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Gil Vicente é considerado o primeiro grande dramaturgo

português, não porque tenha sido o “pai do teatro” português, mas


porque não se encontram registos de outras peças de similar
importância como as dele.
São escassos e duvidáveis os factos da vida de Gil Vicente, no
entanto sabe-se que teve uma vida repleta de aventuras e experiências.
Supõe-se que este tenha nascido em Guimarães ou próximo da Beira,
por volta do ano de 1465. Casou-se duas vezes e teve cinco filhos, dos
quais os mais conhecidos são Paula Vicente e Luís Vicente, que
organizou a primeira Colecção de obras do pai.
Não se sabe com exactidão qual foi o seu ofício, mas documentos
da época levam a crer que existiu um Gil Vicente, ourives da Rainha D.
Leonor e autor de uma valiosa obra-prima de ourivesaria portuguesa,
a Custódia de Belém. Gil Vicente utilizou em abundância termos
técnicos de ourivesaria nos seus autos, o que levou muitos autores a
defenderem que Gil Vicente, ourives, e Gil Vicente, dramaturgo,
estavam juntos numa única pessoa.
No início do século XVI encontramo-lo na corte, na qual
permaneceu durante trinta anos, animando os serões da corte,
participando nos torneios poéticos, festejando nascimentos, baptizados,
partidas e chegadas de príncipes, escrevendo, encenando e até
representando mais de quarenta autos, para entretenimento da realeza
e nobreza.
O Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação data de 1502 e foi
o primeiro auto a ser escrito e representado pelo próprio Gil Vicente.
Ocorreu na câmara da rainha, para celebrar o nascimento do que
veria a ser o rei D. João III. A rainha apreciou com intensidade o
trabalho de Gil Vicente e começou a proteger as suas obras contra o
Índex e a Inquisição. Mesmo sob a protecção da rainha, não constam
da compilação de obras, sete autos apreendidos pelo Índex e três autos
pela Inquisição.
Gil Vicente possuía uma visão privilegiada sobre a cultura e a
sociedade portuguesas, começando-se a dedicar à crítica social,
destacando os vícios da corte e atitudes por parte do clero que não
eram bem vistas na sua ideia nem da do rei, transpondo isso nos seus
autos e obras.
No seu trabalho, a linguagem utilizada caracteriza-se pela
utilização de diferentes níveis de língua, provocando por vezes efeitos
cómicos através de expressões e ditos populares próprios de cada
grupo social.
Nas suas obras reflecte-se uma ponte da Idade Média para o
Renascimento, pois era uma mistura de crítica social (exemplo: Gil
Vicente criticou a igreja de culpar os novos-cristãos pelo terramoto em
Santarém) e de apoio de certas opiniões medievais já existentes.
O primeiro auto renascentista em Portugal foi o Auto da Sibila
Cassandra (1513), onde são envolvidos deuses pagãos na intriga.
Gil Vicente e o seu filho, classificaram as obras em quatro grupos:
tragicomédia, comédias, obras de devoção e farsas. Actualmente estão
melhor distinguidas em: autos de moralidade, autos cavaleirescos e
pastoris, farsas e alegorias de temas profanos.
O aspecto mais interessante das obras de Gil Vicente é a forma
como as suas críticas resistiram e se enquadram perfeitamente nos dias
hoje, já que os defeitos que ele aponta a determinados grupos sociais
também acontecem nos dias de hoje. Os
seus autos ainda hoje são muito representados tanto em Portugal como
no estrangeiro. As obras que herdamos de Gil
Vicente têm um valor tremendo, já que os seus autos retratam a
sociedade portuguesa das primeiras décadas do século XVI, onde se
encontram todas as classes sociais, bem caracterizadas com os seus
traços específicos e vícios. O aspecto linguístico utilizado nos seus
trabalhos também é inestimável, pois é a fonte mais segura de que
dispomos sobre os falares do início do século XVI.
A última obra, “Floresta de Enganos”, foi escrita em 1536, possível ano
da sua morte. Entre a primeira obra e esta, fez um percurso admirável
que marcou, para sempre, as culturas portuguesa e europeia.

Obra:

 Monólogo do Vaqueiro ou  Farsa de Inês Pereira (1523)


Auto da Visitação (1502)  Auto Pastoril Português (1523)
 Auto Pastoril Castelhano  Frágua de Amor (1524)
(1502)  Farsa do Juiz da Beira (1525)
 Auto dos Reis Magos (1503)  Farsa do Templo de Apolo
 Auto de São Martinho (1504) (1526)
 Quem Tem Farelos? (1505)  Auto da Nau de Amores
 Auto da Alma (1508) (1527)
 Auto da Índia (1509)  Auto da História de Deus
 Auto da Fé (1510) (1527)
 O Velho da Horta (1512)  Tragicomédia Pastoril da Serra
 Exortação da Guerra (1513) da Estrela (1527)
 Comédia do Viúvo (1514)  Farsa dos Almocreves (1527)
 Auto da Fama (1516)  Auto da Feira (1528)
 Auto da Barca do Inferno  Farsa do Clérigo da Beira
(1517) (1529)
 Auto da Barca do  Auto do Triunfo do Inverno
Purgatório(1518) (1529)
 Auto da Barca da Glória  Auto da Lusitânia, intercalado
(1519) com o entremez Todo-o-
 Cortes de Júpiter (1521) Mundo e Ninguém (1532)
 Comédia de Rubena (1521)  Auto de Amadis de Gaula
 Pranto de Maria Parda (eBook) (1533)
 Romagem dos Agravados
(1533)
 Auto da Cananea (1534)
 Auto de Mofina Mendes
(1534)
 Floresta de Enganos (1536)

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