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A INTERAÇÃO DOS NÍVEIS DE LEITURA

Não há uma hierarquia entre os níveis de leitura. Entretanto, a tendência é de que a


leitura sensorial anteceda a emocional e tenhamos, por fim, a leitura racional.

Também não se deve supor a existência isolada de cada um desses níveis.

Curioso é que mesmo que o leitor esteja se propondo uma leitura a um certo nível, é a
dinâmica de sua relação com o texto que vai determinar o nível predominante.

Salientamos que, há tantas leituras quantos são os leitores – há também uma nova
leitura a cada aproximação do leitor com um mesmo texto (ainda quando mínimas as
suas variações).

A LEITURA AO JEITO DE CADA LEITOR


Para se efetivar, a leitura precisa preencher uma lacuna em nossa vida, vir ao encontro
de uma necessidade (vontade de conhecer mais).

A isso se acrescentam os estímulos e os percalços do mundo exterior, suas exigências e


recompensas.

Concluindo, a leitura mais cedo ou mais tarde sempre acontece, desde que se queira
realmente ler.

Conteúdo extraído do livro O que é leitura (Maria Helena Martins)

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Os sentidos, as emoções e a razão – 03


junho 12, 2007 por ronaldonezo

O propósito é compreender a leitura… não é dar uma receita ou chegar a conceituações.

O leitor pouco se detém no funcionamento do ato de ler, na intricada trama de inter-


relações que se estabelecem.

Há três níveis de leitura… sensorial, emocional e racional.

Esses três níveis são inter-relacionados – mesmo um nível ou outro sendo privilegiado.

Como dissemos, cada pessoa reage a um estímulo de seu próprio modo; irá ler a seu
modo.

(Exemplo: você vai ao shopping. Como você age? Há produtos que encantam…
ignoram…)

Com a leitura acontece a mesma coisa. Por isso, a leitura tem mais sutilezas e mistérios
do que a simples decodificação das palavras escritas. Tem também um lado de
simplicidade que os letrados não se preocupam em revelar.
SENSORIAL – relaciona-se diretamente com os nossos sentidos (a visão, o tato, a
audição, o olfato e o gosto/paladar).

Representa as nossas respostas imediatas às exigências e ofertas que esse mundo


apresenta.

Relaciona-se com as nossas primeiras escolhas e motiva as primeiras revelações. Por


isso mesmo, marcantes.

É através dessa leitura que vamos nos revelando para nós mesmos. (Descoberta das
coisas agradáveis; rejeição das desagradáveis).

Ela vai dando a conhecer o leitor do que ele gosta e do que não gosta… mesmo
inconscientemente e sem a necessidade de racionalizações.

Leitura sensorial começa muito cedo e nos acompanha por toda a vida.

Na criança, essa leitura, através dos sentidos, apresenta/revela um prazer singular (maior
que a do adulto) e curiosidade (mais espontânea).

Vejamos, por exemplo, a relação de uma criança com um livro. Como se dá a leitura
sensorial?

Antes de ser um texto escrito, um livro é um objeto. Tem forma, cor, textura…

Esse jogo com o universo escondido do livro vai estimular na criança o aprimoramento
e o desenvolvimento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação e
reação ao mundo.

Já os adultos tendem a uma postura mais inibida – em relação ao livro e também outros
objetos passíveis de leitura.

Isto acontece até em função do culto ao livro… status adquirido.

Interessante é que, mesmo com o advento de outras formas de comunicação (rádio, tevê,
Internet etc), o culto ao livro foi acentuado.

Esse raciocínio alimentado por letrados e intelectuais ajuda a sustentar o culto à letra e
aos livros.

Isto ocorre porque ajuda a manter o sistema de dominação. Explicando… os


possuidores da palavra escrita possuem uma aura mística / leva os demais à submissão.

Exemplo: censura por parte dos governos; no passado, censura da igreja etc.

Voltando à questão do nível sensorial, por conta da importância que tem os nossos
sentidos para a atração ou rejeição ao livro, a aparência de um livro é fundamental
(impressiona bem ou mal – inclusive, a diagramação).

Racionalistas dirão: o importante é o que está escrito.


É verdade, mas num primeiro momento o que conta é a nossa resposta física aos
sentidos – a impressão de nossos sentidos sobre aquilo que nos cerca.

Só que aquela primeira impressão passa. O que era bonito, fica feio… Assim, quando
uma leitura nos faz ficar alegres ou deprimidos, desperta a curiosidade, estimula a
fantasia, provoca lembranças etc, estamos entrando noutra área. Significa que deixamos
de ler com os sentidos para ler também no nível emocional.

EMOCIONAL – a leitura emocional também tem seu teor de inferioridade… implica


falta de objetividade, subjetivismo.

No terreno das emoções, as coisas ficam ininteligíveis.

Possuem relação direta com o nosso inconsciente.

A leitura emocional tem aspectos curiosos. Por exemplo, certas coisas tem o poder de
libertar nossas emoções; levam-nos a outros tempos e lugares. (Lugares, cheiros,
músicas… provocam lembranças, sentimentos…)

Diante disso, muitas vezes, quando nos percebemos dominados pelos sentimentos,
nossa reação tende a ser negá-los (Freud explica como mecanismo de defesa).

Por tudo isso, tentamos escamotear ou justificar uma leitura emocional. Mas por que
negar?

Por um lado, não queremos parecer comuns (queremos parecer donos de nossos
sentimentos… conduta pré-fabricada…. queremos apresentar personalidade); por outro,
somos intolerantes a manifestações que fogem aquilo que chamamos de reação
equilibrada.

Ocorre também lembranças mais prosaicas, desagradáveis. Leitura para uma prova, por
exemplo. Se for algo que não nos agradou, pode sempre remeter-nos à lembranças
desagradáveis.

Isso também pode acontecer em relação a pessoas, lugares…?

No nível emocional, é preciso pensar a leitura como algo que provoca – ou não –
empatia (participação afetiva – às vezes, até nos sentimos na pele do personagem).

Neste contexto, é preciso pensar o texto não mais como algo que o leitor sente, mas
como algo que acontece com o leitor – o que ele faz, provoca em nós.

Às vezes, temos uma semiconsciência de estarmos lendo algo medíocre, mas gostamos;
outras, algo importante, mas nos desagrada. Temos uma ligação inexplicável, irracional
com o objeto de leitura.

Há explicações para isso. Geralmente tem a ver com a formação e o condicionamento


ideológico.
Essas aparentes predileções ou rejeições são explicadas pelo universo social e individual
de cada um.

Há também os aspectos projetivos. O leitor sente-se atraído pelo objeto lido por se
assemelhar à imagem que o leitor faz de si… ou o contrário, quando sente-se atraído
pelo oposto.

Mesmo quando começa a ter uma leitura consciente, em alguns momentos, há recaídas.
Isto se explica por causa da criança que ainda está dentro de nós… ela se emerge e
possibilita essas recaídas.

E quanto às fotonovelas, mundo-cão? Há todo um processo de identificação com o


público. Geralmente ligado às frustrações e angústias de cada leitor.

(Processo catártico – se há agruras na vida, há outros piores que eu. Por outro lado, há
aqueles que alimentam a ilusão de tirar “o pé da lama”).

Exemplo: investigação de leituras de operárias na cidade de São Paulo (revistas


sentimentais). Resultado: busca de uma compensação.

Este nível de leitura é bastante interessante do ponto de vista investigativo, porque


possibilita a identificação do universo social e do inconsciente individual.

Também se trata de uma leitura de passatempo, já que representa uma leitura de evasão.
Onde o leitor permite-se desligar das circunstâncias concretas e imediatas.

Esta a razão pela qual não se pode simplesmente imputar à leitura emocional a
característica de alienante.

Este é um modo encontrado para extravasar emoções, satisfazer curiosidades e


alimentar as fantasias (às vezes, válvula de escape).

Importante é entender que tudo que lemos e a forma que lemos é resultado de nossa
visão de mundo.

Problema: sempre há uma intencionalidade na criação. Permitir-se a leitura passiva,


deixar-se envolver pela ideologia expressa são alguns problemas da leitura emocional.

Por fim, importa considerar o quanto em geral reprimimos e desconsideramos a leitura


emocional, muito em função de uma pretensa atitude intelectual.

É comum as pessoas se deixarem envolver emocionalmente – isso só, não é bom.

A convivência social, cultural e política nos ajuda a caminhar para um outro tipo de
leitura – a racional.

Conteúdo extraído do livro O que é leitura (Maria Helena Martins)

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Ampliando a noção de leitura – 02
junho 12, 2007 por ronaldonezo

Como vimos, o conceito de leitura está geralmente ligado à decifração da escrita – ler e
escrever.

Mas é muito mais que isso… está ligado ao processo de formação do indivíduo, à sua
capacidade para o convívio e atuações social, política, econômica e cultural.

Já, no passado, entre os gregos e romanos era assim.

Ler e escrever, ligado a idéia de homens livres… estar integrado efetivamente à


sociedade – à classe dos homens efetivamente livres.

O problema é que, semelhante ao passado, ainda hoje ler e escrever não é privilégio de
todos.

Porém, capacidade de leitura vai muito além da decifração dos signos… fato nem
sempre compreendido por muitos educadores.

Tem-se a pedagogia do sacrifício, já que não se sabe colocar o porque, como, para
quê… As pessoas não sabem a verdadeira função da leitura (isso inclui vocês,
estudantes de Jornalismo).

Também é sabido que uma vez alfabetizada, a maioria das pessoas, limita-se à leitura
com fins específicos (profissionais etc)…

Ignora-se que ler significa inteirar-se do mundo – uma forma de conquistar autonomia,
de deixar de “ler pelos olhos dos outros”.

Sem investir na leitura, permite-se assim que o mundo seja visto pelos olhos dos outros
(dominação).

Cabe a minoria dar sentido ao mundo.

A libertação do ser humano passa pela sua capacidade de leitura (e não apenas da leitura
de textos).

Nosso tempo é o da cultura de massa – isso implica em manipulação e consumo.

Continuando…
Fala-se muito hoje em crise da leitura. Mas que crise? (abrir para alunos) // livros.

Essa idéia nasce nos bancos escolares… contato com livros, geralmente, dados nos
manuais escolares…

Textos condensados da escola… nem sempre cultivam o hábito de ler… geralmente


alimentam mais a ignorância, inibem mais do que incentivam o gosto de ler.
Há um receio do diálogo franco e crítico entre o professor e aluno… bloqueando
oportunidades raras de leituras efetivas.

É verdade que falta acesso a livros… (bibliotecas, livros caros, salários baixos,
qualidade questionável).

Hoje, isso não é uma verdade… Há livros.

Por isso, a questão é mais ampla. Volta-se à instituição escolar. E vem ainda dos
jesuítas… formação livresca, defasada em relação à realidade…

Temos uma elitização da cultura… Um interesse vivo de manter o conhecimento restrito


a apenas alguns…

Por isso, cabe ao indivíduo romper com essa prática. No caso de vocês, futuros
jornalistas, como pretendem se comportar?

Do contrário, crianças e jovens vão envelhecer sem a chance de crescer.

Observação: Contra-senso insistir na leitura, restringindo-a aos livros.

A verdadeira leitura deve propiciar descobertas… formação da consciência. Ampliar a


noção leitura é ampliar a visão de mundo e da cultura (as noções que se têm geralmente
ligadas às noções impostas pelas instituições).

Precisamos compreender e valorizar melhor cada passo do aprendizado das coisas…

A verdadeira leitura só tem sentido quando as relações humanas são compreendidas e


pode-se transferir o que está sendo lido a essas relações.

Portanto, leitura não é mera decodificação (embora seja necessário decodificar o


código-signo).

Leitura é um processo dinâmico de compreensão, e passa por componentes sensoriais,


emocionais, intelectuais, fisiológicos… culturais, econômicos.

Leitura é decodificação e compreensão. O que seria decodificar? O que seria


compreender?

Não é só a capacidade de decifrar sinais, mas principalmente dar sentido a eles.

Decodificar sem compreender é inútil – e o inverso também é verdadeiro.

A leitura começa antes do texto e vai além dele… leitor tem um papel atuante.

Leitura se dá a partir do diálogo do leitor com o objeto lido… mas considerar a leitura
apenas como resultado dessa interação seria reduzi-la consideravelmente.

Por isso, aprender a ler significa também ler o mundo… é dar sentido ao mundo e
também a nós.
Conteúdo extraído do livro O que é leitura (Maria Helena Martins)

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O que é leitura – aula 01


junho 12, 2007 por ronaldonezo

O que é leitura???

O ato de ler geralmente é relacionado com a escrita, e o leitor visto como decodificador
da letra.

Mas é só isso? Basta decifrar palavras para acontecer a leitura?

Como explicar expressões de uso corrente como, por exemplo, “fazer a leitura” de um
gesto? Ler a mão?

Se alguém na rua me dá um encontrão… minha reação é uma leitura ou não?

Mais uma pergunta: a leitura é única? Sempre será igual? Toda vez que ler alguma coisa
vou interpretar sempre do mesmo jeito?

* Todo ato será lido sempre da mesma forma?

Com o tempo as coisas não fazem sentido diferente para nós? Passamos a enxergar sob
um novo ângulo…

Com o tempo se descobre o sentido, um novo modo de ver a mesma coisa… É quase
como se fosse uma revelação.

Com freqüência nos contentamos, por economia ou preguiça, em ler superficialmente,


“passar os olhos”, como se diz.

Não acrescentamos ao ato de ler algo mais de nós além do gesto mecânico de decifrar os
sinais.

Interessante é que geralmente reagimos assim ao que não nos interessa no momento –
um discurso político, uma conversa, uma aula expositiva, um quadro, um livro uma
música…

A tendência natural é ignorar, rejeitar como nada tendo a ver com a gente.

O problema é que quando não lemos, não o compreendemos, torna-se impossível dar
um sentido aquilo… porque diz muito pouco – ou nada – para nós.

COMO E QUANDO COMEÇAMOS A LER


Desde os nossos primeiros contatos com o mundo – tão logo nascemos – começamos a
ler. Como isso acontece?
É neste contato com o mundo externo que começamos a compreender, a dar sentido ao
que e a quem nos cerca. Esses são também os primeiros passamos para aprender a ler.

Para entender melhor essa idéia, Paulo Freire diz o seguinte: “ninguém educa ninguém,
como tampouco ninguém se de educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo”.

Na prática, ninguém ensina ninguém a ler; o aprendizado é solitário – embora se


desencadeie e se desenvolva na convivência com o mundo.

Isso quer dizer que, mesmo precisando dos professores, temos condições de fazer uma
série de coisas sozinhos.

Na prática, aprendemos a ler lendo. Maria Helena Martins diz que “vivendo” – ou seja,
depende do quê lê – do que experimenta na relação com o mundo.

Aprendizado do Tarzan…

Aprendizado de Jean Paul Sarte…

Embora o aprendizado, o desenvolvimento da capacidade de leitura possa ser algo mais


complexo, ambas experiências evidenciam a curiosidade se transformando em
necessidade e esforço para alimentar o imaginário. Ou seja, a necessidade de desvendar
os segredos do mundo e dar a conhecer o leitor a si mesmo através do que lê e como lê.

Muito da nossa capacidade de leitura se dá pela motivação em ler. O que quero dizer
com isso?

* Algo muito simples: quando começamos a organizar os conhecimentos adquiridos, a


partir das situações reais, coisas que a realidade nos impõe, procuramos estabelecer
conexão com as experiências e a tentar resolver os problemas apresentados.
(exemplo: teoria no Jornalismo X prática profissional – problema é que hoje para estar
no mercado muitos precisam ter um mestrado, um doutorado).

Continuando…
O ato de ler e escrever têm sido valorizados. Entretanto, muitas vezes têm se
transformado num instrumento de poder pelos dominadores – mas também pode vir a
ser a liberação dos dominados.

Muitos não querem desenvolver a capacidade de uma leitura crítica, racional. Preferem
o comodismo. Acham melhor não entender, por isso significa um ruptura com a
passividade – talvez por lhe causar maiores frustrações em face da realidade.

O problema é que o não querer ler, vem ao encontro dos interesses das minorias
dominantes.

Conteúdo extraído do livro O que é leitura (Maria Helena Martins)

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Cronograma de apresentação dos trabalhos
maio 15, 2007 por ronaldonezo

DATA – EQUIPE – LIVRO – AUTOR:

28/05 – EQUIPE 7 – LIVRO: Inocência – AUTOR: Visconde de Taunay


EQUIPE 3 – LIVRO: O crime do padre Amaro – AUTOR: Eça de Queirós

04/06 – EQUIPE 5 – LIVRO: O Auto da Compadecida – AUTOR: Ariano Suassuna


EQUIPE 4 – LIVRO: – AUTOR: Guimarães Rosa

11/06 – EQUIPE 2 – LIVRO: Noite na Taverna – AUTOR: Álvares de Azevedo


EQUIPE 6 – LIVRO: O cobrador – AUTOR: Rubem Fonseca

18/06 – Avaliação

25/06 – EQUIPE 7 – LIVRO: Papéis Avulsos – AUTOR: Machado de Assis

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