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Claudia Nicolantonio TCCII20071
Claudia Nicolantonio TCCII20071
CLAUDIA DI NICOLANTONIO
Palhoça
2007
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CLAUDIA DI NICOLANTONIO
Palhoça
2007
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RESUMO
AGRADECIMENTOS
Para a elaboração desse trabalho contei com o apoio de diversas pessoas, entre elas
familiares, amigos, professores e colegas.
Ao meu pai, Vincenzo, in memoriam, pelos valores que me ensinou.
A minha mãe, Marisa, pelo apoio incondicional.
Ao meu marido e companheiro, Fernando, pelo incentivo, pela compreensão dos meus
momentos de ausência e de intolerância, que juntamente com minha filha, Roberta, foram de
incansável entendimento.
E a toda família por terem acreditado em mim.
Aos amigos queridos, que tanto torceram por minha vitória.
Aos professores, em especial ao Adriano que fez nascer dentro de mim a vontade de
explorar o respectivo tema. Flávio por ter me compreendido em todos os momentos difíceis
no decorrer desse trabalho e por ter se tornado mais do que um professor, um amigo.
Vanderlei, por sua orientação e por ter acreditado em meu potencial desde a segunda fase.
Iúri, assim como os demais, por ter me feito visualizar a profissão em busca de um
aperfeiçoamento profissional. A todo corpo docente, muito obrigada!
Aos colegas, por todo o apoio, incentivo, credibilidade durante todo o curso.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 6
1.1 PROBLEMÁTICA .......................................................................................... 7
1.1.1 Problema ...................................................................................................... 11
1.2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 12
1.3 OBJETIVOS ...................................................................................................... 15
1.3.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 15
1.3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 15
2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 16
3 MÉTODO ................................................................................................................. 20
3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .................................................................. 20
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA .............................................................................. 20
3.3 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ....................................................... 20
3.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA ................................................................... 21
3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ................................................................... 21
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ....................................................... 22
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 38
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 41
APÊNDICE ................................................................................................................... 43
ANEXO A ................................................................................................................... 44
ANEXO B ................................................................................................................... 45
ANEXO C ................................................................................................................... 46
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1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMÁTICA
A questão da deficiência vem tomando cada vez mais espaço na sociedade atual como
tema certo em debates nas áreas da educação, da política, empresarial e até mesmo na mídia.
A Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, vide anexo A, que define o percentual de
até 20% de vagas para pessoas com deficiência em concursos públicos e a Lei nº 8.213, de 24
de julho de 1991 dispõe sobre os planos e benefícios da previdência, prevê uma cota
percentual de vagas nas empresas proporcional ao número de funcionários, variando de 2% a
5% para empresas privadas com mais de 100 funcionários, na tentativa de garantir, assim, um
espaço no mercado de trabalho, mesmo que obrigatoriamente, para pessoas com deficiência.
BRASIL (apud TANAKA E MANZINI, 2005). Também, na área educacional, a atual Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996) garante
vagas no ensino regular a partir da educação infantil, prevendo a compra de vagas pelos
governos em escolas especiais e instituições privadas sem fins lucrativos.
Contudo, o que se percebe cotidianamente é a grande dificuldade que as pessoas com
deficiência ainda enfrentam para fazer valer os seus direitos, ou seja, para uma efetiva prática
dessas leis, assim como a necessidade de estar sempre reforçando sua identidade como um ser
humano potencialmente atuante na sociedade.
No Brasil, o número de alunos que ingressam no Ensino Superior ainda é baixo, e os
últimos dados oficiais quanto ao número de alunos deficientes que conseguem chegar às
universidades, comprovam a mesma estatística, conforme vemos nas tabelas a seguir:
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Entre os anos 1999 a 2004 diversas leis e instruções normativas, que estabeleciam
procedimentos a serem adotados pela fiscalização do trabalho referentes à Lei de Cotas, foram
regulamentadas, mas foi a Portaria GAB/DRT/SP nº 700, de 10 de setembro de 2004, que
viabilizou a política de parcerias, fornecendo assim, as ferramentas necessárias para a
obtenção de resultados positivos na área. (RODRIGUES, 2005, p.17)
Partindo do princípio de que a educação é um processo de interação social, as
dificuldades encontradas pelas pessoas com deficiência no campo da educação e
aprendizagem contribuem para um atraso em seu desenvolvimento educacional e
conseqüentemente leva-os tradicionalmente a ocuparem cargos de baixa qualificação e
remuneração. Quando não conseguem ingressar no mercado de trabalho, acabam tendo que
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Interiorizamos aquilo que os outros nos atribuem de tal forma que se torna algo
nosso. A tendência é nós nos predicarmos coisas que os outros nos atribuem. Até
certa fase esta relação é transparente e muito efetiva; depois de algum tempo, torna-
se mais seletiva, mais velada (e mais complicada)”. Assim, o ser humano desenvolve
suas habilidades, sua personalidade, suas atitudes na relação com o outro, e esta
relação está mediada pela sociedade. (apud BOCK, 2002, p.71).
Vivendo em sociedade, exercendo uma profissão ou mesmo uma função, a pessoa com
deficiência pode ser capaz de garantir seu próprio sustento e, por conseqüência, experimentar-
se como cidadã, mesmo que enfrentando possíveis frustrações com as escolhas profissionais e
pessoais, ao mesmo tempo possibilitando uma efetiva integração na sociedade com sua
autonomia, respeitando e sendo respeitada em todas as suas vivências. Cabe dizer que, de
acordo com Wilke (2004), é necessária a percepção de que a integração passa por um
movimento individual, tenha a pessoa deficiências ou não, ou seja, a integração é própria do
sujeito frente ao seu contexto de vida e a uma possibilidade de sua autonomia, sendo assim, a
pessoas pode mover-se com certa independência em atividades do seu cotidiano, promovendo
meios de sobreviver e de integrar-se através do trabalho, garantindo assim seu próprio
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Comentário de Adriano Henrique Nuernberg em aula na Universidade do Sul de Santa Catarina, durante o
semestre letivo de 2006.1, na disciplina de Psicologia e Educação Especial.
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1.1.1 Problema
Qual a percepção de pessoas com deficiência auditiva e visual sobre a relação entre suas
deficiências e escolhas profissionais?
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1.2 JUSTIFICATIVA
auxiliar na escolha da carreira, mas também com o intuito de promover uma visão mais
abrangente quanto às dificuldades e possibilidades do mercado de trabalho, levando o sujeito
a ampliar as possibilidades de um projeto pessoal e social, sendo a escolha individual, seu
espaço transformador.(BASTOS, 2002)
Segundo Bock (2002), até pouco tempo atrás, para a humanidade, o trabalho era
vinculado a funções que tinham como fim a subsistência. A diferenciação do trabalho, dava-se
por gênero e classe social e descendência, sendo assim, por exemplo, filhos de artesãos
aprenderiam com seus pais a arte do artesanato e a levariam pela vida até seus filhos e assim
por diante. Somente após a Idade Média, com o fim do feudalismo e os primeiros passos do
capitalismo, é que a escolha profissional torna-se possível entre os trabalhadores. A
Revolução Industrial promove uma divisão técnica do trabalho em busca do perfil certo de
pessoa para cada função com o objetivo de aumentar a produtividade no meio de produção
capitalista.
Com a finalidade de se compreender um pouco mais sobre a relevância da escolha
profissional na atualidade, é importante entender algumas concepções referentes às teorias em
orientação profissional que Bock (2002) assim classifica:
1.3 OBJETIVOS
2 REFERENCIAL TEÓRICO
De acordo com Aranha (1995), em termos históricos2 podemos dizer que a agricultura,
a pecuária e também o artesanato eram as bases da economia na antiguidade. Os donos de
terras produtivas e dos rebanhos eram representados pelos senhores membros da nobreza, os
demais indivíduos, ou seja, os não senhores ou subumanas como eram considerados,
trabalhavam na produção dos bens destes senhores. A deficiência não era considerada como
um problema visto que crianças nascidas com anomalias eram abandonadas.
Durante a Idade Média, o Cristianismo concede ao deficiente um status humano e
como tal dotado de uma alma. A partir desta nova visão as pessoas com deficiência não eram
mais exterminados, a Igreja e os familiares deveriam se responsabilizar por sua custódia,
porém os deficientes ainda sofriam com a intolerância da sociedade.
No final do século XV e o início da Revolução Burguesa, o clero traz uma nova visão
de homem e sociedade. É o fim da Inquisição Católica e da Monarquia, o capitalismo
mercantil surge como novo método de produção onde os operários passam a vender sua força
de trabalho. Os deficientes são vistos neste momento, como não produtivos e dependentes
totais de seus mantenedores gerando prejuízo à sociedade.
De acordo com Pessotti (apud ARANHA, 1995), a partir de Paracelso, Cardano e
Willis, há uma leitura organística favorecida pelo avanço da medicina, que pressupõe a
deficiência como um problema médico e não mais como uma condição divina, sendo assim,
surge o primeiro hospital psiquiátrico que mais serviam para afastar o deficiente de uma
sociedade incomodada com sua presença, do que propriamente para tratá-los.
Nos séculos seguintes o meio de produção capitalista ganha força, assim como o
sistema de valores e as normas sociais que acabam desenvolvendo uma atitude de
responsabilidade pública pelas necessidades do deficiente, porém ainda cabe ao setor privado
o papel de financiar grande parte das instituições de apoio.
Com a chegada do século XX e o capitalismo moderno, surgem os grandes capitalistas
que passam a determinar o perfil do trabalhador que a empresa precisa para alcançar seus
objetivos e aumentar seu capital, porém a visão que se tem das pessoas com deficiência
permanece negativa, ele ainda é visto como não-produtivo. Isso fica mais claro se pensarmos
nas pesquisas de Taylor ao medir o tempo das ações das pessoas nos processos de trabalho,
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Com o propósito de resgatar o processo de constituição histórica desta relação de equivalência entre quem tem
valor ou não dentro do sistema, apresentaremos um resumo com dados históricos sobre este movimento pela
integração do deficiente levando-se em consideração as diferentes características que influenciaram cada
momento histórico.
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conseguindo com isso implementar um padrão de eficiência dos empregados para a empresa.
Evidentemente que tais padrões levam em consideração as pessoas com o melhor desempenho
nas tarefas e, neste sentido, as pessoas com deficiência estariam em clara desvantagem e por
isso descartadas.
O século XX foi repleto de fatos e conflitos decisivos para a humanidade, como as
duas grandes guerras, que tiveram como saldo das batalhas um grande número de soldados
feridos e com deficiências físicas que necessitavam de assistência e treinamento especializado
para que pudessem reintegrar-se a sociedade com uma ocupação rentável dando-lhes
condições de conquistarem uma existência o mais próximo possível da normalidade, de
acordo com a sociedade em que viviam. Surgiram também modelos diversos de leituras sobre
a deficiência, como o modelo metafísico que coexistia com o modelo médico, o modelo
educacional, o modelo da determinação social e no final desse século, o modelo sócio-
construtivista ou sócio-histórico. Sendo assim, pode-se afirmar que a natureza do fenômeno
ainda é sócio-político-econômica, mesmo sua leitura sendo feita em diferentes dimensões e
aparentemente desvinculadas desta realidade, e foi neste contexto, principalmente após as
duas grandes guerras que a questão da integração social do deficiente começou efetivamente a
ser tratada com seriedade.(ARANHA, 1995, p.67)
Segundo Mazzotta (2001), as experiências européias e norte-americanas do século
XIX influenciaram alguns brasileiros a tomarem iniciativas para implantação de organizações
com serviço de atendimento a cegos, a surdos, a deficientes mentais e físicos.
De 1854 a 1956, a partir de iniciativas oficiais e particulares isoladas, educadores
mais interessados iniciaram o atendimento educacional dos deficientes, mais especificamente
em 12 de setembro de 1854 quando o Imperador D. Pedro II com o Decreto Imperial nº 1428,
fundou na cidade do Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, mais tarde
Instituto Benjamin Constant – IBC. Em 26 de setembro de 1857, D. Pedro II fundou o
Imperial Instituto dos Surdos-mudos pela Lei nº 839, mais tarde Instituto Nacional de
Educação de Surdos - INES que desde a sua fundação dedica-se também a educação literária e
ao ensino profissionalizante com meninos surdos de 7 à 14 anos.
Tanto no Instituto Benjamin Constant – IBC, como no Instituto Nacional de Educação
de Surdos – INES, foram criadas oficinas para a aprendizagem de ofícios como tipografia e
encadernação para meninos cegos e tricô para as meninas, e para os meninos surdos foram
criadas oficinas de sapataria, encadernação, pautação e douração. No ano de 1882, o
Imperador convocou o 1º Congresso de Instrução Pública que ocorreu em 1883 e um dos
temas era a sugestão de currículo e formação de professores para cegos e surdos.
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De acordo com Mazzotta (2001), até 1950 o número de instituições de ensino regular
para deficientes mentais mantidos pelo poder público chegava a 40, sendo 39 estaduais e 1
federal e mais 14 para alunos com outras deficiências sendo 1 federal, 9 estaduais e 4
particulares. Em Santa Catarina no município de Joinville, temos o Colégio dos Santos Anjos
de ensino regular particular fundado em 1909 com atendimento a deficientes mentais, sendo
um dos que se destacam entre os cinqüenta e quatro estabelecimentos de ensino regular e as
onze instituições especializadas.
No período de 1957 a 1993 com iniciativas oficiais de âmbito nacional, o governo
federal assumiu o atendimento educacional para pessoas com deficiências, criando campanhas
específicas como a da Educação do Surdo Brasileiro - C.E.S.B., pelo Decreto Federal nº
42.728 de 03 de dezembro de 1957 que instalada no INES, tinha como fim viabilizar a
educação e assistência em todo território nacional.
Hoje, já se podem encontrar diversas organizações que têm como prioridade a imersão
de pessoas deficientes nas instituições de ensino e no mercado de trabalho. Algumas dessas
organizações desenvolvem estudos e projetos que facilitam a inserção social e econômica das
pessoas com deficiências, como a Acessibilidade Brasil que é uma Organização da Sociedade
Civil de Interesse Público - OSCIP,
Outro exemplo é o Portal da Câmara dos Deputados (Federal) que tem como um de
seus links a Acessibilidade no Portal, que informa sobre a possibilidade das pessoas com
deficiência utilizarem os meios de informação e comunicação através da internet, de forma
equivalente às demais pessoas. “Mais concretamente, significa uma Web projetada de modo a
que estas pessoas possam perceber, entender, navegar e interagir de uma maneira efetiva com
a Rede Mundial de Computadores, bem como criar e contribuir para com o seu conteúdo”
(BRASIL, Portal da Câmara, out. 2006).
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3 MÉTODO
Realizadas as entrevistas, foi feita a transcrição das mesmas para que se pudesse
selecionar as partes dos discursos dos entrevistados que melhor respondessem as categorias
pré-estabelecidas de acordo com os objetivos da pesquisa. Após a seleção do material foi feita
a análise de conteúdo, que constitui o método adotado para a interpretação dos dados.
Com base na análise de dados, propôs-se responder à pergunta que orienta essa
pesquisa.
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Neste momento da pesquisa será feita a análise dos dados coletados por meio das
entrevistas feitas, buscando-se fazer o cruzamento entre as variáveis que interferem na escolha
profissional diante da problemática da deficiência e relacionando, quando possível, tais dados
com o referencial teórico.
É importante ressaltar que por motivos éticos, os nomes citados nos relatos das
análises são fictícios, com o intuito de preservar a identidade dos entrevistados.
- Nos quadros a seguir, à esquerda, estão relacionadas as categorias de análise que foram
elaboradas a partir dos objetivos específicos da pesquisa.
- À direita, estão os recortes feitos a partir da fala dos entrevistados que estão diretamente
relacionados com as categorias selecionadas e ao final de cada recorte, consta o nome
fictício do entrevistado em questão.
- Em determinados momentos, fez-se necessária a menção de ressalvas no discurso dos
entrevistados para melhor entendimento. Tais ressalvas, feitas pela pesquisadora, estão
entre colchetes [ ], para reconhecimento do leitor. Além disso, cabe dizer que se buscou
manter o discurso dos entrevistados da maneira original como foi expresso durante as
entrevistas e, portanto, as falas dos entrevistados foram mantidas de acordo com as suas
próprias expressões. Esclarece-se, contudo, que as falas mesmo que possuam problemas
quanto às regras da língua portuguesa, não foram identificadas com a expressão “sic”.
- Na análise dos dados será apresentada a seguinte sistemática: serão destacadas em negrito
as falas que correspondem às subcategorias de análise após cada quadro.
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A fala de Paulo expressa sua idéia explicitamente quando afirma que: “uma pessoa cega
com intelectualidade preservada, trabalhar artesanato, cola tampinha aqui, esse mercado não
existe, ele não vai chegar lá”, ou ainda quando diz: “vou preparar o cara para o mercado de
trabalho dando estímulos para ele trabalhar. Ora, estímulo para trabalhar é trabalho!”.
Observamos em Rodrigo, quando fala que “o surdo ganha menos e precisa estudar
mais”, que em relação ao mercado de trabalho, sua percepção limita-se a questão salarial e ao
esforço maior que o surdo deve fazer para conseguir um bom salário. Daí se observa a
importância do trabalho como instrumento de inserção e participação social para o
deficiente.
Nas falas dos entrevistados deste quadro, percebemos que a questão da capacitação
aparece para os três entrevistados, e todos concordam que para se obter sucesso no mercado
de trabalho, é necessário que se invista em capacitação para exercer funções diferenciadas.
Assim como, para que os deficientes tenham, na medida do possível, as mesmas chances nos
processos de seleção, e também, que possam exercer as mesmas funções dos demais.
Renata afirma que: “Capacitação [é] imprescindível, principalmente nós que já somos
rotulados de incapazes”, corroborando, assim, a idéia de que para os deficientes a capacitação
é fundamental, pois esta é a opção mais viável para que os deficientes consigam seu lugar de
direito no mercado de trabalho. Segundo Renata: “capacitação é importante também na
busca e exigência dos seus direitos”.
Ao analisarmos a fala de Paulo, percebemos que há coerência ao que se refere às
possibilidades de atuação do deficiente no mercado de trabalho quando fala: “é ter segurança
para dominar, ter condições reais de acordo com as suas possibilidades de poder executar”.
Outro ponto importante citado por Paulo, é a admiração que os demais, ou seja, os videntes
têm pelo deficiente que está ativo, incluído no contexto, para depois, ultrapassadas as
barreiras, nascer a admiração pelo profissional capaz independente de sua limitação. Este
processo demanda paciência por parte dos deficientes que, segundo Paulo, deve demonstrar
seu trabalho e seu potencial, e cita: “que ter paciência para ir mostrando, para devagar ir
quebrando os estigmas, os rótulos”.
Percebemos na fala de Rodrigo que cursar uma faculdade e estudar são os meios para
se obter sucesso no mercado de trabalho. Durante esta entrevista, observamos que Rodrigo
sempre expressava suas idéias quanto às dificuldades que os surdos têm para se comunicar,
para aprender e conseqüentemente, para ingressar no mercado de trabalho. Segundo Rodrigo,
os cegos e os ouvintes, não têm as mesmas dificuldades de aprendizagem ou adaptação ao
mundo e a surdez seria a mais limitadora das deficiências, sendo assim, as chances de
integração dos surdos seriam menores e sua força de trabalho, desvalorizada pelos
empregadores.
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permite e o que eu gosto [lecionando filosofia]”, Paulo tem consciência de que a cegueira
gerou impossibilidades para seu projeto pessoal. Conforme relatou durante sua entrevista,
queria ser motorista, pois adora carros, mas obviamente teve que esquecer seu sonho e
trabalhar com sua realidade, sua identidade cega. Outra questão bastante relevante levantada
por Paulo foi que: “determinadas coisas eu não faço porque também nunca fui preparado para
isso, porque não tenho os recursos para que pudesse estar realizando”, ou seja, reafirmando a
afirmativa de Renata em relação a precariedade do ensino e da preparação necessária para que
os deficientes possam se incluir socialmente.
Segundo Rodrigo em sua entrevista, as escolhas são diferentes porque as vagas
também são diferentes para deficientes como também, são diferentes para cada deficiência.
Quando questionado sobre o querer fazer estar relacionado ao gostar e à realização pessoal,
ele afirma que sim, que sua prioridade na escolha é pelo que gosta, independente do valor do
salário.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
pesquisa, constatou-se que os sujeitos puderam escolher com relativa liberdade suas
profissões.
Conforme percebemos durante a elaboração do trabalho, principalmente durante a
análise dos resultados das entrevistas, o tema da pesquisa não pode mais ser considerado
novo, contudo, faz-se necessária a continuidade da pesquisa. Sugerimos que seja feita uma
pesquisa de natureza quantitativa também de caráter exploratório, com a finalidade de tomar
ciência das instituições que disponibilizam vagas para pessoas com deficiência em áreas
diferentes das já estabelecidas pelas empresas.
Na expressão de um dos sujeitos entrevistados, fica a síntese da percepção sobre o
problema: “esse é o mundo que nós temos, o que nós queremos é outra coisa. É onde a gente
possa estabelecer uma relação de prazer com o trabalho”(Paulo).
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REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Mercês Bahia et al..A escolha profissional. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.
GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.
GÓES, M.C.R. Linguagem, surdez e educação. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
MENDES, Enicéia Gonçalves; NUNES, Leila Regina D’Oliveira de Paula; FERREIRA, Julio
Romero et tal. Estado da arte das pesquisas sobre profissionalização do portador de
deficiência. ISSN 1413-389X, São Paulo, 2004.
NÉRI, M. As empresas e as cotas para pessoas com deficiência. Set 2003. Conjuntura
Econômica – Temas Sociais. Disponível em http://scholar.google.com Acesso em: 13 mai.
2007.
APÊNDICE
ROTEIRO DE ENTREVISTA
ANEXO A
LEI Nº 8.112 DE 11/12/1990
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
Dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das
fundações públicas federais.
Título I
Capítulo Único
o
Art. 1 Esta Lei institui o Regime Jurídico dos Servidores Públicos Civis da União, das
autarquias, inclusive as em regime especial, e das fundações públicas federais.
o
Art. 2 Para os efeitos desta Lei, servidor é a pessoa legalmente investida em cargo público.
o
Art. 3 Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura
organizacional que devem ser cometidas a um servidor.
Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados por lei, com
denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou
em comissão.
o
Art. 4 É proibida a prestação de serviços gratuitos, salvo os casos previstos em lei.
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ANEXO B
I – Introdução
O art. 93, caput, da Lei nº 8.213/91, determina a empresa, com 100 ou mais
empregados, a obrigação quanto ao preenchimento de 2% a 5% dos seus cargos
com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, com
a observância da seguinte proporção: a) de 100 a 200 empregados, 2%; b) de 201 a
500, 3%; c) 501 a 1.000, 4%; d) de 1001 ou mais, 5%.3
*
Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante. Advogado. Professor da Faculdade de Direito
Mackenzie. Ex-procurador chefe do Município de Mauá. Mestre em Direito Político e Econômico pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Mestrando em Integração da América Latina pela
Universidade de São Paulo – USP.
Francisco Ferreira Jorge Neto. Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de São Caetano do Sul. Mestre
em Direito das Relações Sociais – Direito do Trabalho pela PUC-SP. Ex-professor concursado do
Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul – IMES. Professor convidado no curso
de pós-graduação lato sensu da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor contratado do UNI-
A – Centro Universitário de Santo André na matéria de Direito do Trabalho (Individual e Coletivo).
3
O art. 36, do Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, contém idêntica regra.
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ANEXO C