante
que a cada reviravolta não segurava as expressões e sons de surpresa.

Horas mais tarde todos os olhares se voltaram para o céu, pois nele estava o espetáculo mor.
Flores de múltiplas cores explodiam no céu estralado daquela noite criando ilusões de chamas e
luz. Crianças corriam de um lado para o outro tentando encontrar o melhor lugar para assistir o
espetáculo pirotécnico. Juras de amor eram proferidas por jovens casais e elegantes damas se
refrescavam abanando sensus florais.

No fim da noite, quando todos os taikôs se silenciaram e todos os chöchins se apagaram, o


silêncio caiu sobre o vilarejo acompanhado pelas brumas da manhã umedecendo as cerejeiras e
refrescando o calor restante do festival que novamente se repetirá no ano seguinte.

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