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Os BRICs e A Liderança Diplomática Do Brasil
Os BRICs e A Liderança Diplomática Do Brasil
Criado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, do grupo Goldman Sachs, a partir de um relatório
intitulado Building Better Global Economic Brics ou “Construindo Tijolos Econômicos Globais
Melhores”o acrônimo BRIC resultou de um amplo estudo que analisou e projetou as economias
de Brasil, Rússia, Índia e China até 2050, concluindo, sem qualquer exagero, que esse grupo
de países pode efetivamente vir a representar a força econômica mundial dominante até lá,
superando os PIBs do atual grupo do G8. E não seria mera especulação ponderar que uma vez
alçado a esse posto de liderança, os BRICs certamente expandirão sua influência política,
cultural e até militar sobre o resto do mundo. Segundo as projeções, o grupo deverá concentrar
cerca de 40% da população mundial e um PIB de mais de 85 trilhões de dólares. Todavia, os
BRICs ainda estão longe de constituir um bloco político como a União Europeia ou uma
associação comercial como a ALCA ou o Mercosul, mas já ajustaram vários tratados e
convenções de comércio e cooperação desde 2002 e lentamente sua influência econômica
começa a ser sentida em organismos multilaterais como a OMC, o GATT e a OIT. Dentro de
duas décadas, com a pressão do crescimento populacional, da escassez de água potável e da
busca incessante por novas formas de energia, os BRICs figurarão entre os principais
fornecedores de matéria-prima, alimentos, petróleo, tecnologia e mão-de-obra, além de
produtos manufaturados e serviços. Somente o Brasil será capaz de alimentar mais de 30% da
população mundial com carne bovina e soja, sem falar nos combustíveis renováveis e
ecologicamente corretos como o biodiesel e álcool, além da água potável, da qual possuímos
25% das reservas mundiais. A Índia provavelmente irá ostentar a maior média de crescimento
nas próximas décadas, tanto por sua grande população quanto pelos consideráveis
investimentos que vem realizando em mão-de-obra e tecnologia. Deverá ocupar o 3º lugar do
ranking até 2050 atrás de China (1º) e Estados Unidos (2º). É certo que todos esses números
representam meras projeções e que os países emergentes, mais do que os ricos, estão muito
mais sujeitos a revoluções e sedições internas e governantes corruptos, mas as possibilidades
de se eliminar a linha divisória entre países pobres do sul e países ricos do norte são mais
reais do que em qualquer período da História Moderna.
Naturalmente que esse quadro não significa que o entendimento entre os próprios países
integrantes dos BRICs será tranquilo e sem incidentes, justamente por causa das grandes
diferenças econômicas, políticas, culturais e militares que ostentam, mas nesse particular, o
Brasil, apesar de apontar diversas contradições e objetivos até concorrentes com seus pares
no grupo, desponta como a única nação capaz de liderar, com absoluta isenção, o diálogo com
os países ricos e industrializados do Ocidente e o Japão. Somos o único país do grupo sem
objetivos belicistas, não fazemos das armas o nosso baluarte de imposição política e cultural e
não possuímos qualquer conflito de interesses ou relacionamento com nenhuma nação do
planeta, enquanto Rússia, Índia e China professam ideologias confrontantes com os regimes
ocidentais e são potências militares. A diplomacia brasileira, malgrado algumas gafes recentes
no setor comercial, tem apresentado excelente resultado no desenvolvimento das nossas
relações com o resto do mundo, ao passo que Rússia, Índia e China têm ainda grandes
diferenças a equacionar com o mundo ocidental, especialmente os Estados Unidos, por força
dos seus programas nucleares com fins militares e agendas políticas dissonantes do chamado
mundo livre. Ao Brasil caberá um papel fundamental na transição dos BRICs de simples grupo
econômico para uma aliança comercial e política capaz de influenciar e impor seus valores e
culturas ao sistema monetário internacional, com o objetivo de conferir mais equilíbrio no
âmbito das forças econômicas que controlam o mundo há mais de quatro séculos.