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Uma linda menininha de olhos cinza esverdeados olhava para o céu com um sorriso
brincalhão nos lábios, o mesmo sorriso de sua amiga. A pequenina mergulhada na relva
verdinha da primavera de Nova York, flores de todas as cores balançavam ao vento,
soltando pétalas no ar. A folhagem das árvores tremeluzia a cada sopro forte do vento,
suavemente a moçinha se levantou, os fios loiros brilhando no sol. Seu sorriso
aumentou-se ainda mais quando me viu, ergue-se do chão, limpando o vestido rodado
azul com as mãozinhas pequenas.
- Tia Thalia! –ela gritou a me ver, vindo em minha direção com os braços estendidos.
Estendi os braços e peguei-a no colo, rodopiando-a no ar. Seu riso meigo e doce
ecoando pela mata.
- Você trouxe alguma daquelas balas? – questionou ela ansiosa, apertando as mãos.
Sorri, abrindo minha bolsa e retirando de lá uma sacola cheia de ambrosia. Ela pegou da
minha mão afoita, e degustou uma bolinha.
- Sei... Eu sei! – ela revirou os olhos como a mãe fazia. Senti um aperto no coração. A
saudade era algo tão ruim para aqueles que são eternos.
- Sarah! Não! – resmunguei quando a menina desatou a correr pelo gramado, parando
quando chegou perto de um rio, a correnteza quase não estava presente, a água cristalina
soltava pequeno reflexos da linda imagem da natureza. Sarah colocou o pezinho
descalço na água, rindo divertida da minha preocupação quando ela subiu em uma pedra
meio suja de lama. –Sarah, aí é perigoso. Venha para cá!
Ela negou, emburrando a cara. Suspirei rendida e tirei minhas sapatilhas das caçadoras,
deixando-as de lado e encarando o rio. A água estava morna e bem agradável. Escutei o
canto de um passarinho vindo da mata mais afastada, aquele lugar parecia um paraíso.
- Ok! Você venceu. – exclamei, escalando a pedra onde ela estava sentada. Sentei
arfando ao seu lado, e a encarei. Seus olhinhos estavam fixados na água, precisamente
em seu reflexo. –Algo que deseja me perguntar, minha querida?
- Eu queria saber algo sobre meus pais. – ela sussurrou triste. Fiquei alguns minutos
pensativa, se deveria ou não falar sobre Perseu e Annabeth, a história era bem pesada
para uma criança de apenas seis anos. Ela me olhava com olhos cheios de água,
apertando a barra do vestido como se suplicasse.
- Sarah, é difícil...
- Todos dizem isso! Tio Nico nunca quis me contar, fala que eu sou muito pequena e
que com o tempo, eu iria entender tudo. – sua voz saia magoada.
- Não. Eu quero saber agora. – ela me olhou ressentida, apertando as pálpebras fazendo
as lágrimas caírem pelas bochechas. Enxuguei os trajetos das lágrimas e suspirei,
olhando para céu como se em qualquer momento meu pai poderia me ajudar naquela
tarefa.
- Irei contar para você a história de uma linda princesa da Grécia e um semideus. Quer
ouvir? –ela negou.
- Primeiro eu quero ouvir a história dos meus pais. – ela choramingou, flexionando as
pernas e colocando a cabeça nos joelhos.
- Então... – falei risonha. Apesar de eu estar bem constrangida e emocionada com aquela
conversa. – Era uma vez, uma linda princesa chamada Annabeth, ela vivia em Atenas
junto com pai em um lindo castelo de mármore branco. Ela era tão loirinha quanto você,
meu anjo. Sua inteligência provinha de um único fato que até então ninguém sabia o
certo.
Sarah inclinou a cabeça para o lado para me ouvir melhor, seus dedinhos tamborilando
na rocha.
- Somente o rei sabia o segredo da sua filha. Ela era uma semideusa, filha de Atena. Um
dia, em uma briga com a sua madrasta, Annabeth descobriu todo o seu segredo. A dor
da mentira fora tanto que ela resolveu fugir do castelo e sumir pelo mundo. De noite, ela
saiu escondida do pai, seu trajeto era cheio de monstros perigosos que queriam matá-la.
A mãe dela a ajudava indiretamente, enviando dois amigos para ela. Um deles era um
semideus filho de Hermes e uma semideusa filha de Zeus, chamada Thalia. Os dois
eram servos da querida princesa, mas a ajudaram a chegar em vida até um lugar seguro.
Sua amiga Thalia dera sua vida pela princesa, e seu pai lhe transformou em um lindo
pinheiro.
- Desculpe-me, eu quis dizer pelo mestre dos vilões, o voraz Cronos. – corrigi, fazendo
uma voz assustadora. Ela arregalou os olhos e encolheu os ombros com medo.
- O plebeu Perseu Jackson, com sua bondade e sinceridade, conseguiu derrotar todos os
obstáculos que o perseguiam durante a trajetória. Annabeth ficava encantada pela
coragem do seu amado, mas nunca admitia que possuísse sentimentos fortes por um
simples plebeu.
- Ela era da realeza! – expliquei. – Uma princesa não poderia casar-se com um plebeu.
Além do mais, sua mãe, a deusa Atena, não iria gostar de vê-la com um filho de
Poseidon.
- Espere, moçinha! Eu ainda não acabei com a história. – animei. Ela sorriu feliz,
batendo as mãos com excitação.
- Que lindo.
- Mas a vida não é tão simples. – falei angustiada.
- O que aconteceu?
- A Princesa teve uma linda menininha de cabelos loiros, seus olhos mesclados
fascinavam todos que a olhavam. Um dia, o Oráculo profetizou a morte dessa linda
menininha... –minha voz saiu embargada pela tristeza. – A pequena moçinha tão
poderosa iria morrer na quarta semana de vida.
- Não, querida. Eles sacrificaram suas vidas em prol de algo maior. – o rosto da menina
estava pálido e os olhos tristes. – Em prol do amor pela sua filha.
- Eu sei minha querida. – puxei a pequena para meu colo, e acariciei sua face com amor.
– Eu sei que é triste.
- Isso eu não sei, minha querida. – beijei seu nariz. – Você que irá me contar!
A melhor dádiva de um ser humano é a sua capacidade de dar a si mesmo para quem se
ama, sem se importar com as conseqüências no futuro.