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Apresenta

A Rede

Novela de:

Evana Ribeiro

CAPÍTULO 05
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CENA 01 – NY/CASA DE ALIENA/SALA – INT – DIA


Continuação da cena final do capítulo anterior. Ed e Aliena
continuam se olhando, sérios.

ED – Você tem excelentes motivos para estar chateada comigo. Mas eu


vim aqui... Pedir desculpas. Posso entrar um pouco?

ALIENA (tentando demonstrar frieza) – Tudo bem, entre.

Ed entra e observa atentamente a casa.

ED – Onde estão suas filhas?

ALIENA – Estão em Vermont, com a Teresa, que foi babá delas. Só Irina
voltou comigo.

Ed não responde, pois está distraído olhando os retratos


espalhados pela sala. Entre as fotos, várias de Teresa; sozinha, com
Aliena ou com as crianças. Ele se detém olhando longamente para as
fotos.

ALIENA – Tá me ouvindo, Ed?

ED – Ah, sim, desculpe... Eu só estava vendo as fotos da sua amiga.


Como ela se chama mesmo?

ALIENA – Teresa.
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ED – Bela moça...

ALIENA – Não quer se sentar?

ED – Ah, sim, obrigado.

Ed senta em uma poltrona e Aliena em outra, de frente para ele.

ED – Bem, eu fiquei me sentindo muito mal por causa de ontem.


Principalmente pelo tapa... Me perdoa, eu tava muito nervoso. E você
também... Enfim.

ALIENA – Tudo bem.

ED – E...

ALIENA – Se era só isso que você queria de mim...

ED – Não, não era só isso.

Aliena encara Ed, esperando que ele comece a falar.

CORTA PARA

CENA 02 – VERMONT/RUAS – EXT – DIA


As garotas passeiam alegres, conhecendo o lugar. Passam na
frente de uma loja especializada em bebês.

TERESA – Puxa... A gente podia comprar um presentinho pra Irina, né?


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OLGA – Tipo... Aqueles enfeitinhos pra colocar no berço que tem aos
montes lá em casa?

TERESA – Ah, móbiles são legais! Um dia vou ter uma casa cheia de
móbiles, espalhadas por toda a casa.

MARIA – Será que seu marido vai deixar?

TERESA – Depende. Se for o Ed eu acho que não. Mas se for o Mick,


com certeza ele topa a minha idéia.

OLGA – Sabe, Teresa... Eu acho que nós fomos muito sortudas.

TERESA – Por quê?

OLGA – Quantas crianças do mundo têm a sorte de terem uma au pair


tão louca que nem você?

TERESA – Eu sou louca?

MARIA – Igual às babás das outras meninas você não é.

TERESA – Ah, mas isso é bom... Ia ser muito chato se todas as au pairs
do mundo fossem iguais a mim, mesmo eu sendo uma au pair tão legal.

OLGA – Também não deve existir nenhuma outra tão convencida. Mas a
gente gosta de você assim mesmo!

MARIA – A gente vai comprar o presentinho pra Irina ou não?


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OLGA – Vamos. Mas por favor, outro móbile não!

Elas entram na loja. Uma vendedora se aproxima delas e as


conduz pela loja. As garotas brincam com alguns objetos para bebês.

CORTA PARA

CENA 03
Tomada da rodoviária em Recife.

CORTA PARA

CENA 04 – RECIFE/RODOVIÁRIA/TERMINAL DE EMBARQUE –


INT – DIA
Catarina, Alexandre, Joyce, e outros amigos estão reunidos para
se despedir de Ilma.

ILMA – Por que a Geysa não veio?

JOYCE – Desde aquela história da reprovação na cadeira da Helena ela


ficou toda errada.

CATARINA – E ainda tá sem falar comigo...

ILMA – Que chato. Eu ligo pra ela quando chegar lá, então.

ALEXANDRE – Já tô com saudade, viu?

ILMA – Eu também. Mas prometo que vou dar notícias todo dia.
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Alexandre e Ilma se beijam. Catarina olha para o outro lado.

ILMA – Catarina, quero te pedir uma coisa...

CATARINA – O quê?

ILMA – Tome conta direitinho desse moço, viu? Não deixe nenhuma
engraçadinha chegar perto do meu amor, tá?

Ilma dá um beijo no rosto de Alexandre. Catarina não responde


nada e baixa os olhos.

ILMA – Tá na minha hora, pessoal. Vou lá antes que o ônibus saia sem
mim.

Ilma se despede de todos os amigos e vai para o ônibus.

JOYCE – Não fica assim, Cacá...

CATARINA – Ela acabou de me pedir pra tomar conta do Alexandre...


Tomar conta? Isso é a última coisa que eu poderia pensar!

JOYCE – Não precisa ficar desse jeito. Leva na esportiva!

CATARINA – Não dá pra levar uma coisa dessas na esportiva. Se eu não


fosse eu e não fosse louca pelo Alexandre, era outra coisa. E é
exatamente a mesma coisa, só que tudo ao contrário.

Alexandre se aproxima delas.


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ALEXANDRE – Vocês querem sair pra tomar um sorvete, ou beber


qualquer coisa?

CATARINA – Não...

JOYCE – A gente quer sim!

Joyce acompanha Alexandre, levando Catarina praticamente


arrastada.

CORTA PARA

CENA 05 – BARNET – INT – DIA


O movimento na lan house é intenso, apesar de estar ainda de
manhã: alguns adolescentes, na faixa dos 15 anos, jogam, muito
concentrados. Em um computador perto do balcão, Geysa confere seus
e-mails. Miranda se aproxima.

MIRANDA – Oi!

GEYSA – Olá.

MIRANDA – E aquele teu negócio lá, dos e-mails sobre a professora?

GEYSA – Até agora nada. Ninguém comentou nada comigo.

MIRANDA – Tu acha que isso vai prestar pra alguma coisa?

GEYSA – Se aquela diaba começar a se comportar que nem gente, tá de


ótimo tamanho.
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MIRANDA – Diaba? Medo dessa mulher...

GEYSA – Mas é isso mesmo, uma diaba. Fica tocando o terror em todas
as aulas e ainda se acha a boazona, a ph-deusa! Uma nojenta, é isso
que ela é.

MIRANDA – Já vi muita gente pegar raivinha de professor, mas assim já


é demais, viu?

Miranda fica olhando para Geysa, um pouco impressionada com a


sua expressão de raiva.

CORTA PARA

CENA 06 – CASA DE HELENA/SALA – INT – DIA


Helena atravessa a sala, ainda de camisola e robe, um pouco
sonolenta. A campainha toca e ela volta para atender. Dá de cara com
Walter, com cara de poucos amigos.

HELENA – Bom dia!

WALTER – Bom dia, Helena. Posso entrar?

HELENA – Deve! Não é todo dia que tenho a honra de recebê-lo em


minha casa, certo? É raridade você falar comigo!

WALTER – Eu ia ligar, mas achei melhor vir aqui, porque o assunto não
é muito agradável. Só não esperava encontrar você ainda assim...
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HELENA – Entra.

Walter vai entrando. Helena se senta no sofá e cruza as pernas,


ficando em uma pose ligeiramente sensual, ele permanece de pé.

HELENA – Não vai sentar?

WALTER – Assim tá bom.

HELENA – Tá bom. O que você veio me dizer de tão desagradável?

WALTER – Acontece que eu e mais alguns colegas, e alguns alunos


recebemos uns e-mails sobre você. Achamos que você deveria saber o
conteúdo da mensagem, já que afeta sua... Bem, é melhor você ler.

Walter tira do bolso um papel cuidadosamente dobrado e entrega


a ela, que o desdobra, desvendando o conteúdo do impresso. Helena
começa a ler em silêncio, muito séria. Depois, o amassa e joga em um
canto.

HELENA – Obviamente, obra da fértil cabecinha de um aluno magoado


que não se conforma de ter recebido a nota que mereceu. Quer dizer,
nesse caso é uma aluna. Acho que eu devia bater um papinho com essa
moça...

WALTER – Eu não trouxe isso aqui pra você planejar represália nenhuma
contra ninguém...

HELENA – Quem falou de represália aqui? Pode ficar bem tranqüilo que
eu não vou fazer nada que atinja ninguém. Só quero conversar com a
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menina. Afinal, ela assinou essas linhas malcriadas ao meu respeito,


merece no mínimo parabéns pela coragem.

Walter a olha, desconfiado.

HELENA – Eu sei que você não confia em mim. Na verdade você nem
me conhece. (t) Mas poderia começar a conhecer... Que tal
aproveitarmos que estamos aqui pra tomar um café?

WALTER – Não, obrigado, tenho que sair com meus filhos.

Walter vai saindo.

HELENA – Walter!

Ele se vira.

HELENA – Volte mais vezes! O caminho você já sabe.

Helena ri e pisca o olho para ele, que sai mantendo a mesma


seriedade. Sozinha, ela pega seu celular e disca.

HELENA – Alô... Catarina? Preciso de um favor seu.

Helena continua falando, em off.

CORTA PARA

CENA 07
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Tomada aérea de Nova York, indicando passagem de algumas


horas.

CORTA PARA

CENA 08 – CASA DE ALIENA/QUARTO – INT – DIA


Ed e Aliena estão juntos na cama. Ele está deitado; ela, sentada, a
uma certa distância dele. Parece estar um pouco triste, arrependida.

ALIENA – Eu sou uma idiota mesmo.

ED – Por que, meu bem?

ALIENA – Ontem eu disse que era a última vez que eu ia correr atrás de
você, me humilhar por sua causa, e olhe só onde estou.

ED – Na sua casa, comigo e nossa filha.

ALIENA – Mas eu não queria mais!

ED – E não foi você quem foi atrás de mim, e sim o contrário. Isso não
estava previsto na sua promessa.

ALIENA – Você me magoa muito, Edward.

ED (aproxima-se dela, carinhoso) – Já pedi desculpas.

ALIENA – Você sempre pede.

ED (a beija) – Mas agora é sério.


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ALIENA – Da última vez também foi.

ED – Mas você precisa entender o meu lado. Eu sou um cara muito


ocupado...

ALIENA – Eu nunca pedi muito, não pedi que você casasse comigo. Só
queria que você não vivesse se escondendo, evitando a minha família.

ED – Eu também não gostaria. Mas...

ALIENA (de cabeça baixa, quase chorando) – É que... Depois que Ivan
morreu, eu nunca mais senti nada tão forte por homem nenhum... Você
foi o único que me fez sentir viva de novo.

Ed não diz nada, fica apenas sério, vendo Aliena começar a chorar
silenciosamente.

ALIENA – Se você for embora, eu vou morrer.

ED – E suas filhas... E a nossa filhinha?

ALIENA – Se você sair da minha vida, eu vou morrer.

ED (baixinho) – O que é uma pena...

CORTA PARA

CENA 09 – VERMONT/CENTRO/MCDONALDS – EXT – TARDE


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Teresa, Olga e Maria, carregadas de compras, lancham no Mc


Donalds.

MARIA – A gente volta pra casa hoje mesmo? Queria ficar mais...

TERESA – A gente não ia passar muito tempo mesmo. E já fez tanta


coisa... Se a mãe de vocês estivesse aqui, a gente podia ficar mais.

OLGA – Ela ligou?

TERESA – Não. Aquela chata, promete as coisas e não cumpre.

OLGA – Não era melhor a gente ligar?

TERESA – Tá bom. Deixa eu ver meu celular aqui...

Teresa começa a procurar o celular, mas não o encontra.

TERESA – Esqueci no hotel. A gente liga quando voltar pra lá então,


pode ser? Vocês não ficam chateadas?

MARIA – Não.

TERESA – A gente podia tentar também um cyber café por aí... Vai que
dona Aliena Pietróvna tá conversando lá com o namorado sem rosto pai
da Irina.

MARIA – E se ele foi lá?

TERESA – Acho que não. Esse sujeito vive tão escondido...


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OLGA – Mamãe devia largar logo esse tal de Edward. Eu tenho medo
dele.

TERESA – Você não é a única.

OLGA – E não gosto dessa porcaria desse computador.

TERESA – Calma, gatinha! Computadores são legais! O problema são os


manés que se escondem atrás dele. O pai da Irina, por exemplo...

As meninas continuam comendo.

CORTA PARA

CENA 10 – BARNET – INT – TARDE


Geysa e Miranda continuam conversando. Em segundo plano, Mick
recebe o pagamento de um usuário. O celular de Geysa toca. Ela olha
no identificador e vê um número desconhecido.

GEYSA – Alô?

HELENA (off) – É a Geysa Lopes?

GEYSA – Sou eu.

HELENA (off) – Aqui é a professora Helena Mendonça, a gente pode


bater um papinho?

Geysa olha para Miranda, espantada.


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MIRANDA (baixinho) – Quem é?

GEYSA (baixinho) – Satã!

Miranda se benze várias vezes.

GEYSA (séria) Pode ser, professora. Onde? (t) Praça de alimentação do


Shopping Tacaruna, então. (t) Até lá...

Geysa desliga.

MIRANDA – Medo!

GEYSA – Vou encarar a fera agora.

MIRANDA – Como foi que ela descobriu o seu número?

GEYSA – Deve ter sido a Catarina com raiva de mim, mas isso não vem
ao caso. Vamos ver o que ela quer...

MIRANDA – Vai rezando no caminho!

GEYSA – Pode ficar tranqüila! Ruim por ruim, eu sou pior! Na volta
acerto as horas contigo, tá?

MIRANDA – Tá bom.

Geysa sai. Miranda continua se benzendo.


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CORTA PARA

CENA 11 – CASA DE WALTER/SALA – INT – TARDE


Beth lê uma revista feminina qualquer. Walter assiste ao telejornal
vespertino.

BETH – Walter, eu tava pensando aqui... O que você acha da gente


fazer uma reforma geral, aumentar tudo? Eu tava vendo umas dicas
ótimas aqui nessa revista, dá uma olhada.

WALTER – Depois eu vejo.

BETH – Mas eu queria que você visse agora, pôxa! Vou dar um pulinho
numas lojas pra pesquisar preço e tals, quero que você vá junto.

WALTER – Pra quê?

BETH – Pra me ajudar.

WALTER – A carregar as coisas.

BETH – Claro!

WALTER – Não vai dar. Vou pro cinema com os meninos hoje.

BETH – Mas eu não dei permissão pra Jéssica ir. Depois do susto que ela
me deu se escondendo na casa do seu irmãozinho, cortei todas as
regalias da mocinha. Pelas próximas duas semanas!
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WALTER – Peraí, Beth. Ela só tava na casa do Danilo!

BETH – Me desobedeceu! Só deixei ela ir estudar na casa daquela tal de


Gabi, e só. O que ela faz? Vai pra casa do seu irmãozinho ficar falando
mal da mãe carrasca aqui!

WALTER – Beth, por favor. Se ela tivesse ido a qualquer outro lugar,
com qualquer pessoa desconhecida, tudo bem. Mas ela tava com o meu
irmão!

BETH – Que não vale nada!

WALTER – E você quer que ela ande com quem? Com as herdeiras das
finas e fofas de Recife, das colunas sociais que você lê?

BETH - Seria bom se fosse assim. Eu só quero que ela seja a filha que
eu quero que ela seja, e quero que o Júnior seja assim, quero até que
você seja o marido dos meus sonhos. Tá longe de ser assim, mas eu
quero!

WALTER – Vai ficar querendo tudo isso aí. E eu vou me arrumar pra
levar os meninos ao cinema.

Walter dá um beiio na testa de Beth e sai. Ela fica folheando a


revista, com raiva.

BETH – Ah, Walter... Se eu não fosse tão doida por você, diria que casei
com o homem errado!
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Beth joga a revista num canto e desliga a TV.

CORTA PARA

CENA 12 – CASA DE WALTER/QUARTO DO CASAL – INT – TARDE


Walter abre o guarda roupa e começa a tirar várias camisas de lá,
jogando todas sobre a cama. Sua expressão é de desapontamento.

WALTER – É... Eu casei com a mulher errada.

Ele separa uma camisa vermelha e guarda as outras de qualquer


jeito no roupeiro.

CORTA PARA

CENA 13 – SHOPPING TACARUNA/PÇA DE ALIMENTAÇÃO – INT –


TARDE
Helena está em uma mesa em um canto pouco movimentado,
bebendo um drink qualquer enquanto observa o movimento intenso de
jovens, que passam falando alto. Geysa chega.

GEYSA – Oi.

HELENA – Bem na hora! Por favor, sente-se.

GEYSA – Quem te deu meu número?

HELENA – Uma amiga em comum.

GEYSA – Catarina, né?


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HELENA – Já que você quer dar nome aos bois... foi ela sim.

GEYSA – Sabia.

HELENA – Te chamei pra gente conversar sobre o seu textinho sobre


mim. (t) Fiquei lisongeada por saber que alguém me odeia tanto assim.

Helena dá um risinho sarcástico, e Geysa a olha, estupefata.

HELENA – O mais legal foi que você assinou o e-mail! Fiquei muito
orgulhosa de ter uma aluna corajosa assim.

GEYSA – Assim... Onde você quer chegar mesmo com esse blá blá blá
todo?

HELENA – A lugar nenhum. Só queria te dar os parabéns mesmo, de


verdade. (t) Isso não vai mudar a sua nota, mas... Pelo menos você
escreve bem. Aproveite isso no seu futuro acadêmico!

Geysa não responde nada, apenas fuzila Helena com os olhos.

GEYSA (baixinho) – Não acredito que essa nojenta me arrastou até aqui
só pra falar isso!

HELENA – O que você quer beber?

GEYSA – Nada.

HELENA – Nada disso! Faço questão de pagar o drink que você quiser.
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GEYSA – Tá certo. Pede o mesmo que você tá bebendo.

Helena faz um discreto sinal chamando o garçom.

CORTA PARA

CENA 14
Tomada aérea de Vermont.

CORTA PARA

CENA 15 – VERMONT/CENTRO/RUAS – EXT – TARDE


As garotas vão andando até encontrarem uma lan house.

TERESA – Vamos parar aqui, só um minuto, tá bom?

OLGA (ressabiada) – Tá...

Elas vão entrando. Corta para o interior do cybercafé, quase vazio.


Teresa vai andando na frente, procurando um bom lugar, e pára ao ver
um rapaz lendo um blog de histórias em quadrinhos. Ela fica parada,
tentando ler o que o rapaz lê, e abre um largo sorriso ao ver que ele
está acessando seu blog.

TERESA (baixinho, faz sinal para as meninas) – Gatinhas, venham cá!

Maria e Olga se aproximam.

TERESA – Vejam isso.


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Ela indica o monitor.

OLGA – Seus desenhos.

Perturbado pela movimentação atrás de si, o rapaz vira-se e olha


para elas.

TERESA (sem graça) – I’m sorry... [Desculpe...]

RAPAZ – No problem. [Não foi nada.]

TERESA – I’m... I’m really interested in drawing. [Eu… Eu tenho muito


interesse em desenhos]

RAPAZ – Me too. [Eu também]

TERESA – Do you know Sharpshooter, don’t you? [Conhece


Sharpshooter, não é?]

RAPAZ – Yes. [Sim]

TERESA – What do you think about the stories? [O que acha das
histórias?]

RAPAZ – I’d really like to meet the author. [Queria muito conhecer a
autora] (lê no monitor) Teresa Scheid.

TERESA (sorri) – Really? [Sério?]


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RAPAZ – Yes!

TERESA (olha para as meninas, pisca o olho e depois volta a olhar para
o rapaz, sorrindo) – We know her. [Nós conhecemos ela.]

RAPAZ – So, you could send her a message, couldn’t you? Tell her that
the drawings aren’t that bad, but the stories, are horrible. [Então, vocês
podem mandar um recado pra ela, não podem? Digam que os desenhos
não são tão maus, mas as histórias são horríveis]

O sorriso do rosto de Teresa imediatamente desaparece.

TERESA – Ok, we’ll tell her. [Tá, a gente diz.]

As meninas se afastam enquanto o rapaz volta ao computador.

TERESA – Droga! A primeira pessoa que eu vejo lendo meus trabalhos


fala logo isso?

MARIA – Pelo menos ele disse que os desenhos eram bons.

OLGA – Não tão ruins.

TERESA – Pra mim o ‘não tão’ foi só enfeite. Ele quis dizer que eu não
sei desenhar, foi isso.

OLGA – Você desenha bem sim! O pessoal lá na escola adora os


desenhos que você faz pros nossos trabalhos.

TERESA – Mas do meu personagem...


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OLGA – Ah, aí a gente não sabe.

TERESA – Mas que droga! Ninguém lê essa porcaria, eu vou embora.


(vai saindo)

OLGA – Ei, não vai tentar falar com a mamãe?

TERESA (voltando) – Ah, é. Fiquei tão abusada que esqueci.

Teresa escolhe um computador bem longe de onde o rapaz com


quem falou está. Olga e Maria ficam perto dela.

CORTA PARA

CENA 16 – NY/RUAS – EXT – TARDE


Final de tarde. Ed sai andando apressado, olhando para os lados o
tempo todo. Está visivelmente muito nervoso.

CORTA PARA

CENA 17 – NY/CASA DE ALIENA/QUARTO DAS MENINAS – INT –


TARDE
No quarto vazio, Irina chora sem parar.

CORTA PARA

CENA 18 – VERMONT/CENTRO/CYBERCAFÉ – INT – TARDE


Teresa e as garotas estão meio desapontadas diante do
computador.
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OLGA – Já faz meia hora que a gente tá aqui e nada.

TERESA – É... Nem o Mick apareceu. E nem o Ed...

OLGA – Sabia que você tava esperando os namoradinhos.

MARIA – Coisa feia, Tetê!

TERESA – Eu sei, Mariazinha... Eu sei mas não consigo me decidir! Eles


são tão fofinhos... Enfim, já tá ficando muito tarde, vamos embora.

Teresa se levanta e vai fazer o pagamento. As meninas esperam.

CORTA PARA

CENA 18
Tomada aérea de Recife à noite.

CORTA PARA

CENA 19 – CASA DE WALTER/SALA DE ESTUDOS – INT – NOITE


Walter está sozinho, na frente do computador, escrevendo para
Teresa. Beth entra, carregada de sacolas de compras.

BETH – E como foi a tarde, meu amor?

Walter não responde.

BETH (brava) – Perguntei como foi a tarde!


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WALTER – Desculpe, não vi você chegar.

BETH – Percebi. Pelo menos ouviu a pergunta?

WALTER – A minha tarde foi boa sim, os meninos se divertiram. (olha as


sacolas) E a sua, pelo jeito...

BETH – Seria melhor se você tivesse ido junto. Tá fazendo o quê?

WALTER – Tentando falar com a Tetê. Já é o terceiro e-mail que ela não
responde.

BETH – Ah, você ainda não desistiu da Christiane F.?

WALTER – Como foi que você chamou ela?

BETH – Christiane F.! Drogada e prostituída. Não tem alcunha melhor


pra sua irmãzinha!

WALTER – Beth, dá o fora daqui e me deixa em paz, tá?

BETH – Só por que eu falei a verdade?

WALTER – Não tô interessado nas suas verdadezinhas sobre a Teresa.


Me deixa sozinho.

BETH – Como quiser!


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Beth sai. Walter digita qualquer coisa, depois desiste e suspira,


aborrecido.

CORTA PARA

CENA 20 – CASA DE CATARINA/SALA – INT – NOITE


Catarina assiste TV, sozinha. A campainha toca. Ela abre a porta e
encontra Geysa.

CATARINA – Oi.

GEYSA – Oi... Posso entrar?

CATARINA – Claro, entra.

Geysa entra.

CATARINA – Surpresa você aqui.

GEYSA – É... Você deu meu telefone pra Helena, né?

CATARINA – Ela insistiu tanto que acabei dando. O que ela queria?

GEYSA – Conversar potoca. (t) Eu não entendi nada...

CATARINA – Que coisa.

GEYSA – Ela é estranha. Achei que fosse querer me matar envenenada,


e em vez disso, falou que eu escrevo muito bem!
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CATARINA – Viu só como ela não é tão ruim?

GEYSA – Não vi nada. Pra mim ela continua a mesmíssima coisa. Mas eu
não vim aqui pra falar dela não, vim aqui só te pedir desculpas mesmo.

CATARINA – Não tem por que pedir desculpas, não. Você só tava
nervosa...

GEYSA – Amigas de novo?

CATARINA – Amigas sempre!

Elas se abraçam, depois vão para o sofá e ficam conversando, em


off.

CORTA PARA

CENA 21
Tomada de Vermont à noite.

CORTA PARA

CENA 22 – VERMONT/CENTRO/RUA – EXT – NOITE


As meninas saem do hotel, arrastando malas. Teresa é a mais
apressada de todas.

OLGA – Não era melhor a gente ir de manhã?

TERESA – Não, é melhor agora, cansei de Vermont.


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MARIA – A gente só passou dois dias aqui...

TERESA – É campo demais pra mim. (ri) Quando eu estiver mais


bucólica, passamos uma semana.

MARIA – Quando estiver o quê?

TERESA – Depois explico. Vamos!

Teresa chama um táxi que vai passando.

CORTA PARA

CENA 23
Tomada aérea de Vermont e Nova York. Efeito de transição
noite/dia.

CORTA PARA

CENA 24 – NY/RUAS – EXT – DIA


Tomada semi-aérea da cidade, acompanhando de perto a
trajetória de um táxi.

CORTA PARA

CENA 25 – TÁXI – INT – DIA


As crianças estão dormindo. Teresa, um pouco preocupada, está
com a cabeça encostada na janela, olhando a rua.

TERESA – Ai, que aperto no coração...


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TAXISTA – Pardon...?
TERESA – Nothing, I was just thinking aloud. [Nada, só tava pensando
alto]

O taxista volta a prestar atenção apenas no caminho.

CORTA PARA

CENA 26 – NY/RUA – EXT – DIA


Frente da casa de Aliena. Grande movimento de policiais e
curiosos. O táxi pára na frente da casa. Dois homens, provavelmente
paramédicos, saem da casa, carregando um corpo envolto em um
invólucro branco.

CORTA PARA

CENA 27 – TÁXI – INT – DIA


Teresa, da janela, assiste a cena. Lágrimas vêm imediatamente a
seus olhos. Ela abaixa o vidro do carro.

TERESA (grita) – Aliena!

Teresa começa a chorar convulsivamente.

********** FIM DO CAPÍTULO 005 **********

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