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O MONGE MORDIDO

     Um monge e seus discípulos iam por uma estrada e,


quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo
arrastado pelas águas. O monge correu pela margem do rio,
meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o
trazia para fora do rio o escorpião o picou. Devido à dor, o
monje deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem,
pegou um ramo de árvore, voltou outra vez a correr pela
margem, entrou no rio, resgatou o escorpião e o salvou. Em
seguida, juntou-se aos seus discípulos na estrada. Eles
haviam assistido à cena e o receberam perplexos e
penalizados.

     — Mestre, o Senhor deve estar muito doente! Por que foi
salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria
um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda: picou a
mão que o salvava! Não merecia sua compaixão!

     O monge ouviu tranqüilamente os comentários e


respondeu: — Ele agiu conforme sua natureza e eu de acordo
com a minha.

O SÁBIO SAMURAI

       Perto de Tóquio, vivia um grande samurai, já idoso, que


agora se dedicava a ensinar Zen aos jovens. Apesar de sua
idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar
qualquer adversário.

       Certa tarde, um guerreiro, conhecido por sua total falta


de escrúpulos, apareceu por ali. Era famoso por utilizar a
técnica da provocação. Esperava que seu adversário fizesse o
primeiro movimento e, dotado de uma inteligência
privilegiada para observar os erros cometidos, contra-atacava
com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro
jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do
samurai, estava ali para derrotá-lo e aumentar sua fama.

      Todos os estudantes se manifestaram contra a idéia, mas


o velho e sábio samurai aceitou o desafio. Foram todos para a
praça da cidade. Lá, o jovem começou a insultar o velho
mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em
seu rosto, gritou todos os insultos que conhecia, ofendendo,
inclusive, seus ancestrais. Durante horas fez tudo para
provocá-lo, mas o velho sábio permaneceu impassível. No
final da tarde, sentindo-se exausto e humilhado, o impetuoso
guerreiro desistiu e retirou-se.

       Desapontados pelo fato de o mestre ter aceitado tantos


insultos e tantas provocações, os alunos perguntaram: —
Como o senhor pôde suportar tanta indignidade? Por que não
usou sua espada, mesmo sabendo que poderia perder a luta,
ao invés de se mostrar covarde e medroso diante de todos
nós?

        Se alguém chega até você com um presente, e você não


o aceita, a quem pertence o presente? — perguntou o
Samurai.

        A quem tentou entregá-lo — respondeu um dos


discípulos.

      O mesmo vale para a inveja, a raiva e os insultos — disse


o mestre. — Quando não são aceitos, continuam pertencendo
a quem os carrega consigo. A sua paz interior, depende
exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a
serenidade, só se você permitir!

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