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GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

HISTÓRICO E CONCEITO DO
DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL
- APOSTILA 1 -

Prof. Ilton Perpétuo de Oliveira Lima

CESTUPI
TUPI PAULISTA-SP
A preocupação ambiental que a humanidade vem tendo é fato muito recente na
história; data da década de 1960. Raras exceções de algumas mentes mais abertas e com
uma visão sistêmica, puderam antever os problemas ambientais que a humanidade
estava provocando. Anteriormente havia um conhecimento, muito empírico, sobre
questões isoladas de algumas espécies animais e vegetais, sobre mudanças climáticas ou
outras, mas eram raras e sem que se notasse uma efetiva participação antrópica nas
transformações da Terra.
Até os séculos XVII e XVIII, quando diversas mudanças começaram a ocorrer
no pensamento humano e consequentemente no modo de produção, processo que
denominamos Revolução Industrial, o ser humano não tinha como foco ser um grande
consumidor e não havia bens de consumo em quantidade suficiente. O desejo se
restringia a muito pouco. Aqueles que possuíam capital o acumulavam em terras e
animais, ou mesmo em minerais raros. As mudanças nos modos de produção e o
direcionamento das pessoas no sentido campo-cidade, abriram espaço para se produzir
cada vez mais. Os desejos passaram a aumentar. O ser humano passou a desejar coisas
cada vez mais, começou a acumular bens e depender de capital em maior quantidade.
Entramos na era do consumo em larga escala.
Como resultado de grandes produções e capital em abundância, nos meados do
século XX adotou-se um padrão de consumo jamais imaginado. A diferença entre os
povos ricos e pobres foi aumentando, o capital se acumulou para alguns; para se ter uma
idéia das diferenças, no ano de 2000 cerca de 25% do carbono liberado na atmosfera
anualmente era feito por apenas 4% da população mundial (cerca de 250 milhões de
pessoas). A liberação de carbono é um meio de se medir o consumo de energia gasto
para produzir e viver. Caso esse modo de vida, que comumente é chamado de “modo de
vida americano” (American Way of Life), conseguisse ser adotado por todos os
habitantes do planeta, teríamos que ter 6 vezes mais petróleo, carvão, ferro, cobre,
carros, cimento, madeira, etc. do que temos hoje. Descobriu-se que apenas um planeta
Terra seria insuficiente para tanto.
Aliado a tantas facilidades, ao crescimento da ciência nas áreas de saúde,
alimentação, química e nas diversas áreas de conhecimento, o homem passou a viver
mais, a expectativa de vida aumentou muito e o número de pessoas no planeta se
multiplicou em menos de 40 anos. Da década de 1950 para a de 1990 o número de
pessoas passou de 2,5 bilhões para mais de 5 bilhões, um crescimento insustentável do
ponto de vista ambiental e de distribuição de recursos.

CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO MUNDIAL

7.000

6.000

5.000
população (em milhões)

4.000

3.000

2.000

1.000

0
1 501 1001 1501 2001
ano

As diversas áreas da ciência começaram a detectar que não seria possível


conviver com tal situação de explosão populacional, consumo de recursos naturais e
poluição. Essas foram as primeiras preocupações ambientais que se iniciaram na década
de 1960. As contestações dos jovens hippies dos anos 60 falavam das preocupações
com os rumos que tomava a humanidade. Eles combatiam as crenças do mercado em
um crescimento econômico sem limites. Em 1962 Rachel Carson lança o livro
“Primavera Silenciosa” que trata dos usos e efeitos químicos da aplicação de pesticidas
sobre os recursos ambientais das florestas e campos de produção agropecuários.
Em 1968 um grupo de intelectuais e empresários fundou o Clube de Roma que,
em 1972, publicou o relatório "Limites do Crescimento", denunciando que o crescente
consumo mundial ocasionaria um limite de crescimento e um possível colapso. A
preocupação era com o crescimento populacional, os recursos naturais não renováveis e
a poluição.
Em 1972 a ONU realizou em Estocolmo, Suécia, a Primeira Conferência das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano, conhecida como Conferência de
Estocolmo. Participaram 113 países, 19 agências multilaterais e mais de 400 ONGs e
organizações intergovernamentais. Um dos resultados da conferência foi a criação do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Nas décadas de 1970 e 1980 diversos acontecimentos contribuíram para que as
preocupações ambientais aumentassem e levassem a previsões catastróficas. Em 1973
os preços do petróleo triplicam de preço e leva os EUA e Japão a uma grande crise no
seu crescimento. Em 1979, treze dias após o lançamento do filme Sindrome da China
(com Jane Fonda), ocorre o acidente nuclear em Three Mile Island nos EUA. Houve
vazamento de material nuclear radioativo e água contaminada para o Rio Susquehanna;
mais de 15.000 pessoas tiveram que ser evacuadas. Em 1984 na cidade de Bhopal
(Índia) 40 toneladas de gases tóxicos vazam de uma fábrica de agrotóxico da Union
Carbide (hoje Dow Chemical Company) e contaminam mais de 500 mil pessoas,
causando mais de 27 mil mortes. Ainda hoje cerca de 150 mil pessoas sofrem efeitos
dessa intoxicação e cerca de 50 mil pessoas estão incapacitadas para o trabalho. A
fábrica foi abandonada após o desastre e resíduos continuam a ser espalhados pela área
e contaminando água e solo. A companhia não assumiu o acidente e se comprometeu a
indenizar apenas 470 milhões de dólares, menos de US$ 0,48 por ação. Em 1986 ocorre
um acidente nuclear em Chernobyl (ex URSS e atual Ucrânia), onde o número total de
mortos até hoje ainda é motivo de discussão; para a ONU foram 4.000 mortos, para a
organização ambientalista Greenpeace foram cerca de 100.000 e um estudo científico
britânico avaliou entre 30.000 e 60.000 mortos. Em 1987 ocorre o acidente radioativo
em Goiana com uma cápsula de Césio 137. O acidente expôs à radioatividade um total
de 112.800 pessoas, sendo que destas 129 tiveram contaminação interna. Quatro
pessoas morreram. Até hoje há muitas pessoas que desenvolvem doenças pelo fato de
terem sido expostas. A limpeza do local produziu 13,4 toneladas de lixo atômico,
acondicionadas em 14 conteineres, enterrados em uma vala de 1 metro de espessura de
concreto e chumbo, e sobre a vala foi construída uma montanha artificial. O material
permanecerá ativamente perigoso para o meio ambiente por pelo menos 180 anos. Em
1989 houve um derramamento do petroleiro Exxon Valdez no Alaska (EUA) que
matou, segundo as estimativas, 250.000 pássaros marinhos, 2.800 lontras marinhas, 250
águias, 22 orcas e bilhões de ovos de salmão. O mundo todo assistiu pela televisão as
cenas dos animais em agonia.
Muitos outros acidentes vêm ocorrendo pelo mundo e mostram que as atividades
que o ser humano tem praticado podem ser muito perigosas aos próprios seres humanos,
a fauna e flora, ao ar, água, enfim, a todo intrincado ecossistema criado durante milhares
de milhões de anos.
No início da década de 1980 a ONU indica a primeira-ministra da Noruega, Gro
Harlem Brundtland, para chefiar a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Em 1987 essa comissão publica um documento intitulado Nosso
Futuro Comum ou Relatório Brundtland, que propõe que o desenvolvimento sustentável
é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de
as gerações futuras atenderem às suas necessidades”. Além do conceito de
desenvolvimento sustentável, propõe uma série de medidas para promover o
desenvolvimento sustentável, dentre elas:

• limitação do crescimento populacional;


• garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo;
• preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;
• diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso
de fontes energéticas renováveis;
• aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em
tecnologias ecologicamente adaptadas;
• controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades
menores;
• atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
• adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de
desenvolvimento (órgãos e instituições internacionais de financiamento);
• proteção dos ecossistemas supra-nacionais como a Antártica, oceanos, etc, pela
comunidade internacional;
• banimento das guerras;
• implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização
das Nações Unidas (ONU).

Em 1988 acontece a Conferência de Mudanças na Atmosfera, em Toronto,


Canadá, e 1990 sai o Primeiro Relatório de Avaliação do IPCC, em Sundsvall, Suécia,
sendo que ambos eventos tiveram importância para a preparação da ECO 92. Em 1992 a
ONU realiza a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento, conhecida como ECO 92, Rio 92 ou como Cúpula da Terra, realizada
no Rio de Janeiro. Pela primeira vez foi consagrado que os danos ao meio ambiente
eram majoritariamente de responsabilidade dos países desenvolvidos. Na ECO-92
foram elaborados os seguintes documentos oficiais: A Carta da Terra; três convenções
(Biodiversidade, Desertificação e Mudanças Climáticas); uma declaração de princípios
sobre florestas; a Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento; e a Agenda 21
(base para que cada país elabore seu plano de preservação do meio ambiente).
Participaram inúmeros chefes de Estados e foi um marco para a questão ambiental. Uma
das questões que mais se nota nessa época é a mudança no debate ambiental; além das
questões de poluição, recursos naturais e crescimento populacional, a questão central
passou a ser a pobreza e a desigualdade Norte-Sul e as mudanças climáticas.
Após a ECO 92 houve a conferência em Kyoto no Japão em 1997, que deu
origem ao Protocolo de Kyoto (redução da emissão de gases que ameaçam a camada de
ozônio e causam o efeito estufa) e outros eventos que ocorreram em New York e
Estocolmo para avaliação da Agenda 21 ou outros compromissos da ECO 92.
Em 2007 o IPCC lança o 4º Relatório de Avaliação sobre Mudanças Climáticas,
sendo um marco para a questão ambiental, especialmente pelas provas científicas
apresentadas de que os efeitos de mudanças climáticas tem uma causa antrópica e não
de causas naturais. No mesmo ano o prêmio Nobel da Paz foi dividido entre o IPCC e o
ex-vice-presidente dos EUA Al Gore.
Recomendação de leituras:
• http://www.eps.ufsc.br/disserta98/bello (especialmente o capítulo 2 da dissertação)
• As páginas sobre os temas aqui relatados na enciclopédia eletrônica Wikipedia, com
endereço http://pt.wikipedia.org
• http://www.espacoacademico.com.br/051/51goncalves.htm
• http://www.economiabr.net/economia/3_desenvolvimento_sustentavel_historico.html

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