Você está na página 1de 17

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Ciências da Saúde


Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva –
NESC/ Faculdade de Medicina

Disciplina de Epidemiologia
2004
Perfil Epidemiológico Variáveis

• Quem? - grupos mais vulneráveis (idade, sexo, raça,


s o a
escolaridade, estilo de vida, profissão,cultura, es
p
religião etc)

• Onde? - agregados (cluster espacial ex.epidêmico)


a r
- características climáticas, solo, vegetação, lug
- rural x urbano;
- difusão - espalhamento (migração e mobilidade)

• Quando? - intervalo de tempo (estudo de seguimento);


p o
- ano cronológico (2002);
tem
- estação do ano (tipicamente de inverno);
- agregados (cluster temporal ex.epidêmico)
Pessoa
Variáveis fortemente relacionadas com doença

I- Sexo e Idade
• mulheres internam mais que os homens e o risco de morrer
entre os homens é maior do que entre mulheres;
• nascem mais homens;
• perfil de mortalidade diferente segundo sexo;
• acidente à veiculo motor - homens 15 a 24 anos;
• prevalência de baixo peso ao nascer maior em faixas etárias
extremas entre filhos de mãe com baixa escolaridade.
Óbitos por todas as causas segundo sexo de
Internações por todas as causas segundo sexo residentes do estado do Rio de Janeiro - 1996 a 1998
ocorridas no Estado do Rio de Janeiro- 1996 a 1998
70000
60000
600000 50000
40000
nº Masculino
400000 30000
masculino Feminino
20000
200000 feminino 10000
0
0 96 97 98
96 97 98
ano

Mortalidade proporcional por causas segundo sexo


Município do Rio de Janeiro - 2000

Causas externas
Anomalias Congenitas
100% Aec.Originadas periodo perinatal
90% Gravidez,parto, puerpério

80% D.Ap. genitourinario


Sist. Osteomuscular
70%
pele/Tec.subcutâneo
60% D. Ap. Digestivo
50% D. Ap. respiratório
D.Ap. Circulatório
40%
Ouvidos e da Apófise
30% Olho e anexos
20% D.S.Nervoso

10% Transtornos Mentais/Comp.


D.Endócrinas/Nutriiconais/SI
0%
D.Sangue
Masc. Fem.
Neoplasmas
DIP

Fonte: SIM/DATASUS: Especialização em Saúde Coletiva - Residência - NESC/UFRJ-2002


II- Nível sócio-econômico
Medida indireta - lugar de residência - perfil demográfico diferente
Niterói - População Não Favelada Segundo o IBGE Niterói - População Favelada Segundo o IBGE

PIRÂMIDE POPULACIONAL POR FAIXA ETÁRIA - 1991 PIRÂMIDE POPULACIONAL POR FAIXA ETÁRIA - 1991

Faixa Etária Faixa Etária


80 + Homens 80 + Homens
75 A 79 75 A 79
70 A 74 Mulheres 70 A 74 Mulheres
65 A 69 65 A 69
60 A 64 60 A 64
55 A 59 55 A 59
50 A 54 50 A 54
45 A 49 45 A 49
40 A 44 40 A 44
35 A 39 35 A 39
30 A 34 30 A 34
25 A 29 25 A 29
20 A 24 20 A 24
15 A 19 15 A 19
10 A 14 10 A 14
5A9 5A9
0A4 0A4
8 6 4 2 0 2 4 6 8 8 6 4 2 0 2 4 6 8
% % % %
Fonte: IBGE - Censo - 1991 Fonte: IBGE - Censo - 1991

Fonte: Censo Demográfico IBGE- 1991- Especialização em Saúde Coletiva - Residência - NESC/UFRJ-1996

Medida indireta - região do país x MI


Estimativas da mortalidade infantil (por 1.000
nascidos vivos), Brasil e regiões, 1965 a 1994

200
150
100
50
0
65 70 75 80 85 90 94

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil

Fonte: SIMÕES, 1996, apud MELLO JORGE E GOTLIEB, 2000


III- Religião
• identifica grupos na população com diferentes perfis de morbimortalidade
- abstinência de fumo entre os mórmons (menor freqüência de CA de pulmão
em Utah-EUA);
- circuncisão - judeus (judias com maior freqüência de um tipo raro de câncer
no cérvix e judeus com menor freqüência de câncer de próstata)

IV- Grupos especiais


• questões antropológicas e culturais
canibais na Nova Guiné - Kuru (doença degenerativa do SNC causada por um
vírus cujo reservatório único é o homem)
• mutações genéticas
-fibrose cística de pâncreas -maior freqüência entre europeus e americanos
caucasianos;
-talassemia - maior freqüência entre gregos e italianos-Mediterrâneo.
Distribuição das doenças no espaço
¾ desenho de estudo ecológico onde a unidade de análise é uma fração do
espaço (bairro, florestas, área rural, país, região etc);
¾ formulação de hipóteses etiológicas → análise das variações espaciais das
doenças e dos fatores ambientais. Geralmente, não é possível testar
hipóteses → exposição a um fator e o desfecho não são mensurados no
mesmo indivíduo.
¾ Ex.1- Linfoma de Burkitt - neoplasma endêmico em terras baixas (abaixo de
164 m, alta pluviosidade e altas temperaturas) - Nova Guiné (Burkitt, 1962)
¾ Ex.2- Bócio endêmico - doença da tireóide devido a escassez de iodo - falta
de iodo no solo (alimentos e água);
¾ Ex.3- Psicose maníaco-depressiva é menos freqüente em áreas cujo solo é
rico em sais de lítio (Dawson et al, 1970)
¾ outros: rios - caramujos - esquistossomose; criadouros - favorece doenças
transmitidas por mosquito; chuvas favorecem - leptosirose;
poluição - doenças respiratórias;
área rural -acidente ofídio
casas de taipa e pau-a-pique - barbeiro - Doença de Chagas
Mapeamento
Jonh Snow → epidemia de cólera,
Londres em 1854 → associação
espacial entre mortes por cólera e
suprimento de água, mesmo sem
conhecer seu agente etiológico
Concentração de casos em áreas próximas a
bomba d’água Broad Street

Epidemia de AIDS - Brasil


desenho de estudo ecológico onde
a unidade de análise é uma
fração do tempo e espaço
ponto-município com pelo menos 1 caso

Medronho et al, 2002


Migração
¾ Barker (1976) - colonização de novas áreas em Altamira - Pará para construção da
rodovia Transamazônica - população imigrante apresentou um padrão de doença
(maior gravidade) diferente da população autóctone “Síndrome Hemorrágica de
Altamira”
¾ Barreto (1962) - imigrantes nordestinos na Amazônia atraídos pela construção da
estrada de ferro Madeira - Mamoré na “era da borracha” - Excesso de óbitos por
malária;
¾ Carvalheiro (1986) - imigrantes de Minas Gerais, NE e interior de SP, epidemia de
Meningite Meningocócica, pp na periferia da cidade de São Paulo em 1974.
Estudo de Migrantes
¾ Estudo de descendentes de várias gerações com o objetivo de entender o quanto
mudanças culturais e ambientais podem ser ser responsável por doenças particulares;
¾ diferenças do perfil de adoecimento entre oriente e ocidente;
¾ compara-se taxas de doenças entre a população de origem que não migrou, as
gerações de emigrantes (primeira geração- próprios migrantes e segunda geração -
seus descendentes) e a população destino;
¾ idade que a pessoa migrou e período de latência são importantes nessas
comparações.
Razões de Mortalidade Padronizada* por causas de óbitos selecionadas entre migrantes
japoneses residentes nos EUA e norte-americanos brancos, 1959 a 1962

Norte-americanos de ascendência
japonesa
Causa e sexo Japoneses não Nascidos fora dos Nascidos nos Norte-americanos
migrantes EUA EUA brancos
Câncer de estômago (M) 100 72 38 17
Câncer de estômago (F) 100 55 48 18
Câncer de intestino (M) 100 374 288 489
Câncer de intestino (F) 100 218 209 483
Câncer de mama (F) 100 166 136 591

*Tomou-se como base para comparação as taxas de mortalidade da população de japoneses


não-migrantes (MacMahon & Pugh, 1970)

•Fatores ambientais podem mudar quando as pessoas migram ;


•taxas intermediárias na 1ª e 2ª gerações sugerem fortemente fatores ambientais;
•quando o fator genético é forte, as taxas entre as populações de origem e a
primeira geração (mais do que as consecutivas) são semelhantes;
•Vieses: - diagnóstico diferente; migrante não é uma amostra representativa do país
de origem; stress do imigrante pode ser fator de risco para doenças, p.ex.,
distúrbios mentais; inacurácias do denominador (idade, sexo, raça).
Série Temporal (ST)
¾ um conjunto de observações ordenadas no tempo;
¾ desenho de estudo ecológico onde a unidade de análise é uma fração do
tempo (hora, dia, semana, mês, ano etc);
¾ objetivos: descrição do comportamento, predição e controle;
¾ componentes: tendência; ciclos; sazonalidade e componente aleatório
(irregularidades).

¾ Tendência
• análise das mudanças na freqüência (incidência, mortalidade, etc.) de uma
doença por um longo período de tempo, geralmente, décadas.

• Avaliação de impacto

Ex: treinamento de pessoal da saúde e uma greve de médicos interferiram na


tendência da incidência de infecção hospitalar, respectivamente como
fator de proteção, diminuindo o número de casos, e como fator de risco,
fazendo-o aumentar (Fernandez-Pérez et al,1998);
Tendência Avaliação de Impacto
Com a introdução da combinação de pelo
menos três drogas anti-retrovirais no tratamento
Descrição da ST da AIDS (1995) - tendência passou de
ascendente para descendente (Picciotto, 1998);
Distribuição dos casos de AIDS segundo o
ano de diagnóstico, Brasil - 1984 a 1995 Óbitos por AIDS - Estado do Rio de Janeiro
Nº de casos
1984 a 2000
20000 1400

1200
15000
1000

10000 800


600
5000 400

200
0
85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 0
Anos 84

85

86

87

88

89

90

91

92

93

94

95

96

97

98

99

00
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20
Fonte: AIDS - Boletim Epidemiológico X,nº4, 1997.
Mun.masc Mun.fem RMRJ-masc
apud: Medronho et al (2002)
Interior-masc Interior-fem RMRJ-fem

Fonte: SIM/DATASUS - Torres et al (2002)


Sazonalidade
variação ocorre dentro de um período de um ano

¾ ex1- mortalidade por d.cardiovasculares e d. respiratórias: aumenta - inverno e


diminui - verão, (KUNST et al, 1993; SAEZ et al., 1995);
¾ ex2- Picadas de cobra e escorpião - maior incidência nos períodos chuvosos (os
animais saem mais de seus refúgios à procura de locais secos (PEREIRA, 1995);
¾ ex3- diarréias infecciosas infantis guardam estreita relação com a etiologia e a forma
predominante de transmissão: Protozoários e bactérias - transmissão fecal-oral
(diarréia de verão);
vírus - predominante de transmissão respiratória (diarréia de inverno). (ROBINS-
BOWNE, 1984)
epidemiologia da diarréia por rotavirus semelhante a epidemiologia do sarampo
¾ ex4- dengue no verão
Incidência de Sarampo no Rio Grande do
Ciclicidade Sul - 1962 a 1976

300

coef.100.000 hab.
250
Picos na freqüência de uma doença
200
ocorridos em um período maior 150
que um ano 100
ex. sarampo -ciclos bienais (antes 50
0
das campanhas de vacinação): 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76
acúmulo de susceptíveis ano

Fonte: Vigilância Epidemiológica - SES-RS apud: Rouquayrol (1994)


Irregularidades
Alterações aleatórias da freqüência da doença ou inesperadas (não
explicadas pelas demais componentes da série histórica);

Monitoramento e Controle
detectar precocemente mudanças na freqüência das doenças;
métodos estatísticos de análise de séries temporais
diagrama de controle (baseado na distribuição normal ou em
quartis) - freqüentemente utilizado
Diagrama de controle - Incidência de dengue por 100.000
habitantes, Município do Rio de Janeiro, julho de 1997 a fevereiro
de 1998
3,00
Índice endêmico

2,50 Limite Máximo Esperado


Incidência
2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
Jul/97 Ago/97 Set/97 Out/97 Nov/97 Dez/97 Jan/98 Fev/98

Medronho et al (2002)
Epidemia:
Elevação brusca, temporária e significantemente acima do esperado para a
incidência de uma determinada doença.

– Uma epidemia não representa necessariamente a ocorrência de um grande


número de casos da doença em uma determinada população, mas sim um
claro excesso de casos quando comparada à freqüência esperada (ou habitual)
de uma doença em um determinado espaço geográfico e período de tempo.

– Doenças erradicadas ou inexistentes → o coeficiente de incidência que fixa


o limiar epidêmico é igual a zero. Nesta situação apenas um caso poderá ser
considerado uma ocorrência epidêmica.

¾ Quanto a abrangência:
Surto epidêmico - restrito no tempo e espaço -ex: infecção alimentar em uma creche
devido a contaminação da caixa d’água;
Epidemia - ex: dengue no município do Rio de Janeiro em 2001/2002;
Pandemia - atinge dimensões continentais - ex: cólera, AIDS;

OBS: Endemia - Casos dentro do limite esperado- ex: casos de hanseníase no


município do Rio de Janeiro
Aspectos diferenciais das epidemias
•Quanto à velocidade do processo na •Quanto ao mecanismo de transmissão
fase inicial:

¾Epidemia explosiva (maciça) ¾Epidemia progressiva ou propagada


rápida progressão atingindo o pico de transmissão pessoa-pessoa ou por
incidência em um curto período de vetores
tempo, declinado logo a seguir; Ex: meningite meningocóccica, AIDS
comunidade altamente suscetível. e sarampo (em indígenas pode ser
Ex: intoxicação alimentar maciça)

¾Epidemia lenta ¾Epidemia por fonte comum


a velocidade da etapa inicial é bem mais inexistência de mecanismo de
lenta; agentes com baixa resistência ao transmissão hospedeiro-hospedeiro;
meio exterior, populações altamente veículo comum
resistentes ou imunes. Ex.infecção alimentar
Ex.AIDS

Você também pode gostar