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Curioso é que mesmo que o leitor esteja se propondo uma leitura a um certo nível, é a
dinâmica de sua relação com o texto que vai determinar o nível predominante.
Salientamos que, há tantas leituras quantos são os leitores – há também uma nova
leitura a cada aproximação do leitor com um mesmo texto (ainda quando mínimas as
suas variações).
Concluindo, a leitura mais cedo ou mais tarde sempre acontece, desde que se queira
realmente ler.
Esses três níveis são inter-relacionados – mesmo um nível ou outro sendo privilegiado.
Como dissemos, cada pessoa reage a um estímulo de seu próprio modo; irá ler a seu
modo.
(Exemplo: você vai ao shopping. Como você age? Há produtos que encantam…
ignoram…)
Com a leitura acontece a mesma coisa. Por isso, a leitura tem mais sutilezas e mistérios
do que a simples decodificação das palavras escritas. Tem também um lado de
simplicidade que os letrados não se preocupam em revelar.
SENSORIAL – relaciona-se diretamente com os nossos sentidos (a visão, o tato, a
audição, o olfato e o gosto/paladar).
É através dessa leitura que vamos nos revelando para nós mesmos. (Descoberta das
coisas agradáveis; rejeição das desagradáveis).
Ela vai dando a conhecer o leitor do que ele gosta e do que não gosta… mesmo
inconscientemente e sem a necessidade de racionalizações.
Leitura sensorial começa muito cedo e nos acompanha por toda a vida.
Na criança, essa leitura, através dos sentidos, apresenta/revela um prazer singular (maior
que a do adulto) e curiosidade (mais espontânea).
Vejamos, por exemplo, a relação de uma criança com um livro. Como se dá a leitura
sensorial?
Antes de ser um texto escrito, um livro é um objeto. Tem forma, cor, textura…
Esse jogo com o universo escondido do livro vai estimular na criança o aprimoramento
e o desenvolvimento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação e
reação ao mundo.
Já os adultos tendem a uma postura mais inibida – em relação ao livro e também outros
objetos passíveis de leitura.
Interessante é que, mesmo com o advento de outras formas de comunicação (rádio, tevê,
Internet etc), o culto ao livro foi acentuado.
Esse raciocínio alimentado por letrados e intelectuais ajuda a sustentar o culto à letra e
aos livros.
Exemplo: censura por parte dos governos; no passado, censura da igreja etc.
Voltando à questão do nível sensorial, por conta da importância que tem os nossos
sentidos para a atração ou rejeição ao livro, a aparência de um livro é fundamental
(impressiona bem ou mal – inclusive, a diagramação).
Só que aquela primeira impressão passa. O que era bonito, fica feio… Assim, quando
uma leitura nos faz ficar alegres ou deprimidos, desperta a curiosidade, estimula a
fantasia, provoca lembranças etc, estamos entrando noutra área. Significa que deixamos
de ler com os sentidos para ler também no nível emocional.
A leitura emocional tem aspectos curiosos. Por exemplo, certas coisas tem o poder de
libertar nossas emoções; levam-nos a outros tempos e lugares. (Lugares, cheiros,
músicas… provocam lembranças, sentimentos…)
Diante disso, muitas vezes, quando nos percebemos dominados pelos sentimentos,
nossa reação tende a ser negá-los (Freud explica como mecanismo de defesa).
Por tudo isso, tentamos escamotear ou justificar uma leitura emocional. Mas por que
negar?
Por um lado, não queremos parecer comuns (queremos parecer donos de nossos
sentimentos… conduta pré-fabricada…. queremos apresentar personalidade); por outro,
somos intolerantes a manifestações que fogem aquilo que chamamos de reação
equilibrada.
Ocorre também lembranças mais prosaicas, desagradáveis. Leitura para uma prova, por
exemplo. Se for algo que não nos agradou, pode sempre remeter-nos à lembranças
desagradáveis.
No nível emocional, é preciso pensar a leitura como algo que provoca – ou não –
empatia (participação afetiva – às vezes, até nos sentimos na pele do personagem).
Neste contexto, é preciso pensar o texto não mais como algo que o leitor sente, mas
como algo que acontece com o leitor – o que ele faz, provoca em nós.
Às vezes, temos uma semiconsciência de estarmos lendo algo medíocre, mas gostamos;
outras, algo importante, mas nos desagrada. Temos uma ligação inexplicável, irracional
com o objeto de leitura.
Há também os aspectos projetivos. O leitor sente-se atraído pelo objeto lido por se
assemelhar à imagem que o leitor faz de si… ou o contrário, quando sente-se atraído
pelo oposto.
Mesmo quando começa a ter uma leitura consciente, em alguns momentos, há recaídas.
Isto se explica por causa da criança que ainda está dentro de nós… ela se emerge e
possibilita essas recaídas.
(Processo catártico – se há agruras na vida, há outros piores que eu. Por outro lado, há
aqueles que alimentam a ilusão de tirar “o pé da lama”).
Também se trata de uma leitura de passatempo, já que representa uma leitura de evasão.
Onde o leitor permite-se desligar das circunstâncias concretas e imediatas.
Esta a razão pela qual não se pode simplesmente imputar à leitura emocional a
característica de alienante.
Importante é entender que tudo que lemos e a forma que lemos é resultado de nossa
visão de mundo.
A convivência social, cultural e política nos ajuda a caminhar para um outro tipo de
leitura – a racional.
Como vimos, o conceito de leitura está geralmente ligado à decifração da escrita – ler e
escrever.
Mas é muito mais que isso… está ligado ao processo de formação do indivíduo, à sua
capacidade para o convívio e atuações social, política, econômica e cultural.
O problema é que, semelhante ao passado, ainda hoje ler e escrever não é privilégio de
todos.
Porém, capacidade de leitura vai muito além da decifração dos signos… fato nem
sempre compreendido por muitos educadores.
Tem-se a pedagogia do sacrifício, já que não se sabe colocar o porque, como, para
quê… As pessoas não sabem a verdadeira função da leitura (isso inclui vocês,
estudantes de Jornalismo).
Também é sabido que uma vez alfabetizada, a maioria das pessoas, limita-se à leitura
com fins específicos (profissionais etc)…
Ignora-se que ler significa inteirar-se do mundo – uma forma de conquistar autonomia,
de deixar de “ler pelos olhos dos outros”.
Sem investir na leitura, permite-se assim que o mundo seja visto pelos olhos dos outros
(dominação).
A libertação do ser humano passa pela sua capacidade de leitura (e não apenas da leitura
de textos).
Continuando…
Fala-se muito hoje em crise da leitura. Mas que crise? (abrir para alunos) // livros.
Essa idéia nasce nos bancos escolares… contato com livros, geralmente, dados nos
manuais escolares…
É verdade que falta acesso a livros… (bibliotecas, livros caros, salários baixos,
qualidade questionável).
Por isso, a questão é mais ampla. Volta-se à instituição escolar. E vem ainda dos
jesuítas… formação livresca, defasada em relação à realidade…
Por isso, cabe ao indivíduo romper com essa prática. No caso de vocês, futuros
jornalistas, como pretendem se comportar?
A leitura começa antes do texto e vai além dele… leitor tem um papel atuante.
Leitura se dá a partir do diálogo do leitor com o objeto lido… mas considerar a leitura
apenas como resultado dessa interação seria reduzi-la consideravelmente.
Por isso, aprender a ler significa também ler o mundo… é dar sentido ao mundo e
também a nós.
Conteúdo extraído do livro O que é leitura (Maria Helena Martins)
O que é leitura???
O ato de ler geralmente é relacionado com a escrita, e o leitor visto como decodificador
da letra.
Como explicar expressões de uso corrente como, por exemplo, “fazer a leitura” de um
gesto? Ler a mão?
Mais uma pergunta: a leitura é única? Sempre será igual? Toda vez que ler alguma coisa
vou interpretar sempre do mesmo jeito?
Com o tempo as coisas não fazem sentido diferente para nós? Passamos a enxergar sob
um novo ângulo…
Com o tempo se descobre o sentido, um novo modo de ver a mesma coisa… É quase
como se fosse uma revelação.
Não acrescentamos ao ato de ler algo mais de nós além do gesto mecânico de decifrar os
sinais.
Interessante é que geralmente reagimos assim ao que não nos interessa no momento –
um discurso político, uma conversa, uma aula expositiva, um quadro, um livro uma
música…
A tendência natural é ignorar, rejeitar como nada tendo a ver com a gente.
O problema é que quando não lemos, não o compreendemos, torna-se impossível dar
um sentido aquilo… porque diz muito pouco – ou nada – para nós.
Para entender melhor essa idéia, Paulo Freire diz o seguinte: “ninguém educa ninguém,
como tampouco ninguém se de educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo”.
Isso quer dizer que, mesmo precisando dos professores, temos condições de fazer uma
série de coisas sozinhos.
Na prática, aprendemos a ler lendo. Maria Helena Martins diz que “vivendo” – ou seja,
depende do quê lê – do que experimenta na relação com o mundo.
Aprendizado do Tarzan…
Muito da nossa capacidade de leitura se dá pela motivação em ler. O que quero dizer
com isso?
Continuando…
O ato de ler e escrever têm sido valorizados. Entretanto, muitas vezes têm se
transformado num instrumento de poder pelos dominadores – mas também pode vir a
ser a liberação dos dominados.
Muitos não querem desenvolver a capacidade de uma leitura crítica, racional. Preferem
o comodismo. Acham melhor não entender, por isso significa um ruptura com a
passividade – talvez por lhe causar maiores frustrações em face da realidade.
O problema é que o não querer ler, vem ao encontro dos interesses das minorias
dominantes.
18/06 – Avaliação