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Um Nove Sete

Zero
(Ou (DE)Lira dos vinte anos o sonho acabou)

Stéllio Evrs.

2010
“A des esprits niais il paraitra singulier, et même
impertinent, qu'un tableau de voluptés artificialles
soit dédié à une femme, source la plus ordinaire de
voluptés les plus naturelles. Toutefois il est évident
que le comme le monde naturel pénètre dans le
spirituel, lui sert de pâture, et concourt ainsi à
opérer cet amalgame indéfinissable que nous
nommons notre individualité, la femme est L'être
qui projette la plus grande ombre ou la plus grande
lumière dans nos rêves. La femme est fatalement
suggestive; elle vit d'une autre vie que la sienne
propre: elle vit spirituellement dans les imaginations
qu'elle hante et qu'elle féconde.
(...)
Tu verras dans ce tableau un promeneur sombre et
solitaire, plongé dans le flot mouvant des
multitudes, et envoyant son coeur et sa pensée à
une Electre lointaine qui essuyait naguère son front,
et tu devineras la gratitude d'un main légère et
maternelle, le sommeil épouvantable.”
Charles Baudelaire

“Este livro é dedicado com sangue, sexo, drogas & rock n’ roll
à uma musa setentista...
Tudo se esconde
E se corresponde
Onde e quando
Eu não sei (...)
Volverina

Me mina
Me nina
No seio sedento da sua terra
Nas garras
Me amarra
Me ama e me entrega
Integra

Me volva
Me vulva
Na vórtice do vinho violáceo
Violenta e lenta que se some
Se sorve
Na sua esfera

Me manda
Me lembra
Desse sentir se inteiro
No meio
No seio
Inseparável
Da sua senda
Parece censura
Parece tortura
A usura
(Ben)dita
Ditadura (...)

“Com as mãos frias mas com coração”


J. Macalé
Quando foste embora
Eu não chorei
Apenas senti um beijo ausente
Na desarrumação do apartamento desolado
Cantei uma canção em francês

Quando te vi pela primeira vez


Sequer me lembro
Porém nunca vim a esquecer

O mundo lá fora é o suicídio


E eu não sei dizer se sei

Mas volta numa revolta de maio


Na névoa da cidade esqueça
As sombras das paredes
Esconderijos de amores e enganos
Câmara pra melodia que não chorei
Em frente ao espelho e pensei desenhei
Lembranças vidas passadas
Que não esquecerei
Como anjos que passam cantam
Como eu não sabem e somem somente
Revês chanson de souveniers...
Volta

A sinta no teu peito humano


E a tenha pra sempre
No sonho do teu adeus
Sempre
Sempre
Sempre
(...)
Meu sonho é tão tristonho
Meu coração um sertão de dor
Só sei que nada sei e também
Só sei ser cantador
Catador de papelão
Programa de computador
Palavras em transfusão no seu coração
Trovando tocando trocando
Mutuamente
Esse sonho esse amor
Eu não tenho casa
Se não essa asa
Essa concha de caracol

Eu sou nada
Sou lágrima emanada
Quando arrebenta a corda sol

Quieto, só, tristonho vou


Me embrumando nesse sonho
Com a viola qual um louco
Na calçada esquecida
E pelo mundo
Vasto, vago
Canto a morte dessa vida!
S.R.D

Sem nada
Definido
Não preciso
Nada pode me prender

Vida vadia
Sem coleira boemia
Nos vicia de alegria
Alicia

Rua
Definição perfeita
Da insustentável leveza de ser

Sem raça
Nem taça
É massa
A vida que levamos juntos

Elegia
Incensos de ópio descaso
Escadas sem fundo
O sonambulista
Desce ao descuido escuro
Das vozes perdidas
As piras
Ensandecidas no imenso solar
Pendendo no pélago
para o nunca
Sempre sem pensar
Pálidos pedaços
Jogados nas sombras

Sirênios sentidos
Sinuosos
O torpor anilescido
De sobrancelhas sem porto
E mãos no ar descrevendo
O ensaiado sudoríparo
Movimento do adeus
Fitando norte
O longe milhas e milhas
De mar ou morte
O pequeno ponto se perde
Para sempre
No tênue horizonte sem ninguém

não os saiba dizer...)


Cancionata Sonírica para M.

Imprescindo te indizer
O desabraço longilíneo, ilúsino
Só teu

Captadores
Melancolescem de microfonias
Sístoles
P'rum retorno reticentista
Retiflorido
O acorde encordamento-farpado
Sonírico

Das Fendas
Fugas imaginantes em fá sustenol
Das soledades
Ó sólos d'ocaso
Solstícios Que languesquecem si
Amortecentes
Devanuando-me sem,

Imprescindo te
Indizer te
Nueterna Voragem Melotrônica
Linosfera infínida
-Amplifundem Vocalizem-
Silento só
Sem teu sonsentir

Crepusculário III
Crepúsculo
Dolorácrima
Imensa de adeus

O adeus de todas as coisas

Presentes os olhos se perdendo


Piscam Lástimas além
Das coisas
Mudas imundanas
Do mundo
Nada nunca terá dor maior

Crepúsculo

Dói
Maior do que tudo
A dor de tudo
De todos
Sós
Sob sóis soturnos
Solanáceas dolorácrimas
Despedem si despedaçam

Ó crepúsculo

Maior
Do adeus derradeiro
Céu & inferno
São contíguos
São contínuos
São contigo
(...)

Retalhações do ideal

Spleen de limões pelo chão


No inverno do inferno no pátio interno
Esquecimento estóico
Desde que o mundo é mundo
E Platão nele pensou
Torpor de séculos remotos
Sinto um esgar embrulhado
Descompassar no meu ermo pensar
Misantropia de meu tempo
Dias nublados se desperdiçam no vento
Desconexos, insubstanciais
Dias sem pé nem cabeça
Reivindicando o seu me esqueça
Suicídios emparedados e janelas
Abertas ao descaso
Para nunca mais voltar
Expresso

Expresso a pressa
Da hora que não passa
Me amassa
E estressa
O povo prensado
Na janela aprisionada
Do lado do sol abscesso
Que não cessa
E nega espaço
Ao céu manchado de cassis

Expresso a insegurança a ânsia


O surto de sumir
E surdos seguem com seus i-pods
Para o próximo ponto
Sem direção
Sem liberdade de expressão
Sem sequer informação
Se enforcam nas cordinhas
Solícitas
Solitárias ilícitas
All the lonely people

Sou um ponto
Atônito tonto
No desencontro
No desencanto
Andando em círculos
Do inferno
PARANOISE (Ou smells like a coca-cola
generation)

Para more
Morrer emos
Para não
Parar
Porque somos jovens
Temos tempo para perder
Beber

Poder
Foder
Nosso tempo agora
Programa brasa viva
No meio da praça debaixo da ponte
Experimentemos
Somos barulho protesto
Pretexto
Extrasseremos
Laranja mecânicos
Pródigos prodígios
Produto da própria solidão
Amantes zunindo no escuro
Luz negra do porto morto
Ponto do não retorno
Somos para a noite o som
Para marte a morte amantes somos
Arte
Apenas parte
Apenas pontos
Somos a sombra
Do próximo sound

Tenho medo de apagar a luz


Tenho medo de ir completamente
Tenho medo do caos do cosmo
Tenho medo
Senha
Sonho

Tenho medo que o som se vá


Tenho medo desse fim constante
Tenho medo e é cedo o degredo
Tenho medo
Tenho
Senda
Sondo

A menina
Bonita dormindo
Cobertores e meias
Descobertas sonham
Se entre amam lençóis e conchas

Felina a menina
Sonhadora escolhe entre
Homens irrealizados que a querem em namoro
Igrejas e véus esperam flores amarelas
Junto do sonho
Litúrgico encaracolado entre
Músicas distantes
Num outro poema que rubicundo some
E boceja bom dia

A menina
Se espreguiça
O sol se defraciona
Na janela
O sonho ainda

A menina

Samba espacial
I.

Menina
Maiúscula
Divina
Maravilhosa
Querida
Foi ela
Quem tanto me incita
Menina bela
Menina maldita
II.

Eu estou em cima
Eu estou em cima

Me rima
Menina
Me instiga
Me instila

Me tira não
Atira
Mentira
Me inspira

Eu estou em cima
Eu estou no clima

Me rima
Menina
Me estima
Me incrimina

III.

Maiúscula menina
Musa masculina
Pura messalina
No mini-stério do amor
O “V” da paz e da flor

Toda ditadura
É sensual

E cada luke strike tem seu fim


E eu choro
Penso imploro
Que o meu seja assim

Minha
Menina
Me rima
Maiúscula
Me oscula
Me usa
Minha musa
Ursa maior

Foi ela
Não era ela
Foi ela
Quem me jogou com violão e tudo
Pela janela

Tenho aqui

Uma folha em branco

Um coração liquefeito

Um sonho instante

Pensamentos são silêncios em palavras

Um eclipsa o outro, simbióticos.


E a vontade de te dizer esse indizível

Essa verdade talvez plena que não se deixa transparecer

Por que tímida assim se tornou

E desesperada ainda que

Inacabada se abre

Como a glória-da-manhã

Meu primeiro amor

Meu último desejo

Pensar em ti

É como esquecer o inesquecível

Confessar ao invisível

Redimir-se de um crime inafiançável

Alcançar um sonho instante

Inalcançável

E ainda assim não te ter

Para sempre

Tenho aqui

Palavras inacabadas

Nas sístoles encouraçadas pensamentos

Um encontro imaginário

Inesperado

Enquanto tento respirar

Essas palavras que pulsam orvalhadas

No silêncio insone

Desta madrugada
De folhas em branco

De poemas apaixonados, inacabados

Pálidos pedaços calados

Dos sentimentos que não sei dizer

(Queria que soubesses

ainda que não os saiba dizer...)


O mundo embaçou
Ou foram meus óculos (?)

Se às vezes penso
Em desistir
É porque prefiro isso
Do que nunca mais ver
O céu azul
Das tardes em que estive com você
Me desculpe
Eis a única coisa que me arrependo
Sem você
Sou só

Queria um outro dia


Um outro dia, tão esperado dia
Tudo se foi
Nada volta mais
Estou aqui, ponto do não retorno
Volte para mim
Ou não...
Ao dar-te a facada no ventre
Foi que entendi o amor
Esse tudo e nada inflamável
Indelével
Ainda que confuso em ódio e paixão
Um assassínio
Nunca me pareceu tão terno e justo
Sincero sentimento de abnegação

Meu coração quer sangrar até a última gota


No escuro no fundo no fim na terra

Sim, sou o menino que fugiu de casa


E em delírios notívagos chama pela mãe
Me deste teu peito para me consolar e me perder
Como uma mãe
Como uma puta
Foste o amor que tudo vê
Foste um desses sonhos
Que fogem no despertar
Entre seus lábios o último beijo
Em minhas mãos o sangue – tão puro belo –
Lágrimas inodoras entre as espinhas do meu rosto
Dei-te as costas para sempre nunca mais
“Volta pra casa mulher!”
Senhora do drama
Me engana
Seja serena
Engraça a cena do caos tropical

Qual Gal. Pagu pagã


Bethânia gótica
Essa mulher
Esse cara
Me devora
Me esfinge
Me mostra

Sou sua
Só seu
Só sou
Sou só
Não preciso aprender

Olhos infantis
Olhos de bandido
Porque sonha
Porque quer
Para o que der e vier

Me destrua
Me deixa nua
Me deixa noite
Minta
Sinta a sexta dessa sina
Devolva devora
Aflora o agora
Na hora zero de nossa história

Musa do amor de
minha morte
Mulher elemental

Consumado o ato
A saudade motriz

Sangra acre de dor

O nome dos mortos


Escrito nos muros
Do mundo letal
Clamo aos deuses do
escuro
A liberdade imortal amoral
incondicional

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