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http://jus.uol.com.br/revista/texto/4527
Publicado em 11/2003
Sandra Yuri Yonekura
I-DEFINIÇÃO DE CONTRATO INTERNACIONAL:
Definir Contrato Internacional não é tarefa simples. A doutrina não apresenta solução muito satisfatória
para a questão, e tampouco a legislação conseguiu pôr termo às divergências que a matéria comporta. É prudente
ressaltar que na caracterização dos contratos internacionais, formaram-se na doutrina francesa duas correntes: a
econômica e a jurídica.
Para a corrente econômica seria internacional o contrato que simplesmente permitisse um duplo trânsito de
No Brasil prevaleceram os critérios caracterizadores da chamada corrente jurídica, mais abrangente que a
primeira, em que a internacionalidade do contrato se verifica quando contenha ele algum "elemento de estraneidade",
que pode ser o domicílio das partes, o local da execução de seu objeto ou outro equivalente
Segundo o critério jurídico, defendido por Batiffol [1], um contrato é internacional quando, pelos atos
concernentes à sua conclusão ou execução, ou ainda à situação das partes quanto à sua nacionalidade ou seu
domicílio, ou à localização de seu objeto, tem ele liames com mais de um sistema jurídico.
Na verdade, uma relação jurídica pode estar em contato com mais de um sistema jurídico ou somente com
um. Neste último caso, estaremos diante de um contrato nacional; no primeiro, estaremos frente a um contrato
internacional.
Desta forma, podemos dizer que o caráter internacional do contrato só poderá ser verificado mediante uma
situação de fato, onde será possível determinarmos a intensidade do elemento estrangeiro na relação jurídica. Além
disso, devemos lembrar que existem certos elementos formais que influem decisivamente na identificação do contrato
Segundo a legislação brasileira, evidenciada no art. 2 do Decreto- Lei n. 857 de 1969, o contrato
internacional será aquele que possuir elementos que permitam vinculá-lo a mais de um sistema jurídico e tiver por
objeto uma operação que envolva o duplo fluxo de bens pela fronteira.
Acredita-se, pois, que um contrato pode caracterizar-se como internacional quando reflete, em sentido
amplo, a conseqüência do intercâmbio entre os Estados e pessoas em diferentes territórios. Logo, embora o
MERCOSUL represente a união de vários países do cone sul, todos os contratos realizados por cada Estado- membro
que no último, as cláusulas concernentes quanto a capacidade das partes, objeto e à conclusão relacionam-se com
Diversos são os elementos que poderão vincular o contrato a Estados diferentes: a vontade das partes, o
estabelecimento das partes, a moeda utilizada, a procedência ou o destino dos bens ou direitos objeto do contrato.
Entretanto, as questões mais importantes a serem resolvidas no âmbito do contrato internacional são
aquelas relativas à constituição, conteúdo e efeitos das obrigações, através da determinação das leis que regerão os
O direito das partes de escolher a lei aplicável, num contrato internacional, além de ser aceito quase que
universalmente pelas legislações, é também reconhecido pelos tribunais arbitrais. A escolha de lei aplicável pelas
No primeiro caso (escolha expressa), não encontramos maiores dificuldades quanto à intenção das partes.
Só encontramos, nessa hipótese, os obstáculos da ordem pública, o controle da internacionalidade do contrato pelo
No segundo caso (escolha implícita), a solução dependerá do país em questão. Nos países onde a
manifestação da vontade das partes é regra para a localização de uma convenção e esta for ausente, os tribunais
procurarão deduzir de certos aspectos do contrato qual seria esta vontade. Para tanto, adotam uma série de critérios,
A primeira observação a ser feita no tocante à formação do contrato internacional, é a relativa à capacidade
das partes. Não podemos analisar a questão da capacidade das partes, em direito internacional, do mesmo modo que
fazemos em relação ao direito civil. Assim sendo, não podemos excluir as pessoas jurídicas do exame da capacidade
No que diz respeito às pessoas físicas, tem nossa doutrina pátria distinguido entre capacidade de fato e de
direito, muito embora o art. 7º da LICC [2] não o faça. No entanto, é o exame da capacidade das pessoas jurídicas o que
A capacidade das pessoas jurídicas deverá ser verificada em relação à legislação do país em que a mesma
se constituiu, segundo o art. 9º, caput [3], combinado com o art. 11 [4], ambos da LICC. Além da verificação da
capacidade, feita com base na lei do local de constituição da sociedade contratante, temos ainda que o art. 7º da LICC
impõe a verificação da capacidade da pessoa física com que se trata em nome da empresa.
No tocante ao contratante, pessoa jurídica desconhecido, outras cautelas deverão ainda ser observadas,
em relação ao tratamento que a lei aplicável dispensa ao patrimônio social, à integralização e existência do capital, ao
montante dos negócios que o órgão administrativo pode realizar e ao objeto social.
Todos estes aspectos serão ligados ao direito do local da constituição, segundo a lei brasileira, ou do local
principal, ou sede efetiva dos negócios da pessoa jurídica, segundo outras regras conflituais.
A segunda observação importante quanto à formação do contrato internacional, é relativa à escolha da lei
aplicável. Como sabemos, a regra contida na lei brasileira é a "lex loci contractus" - a lei do local de constituição do
contrato. Mas ocorre que a lei brasileira não é a que impera universalmente: entre nossos juristas, como exemplo
temos Irineu Strenger [5], que é de opinião de que a soberania da autonomia da vontade na escolha da lei aplicável,
A lei do lugar da constituição da obrigação é, hoje, uma fórmula bastante criticada pelos estudiosos do
Direito Internacional. O mesmo ocorre com a fórmula proposta por países vizinhos como Argentina, Uruguai e
Paraguai, que utilizam em âmbito nacional o local da execução do contrato como critério de determinação da lei
aplicável.
Procura-se, hoje, no mais das vezes, identificar as normas do direito com o qual o contrato mantenha os
vínculos mais estreitos, para que as partes possam consagrá-lo. A liberdade de escolha da lei aplicável, faz parte de
Vários países, no entanto, adotam a lei do local de execução - "lex loci executionis", norma esta que a lei
brasileira segue nos termos do parágrafo 1 do artigo 9º da LICC. Adota-se, também, o local de execução para a
determinação da competência, como ocorre na lei brasileira (art. 12 da LICC e art. 88, II, do Código de Processo
Civil) [6].
É preciso atentarmos também, para a questão da ordem pública, visto que a lei que, segundo o elemento
de conexão deverá ser a aplicável, não poderá em hipótese alguma, ofender a ordem pública internacional, caso em
Importante realizarmos alguns comentários sobre a forma dos contratos internacionais, antes de
Com efeito, o contrato, qualquer que seja ele, não deixa de ser um ato jurídico, que deverá, assim,
exteriorizar-se através de uma forma determinada, já que a forma, nada mais é do que o modo pelo qual a
manifestação de vontade se exibe nas relações sociais e se destina a garantir a legalidade do conteúdo. A lei aplicável
O Direito Internacional possui uma variante da cláusula rebus sic stantibus, onde toda e qualquer relação
contratual que gera obrigações, pode ser alterada e até extinta quando da argüição das cláusulas de revisão (hard ship
clause), freqüentes nos contratos internacionais e em particular, nos de longa duração, que tem o propósito de prevenir
os casos de adversidade, infortúnio, necessidade ou privação (de fatos ou circunstâncias) que as partes possam sofrer.
A mesma possui, em seu conteúdo dispositivo que aduz da possibilidade de resolução do contrato, por este
contratual. Parte, entende que esta cláusula deveria estar contida no contrato de forma expressa, e outra entende,
ainda, que apenas nas hipóteses descritas no instrumento contratual poderia esta ser argüida.
Uma terceira parte da doutrina acha desnecessária a colocação desta cláusula, pois se deve sempre contar
seguros e de importação e exportação, costumam ter formas padronizadas devido a sua "confeccção" em série, por
amigáveis para a solução de conflitos antes da submissão do litígio a julgamento por árbitros ou juizes, como por
exemplo a arbitragem.
Além da presença do elemento de conexão, outros fatores identificam os contratos como sendo
internacionais, dentre os quais a presença de determinadas cláusulas. São cláusulas relativas à escolha do foro, ao
Finalizando, vamos examinar aqui, num primeiro momento, as cláusulas de foro, passando em seguida ao
quanto a cláusula arbitral tratam da questão do conflito de leis, visando assegurar a aplicação de determinado direito
ao contrato e facilitar a solução das pendências que porventura possam surgir entre as partes.
A cláusula de eleição do foro é comum, mesmo nos contratos de direito interno. Entretanto, nos contratos
internacionais, tal cláusula reveste- se de uma importância muito maior, pois é dela que irão decorrer as regras
conflituais que indicarão a lei aplicável a uma determinada situação. As cláusulas de eleição de foro nos contratos
internacionais são quase sempre aceitas. Isto porque se exige que o foro escolhido tenha alguma relação relevante
No Brasil, a doutrina e a jurisprudência demoraram para aceitá-las, o que se resolveu com a Súmula 335
do STF [7], a qual se aplica também aos contratos internacionais entre pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.
O fundamento legislativo da cláusula de eleição de foro é o art. 42 do C.C., o qual permite às partes
contratantes "especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes", bem como
o art. 846 parágrafo único, onde se lê que "o credor, além do seu domicílio real, poderá designar outro, onde possa
As cláusulas de eleição de foro são muito úteis, desde que bem escolhidas, o que implica o estudo das
Cláusulas Arbitrais:
As cláusulas arbitrais são aquelas que prevêem o recurso a um tribunal arbitral para a solução das
possíveis futuras pendências que surjam durante a implementação das normas contratuais. A cláusula arbitral, também
chamada de cláusula compromissória, distingue-se do compromisso, sendo este um negócio jurídico de características
muito precisas, através do qual as partes deliberam, de modo irretratável, colocar nas mãos de árbitro a solução de um
litígio já existente.
NOTAS
01. BATIFFOL, Henri, Aspects Philosophiques du Droit International Privé. Paris, Dalloz, 1956.
02. A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
03. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar- se- à a lei do país em que se constituírem.
04. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as fundações,
05. STRENGER, Irineu, Direito Internacional Privado, 2 ed., São Paulo, Ed. RT,1991.
06. Art. 12 LICC: É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou
aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Art. 88, II do CPP:É competente a autoridade judiciária brasileira quando: II- no
07. "É válida a cláusula de eleição do foro para os processos oriundos do contrato".
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Baptista, L.O.; Huck, H.M. e Casella, P.B. (org.) Direito e comércio internacional: tendências e perspectivas_ Estudos
STRENGER, Irineu, Contratos Internacionais do Comércio, São Paulo, São Paulo, Ed. RT, 1996.
Sobre o autor
Sandra Yuri Yonekura
Advogada, Especialista em Direito Internacional (UFSC) e mestranda em Direito Internacional pela PUC- PR.