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As duras e necessárias Verdades do documentário

“Inside Job” de Charles Ferguson

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Se você se interessa em saber muito mais do que é dito pela imprensa comercial
(comprometida com o sistema econômico-financeiro) sobre as causas e efeitos da crise
financeira mundial de 2008, você deve assistir ao documentário “Inside Job”, que no Brasil
teve a tradução de “Trabalho Interno: A Verdade da Crise”, e que ganhou o Oscar (mais
que merecido) de melhor documentário em 2011. 

Este documentário, junto com o de Michael Moore, “Capitalismo, uma história de


Amor (2010)”, nos apresenta uma excelente perspectiva dos crimes financeiros elaborados
e executados por uma minoria no interior de Wall Street com a conivência de políticos e
incentivos dos grandes bancos e em detrimento das pessoas que acreditavam no mercado
e que, por isso, perdem seus empregos, economias, casas, carros, poupança e que, não
tendo a quem recorrer, precisam baixar à cabeça diante do capitalista “deus” mercado em
sua ânsia de destruição do ecossistema e da dignidade humana.

Baseado em entrevistas com pessoas de dentro de Wall Street, com


pesquisadores, com autoridades, com políticos e trabalhadores, todo o documentário
mostra os tentáculos do mercado financeiro pelo mundo e sua doutrina neoliberal,
ideologia que racionaliza e encobre a exploração da humanidade e da natureza para a
alegria e prosperidade de uma sempre menor minoria.

A pergunta do filme é: como é que se causa uma crise de âmbito mundial, com
conseqüências sociais graves e uma quebradeira de meros 20 trilhões de dólares? A
resposta é: por meio de uma farra de negócios especulativos e manipulação de
informações. 

E enquanto as benesses da farra são capitalisticamente abocanhadas por uma


minoria, já o prejuízo é socializado para todos: a conta das falcatruas do capitalismo é
cobrado de milhões de simples pessoas que não participaram da festa, mas que são
pressionadas a pagar pela decisão de alguns através de impostos e medidas econômicas
de arrocho (lembram-se da Grécia, da Irlanda, de Portugal? Ou daqui mesmo do Brasil,
com a alta dos juros e o do tal "Superávit Primário" - que só existe aqui - para pagar os
juros da dívida interna aos famintos bancos? Ou a caça aos direitos trabalhistas?). Em
vários países (inclusive no Brasil), as crianças inocentes já nascem devendo, e elas
pagam com fome e miséria a bonança dos banqueiros...

O objetivo do documentário Inside Job é o de apresentar todo o comportamento


criminoso, ganancioso e calculista de agentes políticos e econômicos que, pretendendo
levar às últimas conseqüências o mote do neoliberalismo de maximização dos lucros e
minimização extrema dos custos (o que inclui benefícios sociais) conduziu à crise
econômica mundial de 2008. 

O exemplo dos banqueiros, tal como mostrado no filme, causa espanto e revolta,
especialmente por serem eles os arautos da desregulamentação desenfreada da doutrina
neoliberal que os deixou fazer o que bem quisessem com a economia mundial,
destroçando as políticas e leis locais de países diferentes, sempre buscando a
desregulamentação do setor financeiro para benefício de uma elite de especuladores. O
exemplo dos lucros astronômicos de bancos como Itaú e Bradesco (na casa de dezenas
de bilhões de reais ao ano) deixa claro que este enriquecimento advém do
comprometimento do dinheiro que deveria servir á sociedade e que vão parar, em parte,
nos bancos também devido aos juros surreais cobrados no Brasil.

Dirigido por Charles Ferguson (mesmo diretor de No End in Sight, documentário
que desnuda o governo de mentiras de George W. Bush) e narrado por Matt
Damon, Inside Job, Trabalho Interno, apresenta ao espectador a história do racionalismo
mecanicista em busca gananciosa de lucro que é produto de Wall Street e seus agentes
pelo mundo, e que tanto faz para que a imprensa (quarto poder financiado) tente
minimizar, até mesmo para que 2008 seja esquecido, possivelmente para que o enredo do
vampirismo se repita.

Em No End in Sight, o documentário anterior, Charles Ferguson faz uma análise
fria sobre o governo de George W. Bush e sua conduta megalomaníaca em relação à
Guerra do Iraque e a ocupação do país, questionando as mentiras utilizadas pelas
autoridades norte-americanas para sustentar a ocupação. Agora, em Inside Job, mais uma
vez o diretor expõe uma teia de mentiras e condutas criminosas que prejudicaram
seriamente a vida de milhões de pessoas – dores, miséria, violência e prejuízos que
continuam a atingir inocentes mundo à fora.

Uma das chamadas do documentário diz: “Se você não ficar revoltado ao final do
filme, você não estava prestando atenção”, e, de fato, é difícil evitar de, ao assistir o filme,
sair com um gosto amargo de revolta diante da realidade de sermos todos (ou quase
todos, visto que uma ínfima parte está muito bem) vítimas da especulação traiçoeira e
alienadora de uma minoria. Revolta que se torna ainda maior ao saber que, ainda gora,
muitos dos causadores da crise, dos empresários à banqueiros, ao invés de estarem
presos, voltaram a dar “conselhos técnicos” c na mesma Bíblia neoliberal para governos e
sociedades. Algumas das mais novas vítimas são os gregos, irlandeses, espanhóis,
portugueses e outros povos europeus que estão sendo “convidados” a “aceitar a ajuda do
FMI”.  De fato, mesmo depois da Crise de 2008, todas as iniciativas e pretensas “reformas”
do sistema dos bancos foram feitas com o único objetivo de enriquecer ainda mais os já
ricos às custas da pauperização das demais camadas da sociedade, o que vem
aumentando visivelmente nos últimos anos... Mas não era, depois da queda do Muro de
Berlim, o “Fim da História”, nas palavras do estúpido Francis Fukuyama, com o vencimento
do Capitalismo cujas “leis” de mercado trariam desenvolvimento e felicidade a todos? O
neoliberalismo e a globalização tem, isso sim, é comprometido cada vez mais a qualidade
de vida de bilhões de seres humanos e não humanos ao redor do mundo e transformado a
política em um jogo de sepulcros caiados para impressionar por fora, guardando todo o
tipo de podridão e interesses escusos, por dentro.

Os arautos do Neoliberalismo e das privatizações, da racionalização que destrói


famílias e sonhos e da desregulamentação das leis de controle financeiro para a defesa do
cidadão-contribuinte-eleitor (royalties ao grande Hélio Fernandes) são também os arautos
da destruição das leis em favor do bem-estar social e da proteção ao meio-ambiente e
seguem soltos com seus carrões e mansões e condomínios fechados, investindo na
especulação imobiliária, comprando prefeitos e mandando até mesmo destruir pistas de
pousos em Aeroclubes aqui no Brasil (caso do Aeroclube da Paraíba), como se nada
tivesse ocorrido. 

Inside Job A Verdade da Crise, mostra as entranhas fétidas deste mundo de


cobiça, cinismo e mentira que é o capitalismo especulativo das Bolsas de Valores e dos
Bancos. São estes criminosos de colarinho branco que seguem mandando, desmandando
e dando as cartas do jogo de exploração em todo o nosso planeta.

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