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Durkheim no contexto da Teoria Mecanicista (Clássica)

1. - Enquadramento Histórico

A teoria da gestão é um conjunto de ideias surgidas de pensamentos filosóficos,


capazes de gerar grandes mudanças, e das experiências práticas das próprias
organizações

Recuando no tempo verificamos que no Império Romano já era feita gestão com
alguma complexidade e que nos papiros egípcios foi possível verificar a importância
dada à gestão e organização no Antigo Egipto.
Já na Grécia antiga vários pensadores e filósofos preocupavam-se com aspectos
referentes à natureza política e sociocultural da comunidade grega e na organização do
Estado. Podemos referir, entre outros, Platão, Aristóteles e Sócrates, como tendo sido
precursores de pensamentos mais tarde usados nas teorias de gestão no século XX.

A partir do século XVI surgem diversos filósofos que, de certo modo,


contribuíram para aquilo que viria a ser o corpo teórico da teoria de gestão, tendo o seu
contributo assentado essencialmente no facto de serem pioneiros no pensamento
científico moderno. O filósofo René Descartes foi responsável pela criação do método
cartesiano e pelos princípios da “Divisão do trabalho, do Controlo e da Ordem” que
viriam a ser princípios fundamentais das teorias clássica e neoclássica.
Outros nomes que, de certo modo, podem ser citados pelo modo como definiram teorias
económicas acerca da sociedade, como interpretaram o papel do Estado, como
analisaram o papel dos governantes são: Jean-Jacques Rousseau, Karl Marx, Nicolau
Maquiavel.

Desde o século XVI que o conhecimento cientifico foi construído


progressivamente. Alguns dos cientistas mais influentes desde então até ao inicio do
século XX foram Newton, Darwin, Durkheim, Lavoisier ou Adam Smith. Os seus
trabalhos procuram o conhecimento objectivo, universal e determinista, sendo o seu
modelo de racionalidade baseado na aplicação dos métodos das ciências naturais
(observação, comparação e experimentação), com regras metodológicas e princípios
epistemológicos perfeitamente definidos, a todos os fenómenos. A característica mais
marcante nesta forma de conhecimento é a confiança absoluta na capacidade de
explicação e previsão de todos os fenómenos que é dada pela ciência.

A Revolução industrial começa, em Inglaterra, com a mecanização da indústria


têxtil e estende-se rapidamente, com a invenção da máquina a vapor, a todo o mundo
ocidental provocando uma autêntica “revolução” nas fábricas, em que a mão-de-obra é
substituída, em grande parte, pelas máquinas, possibilitando a produção em massa dos
produtos e levando ao crescimento das fábricas em número e em tamanho.
A Revolução Industrial alterou, deste modo, toda a estrutura económica do mundo
ocidental, modificando as relações de produção e levando à necessidade de gerir de
modo mais sistemático as novas organizações económicas que emergiam.

Mas de que modo se conseguiria alcançar este objectivo se não existiam leis,
normas ou boas práticas constituídas para esse efeito?
De facto, a partir do século XIX e mediante as preocupações crescentes relacionadas
com a falta de “teorias” que auxiliassem na gestão destas novas organizações
económicas, foi iniciada a construção de um corpo teórico de conhecimentos que levou
ao nascimento de uma “Teoria da Gestão”.
Várias teorias foram surgindo ao longo do tempo, em várias etapas, evoluindo de
forma dialéctica e aditiva, ou seja, como resultado de pontos de vista divergentes e
construindo cada ideia sobre as anteriores, sendo as novas ideias incorporadas na teoria
da gestão de diversas formas: empiricamente, por análise racional ou por influência das
ciências naturais.

Os primeiros contributos dados para a gestão de empresas foi dado por autores
como Andrew Ure e Charles Babbage, na primeira metade do século XIX, sendo estes
contributos um carácter essencialmente empírico. Só a partir do inicio do século XX é
que a gestão de empresas passou a ser estudada cientificamente.
2. - Da Teoria da Organização Cientifica do Trabalho à Teoria mecanicista
ou clássica

A primeira abordagem feita à “teoria da gestão” tinha um carácter mecanicista,


apresentava procedimentos para uma correcta gestão das organizações tentando
optimizar a execução de tarefas e a estrutura da organização. As bases da “Teoria da
Organização Cientifica do trabalho” foram estabelecidas por Frederic Taylor (1856-
1915) , sendo as suas ideias orientadas para o aumento da eficiência do trabalho.

A organização do trabalho, para Taylor, deve ser iniciada com uma análise
científica de modo a encontrar a melhor metodologia para a execução das tarefas.
As suas ideias foram o reflexo da sua experiência pessoal na Midvale Steel Company,
na Bethlehem Steel Company e em outras companhias em que trabalhou como
consultor. Taylor considerava que maximizando a eficiência, se maximizariam os
rendimentos dos trabalhadores e dos empresários, partindo do pressuposto que
bastariam incentivos financeiros aos trabalhadores como motivação e recorrendo à
uniformização e à divisão do trabalho como orientação pragmática da racionalização do
trabalho.
Esta abordagem de Taylor vê apenas o processo produtivo e esquece-se da estrutura da
própria organização.

Henri Fayol (1841-1925) assume outro tipo de preocupações ao delinear a sua


visão do modo de gestão das organizações, identificando as principais funções da
organização e preconizando uma estrutura hierárquica. Deste modo a função de gestão
estaria presente em todos os níveis hierárquicos e teria um papel de coordenação nas
funções de previsão, organização, direcção, coordenação e controlo. Os princípios
enumerados para uma boa gestão seriam:

- Divisão do trabalho,
- Autoridade e responsabilidade
- Disciplina
- Unidade de comando
- Subordinação dos interesses individuais aos colectivos
- Centralização, ordem
- Iniciativa e espírito de corpo.
3. Durkheim (1858-1917) contextualizado

O pensamento de Durkheim surge, num momento histórico, em que as ciências


apareciam como sendo um modelo de pensamento rigoroso, eficaz e válido. O
positivismo de Comte, ao considerar que a ciência deve preocupar-se com os factos
observáveis que ressaltam da experiência e que, com base em cuidadosa observação
podemos inferir leis que expliquem os fenómenos observados e a sua relação, vai
influenciar profundamente toda a obra de Durkheim. Também a necessidade de reforma
social era reconhecida por Durkheim que considerava que a crise da sociedade moderna
se devia á falta de valores morais que a debilidade da autoridade religiosa tinha
provocado.

Na sua tese de doutoramento, “Da Divisão do Trabalho Social”, Durkheim ao


explicar a relação dos indivíduos com a sociedade vai distinguir duas formas de
solidariedade, a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica, que correspondem a
duas formas distintas de organização social.

Essencialmente o que as caracteriza e as distingue é que nas sociedades com


solidariedade mecânica os indivíduos não se distinguem entre si, não existem
diferenciação social ou divisão do trabalho. Este tipo de solidariedade é característico
das sociedades primitivas. Nas sociedades com solidariedade orgânica existe
diferenciação de funções, divisão do trabalho entre os indivíduos, que, através da
especialização se complementam entre si, sendo este tipo de solidariedade característico
das sociedades modernas.

A divisão do trabalho surge nas sociedades modernas, segundo Durkheim, pelo


desejo que os indivíduos têm de aumentar o rendimento do trabalho colectivo. No
seguimento do seu pensamento Durkheim considera que, nas sociedades modernas
assentes na diferenciação, é fundamental que cada indivíduo exerça a profissão que
corresponde às suas aptidões. No entanto, pelo facto das sociedades modernas
favorecerem o individualismo, pode levar a que cada indivíduo deseje obter aquilo que
considera ser justo para si e exigir da sociedade aquilo que ela não lhe pode dar.
Na segunda edição “Da Divisão do Trabalho Social”, Durkheim sugere a criação de
grupos profissionais para que a integração do indivíduo na sociedade seja mais eficaz.

Durkheim foi um dos pioneiros em caracterizar o progresso económico pela


divisão do trabalho, não deixando de referir as dificuldades que poderiam surgir da
ausência de crenças e valores comuns, da pressão psicológica a que os indivíduos
poderiam estar sujeitos na ausência dessa “disciplina”.
Bibliografia
Grilo, Rui. 1996. “A Teoria da Gestão e da Complexidade”. Évora. Universidade de
Évora

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