Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Página | 1
Nirvana
“Felicidade
foi-se embora
e a saudade no meu peito
‘inda mora
e é por isso que eu gosto
lá de fora
por que sei que a falsidade
não vigora”
...
...
Página | 2
Não me iludia, pois em sonho sei que estava
Onde a verdade virou pó num pensamento
E num momento - percebi - me libertava
...
...
(D.S.)
Página | 3
Brasil
Brasil
Pêra verde sangue
Coração de mangues
Vastos litorais
Brasil
O coração do mundo
Os pulmões da Terra
De Santos Dumont
Brasil
Lar da Boa Gente
Cujos governantes
São todos boçais
Brasil
Lágrimas nos olhos
Coração pulsante
Cais dos europeus
Brasil
Todos teus nativos
Brutalmente mortos
Restam imortais
Página | 4
No sangue perdido
Ou gerando o filho
Do inimigo atroz
Brasil, Brasil
Das verdes matas
Da pele trigueira
Do Cristo Redentor
Brasil
Do carnaval alegre
Onde a força cede
Ao poder do amor
Brasil
Gente diamante
Gente diademas
Amo seu ardor
Brasil
Coração ardente
Sol Incandescente
Céu azul anil
Brasil
Noites estreladas
E as peles suadas
De fazer amor
Página | 5
Brasil, Brasil
Dos lindos campos
E dos vastos bosques
Puro esplendor
Brasil
Por toda parte é lindo
Pura cor e cheiro
E também sabor
Brasil
Terra de puro sangue
Sangue de toda raça
Raça em toda a gente
Brasil
Terra colossal
Mesmo os meninos
Herdam tua grandeza
Brasil
Te honra o sertanejo
Te honra o carioca
Te honra o gaúcho
Te honra o caipira
Te honra o mineiro
Mas é longa a lista
Desde o índio bravo
Ao bravo paulista
Página | 6
Brasil
Teu sangue é teu povo
Não te enganes nunca!
Que essa gente mansa
Quase nunca cansa
A dizer sim senhor
Mas se levantar
Fazendo do peito
Bandeira hasteada
Com sangue nos olhos
E nas mãos navalhas
(D.S.)
Página | 7
Carmina gitana
Deusa gitana
Envolta em vermelho
Cabelos revoltos
E flor entre os seios
De pele morena
De coxas miragens
Teus peitos oásis
Me trazem o deserto
Quando me rejeitas
Balanças os braços
E bates os pés
Pisando nos olhos
Que em vão se atiram
Página | 8
Enquanto a guitarra
Vibra ardentemente
Queimando o ar
Que arde inclemente
Plantando desejo
No chão do meu peito
Vermelho igual brasa
Furando o espeto
Rompendo-me a carne
Tragando-me a alma
Página | 9
Não pisco ou engulo
Nem penso encantado
Com a fúria que gritas
Sobre o tablado
A turba de machos
Se agita também
Batendo as canecas
Iguais as idéias
Que pairam além
Milhares de rosas
Jogadas ao chão
Que pisas e chutas
Nos olhos que não
Enxergam mais nada
Além da emoção
(D.S.)
Página | 10
À Mulher de vinte e um anos
Amainada já a loucura
Dos anteriores anos
Tão rebeldes, levianos
Na memória, há só infância
No futuro, muitos planos
(D.S.)
Página | 11
Pudera
Página | 12
Pudera me fingir capaz desta alquimia
E lograr, assim, dela abster-me
Pudera eu fingi-lo, pudera eu fazê-lo
Pudera eu... sequer um dia.
(D.S.)
Página | 13
O espelho quebrado
Página | 14
Veio-me uma sucessão de luares e auroras
E crepúsculos e outros belos lugares,
Dos quais descobri ter gravado cada minuto.
(D.S)
Página | 15
Cinzas de carnaval
Cinzas de carnaval
(D.S.)
Página | 16
De braços dados com a solidão
(sobre a razão na insanidade)
(D.S.)
Página | 17
Um poema orgulhoso de ser samba
(D.S.)
Página | 18
Só tu me completas tão bem
(D.S.)
Página | 19
O teu prazer é minha arte
Página | 20
Aguardo o teu momento, pois é nele que m´afogo
Mas que não venha logo, pois me perco em desfrutar-te
Amar-te mais, enquanto os vis desejos catalogo
O mais, pois, ab-rogo. O teu prazer é minha arte
(D.S.)
Página | 21
Contentamento
(sem resposta, nem revolta)
Na pele, amarelo
Há um pus
Já não doem
As feridas
Que fizeste
Dói-me mais
Tua ausência
Não te digo
O que sinto
Sei que voltas
Vivo a vida
Sem mistério
Nem revolta
Sangre o sangue
Doa a dor
Que é a vida?
Que é o amor?
(D.S.)
Página | 22
Como somos sós
Rompeu-se, então,
O véu de seda
Azul do céu
Que antes como
Nos guarnecia
Depois de orarmos
Nos santuários
Nos entregamos
Sem mais sabermos
Quê, então, seríamos
Assim, morremos
Ao percebermos
Que não podíamos
Sem mais delongas
Sem velas santas
Nem outras tantas
Abstrações
Sobreviver
Página | 23
Saltando abismos
Caminhos íngremes
Vivendo os vermes
Dos intestinos
Não desistimos
Pois de existirmos
Sem compreender
(D.S.)
Página | 24
Samba nostálgico
(D.S.)
Página | 25
Adverso
Página | 26
E com seu colírio que acalma
Depura o perfume da alma
Que exala p´ra além das narinas
(D.S.)
Página | 27
O relógio
O relógio é ilógico
Um peso preso ao pulso
Uma algema, uma arma
Um dilema, um impulso
O relógio é um refúgio
Uma sombra de tempo
Um umbral, um templo
Um fiel testemunho
O relógio é um demente
Andando em círculos
Seus ponteiros minúsculos
Já não podem ir à frente
(D.S.)
Página | 28
Vivo, em ti primeiro
(D.S.)
Página | 29
Carinho
Página | 30
E beijo teus pés, depois subo beijando
Pegando na parte que mais te agita
Mostrando, em meu corpo, o desejo clamando
O abrigo de carne que a língua perscruta
(D.S.)
Página | 31
Duplo renascimento
Página | 32
E te trato com os olhos, pois sei que és criança!
Num corpo rebelde que pede vingança
Na vulva convulsa clamando a matança
E sem que o exija, a matriz se faz rija!
Página | 33
Eis a poesia a escrever com meu corpo
Cedendo ao desejo que, sei, é absurdo!
Mas ai da vontade que em ti vale pouco
Num vale de pernas que torna-se um mundo!
(D.S.)
Página | 34
A rua é de graça
A rua é de graça
É o reino do povo
O povo na rua
Sem preto ou vermelho
Batendo no peito
Sou verde e amarelo!
Batendo no peito
Sou pobre e honesto!
Batendo no peito
Ressoando o protesto
Do povo que sofre
Pois rico detesto!
O povo na rua
Sem faixa ou bandeira
O povo na rua
Na rua inteira
O povo de novo
Versão verdadeira
No peito, o Brasil
Sem estrela vermelha!
O povo de novo
De gênio, de raças
De riso e lágrima
De calos na alma
Abraçando-se às praças
Página | 35
O povo na rua
Que é sua, é de todos
Pois é desse jeito
Que seremos soltos
Nos campos, nos pastos
Melhor sermos mortos
O povo é lindo!
É lindo pra mim
O povo é um monstro
Pra quem o consome
O povo insone
Na Rua Sem Nome
Com febre, com fome
Fazendo sua arte
O povo gritando:
Já basta! Não quero!
O povo gritando:
Sou verde e amarelo!
O povo gritando:
Cansei desta bosta
De voto e bolero!
Página | 36
O povo gritando:
Não vou parar, não!
O povo gritando,
Explodindo o pulmão
O povo cantando
A sua canção
Os passos batendo
Em marcha, então!
Página | 37
Eu fumo e minto
Urino e defeco
Sou gente, sou carne
Com cheiro e defeito
Do rico ladrão
Exijo respeito!
Página | 38
O mais nobre entre a gente
O reduto da alma
É a força que existe
A riqueza real
É a roda do mundo
É o ser ideal
(D.S.)
Página | 39
O pão sagrado
Página | 40
Banido do mundo físico qual uma alma, transparente
Passando entre a gente que caminha sempre à frente
Meus cíclicos devaneios como causam uma torrente,
Que parte soprando versos, pelos cantos, tristemente
(D.S.)
Página | 41
Batuque de galope
Me levantei
Fui estudar
Buscando uma maneira de meu verso galopar
Então pensei
Pra que chorar
Buscando um verso triste se eu quero me alegrar?!
Olhei pra cá
Olhei pra lá
Não vi ninguém por perto, então resolvi parar
Eu vi, então,
Quando uma velha
Pulando da janela, espatifou-se pelo chão
Página | 42
Então saí correndo, louco, dando cambalhota
Mirando surpreendido no decote da velhota
A velha deu um pulo e agarrada no meu braço
Pôs-se a se arrastar já esquecida do cansaço
Pensei então
Que bom pra mim
Dançando pela rua c’uma velha meiga assim!
Pensei então
Que bom pra mim
Dançando pela rua c’uma velha meiga assim!
(D.S.)
Página | 43
Mais forte que a noite
Na noite retilínea
O céu, como uma lousa
D´estrelas cristalinas
Entr´outras nebulosas
Sombras encabuladas
Tortuosamente belas
Observando estrelas
Luzem qual fossem fadas
Pelas encruzilhadas
Lar da nicromancia
Arde a feitiçaria
Sobre as vidas ditosas
Sombras misteriosas
Quase irrefletidas
Curvam-se além das coisas
Presas a outras vidas
Almas já combalidas
Gemem subind´a escada
Gritam, sem ser ouvidas
Ecos na madrugada
Mentes entorpecidas
Vagam igual cometas
Em frenesi, gametas
Cruzam-se em mães despidas
Página | 44
Mentes efervescidas
Vidas tão desastrosas
Partem qual supernovas
Brios de suicidas
Lentas e esmaecidas
Ricas em rubescências
Tímidas ambulâncias
Piscam esbaforidas
(D.S.)
Página | 45
A casa de Botão
A casa do botão
Já não mais o segurava
Tão sozinho e largado
Outra casa procurava
Página | 46
Ó que agulha e linha tinha
Deixa lá de lassidão
Pois de lassa já me basta
Essa casa de botão
Página | 47
A Maria, irritada
Agiu com resolução
E, sem explicação
Foi pro quarto da empregada
E o outro, o miudinho
Foi pra blusa do Pedrinho
Página | 48
Que casinha mais vadia!
E, ao dizer, se desculpava
Sempre que ela repetia
Pois sua goela sufocava
Página | 49
Um pontinho em cada lado
A casinha costurada
Acolheu o seu Botão
Sem ficar tão apertada
E de nada adiantou
Pois com ela não tem prosa
(D.S.)
Página | 50