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Apresenta

A Rede

Novela de:

Evana Ribeiro

CAPÍTULO 06
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CENA 01 – NY/RUA – EXT – DIA


Continuação da cena final do capítulo anterior. Teresa sai correndo
do carro, chorando muito.

TERESA (gritando) – Aliena! Aliena!

Teresa corre desesperada em direção a casa, mas é detida por


policiais.

POLICIAL – Madam, the entry is forbidden. [Senhora, a entrada está


proibida.]

TERESA (tentando parar de chorar) – But I live here, with my friend,


you know? I need to see her… [Mas eu moro aí, com minha amiga,
sabe? Preciso vê-la...]

POLICIAL 2 – I’m sorry, but the woman who lived here… She was
murdered. I’m really sorry… [Sinto muito, mas a mulher que morava
aí... Ela foi assassinada. Sinto muito mesmo…]

TERESA (grita, histérica) – No! You’re lying, you’re lying! Aliena! Aliena!
[Não! Você tá mentindo, tá mentindo!]

Teresa continua gritando, desesperada. Os policiais tentam contê-


la. Sem conseguir, um deles chama um médico, que consegue contê-la
aplicando um sedativo. O taxista se aproxima.
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TAXISTA – What happened here? [O que aconteceu aqui?]

POLICIAL – This girl was too nervous, we had to call a paramedic to help
us.

TAXISTA – She came with me and two little girls. What am I supposed
to do?

POLICIAL 2 – Please, take me to your vehicle.

O taxista e o policial vão juntos até o carro, enquanto o


paramédico coloca Teresa desacordada dentro de uma ambulância.

CORTA PARA

CENA 02 – NY/AP. DE ED/CORREDOR – INT – DIA


A porta do quarto de Ed está fechada. Bradley bate várias vezes
na porta.

BRADLEY – Ed! Ed, abre a porta! (fica um pouco em silêncio,


aguardando a resposta que não vem) Edward! Você está aí? Tá vivo?
Fala qualquer coisa!

ED (grita, em off) – Cai fora, Brad!

BRADLEY – Preciso falar com você!

ED – Me deixa sozinho!
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BRADLEY – Precisamos conversar! (t) Se você não abrir de boa vontade,


vou ter que abrir à força!

ED – Já disse que não quero falar!

Bradley começa a forçar a porta, até que consegue arrombá-la.

ED (grita) – Eu falei pra você sair!

BRADLEY – O que você fez com a russa?

ED – Que russa?

BRADLEY – Aliena Pietróvna! Acabei de ficar sabendo que ela morreu.

Ed não diz nada, fica só olhando para Bradley.

BRADLEY – Fala alguma coisa!

ED (nervoso) – O que você quer que eu fale?

BRADLEY – Você matou essa mulher? (t) Matou?

Os dois ficam em um silêncio longo, que começa a incomodar.

ED – Eu tinha que me livrar dela de algum jeito.

BRADLEY – Eu não acredito que você fez isso.


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ED – Eu também não. Mas... Mas ela tava me atrapalhando! E a culpa é


minha...

BRADLEY – Por ter se apaixonado por ela?

ED – Eu não me apaixonei por ela.

BRADLEY – Se apaixonou sim. Vocês tiveram uma filha!

ED – Aquilo foi um acidente. Se fiquei com ela até agora foi porque
achei que ela fosse útil.

BRADLEY – Não sei qual a utilidade que uma mulher sem dinheiro
poderia ter pra você.

ED – Achei que ela tivesse alguma herança, sei lá! Com aquele nome
pomposo, qualquer um podia se enganar.

BRADLEY – Agora você vai ter que fazer alguma coisa. A polícia logo vai
chegar em você.

ED – Eu sei, eu sei! Por enquanto vou ficar escondido aqui. (segura


Bradley pelos braços, com muita violência) E você não sabe de nada,
entendeu? Você nem sabe quem sou eu e muito menos quem é Aliena
Pietróvna Svidrigáilova, ouviu bem?

Bradley acena afirmativamente, muito amedrontado.

ED (o solta) – Agora some daqui, me deixa sozinho. (t) Preciso pensar.


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Bradley sai, deixando a porta fechada.

CORTA PARA

CENA 03
Tomada aérea das ruas de Nova York.

CORTA PARA

CENA 04 – HOSPITAL/QUARTO DE TERESA – INT – DIA


Teresa está só com uma enfermeira e um policial, desacordada.
Começa a acordar lentamente e olha para os lados, estranhando o
lugar.

TERESA – Ei... Que é isso, onde é que eu tô? (para a enfermeira) Why
I’m here? [Por que eu tô aqui?]

ENFERMEIRA – You had a serious nervous crisis…

TERESA – I want to talk to Aliena…

A enfermeira olha para o policial, preocupada, depois olha de novo


para Teresa tentando disfarçar.

ENFERMEIRA – Miss Scheid, your friend...

Teresa começa a chorar de novo, em silêncio.

TERESA – Meu Deus, isso tem que ser mentira... Como eu vou contar
isso pras meninas?
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POLICIAL – They already know. (t) And later you will have to give an
account… About the murder.

Teresa não responde, e continua chorando.

CORTA PARA

CENA 05
Tomada de Recife.

CORTA PARA

CENA 06 – CASA DE EMÍLIO/SALA DE JANTAR – INT – DIA


A família toda toma café da manhã, com exceção de Michelle. Ela
vai passando apressada, rumo à saída.

AMÉLIA – Michelle! Aonde vai assim com pressa?

MICHELLE – Tô atrasada pro trabalho.

AMÉLIA (levanta da mesa e traz Michelle pelo braço, fazendo-a se


sentar) – Sem comer, não vai a lugar nenhum! Vá, sentando!

MICHELLE – Mas eu tô sem fome, mãe!

AMÉLIA – Que novidade é essa? (vai servindo o leite) Nunca vi você sem
fome!

EMÍLIO – Tá com algum problema na delegacia?


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MICHELLE (desanimada) – Aquilo lá é um amontoado de problemas...


Mas depois melhora.

MINERVA – Falando em melhorar, eu resolvi voltar a estudar, pessoal.

MINERVA – Tu vai o quê?

MIRANDA – Estudar! Não me olhem com essas caras de espanto, agora


é sério.

MICHELLE – Valeu a tentativa de me animar, Miranda.

MIRANDA (brava) – Ninguém me leva a sério!

EMÍLIO – Não é isso, meu anjo. Mas... Já é a terceira vez que você diz
isso!

MIRANDA – Mas agora é sério. Hoje mesmo vou fazer a prova e vou
mostrar pra vocês!

Miranda levanta da mesa, muito séria, e sai. Os outros ficam se


entreolhando, impressionados.

MICK – Acho que dessa vez ela falou sério mesmo.

MINERVA – Da outra vez também foi. Mas vamos dar um crédito,


vamos...

Michelle termina de beber o leite e levanta.


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MICHELLE – Pronto, agora vou andando.

AMÉLIA – Filha, posso pegar uma carona?

MICHELLE – Claro!

AMÉLIA – Vou só pegar minha bolsa e já volto.

Amélia sai. Os outros também levantam.

EMÍLIO – Então, filha... Tá animada pra festa?

MINERVA – Tentando ficar. É que tá todo mundo meio triste, aí...

EMÍLIO – Ah, já passou. Quer dizer, o pior já passou. E só de ver a


minha filhinha do meio se formando... Que felicidade!

Emílio e Minerva sorriem um para o outro e se abraçam.

CORTA PARA

CENA 07 – CASA DE RAQUEL/SALA – INT – DIA


Miguel está na janela, olhando a casa vizinha. Raquel entra e o
surpreende.

RAQUEL – Filho?

MIGUEL – Oi...
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RAQUEL – Algum problema? Tá tão calado...

MIGUEL – Nada. Eu só tava vendo o movimento... Acho que as coisas lá


na casa do seu Emílio já se acalmaram.

RAQUEL – Tá muito preocupado com eles, não? Fica na janela direto!

MIGUEL – Eu até ia lá pra dar um apoio moral. (t) Se eu falasse com um


deles.

RAQUEL – Esquece um pouco esse povo, tá?

Raquel chega mais perto de Miguel, dá um beijo nele e sai.

MIGUEL – É mais fácil vocês esquecerem essa briga boba do que eu


esquecer a Minerva, mãe. Garanto.

Miguel continua olhando a janela.

CORTA PARA

CENA 08
Tomada do trânsito de Recife.

CORTA PARA

CENA 09 – CARRO DE MICHELLE – INT – DIA


Michelle e Amélia vão conversando, enquanto ouvem música em
volume baixo.
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MICHELLE – Onde a senhora vai ficar, mãe?

AMÉLIA – Nesse endereço aqui.

Amélia mostra um papel para Michelle, que lê rapidamente e


depois olha para a mãe, com ar interrogatório.

MICHELLE – Detetive particular?

AMÉLIA – Resolvi botar um atrás do Gilson.

MICHELLE – Mas mãe, a polícia já tá cuidando disso...

AMÉLIA – Mas eu andei conversando com uma amiga, que me indicou


esse aqui. Descobre coisas que nem a polícia acha!

MICHELLE – Acho que eles funcionam melhor pra resolver problema de


chifre.

AMÉLIA – Mas não custa nada tentar. Vou contratar esse e vamos ver o
que acontece...

MICHELLE – Sim senhora.

Michelle continua dirigindo. Amélia guarda o papel no bolso.

CORTA PARA

CENA 10 – CASA DE AMANDA/QUARTO DE AMANDA – INT – DIA


Amanda e Gabrielle conversam.
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AMANDA – Acho que eu não devia ter tocado no assunto lá da ex


daquele jeito... Ele ficou chateadão.

GABRIELLE – Talvez fosse melhor você não ir lá na festa, ele pode ficar
mais aborrecido.

AMANDA – Vou pensar no caso. É que a última coisa que eu queria era
me dobrar por causa de homem, mas gosto tanto desse aí que pensar
em chatear já dá uma dor...

GABRIELLE – Sei...

O celular de Gabrielle toca.

GABRIELLE – Alô. (t) É ela. (t) É, eu tava fora. Aconteceu alguma...


Como? (t) Caramba, eu não tava contando com isso não.

AMANDA – Isso o quê?

Gabrielle faz sinal de que não pode falar agora.

GABRIELLE – Bom, tudo bem. Eu vou lá na reunião segunda-feira.


Tchau.

Gabrielle desliga o celular.

AMANDA – Que foi, problema?


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GABRIELLE – Depende. Acabaram de me dizer que eu vou ser


coordenadora das turmas de 5ª a 8ª série lá do colégio. E eu só fico
sabendo disso agora.

AMANDA – Caramba. E agora?

GABRIELLE – Agora eu vou lá na reunião segunda-feira. Que


surpresinha!

Gabrielle suspira e se deita na cama, um tanto desanimada.

CORTA PARA

CENA 11 – CASA DE JORGE/QUARTO – INT – DIA


Jorge, sozinho, arruma seu guarda-roupa. Depois de tirar várias
coisas de dentro do móvel, retira uma caixa grande, aparentemente
pesada, que ele solta sobre a cama. Imediatamente ele abre a caixa, e
se demora um pouco examinando o seu conteúdo: várias fotos antigas
de Jorge e Anuska; cartas escritas por ela, e outros presentes. Ele vai
esvaziando a caixa, olhando todos os objetos. Sua expressão vai se
tornando mais triste à medida em que a caixa vai se esvaziando. Fica
olhando, melancólico, para uma foto do ex-casal. Depois,
impulsivamente, rasga a foto em dois pedaços. Faz o mesmo com
outras fotos e as cartas.

CORTA PARA

CENA 12
Tomada de Nova York, indicando passagem de algumas horas.
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CORTA PARA

CENA 13 – NY/HOSPITAL/RECEPÇÃO – INT – TARDE


Maria e Olga estão acompanhadas por uma assistente social.
Teresa entra, acompanhada por um médico. Ao se verem, elas correm e
se abraçam, chorando. Ficam algum tempo assim, sem dizer nada.

MÉDICO (se aproxima, cauteloso) – Miss Scheid... Are you sure you’re
ok?

Teresa olha para o medico e acena afirmativamente. Depois olha


as meninas, carinhosa.

TERESA – Temos que ficar bem unidas agora, tá? (as abraça forte) Bem
unidas...

OLGA – Por que isso tinha que acontecer?

MARIA - O que a gente vai fazer agora?

TERESA – Ainda não sei. Mas vamos ficar bem juntinhas, nós três e
Irina...

As três continuam abraçadas.

CORTA PARA
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CENA 14 – NY/CEMITÉRIO – INT – TARDE


Teresa, Maria, Olga e Irina (no carrinho de bebê) estão sozinhas
diante do túmulo de Aliena, que acaba de ser enterrada. Está fazendo
um sol muito forte. As três não estão mais chorando, mas parecem ter
chorado muito antes. Elas ficam em silêncio por um longo tempo.

TERESA – Aliena Pietróvna... Tu era uma chata, mas eu te adorava. Te


adorava não, te adoro porque você continua sendo uma chata. Tão
chata que ainda me apronta essa de ir embora sem avisar, sem deixar
nem um telefonema. (t) Fuleiragem! (olha para cima) E esse sol aí, é
você, né? (t) Tá esperando o quê? Que eu chova, quer dizer... Que eu
chore?

Teresa começa a chorar em silêncio e se ajoelha junto à lápide. As


crianças colocam flores perto dela.

CORTA PARA

CENA 15 – NY/AP. DE FELÍCIA/SALA – INT – TARDE


A televisão está ligada. Felícia está deitada no sofá, com um livro
aberto na mão. Julia vai passando

FELÍCIA (lendo em voz baixa) – And when she buries a man, that action
concerns me: all mankind is of one author and is one volume; when one
man dies, one chapter is not torn ou of the book, but translated into a
better language; and every chapter must be so translated. [E quando
ela enterra um homem, me atinge: toda a humanidade é de um único
autor; quando um homem morre, não é arrancado um capítulo do livro
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mas ele é traduzido em uma linguagem mais elevada; e todos os


capítulos precisam ser traduzidos.]1

JULIA – Felícia?

FELÍCIA (largando o livro) – Oi, mãe.

JULIA – Aconteceu alguma coisa? Você tá com uma cara triste...

FELÍCIA – Foi uma notícia que vi na televisão, e depois esse texto aqui...
É que mataram uma moça aqui em Nova York.

JULIA – E você conhecia?

FELÍCIA – Não, mas mesmo assim... Agora eu fiquei pensando nela.


Mesmo sem conhecer, me doeu muito.

Julia senta ao lado da filha e a abraça.

FELÍCIA – Ela deixou três filhas, uma delas ainda bebê... Mas parece
que as garotinhas não estão desamparadas. Pelo menos isso...

JULIA – Bom, já que é assim, não tem porque ficar preocupada.

FELÍCIA – Tô tentando... Mas essa história me deixou impressionada


demais.

Felícia se deita no colo de Julia.

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Meditation nº 17, de John Donne. Traduzido por Evana Ribeiro.
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CORTA PARA

CENA 16
Tomada aérea de Recife. Efeito de transição tarde-noite.

CORTA PARA

CENA 17 – CASA DE EMÍLIO/SALA – INT – NOITE


Emílio está sozinho na sala, vendo televisão. Amélia entra.

EMÍLIO – Onde você tava o dia todo?

AMÉLIA – Batendo perna no shopping.

EMÍLIO – Que boato!

AMÉLIA – Se não acredita, então por que pergunta?

EMÍLIO – É que você nunca vai pro shopping pra passar o dia inteiro.

AMÉLIA – Mas agora resolvi ir. Michelle já chegou?

EMÍLIO – Ainda não.

AMÉLIA – Então vou logo tomar um banho. Se ela chegar agora, diga
que vá lá no meu quarto depois que eu quero falar com ela.

EMÍLIO – Tá bom.
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Amélia vai saindo, e deixa cair o cartão do detetive Barreto. Emílio


apanha o cartão, o lê e sai correndo atrás de Amélia.

CORTA PARA

CENA 18 – CASA DE EMÍLIO/1º ANDAR/CORREDOR – INT –


NOITE
Emílio corre atrás de Amélia, que está quase entrando no quarto.

EMÍLIO – Ei, dona Amélia, volte aqui!

AMÉLIA – Que foi?

EMÍLIO (mostra o cartão) – O que é esse cartão de detetive aqui?

AMÉLIA – Ah, esse cartão aí? Eu ganhei de...

EMÍLIO (bravo) – Você tá colocando espião atrás de mim, Amélia?

AMÉLIA – Peraí, eu...

EMÍLIO – Tá ou não tá?

AMÉLIA – Não, caramba! Não é pra você. (t) Eu não ia dizer nada, mas
é pro outro lá!

EMÍLIO – Gilson?
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AMÉLIA – É. Eu não queria que você soubesse disso, pelo menos por
enquanto.

EMÍLIO – Por quê?

AMÉLIA – Porque... Porque eu não queria e pronto!

EMÍLIO – Amélia...

AMÉLIA – Agora você já sabe, pronto, acabou-se, vou tomar meu


banho.

Amélia entra no quarto. Emílio tenta segui-la, mas ela fecha a


porta na cara dele.

EMÍLIO – Essa Amélia... Sei não, viu...

Emílio sai.

CORTA PARA

CENA 19 – ANTIQUÁRIO – INT – NOITE


Walter e Danilo caminham pela loja que está quase vazia,
observando os objetos que estão em exposição.

DANILO – Esses vasos aqui são novos, chegaram hoje de manhã.


Porcelana chinesa. Bonitos, né?

WALTER – São.
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DANILO – E tem essas bailarinas também...

WALTER – E pelo jeito, não são à prova de crianças. (ri) Rapaz, você
devia colocar uns vidros protegendo esses objetos...

DANILO – Eu já encomendei.

WALTER – Ano passado, né?

DANILO – Não, agora é sério.

Corta para a entrada da loja. Helena entra e passa por eles. Ela vê
Walter, mas o ignora solenemente. Danilo percebe.

DANILO – Aquela mulher ali. (indica Helena discretamente) Te conhece?

WALTER – Professora Helena Mendonça, trabalha comigo.

DANILO – Pelo jeito que ela te olhou, ou não gosta nada disso, ou gosta
demais.

WALTER – Por quê?

DANILO – Aquele olhar de desdém, sei lá.

WALTER – Ah, não. Ela olha assim sempre, pra todo mundo.

DANILO – Mas é bonita.

WALTER – Eu não disse que não é.


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DANILO – Casada?

WALTER – Sei lá... Acho que não.

DANILO – Bom saber...

Walter olha para Danilo, um pouco espantado.

DANILO – Que foi? Ela é bonita, pô.

WALTER – Mas não é lá muito recomendável, se é que você me entende.

Eles continuam andando pela loja.

CORTA PARA

CENA 20 – AP DE CATARINA/SALA – INT – NOITE


Catarina e Joyce estão vendo TV. A campainha toca. Catarina vai
abrir a porta e encontra Alexandre.

CATARINA (um pouco desconcertada) – Oi...

ALEXANDRE – Oi, tudo bem?

CATARINA – Pode, claro!

Alexandre entra. Catarina vê que Joyce não está mais lá e a


televisão continua ligada.
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CATARINA – É... Que surpresa.

ALEXANDRE – Eu queria muito conversar com alguém, aí pensei logo em


você. Se não tiver muito ocupada...

CATARINA – Não tô não.

Ela desliga a TV e senta no sofá. Ele senta ao lado dela.

CATARINA – O que você queria falar?

ALEXANDRE – Eu tô preocupado com a Ilma. Ela não ligou, nem nada...


Ela não falou com vocês não?

CATARINA – Não.

ALEXANDRE – Será que ela chegou bem por lá?

CATARINA (deixa transparecer um pouco de irritação) – Ela pode... Sei


lá, ter perdido o celular?

ALEXANDRE – É, pode ser. Mas eu tô preocupado.

CATARINA – Você não é o único.

ALEXANDRE – Como?

CATARINA – Todos nós estamos.

ALEXANDRE – É...
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Catarina fica olhando para o chão, enquanto Alexandre olha para


era, com uma ligeira preocupação.

ALEXANDRE – Tá tudo bem contigo?

CATARINA – Tá. Só tô com um pouquinho de dor de cabeça, mas um


comprimido já resolve.

ALEXANDRE – Então não vou mais te encher. Fica bem, a gente se fala
depois.

Alexandre dá um beijo na testa de Catarina e sai. Joyce volta para


a sala em seguida.

JOYCE – E aí?

CATARINA – Ele veio aqui falar dela! Ele só me procura pra dizer que tá
preocupado com a Ilma, só quer saber dela...

JOYCE – Ah, amiga... Não era melhor você partir pra outra?

CATARINA – Andei pensando nisso. (t) Não te disse nada antes, mas tô
pensando em trancar o curso esse semestre e ir passar uns tempos com
a minha mãe lá em Indiana.

JOYCE – Como?

CATARINA – É isso mesmo. Eu quero ir embora.


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JOYCE – Cacá, isso não...

CATARINA – É o único jeito. Se for pra esquecer o Alexandre, eu tenho


que sumir daqui. E o único lugar que eu conheço é a casa da minha
mãe. (levanta) Agora eu vou tomar um remédio pra dor de cabeça e ir
pra cama. Se quiser continuar vendo o filme... Boa noite.

Catarina sai. Joyce olha para a TV, pega o controle remoto, hesita
por um instante e o larga. Pega o celular, disca e espera a chamada ser
completada.

CORTA PARA

CENA 21
Tomada aérea de Recife e Nova York, indicando passagem de
alguns dias.

CORTA PARA

CENA 22 – NY/CASA DE FELÍCIA/SALA – INT – TARDE


Julia entra, vinda do quarto, carregando uma mala.

FELÍCIA – Por que não fica mais um pouco? Ainda dá tempo de


desistir...

JULIA – Nem dá, minha filha... Tenho que dar uma geral lá na casa, sua
irmã ligou avisando que vai pra lá, lembra?

FELÍCIA – Ah, ela podia vir pra cá. Mas enfim... Qualquer coisa eu me
mando pra lá também e ficamos todas juntas.
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JULIA – Tô indo, mas fique sabendo que continuo preocupada com você.

FELÍCIA – Mas eu não fiz nada!

JULIA – Aquele moço da Internet...

FELÍCIA – Ele sumiu. Agora quem tá preocupada sou eu.

JULIA – Tome cuidado, viu?

FELÍCIA – Pode deixar, mãe. Faça uma boa viagem.

Elas se abraçam e depois Julia sai. Felícia vai para o computador e


abre o MSN. Ed não está online.

FELÍCIA – Meu Deus... Uma semana de sumiço! Será que ele desistiu de
mim?

CORTA PARA

CENA 23 – NY/CASA DE ALIENA/SALA DE ESTUDOS – INT –


TARDE
Teresa também está diante do computador, com o MSN aberto,
muito preocupada.

TERESA – Será que ele arrumou outra?

OLGA (entrando) – Tetê, tem gente querendo falar com você.


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TERESA – Tá, vou lá.

Teresa sai. Olga vai para o computador e começa a olhar fotos de


Aliena, sozinha. À medida que as fotos vão passando, Olga vai ficando
mais triste.

CORTA PARA

CENA 24 – NY/CASA DE ALIENA/SALA – INT – TARDE


Teresa entra e encontra um agente da FBI.

TERESA – Yes?

AGENTE – Miss Scheid, I wanted to talk to you about the investigations.


[Senhorita Scheid, eu gostaria de falar sobre as investigações.]

TERESA – About what, exactly? [Sobre o que, exatamente?]

AGENTE – We need your help to find some evidences which might lead
us to the murder, you know… [Precisamos de sua ajuda para encontrar
evidências que possam nos levar ao assassino, sabe…]

TERESA – Somebody familiar. [Alguém familiar]

AGENTE – Yes. Could you help us? [Sim. Poderia nos ajudar?]

TERESA – For sure. [Certamente.]

AGENTE – Thank you very much, miss Scheid. You’ll be very helpful for
us. [Muito obrigado, senhorita Scheid. Você sera muito útil para nós.]
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O agente e Teresa se cumprimentam com um aperto de mão e o


agente vai embora. Sozinha, Teresa começa a andar de um lado para o
outro, pensativa.

TERESA – Vamos ver... O assassino só pode ter sido aquele namorado


louco dela, disso eu tenho certeza. Só preciso achar alguma coisa que
prove isso. (t) Talvez tenha algo lá nas coisas dela, se ele não sumiu
com nada... Vou lá.

Teresa segue com pressa para o quarto de Aliena.

CORTA PARA

CENA 25 – NY/CASA DE ALIENA/QUARTO DE ALIENA – INT -


TARDE
Teresa entra no quarto e encontra Maria dormindo na cama de
Aliena. Ela faz menção de ir acordar a menina, mas desiste a meio
caminho. Abre todas as gavetas, revira o roupeiro, até que consegue
reunir vários álbuns de fotografias, caixas contendo envelopes,
documentos das crianças e outros objetos. Abre o primeiro álbum, vê
todas as fotos, mas não encontra nada de interessante. Abre o segundo,
a mesma coisa. No terceiro, ela pára observando longamente a primeira
foto. Depois tira o retrato e lê o que está escrito no verso: “Ali e Ed,
março de 2006.” Teresa vira novamente o retrato e esboça um sorriso
ligeiramente amargo ao olhar para a foto de Ed e Aliena juntos.

TERESA – Então é você... Muito desprazer em conhecê-lo.


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Teresa larga a foto em um canto e continua mexendo nos outros


objetos.

CORTA PARA

CENA 26 – NY/CASA DE ALIENA/SALA DE ESTUDOS – INT –


TARDE
Olga ainda está olhando as fotos de Aliena, e chorando muito.
Teresa entra e vai para perto dela.

TERESA – Meu amor...

OLGA (abraça Teresa) – Eu quero minha mãe de volta, Tetê!

TERESA (tentando segurar o choro) – Calma, fica calma. Pensa que ela
tá num lugar melhor que esse, tá bom?

OLGA (olha com raiva para o monitor) – Foi ele, né?

TERESA – Ele quem?

OLGA – O namorado dela que vivia se escondendo. Foi ele, né?

TERESA – Eu também acho que foi, mas ainda não dá pra dizer nada.
Aquele agente do FBI veio aqui porque eles querem minha ajuda nas
investigações. E nós...

Em um movimento involuntário, Teresa olha para o monitor e vê a


foto de outro homem.
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TERESA – Quem é esse, Oliúshka?

OLGA – É o tal do Ed.

TERESA (espantada) – É?

OLGA – É.

Teresa fica olhando a foto no monitor, estupefata. A imagem fecha


no retrato do falso Ed.

********** FIM DO CAPÍTULO 06 **********

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