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KINECT: Brasileiro também produz inovação radical!

Para quem não conhece, o Kinect é um novo conceito em jogos, diga-se de


passagem, revolucionário. O equipamento, que foi lançado pela Microsoft
no final do ano passado, capta os movimentos dos jogadores e os transfere
para dentro dos games, sem a necessidade de joystick ou controles.

O conjunto de câmeras do Kinect foi concebido para mapear o jogador e o


ambiente em que ele está. Assim, o sistema consegue identificar onde estão
braços, pernas e a cabeça do usuário, transferindo seus movimentos para
dentro da tela. Todos os menus do console podem ser acessados com
simples gestos, dispensando o uso de controles e botões. Ao ligar o
aparelho, imediatamente ele visualiza a sala e o jogador, realizando um
pequeno movimento para baixo e para cima. E tem mais, o equipamento
possui um sistema de reconhecimento de voz, permitindo controlar a
reprodução de vídeos e de músicas, inicialmente nas línguas inglesa,
japonesa e espanhola. As demais línguas, incluindo o português brasileiro,
serão adicionadas nos próximos meses, durante as atualizações dos
softwares.

Mas as novidades não param por ai. Quem assina o invento é Alex Kipman,
um cientista brasileiro, natural de Curitiba. Filho do embaixador do Brasil no
Haiti, Igor Kipman, Alex já morou em Roma e Miami, antes de se mudar
para Nova York, há 15 anos, onde se formou em Engenharia de Softwares
pela Rochester Institute of Technology. Fã de videogames desde
pequeno, Alex conta que o Kinect nasceu há 3 anos, quando estava
passando uns dias na chácara de sua tia, perto de Curitiba. Observando
como as pessoas se tornaram escravas da tecnologia dos botões e
controles, perguntou-se como seria não depender de nenhum tipo de
dispositivo eletrônico. Foi aí que o “Projeto Natal”, primeira denominação
do Kinect, face à paixão de Alex pelo Nordeste, começou a nascer. Uma
tecnologia onde você é o controle, conforme demonstra o vídeo abaixo:

http://www.vimeo.com/20421615
Mesmo considerando meu limitado conhecimento sobre Engenharia de
Softwares, ouso repetir o jargão popular, Kipman atirou no que viu e
acertou no que não viu. Penso nas inúmeras aplicações que poderão advir
da tecnologia do Kinect. Simulações nas mais variadas áreas do
conhecimento; de aulas de medicina, com cirurgias virtuais, a aulas de
ginástica; aplicações e testes de técnicas futebolísticas; incrementos de
recursos nas vitrines sensoriais de lojas de vestuário, etc. No campo
corporativo, imagino como os chamados jogos empresariais poderão ser
enriquecidos. E o que dizer da contribuição que os estímulos sensoriais do
Kinect poderão trazer para o desenvolvimento cognitivo na área da
Psicologia? Aliás, sobre este último, recomendo a leitura do depoimento
emocionado de Arilson Karmo no Portalxbox no post intitulado “Kinect
fez minha mãe chorar.”

Vocês acham que estou exagerando? Então confiram no vídeo abaixo as


diversas interações possibilitadas pelo equipamento:

http://www.vimeo.com/20421059

E ainda há quem diga que brasileiro é criativo, mas não inovador. Nos
últimos anos, alguns inventos contradizem essa afirmação. Além de
Kipman, podemos citar Fernanda Viégas, a carioca que ficou conhecida
como a encantadora de dados, com a criação do site colaborativo Many
Eyes; Ricardo Ferreira, químico formado pela UNICAMP, que vem
atraindo a atenção dos profissionais da Universidade da Califórnia-
UCLA, com seu estudo sobre cristais capazes de absorver CO2 da
atmosfera; Artur Ávila, matemático carioca, diretor do Centro Nacional
de Pesquisa Científica em Paris, e cujas equações, segundo os mais
renomados profissionais da área, são verdadeiras obras de arte; Vanessa
Vilela, a mineira que criou a marca de cosméticos Kapeh, definida pela
ONU como uma empresa com forte senso de responsabilidade social, que
usa o café como matéria-prima, fruto de 3 anos de estudos e parcerias com
universidades e institutos de pesquisa; Kiko Mistrorigo e Célia Catunda,
os brasileiros donos da Produtora TV PinGüim, que faz o desenho
Peixonauta, animação que desbancou sucessos tradicionais e é o desenho
mais visto do Discovery Kids, hoje exportado para 50 países; Vítor
Araújo, o pianista pernambucano, apontado pela Revista Galileu como
uma das promessas da música brasileira. Apesar de sua formação erudita,
Vítor inova misturando em seus arranjos influências tão diferentes quanto
Heitor Villa-Lobos, Johan Sebastian Bach, Luiz Gonzaga e Chico Buarque,
que estão em seu CD e DVD de estréia “TOC – Ao Vivo no Teatro Santa
Isabel”. Aliás, abro um parêntese para recomendar a magnífica
interpretação de Vítor Araújo em "Comptine D'Un Autre Été", do
compositor francês Yann Tiersen.

O que há em comum com a maioria desses profissionais, além da


nacionalidade brasileira, é o fato de terem que ir para o exterior para
desenvolver suas habilidades em toda plenitude. Talvez o problema não
esteja no brasileiro, mas sim nas nossas organizações. Estas, sim, precisam
ser ágeis no desenvolvimento da cultura para assimilar, reconhecer e
investir na inovação. Normas disciplinares, legislações rigorosas, ausência
de políticas arrojadas de treinamento e seriedade excessivas podem se
transformar em fortes predadoras da criatividade e, conseqüentemente, da
capacidade inovativa. Quando o assunto é inovação, não há meio termo. Ou
faz, ou não! Inovar exige investimento contínuo em aquisição e
disseminação de conhecimentos, pesquisa, treinamento, parcerias, acesso a
tecnologias, abertura de debates, estímulo a atitudes colaborativas e
questionamentos constantes, em todos os níveis.

Muitas vezes ideias e projetos fabulosos são rejeitados com argumentos do


tipo: “não é o momento”; “não estamos preparados”; “está fora da nossa
realidade”; “estamos nos preparando e evoluindo, mas chegaremos lá!”.
Resta-nos saber, “lá” onde? Afinal, como diz a turma jovem, “a fila anda”.

Uma ótima semana a todos!

Recife, 28 de fevereiro de 2011.

Claudia Coutinho.

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