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Cadernos de Educação de Infância

Abr./Jun. 2003
Formação & Contributos

FORMAÇÃO E CONTRIBUTOS

“A criança e a expressão psicomotora: construção de saberes em contexto


diversificado”
Ana Rosa Trindade
CF da APEI

O presente relatório pretende dar a conhecer os objectivos, os conteúdos, as


dinâmicas e os resultados da acção de formação – A criança e a expressão
psicomotora: construção de saberes em contexto diversificado, que se realizou na
cidade de Ourém durante o mês de Junho de 2002.
Interessa, antes de mais, desmontar o nome dado à acção. Para o clarificar vou
dividi-lo em duas partes que se complementam entre si e cuja união deu origem ao
seu nome. A referência ao contexto diversificado tem a ver com a filosofia escolar
em que nos situamos – a da escola inclusiva; por outro lado, a referência à
expressão psicomotora e construção de saberes tem a ver com a construção de
aprendizagens que é feita, pela criança, com o corpo e através do corpo numa
perspectiva construtivista.
A escola, tal como a concebemos hoje, contempla a diferença como inerente a todo
e qualquer criança. É uma concepção educativa que reconhece a diversidade para
promover uma verdadeira igualdade e prevenir a exclusão escolar, social e
profissional. Esta escola tem subjacente uma diversidade de valores e práticas que
nela se desenvolvem e transmitem e os quais não podemos ignorar; eles são: o
valor da diferença, o do conhecimento, o da aprendizagem e o da comunidade.
O primeiro valor a considerar é o da DIFERENÇA – Uma criança não é uma tábua
rasa, quando vai para a escola transporta consigo uma experiência de vida, uma
cultura que devemos valorizar e reconhecer como diferente e, assim, desenvolver
uma pedagogia centrada no êxito da criança. Este valor impõe uma série de
questões que inevitavelmente se colocam aos educadores/ professores: Respeito a
diferença? Como a encaro o meu grupo/turma? Considero que as crianças têm
diversos ritmos de aprendizagem? Sou capaz de me centrar nas necessidades de
cada uma individualmente?
Um outro valor a considerar é o do CONHECIMENTO – O conhecimento é uma
transmissão ou uma construção? Na escola tradicional o conhecimento era
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transmitido ao aluno porque se partia do pressuposto de que este era uma caixa
vazia à espera de ser “atafulhada” de conteúdos. A escola inclusiva considera os
diferentes saberes de cada um e parte do pressuposto de que a criança é, já,
detentora de conhecimentos. Qual é, então, o papel do professor/educador? Será o
de impulsionador de aprendizagens activas, o facilitador que abre o caminho para o
conhecimento, mas cabe à própria criança descobrir, construir em si e transformar
aquilo que aprende num verdadeiro acto criativo. Cabe-nos novamente uma
reflexão: sou um professor transmissor ou construtor de conhecimentos? Valorizo os
conhecimentos das crianças? Aproveito-os para dinamizar as actividades?
Outro valor subjacente à escola inclusiva e intimamente ligado ao anterior é o da
APRENDIZAGEM. A aprendizagem é unimodal ou multimodal? Passiva ou activa? A
aprendizagem é o acto mais importante dos animais superiores, constitui uma
mudança de comportamentos resultantes da experiência – escolhe várias hipóteses
possíveis, elabora planos, compara-os, executa-os e avalia os resultados obtidos,
isto sempre numa vertente activa “do gesto à palavra, do acto ao pensamento”.
Surge-nos novamente a reflexão: Os métodos que utilizo na minha prática diária são
activos ou passivos? Tenho a preocupação de diversificar os métodos? Tenho em
consideração os processos de aprendizagem da criança?
O quarto e último valor da escola inclusiva é o da COMUNIDADE – A comunidade
pode ser aproveitada para a escola? E em que medida a escola contribui para a
construção da comunidade? O conflito instalou-se, a escola não corresponde às
exigências da comunidade. Tem novos valores, mas insiste em reger-se por valores
da escola tradicional, tem novas práticas, mas continua resistente à sua
implantação.
O esforço pró-mudança tem sido árduo; no entanto, temos consciência de que muito
há a fazer e que está nas nossas mãos, educadores, este longo caminho que não se
apresenta livre de obstáculos.
Tendo em conta o que foi escrito, cabe-nos, a nós, o papel de abandonarmos
práticas e valores tradicionais - transmissão de conhecimentos de forma passiva e
repetitiva, dirigirmo-nos a um aluno médio e dar-mos lugar à inovação e à prática
reflexiva. Estes foram, precisamente, os principais objectivos desta acção cuja
metodologia se baseou no questionamento e na reflexão da escola actual e de como
adaptamos as nossas práticas a uma realidade exigente e diversa em termos de
saberes, culturas, raças... Outra das preocupações foi, aliar a vertente teórica
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(conceitos, autores...) com a prática (vivências, experiências, problemas


vivenciados...) e sensibilizar os profissionais para o desenvolvimento de práticas
pedagógicas centradas em pedagogias activas, diversificadas e inovadoras que
motivem a criança e que sejam um motor das suas aprendizagens.
O ambiente lúdico, de abertura e de partilha de saberes e experiências vivido
durante a acção foi enriquecedor, favoreceu todos os participantes e sensibilizou-os
para a mudança. De seguida, deixo alguns testemunhos que traduzem uma
avaliação, feita pelas formandas, que tinha por objectivo abranger três áreas: o
conteúdo, a metodologia da acção e a actuação da formadora:

“Era uma vez uma acção de formação, andou, andou até que veio parar até
Ourém... Era uma vez uma educadora com vontade de se mexer, mas
cansada, cansada, cansada... até que resolveu apostar e a ir frequentá-la.
Chegou ao fim com imensa pena de não ter podido aproveitar tudo e decidiu
recomeçar tudo de novo caso venha a ter oportunidade, sentiu que precisava
de aprender tudo de novo e de voltar à escola... Era uma vez uma formadora
novinha, novinha, novinha que trouxe entusiasmo, sabedoria, descontracção e
conhecimento... Era uma vez uma educadora e voltou a descobrir que ser
educadora ainda é o que era e que ser educadora ainda vale a pena. Era uma
vez... brincar ainda é bom e precisa-se!”
Maria José Fernandes

“A acção foi muito interessante, tirei muitas dicas para o meu trabalho
principalmente a sequência, pedagogicamente correcta, das aprendizagens da
crianças; tenho pena de acção não ser mais intensiva e chegar a várias
colegas; cheguei à conclusão de que exijo das crianças a realização de
trabalhos sem ter pensado nas bases da motricidade; a formadora pôs-me à
vontade; a acção foi divertida, descontraída, interessante e fez-me analisar
muitas actividades que faço intuitivamente.”
Anabela Amaro Lopes Alho

“A acção foi interessante, pois permitiu aprofundar conhecimentos tanto na


teoria como na prática; todos os exercícios aqui propostos são fáceis de
executar com as crianças; a formadora conseguiu transmitir conhecimentos e
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as estratégias que utilizou foram bem pensadas e concebidas.”


Deolinda Henriques Vieira dos Santos

Deixo apenas estes testemunhos para dar uma visão da análise e da avaliação que
as formandas fizeram da acção, deixando, desde já, o meu agradecimento pelas
palavras de apreço que me foram dirigidas e pela força que todas me dispensaram
tendo em conta que, em termos de formação, sou, de facto, “novinha, novinha,
novinha...”. À APEI deixo também uma palavra de reconhecimento pelo trabalho
desenvolvido e um grande Bem-haja pela oportunidade que me foi concedida.
Com todos os leitores partilho um dos exercícios que foi executado no âmbito da
acção:

A O D A O I A K L Ç F A G F D G H J U Y T R E D D F G H A L Z
X N C B N M Z D I V E R S I D A D E G H J Y U T R I F D E C N M
N H T R E S D F U Y T Q A S O U O U T B C T R I L A R E U T H
D I F E R E N Ç A E C O M I D E R O I N O U M A N O M A R T V
D L I F I C O B R U N S A K O A R I S F E R I D W Q Z V M I O T
R T O T O R T O L S P N J I A R L C O O P E I D M V L E X I S U
C E S S O P E I T F O I S D F I R E N Ç S U E E A Z C D E R Q X
B O R Ç E N E M E G A Z I D N E R P A F E D B N E Ç A C R A C
E A D M E U N I BC N SA A S A S P E A I S N E Ç N Ç A R E S T
A U R B C D A P O I O A E S C O L A P A S A G U R T T E S O U
R F I C A R E S F G H I G I E N O N O N E C E S S I D A D E S E
D U C A T I V A S E S P E C I A I S B A S D O I D E C D F U G B
R A R A T A E R E O I S D F L E X J L B G T F R U F R I O D E S
O D F C U R A D E E D A D I L I B I X E L F A S C A L A B R A T
V F G O Q W S X C Z D S E K L O I M H N G I F S A A N R F I
Nesta sopa de letras descubra as seguintes palavras:

inclusão flexibilidade cooperação


diferença
necessidades educativas
sucesso
especiais

diversidade
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aprendizagem apoia a escola

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