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COMTE E DURKHEIM

Encontram-se na galeria de sociólogos clássico-tradicionais, entre outros, o


francês Émile Durkheim (1858-1917), o alemão Max Weber (1864-1920) e, por suas
contribuições de destaque sem ser sociólogo, o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883)
– sem mencionar a contribuição de outros. São considerados clássicos porque suas
ideias ainda detêm força explicativa para uma realidade em transformação.

AUGUSTO COMTE (1798 – 1857)

Augusto Comte nasceu no sul da França dez anos depois da Revolução


Francesa e aos 16 anos ingressou-se na Escola Politécnica de Paris, criada pelos
revolucionários franceses, para ministrar uma educação científica básica aos futuros
engenheiros. Comte sentiu-se atraído pelo clima escolar, onde, segundo ele, a
comunidade respirava a verdadeira ciência, livre das especulações metafísicas ou
teológicas presentes nas universidades francesas.
Comte é tradicionalmente considerado o “pai da Sociologia”, foi quem usou pela
primeira vez essa palavra. Entre 1830 e 1842, publicou sua primeira grande obra, na
qual expõe os princípios fundamentais de sua filosofia: Curso de Filosofia Positiva e, a
partir de então, sua doutrina passou a ser conhecida como Positivismo. Sua
doutrina, o positivismo, exerceu forte influência sobre a oficialidade do Exército
Brasileiro nas últimas décadas do século XIX, por isso, o lema “Ordem e Progresso”
que figura na bandeira brasileira, é um dos lemas positivistas.
Como positivista, acreditava na superioridade da ciência e no seu poder de
explicação dos fenômenos de maneira desprendida da religiosidade, acreditava,
também, que a ciência deveria ser utilizada para organizar a ordem social. Na visão
dele, naquela época, a sociedade estava em desordem, orientada pelo caos. Assim
sendo quando Comte pensava a Sociologia, era como se fosse uma “criança” sendo
gestada, na qual colocava toda sua crença de que poderia estudar e entender os
problemas sociais que surgiam e reestabelecer a ordem social e o progresso da
civilização moderna.
O pensamento de Comte fazia uma análise da evolução da humanidade a partir
de um estado primitivo de desenvolvimento até o atual. O filósofo procurou ordenar o
progresso da humanidade em três estados: teológico, metafísico e positivo.
O estado teológico: seria aquele em que os homens atribuíam aos deuses as
causas dos diversos fenômenos vivenciados no dia-a-dia. Na busca da causa última
para tudo, chegou-se à elaboração do monoteísmo, unificando as diversas divindades
num só Deus.
A seguir veio o estado metafísico ou abstrato. Nele, os homens buscavam
explicações racionais para os fenômenos, mas, de forma ingênua, ainda procuravam
essências na natureza.
O terceiro é o estado positivo: que leva os cientistas a não fazer aquelas
inferências sobre a realidade última da natureza. A única realidade existente seria
fornecida pelos fatos. A ciência deveria restringir-se a criar leis que os
correlacionassem.
A Tese A lei dos três estágios atravessados pelo pensamento humano é o
coração do Positivismo. O estágio teológico representa a infância da humanidade; o
metafísico, a juventude; e o positivo, a maturidade.
O Positivismo de Comte foi um vasto e heterogêneo movimento de pensamento
que surgiu em meados do século XIX na França e depois se difundiu por todo o
Ocidente até tornar-se a tendência hegemônica do fim do século. O Positivismo
defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento
verdadeiro. Assim sendo, desconsideram-se todas as outras formas do conhecimento
humano que não possam ser comprovadas cientificamente. Tudo aquilo que não puder
ser provado pela ciência é considerado como pertencente ao domínio teológico-
metafísico caracterizado por crendices e vãs superstições. Para os Positivistas o
progresso da humanidade depende única e exclusivamente dos avanços científicos,
único meio capaz de transformar a sociedade e o planeta Terra no paraíso que as
gerações anteriores colocavam no mundo além-túmulo.

Continuando o trabalho iniciado por Comte, o de fazer da Sociologia uma


ciência, numa visão positiva, surge nessa história o sociólogo francês Émile
Durkheim.

ÉMILLE DURKHEIM (1858-1917)

De acordo com os relatos, Durkheim foi o primeiro intelectual a introjetar a


Sociologia como disciplina acadêmica, para ele cada indivíduo exerce uma função
específica na sociedade e sua mal execução significa um desregramento da própria
sociedade. Construiu uma vasta contribuição escrita para a Sociologia através das
seguintes obras:
• A Divisão do Trabalho Social;
• O Suicídio;
• As Regras do Método Sociológico

Durkheim acreditava que os acontecimentos sociais – como os crimes, os


suícidios, a família, a escola, as leis – poderiam ser observados como coisas (objetos),
pois assim, seria mais fácil de estudá-los.
Em uma de suas obras fundamentais, “As regras do Método Sociológico”,
definiu com clareza o objeto da sociologia – os fatos sociais. Para ele, a Sociologia é
o estudo dos fatos sociais.

Fato Social segundo a teoria de Emile Durkheim, é definido como toda maneira
de agir, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na
extensão de uma dada sociedade, apresentando uma existência própria, independente
das manifestações individuais que possa ter.

Resumindo, pode-se dizer que os fatos sociais têm as seguintes características:

Generalidade – significa que o fato social é geral, é comum a todos os indivíduos ou,
pelo menos, na maioria deles. Por essa generalidade, os fatos sociais manifestam sua
natureza coletiva ou um estado comum ao grupo, como as formas de habitação, de
comunicação, os sentimentos e a moral.
Exterioridade – o fato social é externo ao indivíduo, ele existe e atua sobre o
indivíduo independentemente de sua vontade. As regras sociais, os costumes, as leis,
já existem antes do nascimento das pessoas, são eles impostos por mecanismos de
coerção social, como a educação.
Coercitividade – os indivíduos se sentem pressionados a seguir o comportamento
estabelecido, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a
conformar-se às regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua
vontade e escolha.
O grau de coerção dos fatos sociais se toma evidente pelas sanções a que o
indivíduo estará sujeito quando tenta se rebelar contra elas. As sanções podem ser:
legais ou espontâneas.

Legais são as sanções prescritas pela sociedade, sob forma de leis, nas quais se
estabelece a infração e a penalidade subseqüente.
Espontâneas seriam as que aflorariam como decorrência de uma conduta não
adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade à qual o indivíduo pertence.
Diz Durkheim, ao exemplificar este último tipo de sanção: “Se sou um
industrial, nada me proíbe de trabalhar utilizando processos e técnicas do século
passado; mas, se o fizer, terei a ruína como resultado inevitável.”

Em seu trabalho sobre o suicídio, Durkheim elaborou uma grande pesquisa


estatística e uma ligação do fenômeno com causas sociais, e apresentou a seguinte
tipologia de suicídios: Egoísta, Altruísta e Anômico.

O Suicídio Egoísta
O egoísmo é um estado onde os laços entre o indivíduo e os outros na
sociedade são fracos. Uma vez que o indivíduo está fracamente ligado à sociedade,
terminar sua vida terá pouco impacto no resto da sociedade. Existem poucos laços
sociais para impedir que o indivíduo se mate. Esta foi a causa vista por Durkheim
entre divorciados. Em outras palavras, o indivíduo se mata para parar de sofrer, como
por exemplo o fim de um relacionamento com outro indivíduo.
Para Durkheim o Suicídio egoísta é causado basicamente pela desintegração
social entre o indivíduo e a sua sociedade, logo a desintegração deste indivíduo retira
dele a própria vontade de viver, visto que o sentido social de sua vida se perdeu,
mediante o afrouxamento de sua socialização. É a depressão e a melancolia que
resultam dessa individualidade exagerada, que pode resultar no próprio suicídio.

O Suicídio Altruísta
É um ato em que o indivíduo está tomado pela obediência e força coercitiva do
coletivo, seja ele um grupo social restrito ao qual pertence ou mesmo a sociedade
como um todo
Para Durkheim, é mais freqüente em sociedades “primitivas”, visto o seu
elevado grau de socialização e valorização do grupo e seus costumes, remete o
indivíduo a tirar sua própria vida. “O suicídio, é pois, certamente frequente entre os
povos primitivos.
1º) Suicídios de homens que chegaram ao limiar da velhice ou foram atingidos por
doenças;
2º) Suicídios de mulheres por ocasião da morte do marido;
3º) Suicídios de fiéis ou de servidores por ocasião da morte de seus senhores.

O Suicídio altruísta está ligado a exacerbada valorização dos costumes por


parte do indivíduo.

O Suicídio Anômico
É chamado de anômico porque ocorre em um estado excepcional que só se dá
quando há uma crise doentia, seja dolorosa ou não, mas demasiado súbita, tornando
a sociedade incapaz, provisoriamente, de exercer seu papel de reguladora.
Segundo Durkheim, o suicídio anômico é o mais característico da sociedade
moderna. Representa mais propriamente uma mudança abrupta na taxa normal de
suicídio, geralmente marcado por uma vertiginosa ascensão do número de suicídios
que ocorrem em períodos de crises sociais (o desemprego, por exemplo) ou processos
de transformações sociais (como a modernização).

Para Durkheim o suicídio egoísta resulta do fato do indivíduo não ver mais
razão de ser de sua vida dentro do seu contexto social. O suicídio altruísta resulta na
exagerada ligação do indivíduo e sua sociedade e sua obrigação de tirar sua própria
vida em nome desses laços sociais. O suicídio anômico decorre do fato de estar
desregrada a ordem social. Em seu trabalho, Durkheim afirma que no suicídio o
indivíduo de forma consciente é agente de sua própria morte.

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