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mafalda.milhões@iol.pt
Um cesto cheio
de Histórias
“Era uma vez uma menina que tinha três anos. Com indicadas ou
Os olhos eram azuis e o sorriso era gigantesco vontade de os livros cer-
e terno ao mesmo tempo. Na cabeça crescia estar com to- tos para levar
um cabelo novo, uma espécie de penugem dos a contar e para o hospital.
que veio substituir o cabelo velho.” a ouvir, sei que Tudo depende do
“Era uma vez um menino muito chateado o objectivo des- dia, da hora e da
com o mundo, que gostava de ouvir e con- tas visitas é levar a disponibilidade do pú-
tar histórias.” rua, os barulhos, as blico que está ou não à
“Era uma vez muitos pais que se esquecem histórias e os contos minha espera.
de pôr os cintos aos filhos sempre que an- a quem vive isolado É importante estar seguro e
dam de carro...” de tudo e todos. preparar a visita, mas temos de
Umas vezes trocamos se- ter consciência de que o objecti-
Quando chego ao hospital as enfermeiras gredos, outras contamos anedotas, vo final não é fazer um brilharete mas sim
costumam gritar: outras não dizemos nada e outras contamos estarmos disponíveis, para brincar e estar
“Chegou a Mafalda, vamos ouvir uma história!” histórias do princípio ao fim. Vou sempre com um bocado com os pais, os filhos e a equipa
Sinto-me sempre uma rainha quando sou tempo para não entrar ou sair a correr, afinal hospitalar que tão bem nos recebe.
anunciada aos berros pelos corredores do quando visitamos os amigos não há pressa
hospital. A caminho da sala vou perdendo a para vir embora.
altura, a pose, os anéis, o vestido bordado a No cesto levo livros para bebés, contos
ouro e a coroa. Quando chego à sala ou aos tradicionais, histórias do dia-a-dia, um jor-
quartos, de mim resta apenas a Mafalda que nal cheio de notícias, objectos que con-
leva na mão uma cesta cheia de livros, um tam histórias, fotografias, jogos e um ou
sorriso no rosto e o coração apertadinho. outro brinquedo. Quando tenho tempo
Já perdi a conta às vezes que entrei nos hos- levo bolos e bolachas que eu mesma faço.
pitais, mas nunca perdi o medo de ouvir o Não existem segredos para fazer este traba-
que não quero. lho, também não existem as histórias mais