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Fatores de desenvolvimento rural e suas relações

O viver em sociedade é seguramente uma das características mais antigas do


homem. Antes mesmo de aprender a falar, o homem já vivia em pequenos grupos,
provavelmente a fala tenha surgido da necessidade de comunicação e do
aperfeiçoamento desta entre estes grupos. Desde então, as sociedades vêm se
modificando em face das necessidades de cada época ao longo dos tempos. O
surgimento da agricultura e da pecuária tem importância fundamental no
desenvolvimento das sociedades. Foi a partir daí que o homem deixou de ser nômade e
passou a fixar-se em áreas determinadas, pois a lavoura e a criação de animais lhe
garantiam boa parte do alimento de que necessitava.

Passados mais de cinco mil anos, as sociedades modernas continuam


dependentes da agricultura e da pecuária, embora as relações que mantenham entre si,
tenham sofrido drásticas mudanças. As sociedades modernas compartimentaram-se,
assim como o próprio conhecimento, e a agricultura distanciou-se da maior parcela da
população. Os processos de urbanização criaram uma estrutura social em que as cidades
tornaram-se o centro das sociedades e à sua margem desenvolvem-se as práticas
agrícolas, no campo. Campo e cidade se repudiam e se afastam: valores morais e éticos
se distinguem, assim como as formas de trabalho, as atividades que desenvolvem, a
cultura que praticam, as tradições que mantêm, etc. Entretanto, quanto mais se
distanciam, mais aumentam a sua interdependência.

As cidades proporcionam um número muito maior de interações sociais e opções


de lazer que o campo, além de muitas outras facilidades como o acesso a informação,
aos bens de consumo, ao conhecimento e à cultura; enquanto o campo se apresenta
muito mais como local de produção; por isso não é difícil aceitar que no imaginário
popular a imagem da cidade esteja relacionada à idéia de prazer, enquanto à imagem do
campo relacione-se à idéia de trabalho. Assim, a exploração desta oposição ideológica,
aliada a outros fatores, foi responsável, no Brasil, pelo alto êxodo rural ocorrido nas
décadas de 50, 60, 70 e 80, principalmente. Imagem equívoca, a propósito, mas que
ficou gravada no imaginário de várias gerações rurais e que está sendo tardiamente
questionada, uma vez que o êxodo rural tenha propiciado o crescimento acelerado e
desordenado de muitas cidades, disponibilizado mão de obra barata à indústria e
marginalizado agricultores que buscavam vida melhor na cidade.

O desenvolvimento industrial, ocorrido no Brasil a partir da década de 50, criou


uma forte demanda de mão de obra, a qual a população das cidades não supria. É aí que
se inicia uma forte propaganda da boa vida na cidade em oposição à vida dura do
campo, associada à exploração de alguns estereótipos conhecidos, como o do “Jeca
Tatu”, que transformaram valores e conceitos de acordo com os interesses da época. O
agricultor, o camponês, o habitante da região rural é visto pela ótica do homem urbano e
muitas vezes ridicularizado, criando a idéia de que quem mora no campo é alguém com
menos inteligência que o homem da cidade, alguém mais bruto, rude, inculto, etc. Não
demora muito para que o próprio homem do campo aceite esta inverdade. Além disso, a
condição a que se submetia no campo: sem políticas públicas competentes de incentivo,
sem infraestrutura necessária para ganhar seu próprio sustento; tudo indicava que o
caminho à prosperidade era mesmo a cidade.

Entretanto, a situação nas cidades não se parecia muitas vezes com a propaganda
que fora feita. O alto custo de vida, a locação em áreas distantes e muitas vezes não
completamente urbanizadas, a desqualificação para muitos dos empregos oferecidos,
foram alguns dos empecilhos que os migrantes rurais tiveram de enfrentar. Por outro
lado, em pouco tempo, muitas cidades tornaram-se metrópoles e devido à falta de
planejamento, enfrentam hoje uma série de problemas que interferem em sua rotina:
trânsito congestionado; contaminação de rios, córregos, lagos; poluição do ar; falta de
hospitais; falta de segurança pública; falta de escolas; construção de casas em áreas de
risco, causando desmoronamento e mortes; violência; marginalidade; tráfico de drogas;
“pirateação” de músicas e filmes; comércio ilegal de mercadorias; favelas; etc.

II

A partir da segunda metade do século XX, no Brasil, enquanto as cidades


cresciam, o campo ficava cada vez menos habitado e, na medida em que ia se
tecnificando, tendia à prática da monocultura em grandes áreas de terra. Tem-se aí, o
início de um processo de exclusão e marginalização social sem precedentes, mas que
deu origem a um movimento reflexo de combate que delineará os traços atuais da
agricultura moderna associada às questões ambientais.
Inicialmente, as manifestações sociais que combatiam a exclusão social no
Brasil, não tinham preocupação com o meio ambiente ou com a preservação ou
destruição dos recursos naturais. As questões ambientais começam a se associar à
agricultura somente após a chamada revolução verde, na década de setenta, quando
políticas governamentais que pretendiam promover o desenvolvimento social e
econômico das categorias produtoras, resultaram num processo de exclusão das classes
menos favorecidas. Ocorrem, então, manifestações de contestação ao padrão técnico e
econômico implementado e subsidiado pelo Estado. Começam a surgir, a partir daí,
movimentos rurais em favor de uma agricultura alternativa que pretendia resgatar
práticas tradicionais de produção, condenadas pelo modelo vigente. São questionadas as
técnicas de produção: os altos custos não compensados pelos baixos preços de venda
dos produtos. A classe agronômica se organiza e realiza encontros estaduais e nacionais
destinados a pensar práticas alternativas para o desenvolvimento da agricultura. ( )
Mesmo assim, durante essa mesma época, muitos pequenos agricultores
continuam a seguir o modelo tecnicista e conservador incentivado pelo governo: No Rio
Grande do Sul, no final da década de setenta, houve um grande apelo ao plantio de soja,
ao qual, pequenos, médios e grandes agricultores atenderam, pois os preços se
mostravam compensatórios, e foram, mas por pouco tempo. A queda nos preços do
produto, ano após ano, em épocas de colheita, foi causando o endividamento de muitos
agricultores, principalmente de pequenos agricultores que geralmente não
compreendiam a natureza do mercado financeiro e não conseguiam saldar suas contas
com os bancos. As décadas de 80 e 90 tinham o plantio de fumo como a boa
possibilidade de melhoria econômica do setor, porém, o mercado financeiro agiu
novamente em favor dos comerciantes e os produtores mais uma vez sentiram a força
das bolsas de valores.

É também a partir da segunda metade do século XX que começam a


diferenciarem-se as atividades produtivas de pequenos médios e grandes produtores:
cada vez mais, pequenos e médios agricultores passam a encontrar na produção
diversificada uma alternativa segura para driblar as dificuldades econômicas, enquanto
grandes agricultores, beneficiados pela política agrária vigente, se especializaram na
produção de poucas ou apenas uma cultura. Nesse mesmo período, a luta de
ambientalistas no mundo inteiro, começa fazer eco no Brasil, e pequenos agricultores
excluídos, ou em processo de exclusão, e trabalhadores do campo em geral, pequenos
extrativistas aliam-se às ideias de exploração sustentável.

Na década de 90, a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, fomenta a idéia de


desenvolvimento sustentável, concebida a partir do conceito de ecodesenvolvimento,
que irá trazer mudanças às políticas públicas. Na ECO-92, os excluídos: pequenos
agricultores, sem terra e trabalhadores de modo geral; se associam em definitivo a causa
ambiental em sua busca por outro modelo de desenvolvimento agrícola. O cuidado com
o meio ambiente, a partir desse momento, integra as políticas públicas sob a forma de
ações protecionistas, preservadoras e reguladoras. O movimento de contestação à
agricultura convencional que nasce como alternativo à modernização conservadora,
passa a orientar-se pela noção de sustentabilidade por influência da ECO-92 e
recentemente se identifica como de agricultura ecológica. ( )
A partir da ECO 92, agricultura familiar e agroecologia começam a
confundirem-se e o cenário começa a dar mostrar de mudanças. Pequenos agricultores
próximos às cidades começam a organizarem-se e venderem seus produtos diretamente
em feiras, aos mercados ou diretamente aos consumidores, a própria relação com a
indústria começa a mudar e tornam-se viáveis, por exemplo, a venda às indústrias locais
de produtos como o leite, o aipim descascado, o mel, frutas, etc. Aos poucos os
agricultores encontram formas de manterem-se no campo e do campo, e muitos
daqueles que permaneceram lá, não cultivam mais o sonho de ir para a cidade.

Em suma o que se assistiu nesse período foi uma mudança de paradigmas ideológicos
e também, produtivos, motivados por uma série de eventos climáticos extremos causados pela
ação do homem. Tal mudança reflete-se não só no campo, mas também nas cidades e dessa
forma cria meios de prosseguir. Ora! De que adiantaria que toda a produção agrícola brasileira,
repentinamente, fosse realizada a partir de um modelo ecologicamente correto se não
houvesse um mercado para tal produção? A agroecologia vem obtendo êxito

CONCLUSÃO
Introdução

O desenvolvimento rural é influenciado por diversos fatores sociais: ideológicos e de


ação, que interagem de forma recíproca e contínua, e, o condicionam. As mudanças no setor
rural são antecedidas por mudanças ocorridas em outros setores intimamente ligadas ao rural
e através de um continuum o atingem. Às mudanças ideológicas seguem-se as mudanças de
ações, num processo contínuo e dinâmico movido pelas necessidades e interesses de cada
contexto em cada época. Sucessivamente, as mudanças criam novos paradigmas que
substituem antigos, mas que também um dia serão substituídos por outros mais atuais.

O que se vê hoje é uma mudança drástica no campo ideológico seguida por uma série
de ações em larga escala e em diversos setores da sociedade, mas que em termos percentuais
ainda atingem uma parcela muito pequena da população mundial. Não há dúvida de que as
questões ambientais entraram em definitivo na pauta das grandes discussões de cunho global
promovido por chefes de estado do mundo inteiro, e que, começam a influenciar e determinar
uma série de paradigmas sociais. Mas o que parece muito difícil, senão impossível, é
determinar quanto tempo será necessário para que esses paradigmas sejam adotados por uma
parcela significativa da população mundial, se é que um dia serão adotados, tornando em ação
o que hoje em dia ainda é matéria de debate.
Introdução

Quando se procura compreender o desenvolvimento de um determinado setor, numa


determinada época, num determinado espaço, se pode agir de maneiras distintas: pode-se
procurar isolar um determinado fator e determinar em que graus e de que formas tal fator
determina o desenvolvimento; como também, se pode procurar compreender quais fatores e
que relações entre estes fatores, o determinam. Neste trabalho se procurou, justamente,
compreender alguns dos fatores e a relação entre os fatores que determinam o
desenvolvimento rural no Brasil, a partir da segunda metade do século passado.

Compreendeu-se o meio social de uma forma partida, seccionada, em diversos e


diferentes contextos, porém interligados e interagindo mutuamente. Porém, determinado
contexto social poderá interferir em outro contexto num determinado grau e sofrer
interferências desse mesmo contexto em outro grau, como se observa, por exemplo, na
formação do continuum, em que meio urbano interfere no meio rural e vice versa, porém a
interferência do meio urbano sobre o meio rural, como se deu no período, ocorre num grau
mais elevado e com velocidade maior.

Compreendeu-se que, a partir da segunda metade do séc. XX, as questões ambientais


deixaram de ser pauta em debates e começaram a fazer parte das ações de estado, de
entidades privadas e de Ong´s, e que modificaram tanto o meio urbano quanto o meio rural.
Tais mudanças são influenciadas por diversos modificadores que podem ser influenciados por
outras diversas situações e contextos e épocas. Portando, nesse período, as questões
ambientais, entendidas como fatores de desenvolvimento rural, aumentaram sua importância,
influenciando de forma muito mais efetiva a construção de novos paradigmas após mais de
meio século de caminhada.

A partir da segunda metade do século XX, no Brasil, enquanto as cidades


cresciam, o campo ficava cada vez menos habitado e, na medida em que ia se
tecnificando, tendia à prática da monocultura em grandes áreas de terra. Tem-se aí, o
início de um processo de exclusão e marginalização social sem precedentes, mas que
deu origem a um movimento reflexo de combate que delineará os traços atuais da
agricultura moderna associada às questões ambientais.
Inicialmente, as manifestações sociais que combatiam a exclusão social no
Brasil, não tinham preocupação com o meio ambiente ou com a preservação ou
destruição dos recursos naturais. As questões ambientais começam a se associar à
agricultura somente após a chamada revolução verde, na década de setenta, quando
políticas governamentais que pretendiam promover o desenvolvimento social e
econômico das categorias produtoras, resultaram num processo de exclusão das classes
menos favorecidas. Ocorrem, então, manifestações de contestação ao padrão técnico e
econômico implementado e subsidiado pelo Estado. Começam a surgir, a partir daí,
movimentos rurais em favor de uma agricultura alternativa que pretendia resgatar
práticas tradicionais de produção, condenadas pelo modelo vigente. São questionadas as
técnicas de produção: os altos custos não compensados pelos baixos preços de venda
dos produtos. A classe agronômica se organiza e realiza encontros estaduais e nacionais
destinados a pensar práticas alternativas para o desenvolvimento da agricultura. ( )
Mesmo assim, durante essa mesma época, muitos pequenos agricultores
continuam a seguir o modelo tecnicista e conservador incentivado pelo governo: No Rio
Grande do Sul, no final da década de setenta, houve um grande apelo ao plantio de soja,
ao qual, pequenos, médios e grandes agricultores atenderam, pois os preços se
mostravam compensatórios, e foram, mas por pouco tempo. A queda nos preços do
produto, ano após ano, em épocas de colheita, foi causando o endividamento de muitos
agricultores, principalmente de pequenos agricultores que geralmente não
compreendiam a natureza do mercado financeiro e não conseguiam saldar suas contas
com os bancos. As décadas de 80 e 90 tinham o plantio de fumo como a boa
possibilidade de melhoria econômica do setor, porém, o mercado financeiro agiu
novamente em favor dos comerciantes e os produtores mais uma vez sentiram a força
das bolsas de valores.

É também a partir da segunda metade do século XX que começam a


diferenciarem-se as atividades produtivas de pequenos médios e grandes produtores:
cada vez mais, pequenos e médios agricultores passam a encontrar na produção
diversificada uma alternativa segura para driblar as dificuldades econômicas, enquanto
grandes agricultores, beneficiados pela política agrária vigente, se especializaram na
produção de poucas ou apenas uma cultura. Nesse mesmo período, a luta de
ambientalistas no mundo inteiro, começa fazer eco no Brasil, e pequenos agricultores
excluídos, ou em processo de exclusão, e trabalhadores do campo em geral, pequenos
extrativistas aliam-se às ideias de exploração sustentável.

Na década de 90, a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, fomenta a idéia de


desenvolvimento sustentável, concebida a partir do conceito de ecodesenvolvimento,
que irá trazer mudanças às políticas públicas. Na ECO-92, os excluídos: pequenos
agricultores, sem terra e trabalhadores de modo geral; se associam em definitivo a causa
ambiental em sua busca por outro modelo de desenvolvimento agrícola. O cuidado com
o meio ambiente, a partir desse momento, integra as políticas públicas sob a forma de
ações protecionistas, preservadoras e reguladoras. O movimento de contestação à
agricultura convencional que nasce como alternativo à modernização conservadora,
passa a orientar-se pela noção de sustentabilidade por influência da ECO-92 e
recentemente se identifica como de agricultura ecológica. ( )
A partir da ECO 92, agricultura familiar e agroecologia começam a
confundirem-se e o cenário começa a dar mostrar de mudanças. Pequenos agricultores
próximos às cidades começam a organizarem-se e venderem seus produtos diretamente
em feiras, aos mercados ou diretamente aos consumidores, a própria relação com a
indústria começa a mudar e tornam-se viáveis, por exemplo, a venda às indústrias locais
de produtos como o leite, o aipim descascado, o mel, frutas, etc. Aos poucos os
agricultores encontram formas de manterem-se no campo e do campo, e muitos
daqueles que permaneceram lá, não cultivam mais o sonho de ir para a cidade.

Nessa segunda metade do séc. XX, assistiu-se a uma mudança de paradigmas


ideológicos e também, produtivos, motivados por uma série de eventos climáticos extremos
causados pela ação do homem. Tal mudança reflete-se não só no campo, mas também nas
cidades e dessa forma cria meios de prosseguir. Ora! De que adiantaria que toda a produção
agrícola brasileira, repentinamente, fosse realizada a partir de um modelo ecologicamente
correto se não houvesse um mercado para tal produção?

A agroecologia vem obtendo êxito porque há uma demanda para seus produtos, mas
essa ainda é muito pequena, e para que ela cresça, se faz necessário a conscientização de uma
parcela muito maior da população. Porém, como essa conscientização depende também de
uma série de outros fatores, ainda é muito difícil precisar se o modelo agroecológico de
produção que está sendo adotado cada vez mais por micros, pequenos e médios agricultores,
terá aceitação suficiente para que se modifiquem nessa direção os paradigmas produtivos de
larga escala a ponto de se tornarem perceptíveis mudanças que amenizem o clima do planeta.

CONCLUSÃO

O desenvolvimento rural é influenciado por diversos fatores sociais: ideológicos e de


ação, que interagem de forma recíproca e contínua, e, o condicionam. As mudanças no setor
rural são antecedidas por mudanças ocorridas em outros setores intimamente ligadas ao rural
e através de um continuum o atingem. Às mudanças ideológicas seguem-se as mudanças de
ações, num processo contínuo e dinâmico movido pelas necessidades e interesses de cada
contexto em cada época. Sucessivamente, as mudanças criam novos paradigmas que
substituem antigos, mas que também um dia serão substituídos por outros mais atuais.

O que se vê hoje é uma mudança drástica no campo ideológico seguida por uma série
de ações em larga escala e em diversos setores da sociedade, mas que em termos percentuais
ainda atingem uma parcela muito pequena da população mundial. Não há dúvida de que as
questões ambientais entraram em definitivo na pauta das grandes discussões de cunho global
promovido por chefes de estado do mundo inteiro, e que, começam a influenciar e determinar
uma série de paradigmas sociais. Mas o que parece muito difícil, senão impossível, é
determinar quanto tempo será necessário para que esses paradigmas sejam adotados por uma
parcela significativa da população mundial, se é que um dia serão adotados, tornando em ação
representativa da maioria da população, o que hoje em dia ainda é matéria de debate e
pesquisa.

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