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Relatos de Sala de Aula

O Lixo Eletroeletrônico: Uma Abordagem para o


Ensino Fundamental e Médio

Rafael da Silva Oliveira, Elisa Silva Gomes e Júlio Carlos Afonso

Este trabalho apresenta um dos maiores desafios da sociedade moderna: a gestão do lixo eletroeletrônico, cuja
geração cresce a uma velocidade impressionante sem que muitos percebam esse fato. A partir do desmonte de
equipamentos usados, os alunos percebem a complexidade que está por trás da montagem de um equipamento
eletroeletrônico, obtido por meio da junção de diferentes materiais que constituem seus componentes. Uma
das etapas de gestão desse tipo de lixo é a desmontagem e separação de componentes por métodos físicos.
A solução para o problema do lixo eletrônico passa também pela mudança de mentalidade do consumidor,
visando ao consumo consciente.

lixo eletroeletrônico, lixo tecnológico, consumo consciente, reciclagem

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Recebido em 23/11/09, aceito em 05/10/10

Introdução Tudo isso também representa um Um mercado que cresce a taxas


fascínio e uma atração irresistível expressivas
O lixo eletroeletrônico (e-waste para os jovens, e a interação com as Os números da obsolescência
ou waste of electrical and electronic novas tecnologias propicia maiores dos EEE são impressionantes. Es-
equipment – WEEE) é mais um de- oportunidades e benefícios, segundo timativas mostram que, no ritmo
safio que se soma a outros inúmeros o relatório Making new technologies atual, em 2010, haverá 600 milhões
problemas ambientais hoje enfrenta- work for human development do de computadores obsoletos só
dos pela humanidade. Resultado do Programa de Desenvolvimento das nos EUA. Considerando o resto do
consumo crescente de equipamentos Nações Unidas (PNUD), publicado mundo, esse número ultrapassa três
eletroeletrônicos (EEE), as consequ- em 20011. Em 2007, o comércio de bilhões (Frota Neto e cols., 2008). A
ências desse consumo dificilmente EEE para comunicação chegou a cada ano, 1,5 bilhão de celulares são
são refletidas pelos consumidores, US$ 1,37 trilhão (Ogunseitan e cols., substituídos. Resultado: a produção
os quais se preocupam basicamente 2009). de lixo eletroeletrônico aumenta em
com a satisfação de suas necessida- Celulares, aparelhos de som e 50 milhões de toneladas/ano hoje.
des imediatas. Afinal, esses produtos computadores são exemplos típicos Até 2010, segundo a ONU, o núme-
são sinônimo de melhoria da qualida- em que ocorre o lançamento cons- ro deve subir para 150 milhões de
de de vida. A explosão da indústria tante de novas versões. Há logo o toneladas anuais (Wagner, 2009).
da informação é uma das forças mo- desejo por parte de muitos usuários O lixo eletroeletrônico cresce a uma
trizes da sociedade contemporânea, de substituir os equipamentos anti- velocidade três a cinco vezes maior
disponibilizando ferramentas para gos pelos mais recentes. Face ao que a do lixo urbano.
rápidos avanços na economia e no constante avanço da tecnologia, a
A insustentabilidade ambiental do ciclo de
desenvolvimento social. Existe uma vida útil dos EEE está cada vez me-
consumo dos EEE
constante busca de informações em nor. Nos países desenvolvidos, essa
tempo real, dada a imensa esfera vida útil caiu de seis para apenas Do ponto de vista ambiental, a
de dinamismo em que o mundo dois anos entre 1997 e 2005 (Khe- produção cada vez maior e mais
globalizado de hoje está envolvido. triwal e cols., 2009). rápida de novos EEE traz dois gran-
des riscos: o elevado consumo dos
A seção “Relatos de sala de aula” socializa experiências e construções vivenciadas nas aulas de Química ou a elas recursos naturais empregados na
relacionadas. fabricação destes e a destinação

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final inadequada. Estudos mostram pretensa “inclusão digital” ou para vai para lixões ou em aterros sanitá-
que, para se fazer um computador fins de “alimentar a indústria recicla- rios como resíduos urbanos comuns.
novo e seu monitor, são necessários dora dessas regiões”, com resultados Isso ocorre por falta de políticas e leis
cerca de duas toneladas de insumos danosos para a saúde das pessoas que determinem o descarte e trata-
(combustível, matéria-prima e, prin- que lidam com esse material e para mento ideais para esses resíduos e
cipalmente, água). Um simples chip o meio ambiente, segundo relatório a falta de incentivo para a prática da
eletrônico, menor que a unha de um da Basel Action Network, organiza- reciclagem. Por isso, o lixo eletroele-
dedo mínimo, exige 72 g de substân- ção suíça, divulgado em 2005, e em trônico é duplamente nocivo ao meio
cias químicas e 32 L de água para trabalhos da literatura, em especial ambiente: tanto ao ser produzido
ser produzido. Já a fabricação de um na China (Ogunseitan e cols., 2009; quanto ao ser descartado. Cerca
carro ou de uma geladeira consome Jun-Hui e Hang, 2009; Xing e cols., de 70% dos metais pesados dos
o dobro de sua massa em recursos 2009). A queima de EEE libera metais aterros norte-americanos provêm de
naturais (United Nations University, pesados como chumbo, cádmio e lixo eletroeletrônico (Yanakiew, 2005),
2004). Por isso, o primeiro grande mercúrio na atmosfera, em forma de sendo que cerca de 40% em massa
impacto do lixo eletroeletrônico não cinzas, e ainda substâncias tóxicas do chumbo encontrado nos aterros
é o seu descarte, mas sim a extra- e cancerígenas como as dioxinas daquele país é proveniente dos EEE.
ção dos insumos necessários à sua (Artoni, 2007). Mesmo quando não
Situação do Brasil
fabricação. Dados de caracterização incinerados, os elementos tóxicos
química mostram que até cerca de presentes nos EEE difundem-se no Nosso país é hoje o 5º maior mer-
60 elementos da Tabela Periódica se solo com o tempo, afetando assim cado mundial de Internet e de telefo-
acham presentes nos computadores o ambiente e as comunidades nos nia celular (Chade, 2009). Chegamos
atuais, alguns bastante tóxicos aos arredores (Ogunseitan e cols., 2009; a mais de 190 milhões de aparelhos
seres vivos (Tabela 1 – Artoni, 2007; Iakovou e cols., 2009). Na Ásia, a le- celulares habilitados e a mais de 50
United Nations University, 2004). gislação ambiental é fraca ou mesmo milhões de pessoas com acesso à
inexistente, e a fiscalização é precária, Internet em setembro de 2010. Por
A má gestão do lixo eletrônico
o que facilita a recepção dos EEE outro lado, o mercado brasileiro de 241
O que fazer com os EEE de usados do primeiro mundo. informática cresce a uma taxa de 20-
versões antigas? Atitudes como o A difusão dos novos televisores 25% ao ano, superior à média mundial
upgrade e a doação a organizações de plasma e LCD (visor de cristal (Yanakiew, 2005).
não governamentais (ONGs) para fins líquido – liquid crystal display) Em 2008, foram geradas 149,2
de inclusão digital são meritórias, mas produz uma expectativa crítica em mil toneladas de lixo eletroeletrônico
na prática apenas adiam o problema: curto prazo: com o fim da transmis- no Brasil (Viktor, 2009). Cerca de
um dia o EEE antigo vai virar lixo. são analógica em 2016 no Brasil, 90% vão parar em terrenos baldios,
Esse fato assume proporções pre- teremos dezenas de milhões de lixões e outros destinos inadequados.
ocupantes, particularmente porque televisores feitos com tubos de raios Estima-se que cerca de um milhão de
os países desenvolvidos, burlando catódicos (que contêm chumbo) computadores sejam descartados no
os termos da Convenção de Basileia, sem utilidade. O fim do sinal analó- país por ano (Spitzcovsky, 2009).
que regulamenta o transporte trans- gico nos Estados Unidos em junho No Brasil, não há uma regulamen-
fronteiriço de resíduos (os EUA não de 2009 fez com que cerca de três tação específica para o lixo eletroe-
são signatários dessa Convenção), milhões de televisores perdessem letrônico em nível federal. Contudo,
exportam lixo eletroeletrônico para sua utilidade. a Lei 12305/2010 (Política Nacional
países da África e da Ásia, numa Na prática, a maior parte dos EEE de Resíduos Sólidos), recentemente

Tabela 1: Elementos tóxicos presentes em diversas partes de um computador

Elemento Onde se localiza Efeitos tóxicos no ser humano


Chumbo Tubos de raios catódicos e soldas Danos neurológicos, renais e sanguíneos
Vanádio Tubos de raios catódicos Distúrbios gastrointestinais, inapetência
Bromo Retardantes de chama em circuitos Desordem hormonal, nervosa e reprodutiva
impressos, fios e cabos
Antimônio Alguns tipos de retardantes de chama Nefrite, problemas cardiovasculares e gastrointestinais.
Cádmio Algumas baterias, soldas e circuitos Danos aos ossos, rins, dentes e pulmões. Possível
integrados agente cancerígeno
Bário Vidro (tela) de um tubo de raios cató- Distúrbios gastrointestinais, convulsões, hipertensão,
dicos lesões renais e cardíacas
Mercúrio Soldas, termostatos e sensores Danos neurológicos e hepáticos
Berílio Liga antifricção (cobre-berílio) Edema e câncer pulmonar

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sancionada pelo Presidente da Re- componentes diretamente recicláveis. Descrição do trabalho
pública, prevê nos artigos 30 a 36 A outra etapa é a crítica: o processa- Entre agosto de 2008 e setembro
(Capítulo III, Seção II) a responsabi- mento de peças multicomponentes de 2009, foram proferidas dezesseis
lidade compartilhada de fabricantes, (como as placas-mãe de computa- palestras sobre lixo eletroeletrônico
importadores, distribuidores e ven- dores e tubos de raios catódicos), a turmas de alunos do ensino fun-
dedores na logística reversa para os obtidos a partir da união de inúmeros damental (9º ano) e das três séries
seguintes produtos pós-consumo: componentes diferentes em natureza do ensino médio de escolas da rede
agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, (plásticos, metais, resinas, sais etc.). privada e pública do Rio de Janeiro,
óleos lubrificantes, lâmpadas e pro- É ali que se encontram metais pre- sempre em eventos como feiras de
dutos eletroeletrônicos. O artigo 47 ciosos (Tabela 2), ao mesmo tempo ciências ou semanas culturais. Com
proíbe a destinação inadequada de em que metais tóxicos também se duração de 40 minutos e apresenta-
resíduos em corpos hídricos (rios, acham presentes em alguns compo- do na forma de slides, o conteúdo
mares etc.) e a céu aberto (como nentes (Tabela 1). Há mais ouro em abordado obedecia à sequência:
lixões). Alguns governos estaduais, 1 tonelada de computadores do que definição de EEE; dados de produ-
como os de São Paulo, Paraná, Minas em 17 toneladas de minério (Park e ção, consumo e descarte no Brasil e
Gerais, Rio de Janeiro e Santa Cata- Fray, 2009). As técnicas de recicla- no mundo; o que existe dentro de um
rina, mobilizaram-se para elaborar gem hoje empregadas para as peças EEE (exemplificado para computado-
regulamentações para os resíduos multicomponentes envolvem a moa- res, TVs e celulares); qual é a conse-
eletroeletrônicos. A legislação euro- gem/trituração do material, seguido quência do consumo incessante e
peia é considerada a mais avançada de separação por métodos físicos crescente de EEE; como enfrentar o
no mundo (Serrano, 2009)2. O Brasil (separação magnética, diferença de problema do lixo eletroeletrônico. Em
ainda não tem um sistema de cole- densidade), processamento químico seguida, estimou-se um período de
ta (logística reversa) e reciclagem (em geral, dissolução em meio áci- 20 minutos para debate, momento
sistemática em nenhum ponto da do) e fracionamento dos elementos em que foi distribuída aos alunos
cadeia que envolve os EEE: indústria, solubilizados (Iakovou e cols., 2009; uma folha contendo uma pergunta
242 comerciantes e consumidores, como Rahimifard e cols., 2009). De acordo a ser respondida na hora: qual é a
ocorre em países do primeiro mundo com pesquisas realizadas por duas destinação final que você dá ao seu
(Khetriwal e cols., 2009). empresas do setor da tecnologia da lixo eletroeletrônico? As respostas
Eventos como o I Encontro Na- informação, apenas 10% dos com- indicadas foram: (a) descarta-o junto
cional de Reciclagem, realizado em putadores no mundo são reciclados com os resíduos domiciliares (resí-
Curitiba em junho de 2008 (organi- e só 3% dos telefones celulares duos sólidos urbanos); (b) guarda
zado pelo Núcleo Interdisciplinar de antigos são enviados à reciclagem. em gavetas e armários; (c) vende
Meio Ambiente e Desenvolvimento EUA, Europa e Japão só reciclam o produto a oficinas que consertam
da Universidade Federal do Paraná) 30% do seu lixo eletroeletrônico (Spit- EEE; (d) doa para ONGs e igrejas;
e o Seminário Internacional de Resí- zcovsky, 2009). A reciclagem precisa (e) repassa a cooperativas e progra-
duos Eletroeletrônicos, realizado em estar acompanhada de medidas de mas de reciclagem. As impressões
agosto de 2009 em Belo Horizonte proteção à saúde. Em países desen- e discussões levantadas foram
(organizado pela Fundação Estadual volvidos, o processo ocorre em locais analisadas para se ter uma ideia do
do Meio Ambiente do Estado de Mi- específicos e controlados. No res- grau de consciência dos alunos. Logo
nas Gerais) mostram que o assunto tante do mundo, essa operação, na a seguir, foram realizadas oficinas
movimenta as esferas acadêmica, grande parte das vezes, é feito à mão nas quais os alunos, em grupos de
produtiva e setor público no país. quase sempre por crianças e pessoas quatro a seis pessoas, desmontavam
O Brasil ainda parece possuir inabilitadas e sem qualquer proteção EEE obsoletos ou estragados. A
poucos grupos de pesquisa voltados (Fu e cols., 2008; Artoni, 2007). seleção desses equipamentos levou
à problemática do lixo eletroeletrôni-
co, e são ainda raros os trabalhos
científicos publicados. Muitas das Tabela 2: Teor médio de elementos de alto valor agregado presentes em placas de
informações que nos chegam, prin- circuito impresso de EEE (mg kg-1)*
cipalmente dados estatísticos de
consumo e produção, provêm de Elemento Computador (placa-mãe) Celular Calculadora
revistas, jornais e reportagens de Ouro 250 350 50
televisão ou rádio. Prata 1.000 1.390 260
Paládio 110 210 5
Perspectivas da reciclagem
Cobre 200.000 130.000 30.000
No estado atual do conhecimento, Alumínio 5.000 1.000 5.000
a reciclagem do lixo eletroeletrônico * Dados apresentados por Peter Bornard (ex-diretor do sistema suíço de gestão
envolve duas etapas. A primeira é a dos EEE) no Seminário Internacional de Resíduos Eletroeletrônicos (Belo Horizonte,
desmontagem para separação dos agosto de 2009).

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em consideração o tempo dessa com os resíduos domiciliares, princi- Quando lhes era perguntado sobre
atividade (uma hora). Cada grupo palmente os EEE de pequeno porte a necessidade de consumir de forma
tinha a supervisão de um professor (como i-pods e mp-3). Outros 35%, mais consciente os produtos eletroele-
ou monitor da escola participante ou guardam-nos (e acabam sendo es- trônicos, a grande maioria dos alunos
dos autores deste trabalho. Todos os quecidos por um longo tempo) em demonstrou preocupação, mesmo em
alunos usavam luvas. gavetas e armários (em geral, são nível superficial, com questões am-
Durante o trabalho experimental, versões obsoletas); 11% levam a bientais: todos já ouviram falar de efei-
foi enfatizada a necessidade de oficinas para venda (prática de “ca- to estufa, aquecimento global, buraco
identificar e separar os componen- nibalismo” – retirada de peças para na camada de ozônio, derretimento
tes feitos de um só tipo de material conserto de equipamentos defeituo- das calotas polares, extinção de es-
daqueles que são compostos por sos); 11% doam para ONGs e igrejas; pécies animais e vegetais, alterações
vários materiais diferentes em na- e 3% encaminham a cooperativas climáticas..., mas nunca tinham tido
tureza (como as placas de circuito e programas de reciclagem. Esse a possibilidade de relacionar como
impresso). resultado espelha bem um grande o consumo de EEE poderia causar
problema envolvido nessa situação: a impactos ambientais. A primeira per-
Sumário da oficina de desmonte de EEE
desinformação da população quanto cepção foi de não desistir do direito
Matérias-primas: os equipamen- à maneira adequada de lidar com o de dispor de seus EEE. Todavia, será
tos selecionados foram: calculadora lixo eletroeletrônico. preciso consumi-los da forma como
eletrônica, mouse e teclado de com- vem sendo verificada em todo o mun-
A consciência prévia dos alunos quanto ao
putador. Suas massas foram deter- do? Os alunos, em geral, viram-se sur-
problema do lixo eletroeletrônico
minadas por pesagem em balança preendidos com a situação que lhes
digital. As peças foram fotografadas. Praticamente todos os alunos foi apresentada e precisavam refletir
Um exemplar de cada EEE selecio- (cerca de 600) que participaram das mais sobre as atividades que acaba-
nado foi processado pelos diversos palestras e das oficinas não tinham ram de participar. Nesse momento,
grupos. consciência alguma sobre o custo o professor cumpre papel central
Separação manual: Os equipa- ambiental da fabricação de um EEE para estimular neles a necessidade 243
mentos foram abertos com a utiliza- e os danos que podem causar ao de refletirem sobre o modo como a
ção de ferramentas simples: alicate, meio-ambiente se descartados de sociedade de hoje consome produtos
chave de fenda, estilete e tesoura. forma incorreta. O interesse imediato o mais das vezes descartáveis, sem
Identificaram-se e segregaram-se deles era dispor da “última palavra se preocupar com as consequências
os diferentes tipos de materiais em tecnologia”, satisfazendo seus ambientais desse comportamento.
componentes dos EEE. Cada com- desejos de comunicação com outras As reflexões e opiniões dos alunos
ponente separado era classificado pessoas e também o acesso a todo devem constar em uma redação de
segundo sua natureza (plástico, tipo de informação. Poucos têm EEE 3-4 páginas. Essa dinâmica de traba-
metal etc.). Todo o processo foi fo- com mais de dois anos de uso. Os lho se aplica a quaisquer alunos das
tografado. As massas dos diversos EEE mais citados pelos alunos foram: séries do ensino fundamental e médio,
materiais foram determinadas por celular, mp-3, discmam, i-pod e jogos e deve ser entregue em, no máximo,
meio de balança digital. eletrônicos portáteis. duas semanas após as atividades, a
Separação parcial dos componen- A maioria afirmou que dispunha fim de que o impacto da palestra e da
tes identificados: quando possível, de EEE havia pelo menos cinco oficina não se diluam com o passar
empregaram-se métodos físicos anos, e notou-se uma crescente do tempo.
de separação: magnetismo (metais acessibilidade dos alunos a esses
O desmonte dos EEE selecionados
ferrosos e não ferrosos) e densidade. equipamentos nos últimos anos, fruto
A análise gravimétrica é uma das do barateamento destes, permitindo A abordagem desse assunto
ferramentas básicas dessa oficina, o acesso a camadas de menor poder deve ser adaptada a cada segmento
porque são elaborados balanços de aquisitivo. escolar. Para os alunos do ensino
massa dos componentes diretamente Outros dados que impressiona- fundamental, os professores de ciên-
recicláveis e daqueles que exigem ram foram os números relativos à cias devem focar sobre os materiais
etapas adicionais, os quais serão produção, ao consumo e ao descarte que compõem os EEE. Cada material
visualizados sob a forma de gráficos em nível mundial e no país. Essas empregado possui propriedades que
do tipo pizza. escalas numéricas extrapolavam servem para a concepção e fabrica-
qualquer nível de percepção por parte ção das peças de um EEE. Os alu-
Discussão dos alunos. Alguns também citaram nos fazem uma pesquisa sobre que
O que é feito com o lixo eletroeletrônico que já viram EEE como computado- propriedades explicam o emprego
res e aparelhos de som jogados em de metais, plásticos etc., entregando
caseiro?
terrenos baldios e até em calçadas de ao professor o resultado na forma de
A maioria dos alunos (40%) des- ruas nos dias em que a companhia de trabalho impresso no máximo duas
carta o lixo eletroeletrônico junto limpeza pública recolhe o lixo urbano. semanas após a oficina.

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Para os alunos do ensino médio, Calculadora eletrônica. Apenas a te desmontáveis, basta pedir aos
podem ser trabalhados diversos con- placa de circuito impresso não é di- alunos que imaginem qual seria o
ceitos vistos nas aulas de física e de retamente reciclável. Ela corresponde tempo gasto na desmontagem de
química: por que se encontra um gran- a 11% em massa do produto. A cal- uma impressora, um monitor ou
de percentual de plásticos na com- culadora foi o item mais rapidamente uma televisão. Certamente bem
posição dos EEE (em especial nas trabalhado, sendo desmontada em mais que o tempo da oficina. Ao
carcaças destes); que propriedades cerca de 8 minutos. As Figuras 5 e 6 relembrarem como é a constituição
justificam o emprego de metais nobres ilustram os resultados obtidos. de um monitor de tubo de raios
(Tabela 2) na composição dos circuitos Para que não fique a impressão catódicos (CRT) apresentado na
impressos; como é feita a solda que que todos os EEE são rapidamen- palestra (Figura 7), os alunos verão
fixa os componentes nas placas; que
propriedades esta apresenta para ser
usada como tal. A Tabela 3 mostra ou-
tros itens que podem ser abordados.
Os alunos apresentam um relatório a
ser entregue em até duas semanas
após a palestra e a oficina.
Mouse. A placa de circuito impres-
so e o plugue não são diretamente
recicláveis, correspondendo em mé- Figura 1: O mouse e seus componentes.
dia a 13% em massa do mouse. Em
cerca de 10 minutos, um mouse foi
completamente desmontado (Figura
1) e segregado em seus constituintes
(Figura 2).
244 Teclados. A placa e as folhas de
circuito impresso e o plugue não
são diretamente recicláveis. Essas
peças correspondem em média a
5% em massa dos teclados. Em
cerca de 20 minutos, um teclado foi
desmontado (Figura 3) e segregado
em seus constituintes (Figura 4).
Nesse caso, os alunos observaram
que os teclados de fabricação mais
recente tinham menor massa, sendo
uma tendência em geral notada em
todos os EEE. Figura 2: Composição (em massa) do mouse desmontado na Figura 1.

Tabela 3: Conteúdos que podem ser propostos aos alunos do ensino médio.

Tópico Motivação
O emprego do ABS como material estrutural de Que propriedades ele possui, e que superam o de outros
muitos EEE plásticos utilizados hoje?
O poli(cloreto de vinila) é muito usado para encapar Que propriedades desse plástico justificam esse emprego?
fios elétricos
Visor de cristal líquido Ele substituiu quase na íntegra os visores fosforescentes e os
diodos emissores de luz (vermelha). De que ele é feito?
A massa de um dado EEE tende a diminuir com a Que materiais foram substituídos, e quais as propriedades dos
evolução das versões novos materiais que permitiram sua inclusão na fabricação de
EEE?
Fios de alumínio ocasionalmente são empregados no Como se comparam o custo e as condutividades térmica e
lugar dos de cobre elétrica desses dois metais?
A temperatura de fusão da solda (liga eutética) é da De que é feita a placa que receberá os circuitos impressos e
ordem de 183 ºC como se soldam os componentes nela?
Retardantes de chama: o que são? Quais as fórmulas estruturais dos retardantes utilizados nos
(O tratamento de peças com esses produtos se EEE? Por que são tóxicos?
chama ignifugação)

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diata. Isso foi particularmente notado
em produtos chineses de fabricação
mais antiga, anterior a 2002. Uma
exceção pode, contudo, ser contorna-
da: o encapamento dos fios de cobre
é feito de PVC [poli(cloreto de vinila)].
A necessidade de separação dos
diversos tipos de plásticos se deve
ao fato de a reciclagem destes não
poder ser feita de forma integrada
(misturada). Em particular, plásticos
termofixos e termorrígidos não podem
sob hipótese alguma ser misturados
em processos de reciclagem (Can-
gemi e cols., 2009).
O plástico é um dos componentes
principais dos EEE examinados. Além
Figura 3: O teclado e seus componentes: A = vista superior; B = vista inferior, onde do baixo custo, a leveza, a resistên-
estão os parafusos que permitem a abertura da carcaça; C = após a remoção do tampo cia a quedas e a possibilidade de
traseiro, notam-se as almofadas amortecedoras, as folhas e a placa de circuito impresso; uma grande variedade de formatos
D = fios de cobre e alumínio e os encapamentos; E = peças em aço; F = placa de
respondem pela ampla utilização na
circuito impresso e seu suporte plástico.
atualidade. O tema plástico é muito
versátil, tanto sob o ponto de vista
tecnológico como ambiental (Cange-
mi e cols., 2005; Santos e cols., 2009;
Cangemi e cols., 2009). Os plásticos 245
foram colocados em caixas de coleta
seletiva identificadas em vermelho.
Metais
A separação de metais por méto-
dos físicos reduz o uso de reagentes
químicos e condições drásticas como
alta temperatura e pressão. A sepa-
ração magnética foi uma experiência
fascinante para os alunos, pois eles
conseguiam separar ferro e aço de
cobre, alumínio, cromo e outros me-
tais presentes nos EEE. Ferro e aço
são os principais metais presentes
nesses equipamentos. A separação
Figura 4: Composição (em massa) do teclado desmontado na Figura 3. magnética é muito usada no pro-
cessamento de sucatas metálicas
que a desmontagem é mais difícil, 2008). Duas situações ocorreram ferrosas (eletroímãs). O cobre é outro
e o percentual de componentes di- quando do trabalho de identificação: elemento facilmente reconhecido por
retamente recicláveis é menor frente a) a maior parte do material sua cor característica. Ele compõe a
aos EEE trabalhados. plástico tinha a identificação ABS grande maioria dos fios condutores
(Figura 9), material composto por três dos EEE. Os poucos fios que não
Como dar uma destinação final às peças monômeros: acrilonitrila; butadieno; são de cobre são de alumínio, metal
isoladas e estireno (styrene, em inglês). Ele com cerca de 2/3 da condutividade
costuma ser o material estrutural das elétrica (e térmica) do cobre. Os me-
Plásticos
carcaças dos EEE e mesmo de com- tais são colocados em coletores de
Os alunos são orientados a iden- ponentes internos. O ABS está dentro cor amarela.
tificar os tipos de plásticos existentes da classificação “outros” (número 7
Os materiais multicomponentes
nos EEE, seguindo a padronização no diagrama da reciclagem);
de identificação mostrada na Figura b) nenhuma identificação. Esse O exame das placas de circuito
8. Essa padronização segue a Norma fato dificulta a reciclabilidade, pois impresso mostra que eles são uma
Brasileira ABNT NBR 13230 (ABNT, não é possível uma identificação ime- mistura complexa de vários mate-

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Figura 7: Um monitor de CRT aberto
mostra a dificuldade em desmontá-lo.

Figura 5: Componentes de uma calculadora eletrônica que funciona a pilha. A = carcaça


Figura 8: Padrão utilizado para identifica-
+ teclas; B = circuito impresso; C = almofada; D = elastômeros; E = célula solar;
ção dos diferentes plásticos utilizados,
F = visor (vidro); G = peças em aço.
segundo a norma brasileira NBR 13230:
1 = poli(tereftalato de etileno); 2 = polie-
tileno de alta densidade; 3 = poli(cloreto
de vinila); 4 = polietileno de baixa densi-
dade; 5 = polipropileno; 6 = poliestireno;
246 7 = outros plásticos.

Figura 9: Fórmula estrutural plana dos


monômeros (esquerda) do polímero ABS
[(C8H8)x-(C4H6)z-(C3H3N)y] (direita).

sociedade quanto ao lixo eletroeletrô-


nico, existe uma importante vertente
de trabalho: a educação ambiental,
voltada para o consumo consciente e
à participação em programas de co-
Figura 6: Composição (em massa) da calculadora desmontada na Figura 5. leta seletiva desse lixo, valorizando-o
como insumo para reciclagem. Todos
riais diferentes em natureza (metais, A conclusão a que se deve chegar têm o direito de dispor de produtos
plásticos, resinas). Pode-se remover é que quanto mais multicomponente que facilitem a vida cotidiana. O
a solda, liberando os componentes for um dado produto usado, mais difícil problema é a velocidade com que
fixados às placas, mas esse procedi- é a sua reciclagem. Por isso, uma pre- o fenômeno da obsolescência vem
mento não é tão simples como possa ocupação hoje é conceber produtos ocorrendo. A sociedade se tornou
parecer à primeira vista: a presença que são mais facilmente desmontá- vítima de um consumo compulsivo e
de retardantes de chama, que geram veis após o fim de sua vida útil. Um sem controle, alimentado pela última
gases tóxicos quando aquecidos, e a exemplo é a televisão, cujo gabinete palavra da tecnologia e insustentável
presença de metais tóxicos nessas é hoje feito de um só material (plás- do ponto de vista ambiental. A edu-
soldas (Cd, Pb, Sb, Sn, Bi) impõem tico), e antigamente encontravam-se cação ambiental é primordial para
rígidos controles de saúde ocupa- diferentes materiais (madeira, metal, uma mudança de atitude: crianças e
cional, evitando o que ocorre em plástico) na sua montagem. jovens são particularmente decisivos
alguns lugares na África e na Ásia para criar uma nova cultura compro-
A mudança de comportamento
que recebem o lixo eletroeletrônico metida com a sustentabilidade do
do primeiro mundo. Para mudar o comportamento da planeta. Eles têm efeito multiplicador

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na família e nas pessoas de seu te. A consciência da população para pode ser acessado pelo endereço:
convívio. A escola e os educadores um consumo consciente é um desafio http://hdr.undp.org/en/reports/global/
são parte fundamental desse esforço. tão forte quanto o desenvolvimento hdr2001/.
O setor produtivo também tem tecnológico de soluções para o lixo 2. Um documento sobre a situ-
papel importante para enfrentar o eletroeletrônico. ação dos EEE na Europa pode ser
desafio do lixo eletroeletrônico: trata- obtida no Jornal Oficial da União
se do redesenho da concepção dos Conclusões Europeia, no. C175, p. 34-36, 28 de
EEE. O surgimento de novos materiais O lixo eletroeletrônico é uma exce- julho de 2009 (Parecer do Comitê
permite que (a) substituam outros lente ferramenta de sensibilização dos Econômico e Social Europeu sobre
tóxicos hoje utilizados na fabricação alunos, tanto para questões ambientais Enfrentar os Desafios da Gestão dos
dos EEE; (b) sejam mais facilmente quanto para perceber a importância Resíduos de Equipamentos Elétricos
recicláveis após o fim da sua vida útil; das propriedades dos elementos quí- e Eletrônicos [REEE] na UE). Dispo-
(c) permitam uma separação mais fácil micos na concepção dos produtos de nível (em português) no endereço
dos componentes dos produtos; (d) nossa vida moderna. Face ao impacto http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/
reduzam o consumo de insumos ne- deste trabalho em todos os alunos LexUriServ.do?uri=OJ:C:2009:175:0
cessários à fabricação dos produtos; participantes, as atividades propostas 034:0036:PT:PDF.
e (e) aumentem a durabilidade desses a eles devem ser realizadas o mais
produtos (Jiang e cols., 2009; Iakovou rapidamente possível, para que não Agradecimentos
e cols., 2009; Rahimfard e cols., 2009). se perca uma preciosa oportunidade Elisa Silva Gomes e Rafael da
O desenvolvimento de tecnologias de mudança de atitude. Silva Oliveira agradecem ao PIBIC-
de reciclagem ou de novas gerações Os principais ganhos com este CNPq UFRJ a concessão de bolsas
de produtos eletroeletrônicos mais trabalho foram: despertar nos alunos de iniciação científica.
adequados ambientalmente não – que também são consumidores
terá sentido se a sociedade, o poder – a necessidade de adquirir com
Rafael da Silva Oliveira, aluno do curso de
público e o setor produtivo não co- consciência os EEE, sem desistir do graduação em Engenharia Química da Escola
laborarem para gerenciar o lixo ele- direito de dispô-los, e reconhecê-los de Química da Universidade Federal do Rio de 247
troeletrônico. É preciso estabelecer como um material em potencial para Janeiro (UFRJ), é bolsista de iniciação científica
uma logística reversa de coleta dos a reciclagem. Tanto em aulas de do Grupo de Reciclagem e de Resíduos do
produtos usados que contemple todo ciências (ensino fundamental) como Departamento de Química Analítica do Instituto
de Química da UFRJ. Elisa Silva Gomes, aluna do
o território nacional. São necessárias de química (ensino médio), os EEE curso de graduação em Química do Instituto de
campanhas permanentes (e não ape- despertam a curiosidade dos alunos Química da UFRJ, é bolsista de iniciação cientí-
nas ocasionais) de esclarecimento e facilitam a exposição e a assimila- fica do Grupo de Reciclagem e de Resíduos do
para alunos e os consumidores quan- ção de diversos conceitos abordados Departamento de Química Analítica do Instituto
to ao consumo responsável e à forma nessas disciplinas. de Química da UFRJ. Júlio Carlos Afonso (julio@
iq.ufrj.br), graduado em Química e Engenharia
correta de destinar os produtos inser-
víveis. É necessário adquirir produtos Notas Química e doutor em Engenharia Química pelo
IRC/CNRS (França), é professor associado do
apenas de empresas certificadas e 1. O relatório Making new techno� Departamento de Química Analítica do Instituto
comprometidas com o meio ambien- logies work for human development de Química da UFRJ.

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Abstract: THE WASTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONIC EQUIPMENT (WEEE): AN APPROACH FOR ELEMENTARY AND HIGH SCHOOL. This work shows one of the main challenges of the
human society: the management of waste of electrical and electronic equipment. Its generation has been sharply increasing but many people have not yet recognized this phenomenon. From a
manual disassembly of WEEE, students can realize the great complexity of these equipments, many different materials compose its components. One of the steps for management of WEEE is
the manual disassembly and separation of components by physical methods. The solution for the WEEE also includes the change of mentality of the customer, i. e., the conscious consuming.
Keywords: waste of electrical and electronic equipment; technological waste; conscious consuming; recycling.

Resenha
CALDEIRA, Ana Maria de Aandrade. (Org.) da informação e comunicação (TIC) e ensino química e a biologia não possam existir sem a
Ensino de ciências e matemática II: temas de ciências; IV – Formação de conceitos na experimentação, nada impede que se conce-
248 sobre formação de conceitos. São Paulo: perspectiva Ciência, Tecnologia, Sociedade bam situações imaginadas para debater quais
Cultura Acadêmica, 2009. 290 p (ISBN 978- e Ambiente, CTS(A). As experiências são serão as consequências de tais manipulações.
85-7983-041-9) ambientadas em diversas escolas do estado Os alunos serão impelidos a pensar e a inter-
de São Paulo. relacionar várias áreas do conhecimento para
Da mesma forma que o primeiro volume, Na parte I, um capítulo importante é o ter- tentar “visualizar” os resultados, constituindo-
Ensino de Ciências e Matemática II: temas ceiro, que mostra muito bem a importância se numa ferramenta para discutir conceitos
sobre formação de conceitos consiste em uma da História da Ciência como ferramenta para teóricos e de maior dificuldade na química.
seleção de artigos e ensaios realizados pelo mostrar aos alunos como se constrói e evolui A parte II, dedicada à física e à matemática,
Programa de Pós-Graduação em Educação o conhecimento científico, inserindo-o no coti- propõe exemplos que mostram as possibilida-
para a Ciência da Faculdade de Ciências da diano. O exemplo apresentado – a molécula de des de ministrar conteúdos dessas duas áreas
UNESP. DNA como portadora da informação genética de conhecimento (capítulos 7, 8 e 11), enquan-
O ensino de ciências exatas e biológicas no dos seres vivos – é relevantíssimo e mostra a to que as estratégias de ensino colocadas nos
Brasil carece de elementos inovadores e ricos riqueza que une a química e a biologia nesse capítulos 9 e 10 podem ser adaptadas para o
de conteúdo pedagógico, o que compromete o episódio. Ainda na parte I, o capítulo 5 mostra ensino de química. A parte III é importante por
ensino de base. Nas palavras de Ana Maria de quão positiva é a inserção da experimentação mostrar os impactos e as potencialidades das
Andrade Caldeira, organizadora da obra, “as no ensino da biologia. De fato, os Parâmetros novas tecnologias de informação em nosso co-
crianças têm muita dificuldade em atingir um Curriculares Nacionais (PCN) de Ciências tidiano e no ensino. Em particular, os “objetos
nível de aprendizado satisfatório e compatível Naturais indicam que é importante que as ativi- de aprendizagem” (OAs) podem ser poderosas
com um país em desenvolvimento como o dades práticas sejam também um espaço para ferramentas de auxílio na aprendizagem. Enfim,
nosso”. De fato, a ausência de um ensino mais reflexão, questionamento, desenvolvimento e a parte IV explora e analisa as perspectivas e
lógico e menos simbólico intimida os alunos construção de ideias. As experiências mostram críticas da abordagem CTS(A), defendendo um
e, consequentemente, é um dos fatores que que o aluno, centro do próprio processo de olhar mais cuidadoso para o desenvolvimento
explicam a redução do número de interessa- construção do conhecimento, mudou a sua das habilidades da crítica e da leitura do mundo
dos em seguir carreiras ligadas às Ciências forma de ver e entender o conhecimento tra- por meio da prática discursiva em sala de aula.
e à Matemática como Engenharia e Biologia, balhado, inclusive na sua forma de expressar. Um aspecto importante do ensino de ciências
por exemplo. Dado que a química também é uma ciência de para a cidadania é a habilidade de o professor
Com o propósito de corrigir essas defici- experimentação, fica fácil entender como os lidar com os conflitos decorrentes dos diferen-
ências e aprimorar a formação de docentes alunos têm uma percepção distorcida desta tes pontos de vista dos alunos com relação
dessas esferas de conhecimento, a coletânea quando não existe a experimentação acoplada aos impactos da ciência e da tecnologia na
apresenta artigos desenvolvidos por 28 pes- ao ensino dos conhecimentos. O laboratório sociedade. O exemplo trabalhado com uma
quisadores. Todos os ensaios têm linguagem assume importância pelo uso que se pode turma de ensino médio se refere às implica-
simples e objetiva, tendo em vista dirigirem-se fazer dele e não apenas por ele simplesmente ções sociais e ambientais do uso de etanol
a educadores. Essa obra também conta com existir. O professor, no entanto, precisa tam- como fonte de energia. Em poucas palavras,
uma gama de recursos gráficos e exemplos bém ser preparado para se tornar o elemento trata-se de uma referência e um excelente livro
para tornar o conteúdo teórico ainda mais mediador/facilitador do aprendizado de seus não só para os professores que já atuam no
acessível. O livro se divide em quatro partes: I – alunos. O capítulo 6 introduz as chamadas magistério, mas igualmente para os alunos dos
A formação de conceitos no ensino de biologia “experiências de pensamento”, com vasta cursos de licenciatura.
e de química; II – A formação de conceitos no utilização no campo da filosofia, matemática,
ensino de matemática e física; III – Tecnologias física e biologia. Embora ciências como a Prof. Dr. Júlio Carlos Afonso (UFRJ)

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