Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE CINEMA

ALAN FERNANDES DA CONCEIÇÃO

MARSHALL MCLUHAN E O CINEMA ORIENTAL COMTEMPORÂNEO

RIO DE JANEIRO
2007
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE CINEMA

ALAN FERNANDES DA CONCEIÇÃO

MARSHALL MCLUHAN E O CINEMA ORIENTAL COMTEMPORÂNEO

Trabalho apresentado para disciplina Seminários


de pesquisa do curso de cinema, universidade Estácio de Sá.

ALUNO: Alan Fernandes


MATRÍCULA: 20050110159-7
TURNO: Noite
CAMPUS: Tom Jobim

ORIENTADOR: Professor Wilson Oliveira da Silva Filho

2
RIO DE JANEIRO
2007
RESUMO

Este trabalho busca compreender melhor tanto a obra do Sociólogo canadense

Marshall Mcluhan, quanto os filmes dos realizadores orientais contemporâneos,

estabelecendo relações entre os conceitos de Mcluhan com o conteúdo e a forma destes

filmes, refletindo sobre o futuro do cinema em épocas de transformações tecnológicas e

como estas transformações estão sendo exploradas e retratadas pelo cinema mais emergente

do mundo atual.

A exploração da relação indivíduo e meios de comunicação é um dos objetivos deste

trabalho, que se utiliza do cinema oriental contemporâneo por este estar situado em uma

situação crucial em relação as outras cinematografias ao redor do mundo e pelas crescentes

transformações sócio- econômicas que estes países estão enfrentando no presente.

Os novos formatos de produzir cinema e como eles estão sendo utilizados por diferentes

cineastas são apresentados neste trabalho como uma nova forma de se explorar linguagens

cinematográficas e estabelecer diferentes relações com o espectador, elevando nível de

sinestesia que o cinema possui.

3
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................. 4

OS CONCEITOS DE MCLUHAN E OS REALIZADORES ORIENTAIS............7

1.1 – Meio é a Mensagem - Apichatpong Weerasethakul e Tsai Ming

Liang.

1.2 – Aldeia Global - Jia Zhang Ke e Hou Hsao Hsien.

1.3 – Os Meios de comunicação como extensões do homem - Takashi Miike.

CONCLUSÃO ......................................................................13

BIBLIOGRÁFIA E SITEGRAFIA ..................................14

4
INTRODUÇÃO

Comparado a outros meios, [...] , o filme tem o poder de armazenar e transmitir uma
grande quantidade de informação. Num só plano, apresenta uma cena de paisagem que
exigiriam diversas páginas em prosa para ser descritas.
Marshall Mcluhan

Não é de hoje que a obra de Marshall Mcluhan é associada ao cinema e todas as

outras mídias audiovisuais, tanto no conteúdo como na forma das mesmas. O conteúdo da

obra de cineastas como David Cronenberg e o trabalho de experimentação em forma de

realizadores como Stan Brakhage e Nam June Paik são os exemplos mais citados quando o

assunto vem a tona. A complexa relação do meio e seu conteúdo, seja ele banal ou de

importância sócio- cultural, é uma das questões mais analisadas no período pós moderno,

onde muitos alegam que toda nova tecnologia que surge, já é devorada pelas artes e meios

de comunicação em um tempo quase real.

A massiva presença de celulares em filmes de Hollywood, a captação digital favorecendo

os cinemas independentes, as possibilidades estéticas no tratamento da pós produção, a

reflexão da relação homem e maquina e outros muitos assuntos são de extrema importância

nos dias de hoje, e para entendermos melhor o presente, a obra de Mcluhan talvez seja o

melhor caminho para guiar uma reflexão e um estudo mais aprofundado.

5
Para exemplificar melhor a importância que Mcluhan exerce nos dias de hoje, este

estudo se restringe ao cinema como meio, recortando para o trabalho de cineastas orientais

contemporâneos, estabelecendo relações de conteúdo e forma com os conceitos de

Mcluhan.

Com o crescimento da economia de países como China e coréia do sul, o cinema

obviamente se modificou, crescendo e atingindo níveis inigualáveis nos dias de hoje, tanto

artisticamente quanto em políticas de mercado e incentivo. Com crescentes e intermináveis

mudanças nestes países, onde as tecnologias digitais chegam antes e são acessíveis para

grande parte da população, não é difícil de entender o porque do cinema destes países

possuírem uma reflexão muito mais madura sobre a relação do homem com um mundo que

se modifica em uma velocidade nunca antes vista na historia da humanidade.

O cinema chinês contemporâneo, se tratando de conteúdo, é o que mais flerta com a idéia

de meio e mensagem. Cineastas como Jia Zhang Ke e Tsai Ming Liang retratam de forma

magistral como os meios que foram pensados para “unir” as pessoas, parecem cada vez

mais sufocar o indivíduo dentro de seu próprio meio social. A Fragmentação, que constitui

a essência da maquina, agora parece ser aplicado com o material humano, gerando danos

irreversíveis para o futuro das relações humanas.

Em uma das vezes que escreveu sobre o cinema, Mcluhan cita:

“O cinema não é um meio simples, como a canção ou a palavra escrita, mas uma forma de
arte coletiva, onde indivíduos diversos orientam a cor, a iluminação, o som, a interpretação
e a fala.”

6
Se pensarmos em inovações estéticas dentro do cinema e um desenvolvimento quase

megalomaníaco do mesmo, é impossível nomes como Wong Kar Wai, Hou Hsao Hsien,

Tsai Ming Liang, Park Chan Wook e outros realizadores do oriente não virem a cabeça. O

alto rigor estético e uma busca incessante pela perfeição de equilíbrios e composições se

tornaram uma das marcas do novo cinema do oriente. Alguns dos cineastas citados acima,

colocam a sinestesia das imagens e sons acima de todos os padrões cinematográficos

estabelecidos pela indústria, e muitas vez abdicam de elementos como dramaturgia, roteiro,

diálogos e até mesmo atores para produzir uma obra cinematográfica. Um plano parado de

quase 15 minutos onde não acontece muita ação e não parece desembocar em nada em

termos de desenvolvimento narrativo, possui diversas informações visuais e sonoras, que

para um leigo pode parecer algo de extremo mal gosto. O próprio ato de ligar uma câmera e

compor um quadro, já se mostra como uma mensagem, uma mensagem puramente

cinematográfica que estabelece seu dialogo com o telespectador se assumindo como meio,

como um objeto que captura imagens em movimento, pensamento que dialoga

perfeitamente com parte da obra de Mcluhan.

7
1) OS CONCEITOS DE MCLUHAN E OS REALIZADORES ORIENTAIS.

“O cinema não é um meio simples, como a canção ou a palavra escrita, mas uma forma de
arte coletiva, onde indivíduos diversos orientam a cor, a iluminação, o som, a
interpretação e a fala.”
Marshall Mcluhan.

1.1 – Meio é a Mensagem - Apichatpong Weerasethakul e Tsai Ming Liang.

Para Mcluhan, o espectador de cinema é como um leitor de livros, aceitando tudo que

a câmera mostra . O cineasta Tailandês Apichatpong Weerasethakul parece desafiar essa

idéia em cada novo filme que produz. Com um grau de abstração propositalmente

exagerado, seus filmes instigam o espectador a observar de uma forma diferente coisas

banais do cotidiano. Em um de seus filmes, “Mal dos trópicos”(2003), as lâmpadas da

cidade de Bangkok ou a forma como o vento bate nas árvores de uma reserva florestal é

filmado com o mesmo esmero de um beijo final de um grande épico hollywoodiano. Em

seu último filme “Síndromes e um Século”(2006) ,o cineasta vai ainda mais longe e logo no

início do filme após apresentar os dois personagens principais, os créditos começam a

surgir em frente a um plano geral de um grande campo verde, em off ainda ouvimos a

conversa dos personagens, quando de repente escutamos a voz do próprio diretor

interrompendo a cena e os atores saindo de seus personagens e conversando sobre o

próximo plano a ser feito.

Tudo isso pode parecer pra muitos apenas alguns exercícios Brechtianos aplicados ao

cinema, mas se levarmos em conta os meios que o cineasta se utiliza para construir seus

filmes, nos aproximamos de Mcluhan. Se utilizando de Cameras 35mm,video,video digital,

8
super 8 e até mesmo fotografias still, weerasethakul compõe muitas de suas narrativas

apenas se apoiando ao meio que registra as imagens. No curta “Luminous people”(2007) o

diretor faz do próprio suporte (super 8) a “razão de ser” de seu filme. Apenas ao observar as

imagens, sem nenhuma ação ocorrendo, já descobrimos que se trata de um filme de família.

Inicialmente ouvimos apenas o som ambiente do motor, depois a vozes vão surgindo até o

ponto que percebemos que se trata de pessoas assistindo ao filme como um material e

comentando os resultados e ações nele presentes.

Este exercício de linguagem só se torna possível com o cineasta assumindo o meio como

carro chefe de sua idéia e tornando o mesmo, a própria mensagem da obra.

O cineasta chinês Tsai Ming Liang sustenta toda sua obra no rigor estético de seus longos

planos com a câmera fixa. Cada detalhe é minimamente trabalhado, composto de formas

que hora segue a escola de pintores modernistas e horas parecem ser o que há de mais

sofisticado no mundo do design gráfico. Com a ausência de roteiro e em algumas vez sem

praticamente nenhuma ação ocorrendo nos planos, o próprio plano se sustenta como

mensagem, independentemente do formato que está sendo utilizado, mas ao reduzir toda a

linguagem do cinema a apenas ao ato de enquadrar algo e filmar em 24 quadros por

segundo.

1.2 – Aldeia Global - Jia Zhang Ke e Hou Hsao Hsien.

O conceito de "aldeia global", criado por McLuhan , quer dizer que a tecnologia reduz

todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia, ou seja, a possibilidade de se

intercomunicar diretamente com qualquer pessoa que nela vive.

9
Apesar de ter elegido a televisão como grande paradigma da idéia de aldeia global, por ser

um meio de comunicação de massa em nível internacional, o cinema também se mantem

como um grande exemplo de meio que possue uma capacidade de romper barreiras

culturais e geográficas.

No mundo contemporâneo, a china é provavelmente o melhor pais para ser analisado e

comparado com este conceito. A abertura para o mercado externo, a passagem para o

capitalismo e o progresso nas artes e ciências que os chineses vem alcançando nos últimos

anos, parecem cada vez mais contribuir para um “fim da cultura oriental” e o grande triunfo

da homogenia do padrão ocidental Norte -americano/europeu.

Em um de seus textos o crítico francês André Bazin diz;

“O Cinema consegue as vezes ser o molde de seu próprio tempo”1

As obras de realizadores como os chineses Jia Zhang Ke e Hou Hsao Hsien confirmam

estas palavras.

O cinema de Jia Zhang Ke é totalmente eficaz em sua proposta de mostrar para o mundo os

efeitos das transformações culturais e econômicas da China sobre a juventude do país. No

filme “O Mundo”(2004), o cineasta discute os efeitos da globalização , tomando um parque

temático da periferia de Pequim como microcosmo, recriando a atmosfera de desilusão e

carência que permeia a sociedade contemporânea. Ao passear pelo parque, podemos

conhecer diferentes países, observar diversas culturas, sem a necessidade de viajar ou

aprender o idioma de cada local. Tudo já esta devidamente “processado” como um bem de

1
Extraído de Qu'est-ce que le cinéma?(1967) de André Bazin.

10
consumo para satisfazer a curiosidade de seus freqüentadores. A globalização nunca foi tão

bem retratado no cinema, de uma forma que ao mesmo tempo é clara e sutil.

Os filmes de Hou Hsao Hsien reencenam a experiência de crescer em uma Taiwan dividida

entre o passado chinês e o presente ocidentalizado. Questões sociais como as relação do

homem com as drogas e o papel da mulher dentro da sociedade chinesa são representados

em seus filmes muitas vezes em épocas diferentes, mas mantendo a mesma temática, como

se fosse um estudo para se analisar o que realmente mudou em Taiwan nos últimos 100

anos.

Ambos os cineastas citados acima possuem uma relação muito forte com as maquinas, que

permeiam grande parte de suas obras. O telefone celular é retratado como o “grande meio

do mundo moderno” por sua grande capacidade como meio de comunicação, mas

principalmente por ser um meio que se tornou de fácil acesso para todas a classes sociais.

Nos filmes de Jia Zhang Ke até os miseráveis trocam números de celulares entre si e

mandam torpedos uns para os outros. Para Hou Hsao Hsien meios modernos de

comunicação como a internet e o celular não cumprem a sua função de aproximar as

pessoas, e ao contrario as afasta, anulando a necessidade da interação física para se

estabelecer algum tipo de comunicação de um individuo com o outro.

Na obra de ambos os cineastas, seus personagens escutam Hip hop, usam roupas ocidentais

e parecem não perceber que estão dentro de um processo de anulação de sua própria

cultura, que foi construída ao longo de milhares de anos e que está sendo derrubado em

menos de meio século, com a ajuda das maquinas, das mídia e das pessoas que as operam.

11
1.3 – Os Meios de comunicação como extensões do homem - Takashi Miike.

Para melhor exemplificar esta idéia de Mcluhan, o cinema do realizador japonês Takashi

Miike se encaixa perfeitamente. O Mais prolífico cineasta da atualidade, chegando a

realizar 14 filmes nos anos de 2001 e 2002, traça uma relação quase sadomasoquista entre

os homens e as maquinas. Em seu filme mais comercial “One Missed Call”(2003) o celular

se torna o grande elemento narrativo do filme, e imaginar os personagens sem ele é

praticamente impossível. Para o espectador o vilão não é quem está por trás dos

telefonemas, e sim o próprio telefone, que no filme é capaz de prever o momento exato da

morte dos protagonistas. Em alguns momentos, somos levados a pensar que o celular é

apenas um meio escolhido pela protagonista para expressar sua própria loucura e paranóia.

No filme de ação “Full Metal Yakusa”(1997) a relação com o conceito de Mcluhan alcança

níveis patológicos.

Quando um aspirante a soldado é assassinado por uma gangue de Tóquio, cientistas que

trabalham para o governo conseguem ressuscita -lo, substituindo as partes de seu corpo que

foram mais afetadas por peças mecânicas, até mesmo suas genitais, transformando o em

uma espécie de cyborg, bem diferente de filmes americanos como “Robocop” (1987).

Homem e maquina convivendo em um mesmo corpo não é algo inédito no cinema, mas

neste filme de Takashi Miike praticamente todas as questões humanas são levadas em

consideração, até mesmo a sexual e a psicológica.

12
CONCLUSÃO

Como a indústria do cinema oriental não para de lançar novos filmes e descobrir novos

talentosos realizadores, a relação do cinema oriental com a obra de Mcluhan e até mesmo

outros pensadores de mídia e cultura está longe de acabar.

Estamos nos aproximado de um momento que pode mudar o cinema para sempre, com o

crescimento acelerado de novas formas de se produzir e consumir áudio visual, produtores

e realizadores terão que pensar em novas maneiras de se fazer cinema, principalmente

cinema de pretensões autorais,sociais e artísticas. Obviamente que isto não afetara apenas a

produção de filmes em si, mas também sua forma e seu conteúdo. Novas discussões serão

apresentadas na tela e novos nomes, vindos de uma geração que assimilou desde a infância

toda a tecnologia que para os mais antigos pode parecer assustadora, se utilizarão deste

conhecimento para refletir e entender melhor o mundo em que vivemos e a relação dos

meios de comunicação com o homem.

Com o melhor sistema de educação do mundo, e o mais crescente desenvolvimento em

tecnologia digital, não é difícil de adivinhar que esses novos nomes terão seus maiores

expoentes em países como China, Japão e Coréia do sul.

13
BIBLIOGRAFIA

- Mcluhan, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem (Understanding

Media). Cultrix, 2002

- Revista Bravo , edição do mês de dezembro de 2005.

SITEGRAFIA

www.sensesofcinema.com – Acessado nos dias 28,29 e 30 de novembro de 2007.

www.theyshootpictures.com - Acessado nos dias 28,29 e 30 de novembro de 2007.

14

Você também pode gostar